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domingo, 10 de agosto de 2014

A BÍBLIA E A MORTE - ESPÍRITO QUE MORRE


Espírito que morre
Descobertas científicas sugerem que o espírito humano não é uma
entidade imortal
por Vanderlei Dorneles
Edítor



A década de 90 foi chamada no meio científico de “A década do cérebro”. Os cientistas es­tão cada vez mais encantados com esse extraordinário órgão, e têm feito inúmeras descobertas sobre suas propriedades e funções. Esses conhe­cimentos têm colocado em cheque a doutrina da imortalidade da alma, co­mo crida pela maioria dos cristãos.
As pesquisas mostram que carac­terísticas espirituais como persona­lidade, sentimentos, emoções e ca­ráter podem ser alteradas por lesões no tecido cerebral. Isso implica que o ser humano não possui uma enti­dade espiritual separada das funções do cérebro.
Por isso, alguns alegam que a dou­trina cristã está em crise. Mas será mesmo que a Bíblia está em contradi­ção com a ciência nesse ponto?

A crise da imortalidade Desde Platão, fi­lósofo grego, os ocidentais admitem a idéia da imortalidade da alma e, al­guns, a suposição da reencarnação. Difundida com a cultura helênica, durante o Império Romano, essa idéia ficou tão fortalecida que os cris­tãos acabaram acreditando nela. Ao longo da história do cristianismo, poucos grupos têm defendido a idéia contrária. Os adventistas do sétimo dia são um deles.
Nos últimos anos, alguns cientis­tas têm se interessado pelo assunto e afirmado que a crença na imorta­lidade da alma tem os dias conta­dos. É o caso do helenista Walter Burkert, autor do livro Antigos Cul­tos de Mistério, e maior estudioso da antiga religião grega.
Para Burkert, há hoje uma crise religiosa que, porém, não se volta contra a religiosidade em si, mas contra igrejas e doutrinas que estão ultrapassadas. “Aproxima-se o fim da filosofia platônica, que estabelece o dualismo corpo/alma, central à teologia cristã”, declarou em entre­vista a um jornal brasileiro.
A crença na imortalidade da al­ma, mantida por católicos e bom número de protestantes, baseia-se nesse postulado grego de que o espí­rito não é apenas superior ao corpo, mas pode viver sem ele. Platão su­punha que “a alma, como portadora do espírito, seria necessariamente independente do corpo”.
Walter Burkert argumenta que a crise da imortalidade deve-se em par­te às descobertas científicas dos pro­cessos químicos e elétricos do cére­bro, que têm demonstrado que carac­terísticas do espírito humano como
consciência, emoções e caráter têm endereços nos hemisférios cerebrais.

Natureza biológica do espírito Antônio Damásio, diretor do departamento de Neurologia da Universidade de Yowa e autor do livro O Erro de Descartes, comprovou cientificamente que lesões cerebrais podem afetar funções espiri­tuais do cérebro, inclusive o juízo mo­ral. Nesse livro, ele relata a história de Eliot, um paciente que extraiu um tu­mor do cérebro e voltou às suas ativi­dades normais. Mas comportava-se de forma anormal. Em testes complexos, Eliot teve desempenho de elevado coeficiente intelectual, mas se mostra­va incapaz de decisões sensatas. A maior contribuição de seu caso foi quando ele foi colocado diante de vá­rias cenas dramáticas (acidentes, pes­soas morrendo, prédios queimando). Ele não reagiu. O que levou o pesqui­sador a concluir que sua faculdade de compaixão e de raciocínio tinha sido atingida pela lesão. A personalidade e o caráter de Eliot  foram alterados com a perda de massa nervosa.
Outro caso analisado por Damásio é o de Phineas Gage. Em 1848, en­quanto trabalhava na construção de uma ferrovia, em Vermont, EUA, esse operário de 25 anos, sobreviveu após ter sido alvejado por uma barra de fer­ro lançada por uma explosão. O obje­to atravessou a bochecha de Gage e saiu pelo topo da cabeça. O moço não apresentou qualquer seqüela física nem perdeu a memória. Sua inteligên­cia não foi alterada. Mas deixou de ser ponderado e passou a agir sem pensar nas conseqüências. Segundo Damá­sio, o equilíbrio entre as faculdades intelectuais e as propensões animais fora destruído. “Gage mostrava-se ca­prichoso, irreverente e obsceno; im­paciente às restrições quando estas opunham-se aos seus desejos” (O Er­ro de descartes, pág. 28).
O fato desafiou a ciência durante um século. Agora, sabe-se que o cére­bro tem funções espirituais, que defi­nem a personalidade e o caráter. A personalidade tem um endereço em nossa cabeça. Fica atrás da testa, no lobo frontal do cérebro. Foi justa­mente essa região do cérebro de Gage que a barra de ferro danificou.
O caso de Gage e Eliot, levou Da­másio a concluir que “o juízo ético tão próximo da alma humana depen­de significativamente de uma região específica do cérebro”.
Damásio e Burkert afirmam, por­tanto, que o espírito (ou alma) é uma função do cérebro vivo.
Outro pesquisador interessado nas questões do espírito é John Roger Searle, professor na Universidade de Berkeley, na Califórnia. Ele propõe o abandono das categorias tradicionais da alma. No livro A Redescoberta da Mente, ele concluiu que “a consciência é um fenômeno biológico natural”. Isso significa esquecer a doutrina da imortalidade da alma, que supõe urna dimensão espiritual independente do corpo. Searle diz que a consciência de­finida como um fenômeno biológico é a melhor maneira de se estudar o espí­rito. “Tenho dois slogans: o cérebro é a causa do espírito, e o espírito é uma característica do cérebro”, resume.

Conceito bíblico As descobertas científi­cas das características e funções do cé­rebro não trazem qualquer dificuldade à maneira com que a Bíblia define o ser humano. Na cultura bíblica, alma e es­pírito são interdependentes do corpo.
Segundo o relato da Criação, feito em Gênesis, o ser humano é indivisí­vel, completo e total. Uma unidade. E diferente de cada um dos elementos que a compõem. “E então formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente” (Gên. 2:7). Os elementos da terra formam parte do homem. Mas a terra já não é terra; é um corpo vivo. O mesmo ocorre com o fôlego. Já não é mais simples vento.

                     
O cérebro tem funções espirituais, que definem a personalidade e o caráter. Essa descoberta não traz qualquer
dificuldade à definição bíblica do ser humano

Segundo o Gênesis, a “alma viven­te” é resultado da junção de dois ele­mentos: matéria e fôlego de vida. O homem, portanto, foi  feito uma alma vivente, e não com uma alma vivente.
No Antigo Testamento, a palavra “alma” tem vários significados: vida (2o. Reis 17:21), coração (Gên. 34:3), ser vivente (Gên. 12:5), pessoa (Lev. 22:6), entre outros. Confirmando que se refere à pessoa completa, a Bíblia afirma que a alma pode morrer (Judas 16:30), ser assassinada (Núm. 31:19) ou devorada (Eze. 22:25).
Os israelitas, portanto, considera­vam alma uma designação apropriada para a pessoa ou o individuo. Eles também estavam certos de que o espí­rito não é urna entidade independen­te do corpo. Em Eclesiastes 12:7, é di­to: “E o pó volte à terra.., e o espírito volte a Deus que o deu.” Deus asso­prou no homem só o fôlego, portanto o que sai é só fôlego também.
A palavra traduzida por “espírito” nesse texto, é o termo hebraico “ruach”.
 No Antigo Testamento, é traduzido por “fôlego” 33 vezes (como em Eze. 37:5), por “vento” 117 vezes (Gên. 8:1) e por “espírito” 76 vezes. Mas mesmo quan­do é traduzido por “espírito” não indi­ca uma entidade espiritual independente. Nessas traduções, ruach tem significados como espírito de coragem (como em Jos. 2:11), temperamento ou ira (Juí. 8:3) e disposição (Isa. 54:6). Ruach também é traduzido por “mente” 9 vezes (como em Eze.11:5), “vontade” (2o. Cron. 19:31)  “caráter” 16 vezes ( Eze. 11:19). No  Novo Testamento, a palavra “espírito” é usada para traduzir o termo grego pneuma. É o equivalen­te a ruach, do hebraico. Refere-se ao princípio da inteligência e do pen­samento com que o homem é dota­do, e pelo qual Deus se comunica com o homem. A palavra alma é usada para traduzir psique, do gre­go, e indica os impulsos, as emo­ções, humor e desejos.
Desta forma, ao usar “espírito” e “alma” para falar da natureza huma­na, os escritores bíblicos não estavam se referindo a uma entidade espiritual independente do corpo físico, mas a características psíquicas e espirituais do ser criado à imagem de Deus.  Es­sas características podem ser altera­das a partir de lesões na estrutura do cérebro, como demonstrado nos estu­dos científicos.
As descobertas científicas sobre as propriedades do cérebro fortalecem o conceito bíblico da natureza do ser humano como ser vivo completo, in­tegrado e destituído de qualquer com­ponente incondicionalmente imortal.

A imortalidade só se tornará uma realidade após a ressurreição, quando Jesus retornar (ver 1a. Tess. 4:16 e 17). “E Deus limpará de seus olhos toda lágrima, e não haverá mais mor­te” (Apoc. 21:4).

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