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domingo, 3 de agosto de 2014

ARTIGOS SOBRE A TRINDADE - O JESUS REAL


                     O  Jesus  Real



         Teorias que negam que o Jesus da história e o Cristo da fé

               sejam o mesmo personagem não têm fundamento.

Rorigo Pereira da Silva
Teólogo




Jesus não nasceu em Belém, a res­surreição não aconteceu de ver­dade e a maior parte dos evange­lhos não passa de mito! Esta foi a tese de alguns teólogos do século 18, que, usando métodos e críticas racio­nalistas, duvidavam da veracidade histórica dos quatro evangelhos cris­tãos. Mateus, Marcos, Lucas e João seriam, nessa ótica, meros roteiristas de uma novela que teria pouco ou nada a ver com a realidade dos fatos.
De tempo em tempo, o debate acerca de Jesus volta à tona em mui­tos círculos acadêmicos. Hoje, com o alcance da midia, o assunto acabou saindo do rol de especialistas e ga­nhou terreno na sociedade. Afinal, a história de Jesus ainda é um tema que mexe com muita gente. Sua doutrina influencia direta ou indiretamente mais de dois bilhões de pessoas em todo o mundo. Só o Natal, festa mais popular do cristianismo, movimenta cifras capazes de enlouquecer qual­quer calculadora.
Mas o que poderia ser dito dessa onda de ceticismo em relação aos evangelhos? Seria a Bíbia apenas um conjunto de lendas com a finalidade de fazer os crentes acreditarem em fa­tos que jamais existiram? E curioso o número cada vez maior de “céticos” que gastam sua vida escrevendo sobre Jesus. Mesmo negando Sua história ou descrendo de Sua mensagem, eles parecem ser os maiores aficcionados do Mestre de Nazaré, pois a energia que desprendem discutindo e mon­tando semináros sobre os evangelhos chega a ser maior do que a de muitos religiosos de carteirinha. Nem mes­mo os Beatles, Elvis ou Hitler tiveram fãs e inimigos tão dedicados. Pena que suas conclusões não sejam tão ra­zoáveis quanto seu empreendimento.

Seminário de Jesus É provável que, dentre os mais conhecidos fõruns de debate promovidos pelos questiona­dores da Bíblia, nenhum seja tão fa­moso e agitador quanto o Jesus Semi­nar, ou Seminário de Jesus, realizado duas vezes por ano na América do Norte. Iniciado em 1985 por Robert W. Funk, professor e fundador do Instituto Teológico Westar da Califór­nia, o Seminário de Jesus já reúne mais de cem membros dispostos a se­parar, como eles mesmos dizem, o joio do trigo em termos de conteúdo bíblico, ou seja, apontar o que é e o que não é histórico em se tratando da vida de Jesus Cristo. Eles querem “li­bertar” Jesus dos “mitos”.
Contrariando, porém, sua preten­são acadêmica e sua promessa de im­parcialidade, os membros do Seminá­rio assumem muitas vezes posições tendenciosas que se valem de méto­dos altamente questionáveis. Mesmo assim, suas declarações mescladas de dúvida e sensacionalismo jornalístico acabam influenciando leitores no mundo inteiro. Nos últimos anos, vários jornais e revistas têm feito repor­tagens inspiradas na mesma filosofia cética do Seminário de Jesus, ainda que esse nome não figure explicita­mente em suas páginas.
Na prateleira dos best-sellers, são muitos os autores que constroem seu enredo na base da dúvida e do criticis­mo. Um exemplo disso foi o lança­mento do livro Uma História de Deus, de Karen Armstrong. Nele, a autora afirma que os evangelhos foram pro­duzidos 40 anos após a morte de Cris­to e que seu conteúdo é uma mistura de poucos fatos históricos e muitos elementos míticos. Em sua opinião, é este o significado básico que o evange­lho nos apresenta: uma teologia mito­lógica sobre o Messias e não uma des­crição real dos fatos como acontece­ram. O Dr. Paul Barnett, um dos mais hábeis defensores atuais do Jesus his­tórico, alerta que “o cristianismo está no momento enfrentando um de seus mais profundos desafios”. Calcula-se que, da década de 1980 para cá, foram publicados mais de 300 livros e artigos tentando “redefinir” o Jesus histórico.
Neste mesmo barco da incredulida­de encontram-se nomes conhecidos da teologia como John Dominic Cros­san, Robert Eisenman, Haim Cohn e outros que têm seus livros disponíveis em muitos idiomas, inclusive o portu­guês. Sua análise, contudo, parece muitas vezes uma vitamina de credu­lidade misturada com ceticismo, pois defendem a doutrina de Jesus (muitos deles são religiosos) sem valorizar a história que a sustenta.
Ora, e justamente ai que reside uma amostra de como determinados autores cometem o erro de avaliar a Bíblia com óculos exclusivamente modernos e ocidentais, ignorando por completo as raízes do tempo e lu­gar em que ela foi escrita. Na Grécia e no Oriente Antigo, a palavra evan­gelho era um termo técnico usado desde Homero para indicar basica­mente duas coisas: “boa noticia” (principalmente sobre vitórias milita­res) e “recompensa pela boa noticia”.
No ano 9 a.C., evangelho já era um termo comum usado em documentos oficiais da Ásia para indicar fatos his­tóricos como o nascimento de Augus­to e o inicio do ano civil. Transforma­do em estilo literário, evangelho pas­sou a ser uma narrativa que demanda uma história real por detrás de sua mensagem. Logo, seria forçar o seu
significado original entendê-lo como novela, parábola ou mito teológico.
Se um judeu, grego ou romano dos dias de Cristo avançasse no tempo e ouvisse hoje o significado mitológico que muitos dão à palavra evangelho, ele certamente estranharia esse conceito. Seria o mesmo que definir o sal como “um elemento que adoça os sucos”. Ou seja, algo totalmente sem sentido.

Em busca de evidências Não é somente de críticos que se alimenta a biblio­grafia de Jesus Cristo. Autores como Otto Borchert, Randall Price e Vitório Messori são alguns dos muitos que ainda defendem a realidade histórica dos evangelhos. Escrito por vários es­pecialistas, o recém-lançado Essential Jesus (Jesus Essencial), sem tradução para o português, é um livro que pro­mete incomodar os críticos e questionadores, pois fala da Bíblia como livro autên­tico em nada mitológico ou digno de correção.
Para quem não lê em in­glês, uma boa dica é o lança­mento no Brasil do livro Em Defesa de Cristo. Seu autor Lee Strobe1, foi por muitos anos ateu e jornalista inves­tigativo do Chicago Tribune. Através de entrevistas com os maiores especialistas em arqueologia, história e lín­guas antigas, ele investiga detidamente as provas em favor da existência de Jesus Cristo. Suas conclusões são simplesmente fascinantes.

Quanto aos céticos, é fácil encon­trar o motivo racional de seus ques­tionamentos. A história de um ho­mem que em sã consciência se decla­ra Deus, multiplica pães para milha­res, anda sobre as águas e ainda res­suscita dentre os mortos parece fan­tástica demais para a mente de alguns. Mas e quanto aos acadêmicos que ain­da insistem em acreditar nos evange­lhos? Em que baseiam sua certeza?

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                                    TRÊS TESTEMUNHOS


“Escrever a assinatura humana no próprio Tempo, por um nome humano no cume de sucessivos séculos, é uma façanha maravilhosa. César não conseguiu, nem Shakespeare, nem Newton. A genialidade é incapaz de conseguir este feito; a espada é incapaz. Mas este judeu [Jesus] conseguiu.”
W. H. Fitchett, em The Unrealized Logic of Religion (Londres: Epworth, 1922)

‘Um homem que fosse só um homem, e dissesse as coisas que Jesus disse, fio seria um grande mestre de moral: seria ou um lunático, em pé de igualdade com quem diz ser um ovo cozido, ou então seria o Demônio. Cada um de nós tem de optar por uma das alternativas possíveis. Ou este homem era, e é, o Filho de Deus, ou então foi um louco, ou algo pior.”
C. S. Lewis, em Cristianismo Puro e Simples (São Paulo: ABU, 1992)

“Eu devo admitir que Jesus modificou muitas de minhas rudes e impalatáveis noções sobre Deus. Por que eu sou um cristão? Algumas vezes eu me pergunto, e para ser honesto as razões se reduzem a duas: (1) a falta de alternativas e (2) Jesus. Brilhante, indomável, suave, criativo, esperto, irredutível, paradoxalmente humilde, Jesus está acima do escrutí­nio. Ele é quem eu quero que o meu Deus seja.”
    Philip Yncey, em The Jesus I Never Knew (Grand Rapids: Zondervan, 1995)
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Em primeiro lugar, eles se baseiam na fé, que é um elemento importante no processo do entendimento. Como disse Anselmo, um teólogo escolásti­co da Idade Média, “não procuro en­tender para crer, mas creio para de­pois entender; pois creio de tal modo que, se não cresse, não entenderia”. De fato, mesmo o pesquisador mais cético deve admitir que sua análise sempre encontrará elementos que fo­gem à investigação e necessitam ser aceitos pela lógica imaginativa, que é um tipo de fé.
Há. porém, outros elementos que podem ser verificados e aca­bam contribuindo tremendamente para a confiança no relato dos evangelistas. Logo, não há nenhu­ma dívida da fé em relação à racio­nalidade. Há apenas aqueles que, mesmo em face de evidências, in­sistem no vício da negação.

Nas pegadas de Jesus São muitas as evi­dências que ajudam a estabelecer a confiança na história de Cristo. Veja algumas delas:

    Preservação do texto original. Existem hoje cerca de 5.300 manus­critos gregos do Novo Testemento,
8.000 da Vulgata Latina e 9.300 de outras versões primitivas. Segundo a papirologia (que estuda documentos antigos), esse é um número muito mais abundante para se trabalhar do que o segundo mais autenticado do­cumento da antiguidade, que é a  Ilíada de Homero, da qual só restam 643 manuscritos.
•  Existência de Jesus. Referências a Jesus Cristo são feitas em documen­tos bem preservados do 1o. século. Historiadores e políticos romanos como Suetônio, Tácito, Trajano e Plí­nio O mencionam pelo nome. E fon­tes judaicas como o Talmude e Josefo também parecem aludir à Sua pessoa.
•  Fatos comprovados. Várias práti­cas descritas nos evangelhos estão hoje confirmadas pela História como procedimentos reais de 10 século. O censo romano, os impostos e o cruri­fragíum (quebrar ossos para apressar a morte de um crucificado) são ape­nas alguns exemplos.
•  Precisão histórica. A descrição geográfica e política do relato de Lu­cas é, na opinião de. muitos especia­listas, tremendamente precisa. Mes­mo os questionadores admitem isso. Suas referências a 32 paises, 54 ci­dades e 9 ilhas não possuem um erro sequer. Seu relato, segundo o arqueólogo John McRay está mais para um dossiê jurídico do que para um enredo novelístico.
•  Honestidade literária. Para se tornar uma obra mitológica, os evan­gelhos precisariam ser bastante modi­ficados em seu conteúdo atual. Eles contam de um Cristo que teme a pró­pria morte, conversa com mulheres em público, proclama-Se Deus num ambiente judaico e ainda termina pendurado numa cruz. Ora, esses não eram, na época, elementos muito atrativos para uma narrativa mitoló­gica que se pauta pelo exagero e a ocultação de qualquer coisa que pu­desse escandalizar os leitores.
•  Personagens descobertos. Vários nomes citados nos evangelhos, que foram por algum tempo considerados fictícios pelos críticos, têm sua reali­dade histórica comprovada pelos ar­queólogos. Herodes, Pilatos, Caifás e João Batista são alguns dos que já saí­ram da lista de mitos idealizada pelos questionadores.
Pelo visto, o debate sobre Jesus pro­mete ser longo e cada vez mais inten­so. Hoje, mais do que nunca, procede repetir a pergunta do Mestre direcio­nada a Seus discípulos: “Quem dizem as pessoas que é o Filho do homem?” E, depois de algumas respostas, a mais importante de todas as perguntas: “E vós, quem dizeis que Eu sou?”
Como disse o próprio Jesus, em João 8:24, se não crermos que Ele é quem diz ser, morreremos todos em nossos pecados.


Sinais dos Tempos      Novembro-Dezembro/2002

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