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segunda-feira, 25 de agosto de 2014

BATISMO PELOS MORTOS



I Coríntios 15: 29



A explicação deste verso é das mais difíceis do Novo Testamen­to, porque os expositores ficam quase sempre no terreno das hipóteses.

Uma distintiva doutrina dos Mormons está baseada em I Cor. 15: 29. Afirmam eles: ‘Sendo que o batismo é essencial para a salvação e que muitos morreram antes da restauração da igreja por Joseph Smith, é essencial que os vivos sejam bati­zados pelos mortos que faleceram sem o conhecimento do Evan­gelho. Esse batismo por imersão, realizado pelo morto é cre­ditado em seu registro como se fosse realizado por ele mesmo”.

Os estudiosos têm apresentado muitas explicações tentan­do solucionar o que Paulo quis dizer nesta passagem, chegando os comentaristas a afirmarem que nenhuma passagem do Novo Testamento tem produzido tantas interpretações.

Para que haja real compreensão do problema é necessário que a análise seja firmada nas doutrinas bíblicas, sem a qual alguns têm chegado a conclusões absurdas.

Antes da exegese do texto é muito útil saber:

a) quem o pronunciou;

b) sob que circunstâncias ele foi escrito;

c) com que objetivo.

Paulo escreveu a primeira carta aos Coríntios em Éfeso, cerca de 59 AD, perto do fim de seu ministério nesse lugar —    Atos 20: 31; I Cor. 16:8.

Corinto era uma cidade rica, populosa e muito imoral, si­tuada ao Sul da Grécia. Durante 18 meses, Paulo ali esteve es­tabelecendo uma grande igreja. Depois de partir desta cidade, surgiram múltiplos problemas e a finalidade da carta era ajudá-los na sua solução. O assunto geral da epístola é o modo correto do bom procedimento cristão. Dentro deste objetivo se encon­tra o tema do capítulo 15, onde ele apresenta de modo leal e franco —   a verdade da ressurreição.

Uma leitura atenta de todo o capítulo 15, ou o contexto desta intrigante passagem para exegetas e comentaristas, é mui­to útil para a sua exata compreensão. Observe especialmente os versos 1 a 6, 12 a 16, 32.

Embora estas afirmações sejam úteis para nossa análise, admitamos com Vincent: “nenhuma das explicações propos­tas está livre de contestação.”

O SDABC afirma: dois pontos importantes devem ser con­siderados para uma boa compreensão da passagem:

1o.) Paulo está ainda falando da ressurreição e qualquer solução deve estar intimamente ligada com o tema do capítu­lo 15.

2o.) Uma razoável interpretação deve conformar-se com a correta tradução da frase grega:

“Huper ton necron” (pelos mortos), e é geralmente acei­to que huper (pelo) aqui significa “em favor de”.

O original, muitas vezes, nos ajuda na resolução do pro­blema. No grego se encontra: -baptixomenzi hper twn nekrwn —        BAPTIZOMENDI HUPER TON NECRON.

Desta frase a palavra que nos interessa mais é a preposição hiper. Ela rege o genitivo e o acusativo, estando aqui regendo o genitivo. Neste caso a tradução será: por, em favor de, por causa de.

Das explicações visando solucionar o problema as princi­pais, incluindo as do SDA Bible Commentary, são as seguintes:

1o.) As traduções bíblicas mais comuns para o português são a Edição Revista e Corrigida e a Revista e Atualizada no Brasil. Embora ambas tenham o mesmo autor, o Padre João Ferreira de Almeida, o leitor notará que os comentaristas apre­sentam pontos de vista diferentes baseados nas duas traduções. A Revista e Atualizada apresenta: “por causa dos mortos” e a Edição Revista e Corrigida afirma: “pelos mortos”.

Por causa dos mortos, isto é, como resultado do testemu­nho que deram enquanto vivos, ou ao morrerem.

Mesmo que esta exegese seja válida, aqueles que se bati­zavam por causa do testemunho daqueles que já haviam mor­rido, eles próprios não acreditavam na ressurreição do corpo. Assim sendo, o apóstolo aqui condena este vão procedimento.

2o.) Uma segunda corrente afirma que crentes vivos eram batizados em lugar de crentes mortos, porque estes, por alguma razão não puderam ser batizados. É possível que alguns des­ses crentes tivessem falecido repentinamente, devido a alguma praga ou outra ocorrência funesta, não tendo assim a oportu­nidade de se batizarem.

3o.) O Comentário de Adam Clarke sobre esta passagem é mais ou menos o seguinte:

Depois de afirmar que é o verso mais difícil do Novo Tes­tamento e apresentar várias interpretações, ele enfatiza esta:

Paulo emprega a palavra batismo como sinônimo de dores, de sofrimento, que os apóstolos estavam sofrendo pelo fato de pregarem o evangelho, com a esperança de ressuscitarem um dia, à semelhança de Cristo, para herdarem a vida eterna. A palavra batismo neste verso é usada no mesmo sentido de Marc. 10: 39 e Luc. 12: 50.

4o.) De acordo com The Pulpit Commentary, batismo, nes­ta passagem é o batismo do Espírito Santo, referindo-se portan­to à conversão da alma pelo Espírito de Deus.

Em outras palavras devemos compreender a expressão batismo pelos mortos como uma referência àqueles que das trevas pagãs foram convertidos pelo evangelho e admitidos na igreja, a fim de ocuparem o lugar de crentes que pelo martírio ou qualquer outra razão tinham morrido. Assim o batismo ou a conversão compensava as perdas causadas pela morte.

5o.) Ainda uma outra sucinta idéia defendia com ardor por vários estudiosos é que a palavra “mortos” neste passo se refere a Cristo, sendo usado o plural pelo singular (sinédoque) significando por causa do morto, isto é, Cristo. No origi­nal está mortos, e é difícil vermos como Cristo poderia repre­sentar uma “categoria” inteira de pessoas. Além disso Cristo não está morto mas bem vivo como a passagem ensina.

6o.) E uma explicação sugerida por aqueles que defendem a tese de que não havendo pontuação no original, ao colocarem esses sinais, houve uma distorção naquilo que Paulo realmente desejou dizer.

O Dr. W. E. Vine apresenta a seguinte solução: “Lembra­dos de que o original foi escrito sem pontuação, podemos pôr o sinal de interrogação depois da palavra “batizados” e então o versículo adquire sentido de acordo com a doutrina da Escri­tura. Assim ler-se-á: “que farão os que são batizados? É para os mortos. Se os mortos não ressuscitam, por que se batizam por causa deles?”

Vejamos agora a interpretação sugerida pelos estudiosos adventistas, de conformidade com o SDABC ao comentarem I Cor. 15:29.

“Paulo neste verso retorna a sua linha principal de racio­cínio concernente à ressurreição.

Esta é uma das difíceis passagens nos escritos de Paulo para a qual nenhuma explicação inteiramente satisfatória tem sido encontrada. Os estudiosos têm apresentado 36 interpreta­ções procurando solucionar os problemas deste verso. (Estas 36 diferentes explicações apareceram em Junho de 1890, em Newbery House Magazine, apresentadas por J. W. Horsley. No­ta de P.A.).

Três interpretações são sugeridas:

1o.) A passagem deveria ser traduzida. O que então farão os que são batizados? (São eles batizados) por causa dos mor­tos? Se os mortos não ressuscitam, por que então eles são bati­zados? Por que então nos expormos sempre ao perigo por eles? No entanto, esta tradução, embora possível, não explica satis­fatoriamente a frase ‘em favor dos mortos’.

2o.) Paulo está se referindo aqui a um costume herético, onde cristãos vivos eram batizados em favor dos mortos; portan­to, parentes ou amigos não batizados, poderiam ser salvos por procuração. Pais da igreja fazem várias referências a uma tal prática citando o costume dos heréticos marcionistas. Tertulia­no se refere ao festival pagão: Kalendae Februare onde os ado­radores se submetiam a uma purificação, ou lavagem em favor dos mortos (contra Marcion Verso 10). Marcion floreceu apro­ximadamente na metade do segundo século A.D. Este segundo ponto de vista exige a admissão de que a prática data de dias anteriores a Paulo. A objeção que se levanta é que o apóstolo seria inconsistente em citar uma prática herética ou pagã para sustentar uma doutrina cristã fundamental. Mas Paulo, sem endossar a prática poderia dizer em essência: Se os próprios pagãos e heréticos têm a esperança da ressurreição, quanto mais nós deveríamos alimentar esta sublime esperança. Jesus usou a história do rico e Lázaro como elemento para uma parábola, embora não endossasse sua aplicação literal.

3o.) É possível interpretar o verso 29, em termos de seu contexto (versos 12-32) como uma outra prova da ressurreição:
I —                     A expressão se refere ao argumento dos versos 12-28 e pode­ria ser parafraseada, ‘mas se não há ressurreição...’
II A pala­vra “batizado” é usada figuradamente para perigo ou morte como em Mat. 20: 22 e em Luc. 12: 50.
 III Aqueles que são batizados “refere-se aos apóstolos, constantemente enfrentan­do a morte, quando eles proclamavam a esperança da ressurrei­ção (I Cor. 4: 9-13; conf. Rom. 8: 36; II Cor. 4: 8-12).
IV Os mortos do verso 29 são os cristãos mortos dos versos 12-18, e potencialmente todos os cristãos vivos, que, de acordo com alguns em Corinto, não tinham esperança além da morte (versos 29 poderia ser parafraseado assim: “Mas se não há ressur­reição, o que devem fazer os mensageiros do evangelho, se eles continuamente enfrentam a morte em favor dos homens que são destinados a perecer na morte?

Seria tolice (v. 17) para eles, enfrentar a morte pelos ou­tros, “se os mortos não ressuscitam” (versos 16, 32).

Portanto, a coragem dos apóstolos, mesmo em face da mor­te, é uma excelente evidência de sua fé na ressurreição. Que não é possível que os cristãos fossem batizados vicariamente em favor de parentes e amigos mortos corno alguns ensinam, é comprovado pelas escrituras que declaram que um homem deve crer pessoamente em Cristo, e confessar seus pecados a fim de beneficiar-se com o batismo, e assim ser salvo (Atos 2: 38; 8:36-37; conforme Ez. 18: 20-24; João 3:16; I João 1:9). Mes­mo o mais justo dos homens pode livrar apenas a sua própria alma (Ez. 14:14,16). A morte determina o fecho da experi­ência humana (veja Sal. 49: 7-9; Ecl. 9: 5, 6 10; Isa: 38: 18, 19; Luc. 16:26; Heb. 9:27, 28)”.


Conclusão


O livro Consultoria Doutrinária da Casa Publicadora Brasi­leira, pág. 246, comentando esta passagem conclui:

“Uma das soluções mais razoáveis do texto em lide é o que o apóstolo S. Paulo, ao debater a doutrina da ressurreição, cita um costume pagão ou herético de sua época, se bem que não o aprova”.

Finalizo com a sintética explicação apresentada a este ver­sículo em A Bíblia Vida Nova:


“Há umas quarenta interpretações. Seria uma prática sem fundamento bíblico que Paulo aproveita para mostrar a incoe­rência dos seus oponentes em Corinto”.

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