Trindade — Doutrina
Cristã
Pedro Apolinário – Sermões
Exaltando a Verdade – Casa Publicadora Brasileira – 1a. Edição
Professor de Grego e Exegese
Bíblica do Seminário Latino Americano de Teologia – Eng. Coelho, S.P
Ensina a Bíblia o Monoteísmo ou a Trindade? Ela ensina o Monoteísmo, mas
também nos convence da Trindade.
É um
assunto difícil de ser compreendido. Alguém poderá afirmar: este estudo não é
importante para a Igreja. Ele é mais do que importante, é importantíssimo,
porque descrer da Trindade é descrer de Deus; não nos devemos esquecer de que a
Criação do mundo foi obra da Trindade.
Deve ficar clara esta verdade. A Trindade está envolvida no Plano da
Salvação, por isso merece o nosso estudo. Não nos devemos concentrar em
perguntas que estão além de nossa compreensão. O cristianismo tem enfrentado
através dos séculos heresias a respeito desta doutrina, destacando-se o
arianismo no 4o. século e as Testemunhas de Jeová em nossos dias,
mas o problema também existe na Igreja Adventista em várias localidades.
Quais
as causas fundamentais para o problema?
1- Não podemos descobrir as coisas profundas de Deus através da investigação.
A incapacidade do homem em explicar a natureza da Trindade não deveria
surpreender a ninguém — na
verdade seria de se esperar. O objeto da adoração do homem, conquanto
suficientemente claro para requerer amor e lealdade, deveria situar-se muito
acima da compreensão humana.
Aqui aplicar-se-ia a declaração atribuída a Santo Agostinho: “Eu não busco
compreender para crer, mas creio a fim de compreender.”
2- Como é possível que Deus seja um e três ao mesmo tempo?
Em outras palavras, como harmonizar Deuteronômio 6:4 e 1 Timóteo 2:5 com declarações bíblicas que falam
em Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo?
3- Os opositores da Trindade não a aceitam, declarando que este termo não
se encontra na Bíblia. Embora a palavra não se encontre nas Escrituras ela é a
cristalização dos ensinos da Palavra de Deus. Quem primeiro usou a palavra
Trindade foi Tertuliano, no ano 190 d.C.
4- Os cristãos são acusados de aceitarem a Trindade por influências pagãs. No entanto, a doutrina da
Trindade está fundamentada na Bíblia. “A preciosa Palavra de
Deus é um sólido fundamento sobre que se pode construir.” — Meditações
Matinais, 23/9/1995.
5- Há unitaristas
que negam a Trindade dizendo que Cristo não é Deus, porque há textos bíblicos
como João 14:28 que indicam ser Cristo inferior ao Pai. Esta subordinação
apenas existe no Plano da Salvação.
A
Trindade na Criacão e Redenção
A Bíblia ensina que a Criação e a
Redenção são obra da Trindade.
Criação — Elohim é a palavra hebraica designada para Deus, em Gênesis ao descrever a
criação, e envolve pluralidade de pessoas na Divindade.
Pai — Planejador
Cristo
—
Executor
Espírito Santo — Auxiliador
Redenção
—
Cada pessoa da divindade tem sua esfera
de ação no plano da salvação.
Dentro da Divindade existe uma
distribuição de funções. O Pai parece atuar como fonte, o Filho como mediador e
o Espírito Santo como aplicador.
A encarnação ilustra bem o
relacionamento funcional entre as três pessoas: O Pai entregou o Filho, Cristo
Se deu a Si mesmo e o Espírito Santo operou a concepção de Jesus.
Deus no trono do Universo nos amou tanto
que deu o Filho para morrer por nós; Cristo no trono da graça Se entregou a Si
mesmo para que pudéssemos obter a salvação e o Espírito Santo no trono do
coração humano desperta em nós o desejo de bem compreender a Cristo e o Seu
papel no plano da salvação. O Espírito Santo é o grande poder regenerador na
obra da redenção. -
Para bem compreendermos que a nossa
salvação é obra da Trindade, leiamos três declarações bíblicas:
a) II
Tessalonicenses 2:13 e 14. A leitura destes dois versos nos diz que Deus nos
elegeu para a salvação e que o Espírito Santo opera em nós a santificação,
tendo em vista que alcancemos a glória de Jesus Cristo.
b) Tito
3:4-6: “Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o
Seu amor para com todos, não por obras de justiça praticadas por nós, mas
segundo Sua misericórdia, Ele nos salvou mediante o lavar regenerador e
renovador do Espírito Santo, que Ele derramou sobre nós ricamente por meio de
Jesus Cristo, nosso Salvador.”
c) I Pedro 1:2: “Eleitos, segundo a
presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e a
aspersão do sangue de Jesus Cristo.”
Eleitos — aqueles a quem
Deus escolheu do mundo para levá-los à glória.
O Que
é Trindade?
É a união
de três pessoas distintas — o Pai, o Filho e o Espírito Santo — em um
só Deus.
O Catecismo de Westminster assim
a define: “Há três pessoas na Trindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e
estes três são um Deus, o mesmo em Substância, igual em poder e glória.”
A Bíblia é totalmente destituída de discussões sobre como Deus pode ser
três e ao mesmo tempo um. Os teólogos ficam discutindo se os três devem ou não
ser considerados como sendo de uma única substância ou uma única essência, ou
se o termo que melhor descreve a natureza real deles é pessoa, ser ou modo de
existência.
Trindade não é um termo muito bom, porque pode trazer a nossa mente um conceito
politeísta, crença na pluralidade de deuses. A melhor palavra seria Tri -unidade, pois dá uma melhor idéia
de que Deus é um só, ao mesmo tempo
em que consiste de três pessoas.
Será
Fácil Entender a Trindade?
Não é nada fácil. Diria até que é muito difícil.
Dizem que quando Santo Agostinho tentava decifrar o que seria a Santíssima
Trindade, um anjo lhe apareceu e disse: “É mais fácil
você transportar toda a água do oceano com uma conchinha e colocá-la num
buraco da praia do que entender como três pessoas podem ser um só Deus.”
A Trindade desafia a lógica e a razão.
“Nenhuma mente humana pode compreender a Deus. Nenhum ser humano finito
tente interpretá-Lo. Que ninguém se entregue a especulações com respeito a Sua
natureza. O silêncio aqui é eloqüência. O onisciente está acima de qualquer
discussão.” —
E. G. White, Testimonies, vol. 8, pág. 279.
As dificuldades que enfrentamos ao pensar na Trindade não nos devem levar
a rejeitar a doutrina ou recusar meditar sobre ela. “Se nos fosse possível
atingir uma completa compreensão de Deus e Sua Palavra, não mais haveria para
nós descobertas de verdades, conhecimentos maiores ou maiores desenvolvimentos.
Deus deixaria de ser Supremo, e o homem deixaria de adiantar-se.” — Educação, pág. 172.
Notem as palavras de Pascal: “Há uma infinidade de coisas que a razão não
pode atingir. Resolvam-se todas as questões, expliquem-se todas as palavras da
Bíblia, e ainda ficarão as maiores dificuldades para o exercício da nossa fé;
a origem do mal, o mistério da divina presciência e do livre-arbítrio e muito
ainda sobre o plano da redenção.”
O homem não sabe explicar a si mesmo e quer aventurar-se a explicar a Deus.
Conhecemos as verdades divinas porque Deus no-las revelou. Sabemos que Deus Se
revela, mas Ele não explica as revelações.
Sabatini Lalli, em seu prestativo livro Logos
Eterno, afirma: ‘A doutrina da Trindade, inexplicável à luz da razão, é
fato da revelação de Deus feita aos homens. A Trindade sempre será
incompreensível à razão limitada dos homens. Trata-se de uma verdade que
transcende a limitada compreensão e lógica humanas e apenas pode ser alcançada
pela fé.”
Levará toda a eternidade para compreender a ciência da redenção.
A Bíblia fala em dois grandes mistérios: o da piedade e o da iniqüidade (I
Timóteo 3:16; II Tessalonicenses 2:7).
Apenas conhecemos as verdades divinas que Deus achou por bem nos revelar. A
doutrina da Trindade não é declarada explicitamente na Bíblia, mas extraída das
declarações escriturísticas sobre Deus, Seu Ser, Seu poder, Suas obras.
A ênfase da Bíblia não se encontra em profundas cogitações teológicas, que
por nossas limitações não podemos alcançar. Sua ênfase se centraliza na função
que cada membro da Trindade desempenha em nossa salvação.
Jesus em Seu discurso de
despedida aos discípulos, em João 13:31 a 17:26, fala da função dEle, do Pai e
do Espírito Santo, na salvação do ser humano.
Explicação
de Deuteronômio 6:4
“Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor.” Os filhos de
Israel, cercados por povos politeístas, precisavam insistir nesta tecla: “Há um
só Deus.”
Existe um opúsculo de 24 páginas, O
Testemunho d’e um Judeu, de Samuel Jacobson, impresso na Editora Revista
Fiscal do Rio de Janeiro, muito bom para nos esclarecer sobre a Trindade. Seu
autor é um judeu que se tornou adventista, mas no início dos estudos não podia
aceitar que Cristo fosse Deus diante de Deuteronômio 6:4.
Pesquisando no original hebraico ele descobriu uma palavra para unidade composta
e outra para unidade simples. “Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à
sua mulher, tornando-se os dois uma só carne.” Gênesis 2:24. “Uma (ekhad) só carne.
Aqui vemos o homem e a mulher como uma unidade (ekhad), quando na realidade são dois seres separados e distintos
para formar a unidade.
Ouve, á Israel: o Senhor nosso Deus é uno (ekhad). Em Deuteronômio 6:4 está ekhad — unidade composta. Com este sentido Deus o Pai, Deus o Filho
e Deus o Espírito Santo são unidos. Uma tradução literal de Deuteronômio 6:4
seria: “Ouve, á Israel, o Senhor nosso Deus é uma unidade.”
Em Gênesis 1:1 a palavra Deus (Elohim)
é um substantivo plural, mas que tem o verbo no singular. Este fato nos
mostra que Deus é ao mesmo tempo unidade e pluralidade.
Quando há referências a um só, único, em hebraico unidade simples, usa-se a
palavra Yakhid, como em Gênesis 22:2: “Toma teu filho, teu único filho,
Isaque...”
Provas Bíblicas da Trindade
I. No Antigo
Testamento
1- Gênesis 1:1. A Criação foi obra da
Trindade.
Em Eclesiastes 12:1 (está no hebraico): “Lembra-te dos teus Criadores (boreaka) nos dias da tua mocidade.”
O Pai — Isaías 42:5: ‘Assim diz Deus, o Senhor, que criou os céus e os estendeu,
formou a Terra e a tudo quanto produz...”
O Filho — João 1:3: “Todas as coisas foram feitas por intermédio dEle, e, sem Ele,
nada do que foi feito se fez.” (Ver Hebreus 1:2).
O Espírito
Santo — Gênesis 1:2; Já 33:4.
Todos os membros da Trindade Se envolveram na obra da Criação. O agente
ativo, contudo, foi o Filho de Deus, o preexistente Cristo.
2- Gênesis
1:26: “Façamos o homem à nossa imagem.”
3- Gênesis 3:22: “Eis que o homem se
tornou como um de Nós.”
4- Isaías 6:8: “A quem enviarei, e
quem há de ir por nós?”
5- Isaías 48:16 (última parte):
“Agora, o Senhor Deus me enviou a mim e o Seu Espírito.”
II. Provas do
Novo Testamento
O que se tornou patente no Novo Testamento, está latente no Antigo
Testamento.
1- A prova mais enfática e
significativa do Novo Testamento se encontra na fórmula batismal, ensinada por
Cristo aos apóstolos em Mateus 28:19: “Ide, portanto, fazei discípulos de
todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo.”
Os inimigos da Trindade têm elaborado dois subterfúgios para negarem esta
ordem de Cristo:
a) Ela
não se encontra no original grego. Esta afirmação é sem procedência como
evidenciam o Aparato Crítico e o Comentário de BruceMetzger, pág. 726.
b) Afirmam alguns que Cristo não poderia ter dado a ordem de batizar em
nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, porque os primitivos cristãos eram
batizados em nome de Jesus Cristo.
O batismo praticado pela Igreja Cristã
foi instituído por Cristo e existe em razão do seu nome. Os unitaristas por não
crerem na Trindade defendem o batismo em nome de Jesus (Atos 2:35; 8:16; 10:48). Estes versos não estão discutindo a maneira ou o processo do batismo.
Cristo ordenou o batismo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ele
estabeleceu a fórmula ritual, invocando a Trindade. Seria terrível heresia se
os discípulos alterassem a ordenança de seu mestre.
Que significa batismo em nome de Cristo?
A diferença fundamental entre judeus e cristãos era a aceitação de Jesus.
Ser batizado em nome de Jesus era a confirmação de que esta divergência tinha
sido resolvida.
Nota: Esta explicação do batismo em nome de Jesus foi feita por Arnaldo
Christianini.
2- O Batismo de Jesus. Lucas 3:22: “E o Espírito Santo desceu sobre Ele em
forma corpórea como pomba; e ouviu-se uma voz do Céu: Tu és Meu Filho amado, em
Ti Me comprazo.”
Por ocasião do batismo de Jesus as três Pessoas Se apresentaram de modo
distinto: o Filho estava sendo batizado, o Pai que falava do Céu, e o Espírito
Santo que desceu no símbolo objetivo de uma pomba.
O Espírito Santo aqui não pode ser
uma mera influência ou poder, mas um ser pessoal, já que as Escrituras, em
lugar algum, fazem referências a uma influência impessoal a capacidade de
descer do Céu em forma pessoal e corpórea.
3- A Bênção Apostólica de II Coríntios
13:13: “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do
Espírito Santo sejam com todos vos.”
Cada um dos membros da Trindade executa um trabalho peculiar a Si mesmo
sugerido pelas palavras: graça, amor e comunhão. Paulo aqui expressa o
interesse divino pelo culpado através de Cristo como mediador, possível pelo
amor do Pai (João 3:16) e que pode tornar-se efetivo pelo Espírito Santo. Essa
bênção não somente resume o ensino apostólico, mas interpreta o significado
mais profundo da Trindade na experiência cristã.
“II Coríntios 13:13 não é uma declaração doutrinária, mas devocional,
contudo revela uma das mais fundamentais de todas as doutrinas cristãs.
Oferece, com inspirada brevidade, uma base firme para a crença na natureza
tríplice da Divindade, a Trindade. Ela não tenta explicar a Trindade. É antes o
referimento de uma reverente e refletida contemplação do que foi revelado com
respeito ao Pai, Filho e Espírito Santo, especialmente à luz da encarnação do
Filho. Como tem sido corretamente declarado: A doutrina da Trindade não é tanto
ouvida, quanto subentendida nas declarações da Escritura.” — Jnternational
Standard Bible Encyclopedia, pág. 3.012.
4- Romanos 15:16: “Para que eu seja
ministro de Cristo Jesus entre os gentios, no sagrado encargo de anunciar o
evangelho de Deus, de modo que a oferta deles seja aceitável, uma vez
santificada pelo Espírito Santo.”
5- I Coríntios 12:3-6: Senhor Jesus,
Espírito Santo, Deus.
6- Efésios 4:4-6: “Um Espírito.., um
só Senhor, . . . um só
Deus e Pai de todos.”
Dentre as passagens bíblicas que expressam o pensamento trinitariano as
duas seguintes se destacam:
7- 1 Pedro 1:2: “Eleitos, segundo a
presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e a
aspersão do sangue de Jesus Cristo.”
8- Judas 20 e 21: “Vós, porém, amados,
edificando-vos na vossa fé santíssima, orando no Espírito Santo, guardai-vos no
amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo, para a
vida eterna.”
Como nenhum dos três é maior, a Bíblia os apresenta em qualquer ordem.
Pai, Filho, Espírito Santo.
Filho, Pai, Espírito Santo.
Espírito Santo, Pai, Filho.
Estudo atento e cuidadoso da Bíblia nos provará que cada Pessoa da Trindade
é eterna, é santa, é onipotente, onipresente, onisciente, criador,
santificador, mestre, fonte da vida eterna, ressuscitador de Cristo.
A citação de 1 João 5:7: “O Pai, a
Palavra e o Espírito Santo; e estes três são um” não deve ser usada como prova
para a Trindade, porque a Crítica Textual nos comprova que ela não se encontra
no Original. Foi um acréscimo posterior como nos provam os manuscritos
Sinaítico, Vaticano e Alexandrino e também as primitivas traduções da Bíblia.
A doutrina do Deus trino é provavelmente a mais sagrada e mais profunda
das Sagradas Escrituras. Todos os verdadeiros cristãos crêem em Deus Pai, Deus
Filho e Deus Espírito Santo, e estes três, apesar de distintos de um ponto de
vista, constituem um só e único Deus.
Muitos, através da história do cristianismo, têm zombado desta crença que
Deus é um só e ao mesmo tempo três pessoas. Isto contraria os princípios matemáticos
estabelecidos e inalteráveis dizem eles, quando o cristão afirma que 1 + 1 + 1 = 1 e não três, mas na matemática 1
x 1 x 1 = 1. Deus não
pode limitar-se à lógica humana.
Diante da argumentação dos homens, afirmam eles, Jesus não foi Deus no
sentido bíblico.
Se nossas limitações nos impedem de compreender e explicar a Trindade, as
inúmeras evidências da Sua existência tanto no Antigo quanto no Novo Testamento
devem levar-nos a aceitá-la, porque está fundamentada na Bíblia.
Prezados irmãos, esta sublime verdade deve ser pregada e defendida por nós,
porque a Igreja Apostólica foi edificada sobre a fé no Pai, no Filho e no
Espírito Santo.
Nas epístolas de Paulo, de Pedro e de João a obra da redenção é atribuída
à Trindade. Se não soubermos explicar esta verdade pela razão, que a aceitemos
pela fé. Amém.
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