Ário - o precursor longínquo dos modernos "Testemunhas de
Jeová" - defendia suas idéias heréticas baseando-se em palavras gregas.
Com expressões de duplo sentido e frases equívocas procurava confundir seus
opositores. Quem sabe temos aqui uma influência atávica para os modernos
arianos serem extremados defensores da língua grega para a comprovação de
doutrinas excêntricas e antibíblicas, quase sempre envoltas em vocabulário
ambíguo.
Ário
para negar que o Filho fosse igual ao Pai usava duas palavras gregas: omoioz- homos (igual) e omoloz - homoios
(semelhante). Com a primeira negava a igualdade do Filho oom o Pai e com a
segunda defendia a semelhança das naturezas do Pai e do Filho. (as palavras em grego não estão corretas,
pois não consegui copia-las).
O problema teológico da Divindade de
Cristo culminou com a convocação do Concílio de Nicéia, cujos teólogos terçaram
lanças em torno do iota a menos ou a mais em dois vocábulos gregos - homoousios
e homoiousios. O debate principal deste Concílio girou em torno da
palavra grega
oüo-(a - usia (substância). Este Concílio, realizado em 325, foi o mais
famoso da história da Igreja, por ter sido convocado pelo Imperador
Constantino, que nele pronunciou um discurso assentado sobre o seu trono de
ouro, por se encontrarem presentes 318 bispos, mas sobretudo por se
defrontrarem dois expoentes de uma famosa controvérsia religiosa - Ário negando
a Deidade de Cristo e Atanásio - simples diácono, secretário do bispo
Alexandre, levantando-se como o maior baluarte na defesa da divindade do Logos.
Podem ser mencionados três grupos distintos neste Conclave Religioso:
1. O Ortodoxo - liderado por Atanásio, a sua mais
fulgurante estrela, que estabeleceu em seu Credo sobre a Divindade de Cristo,
que o Filho era da mesma ou de igual substância do Pai - homoousios.
2. O Arianista - capitaneado por Ário, homem de ferro como
afirmou Constantino, defendia que o Filho era apenas semelhante ao Pai (homoios)
mas não da mesma substância ou essência.
3. O Semi-Ariano guiado por Eusébio de
saréia afirmava: O Filho era de substância semelhante com o Pai - homoiousios.
Algumas pessoas menos avisadas poderão estar pensando,
não é perda de tempo ou pura bizantinice a preocupação com o problema insignificante
de uma letra a mais ou a menos em vocábulos gregos? Na realidade, não é, porque
a palavra homoousios diz uma coisa, mas homoiousios diz outra completamente
diferente. Aceita uma, Cristo era Deus, essencialmente Deus, aceitando a outra
Ele seria apenas a mais elevada das criaturas, o mais eminente dos seres
criados por Deus, portanto criatura e não criador.
Eis o que nos diz Daniel Hops no livro" A Igreja dos Apóstolos
e dos Mártires", pág. 544:
Cese
"Alguns
dos mais maldosos e entre outros os Eusébios - pensaram que com uma
insignificante mudança na grafia, as suas doutrinas poderiam sobreviver. Assim
substituiram a palavra Homoousios, que quer dizer "da
mesma substância" pela palavra Homoiousios, que
significa "de substância semelhante". Entre as
palavras não há diferença senão de um iota, mas tal diferença mínima na
aparência era fundamental, e temos de avaliar bem o valor da parada posta em
jogo".
Desta famosa polêmica religiosa nasceram
dois Credos - o de Nicéia e o de Atanásio. O conhecimento deles é útil para
todos os pesquisadores de dois assuntos transcendentais - A Divindade de
Cristo e a Trindade, por isso eles se encontram a seguir:
O Credo de Nicéia
"Cremos em Deus, o Pai
Todo-Poderoso, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis; e em um
Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, unigênito do Pai, isto é, da substância
do Pai, Deus de Deus, Luz de Luz, verdadeiro Deus de Verdadeiro Deus, gerado
não feito, sendo da mesma substância do Pai, por quem todas as coisas foram
feitas no céu e na Terra, que por nós homens e para nossa salvação desceu do
céu, e encarnou-se, fez-se homem, sofreu, ressuscitou no terceiro dia, subiu
aos céus e virá para julgar os vivos e os mortos. Aqueles que dizem que houve
tempo quando Ele não existia e que Ele não existiu antes de ser gerado e que
foi feito do nada, ou que o Filho de Deus é criado, que Ele é mutável ou
sujeito à mudança, a Igreja Católica anatematiza". A.B.Teixeira,
Dogmática Evangélica, pág. 76, Apud Aristarcho P. de Mattos na Monografia -
Jesus Cristo, Aquele que Era, que É e que Há de vir, pág. 82.
O Credo
de Atanásio
Fonte: Philip Schaff, The Creeds of
Christendom (New York: Harper, 1919) Vol.2, págs. 66-70.
1. Para todo aquele que deseja ser salvo:
antes de tudo é necessário que mantenha a Fé Católica:
2. Por cuja Fé, a
menos que cada um se conserve íntegro e incontaminado: sem dúvida perecerá
para sempre.
3. E a Fé Católica é esta: Que adoramos
um Deus em Trindade, e Trindade em Unidade;
4. Não confundindo as Pessoas: nem
dividindo a Substância (Essência).
5. Porque há uma Pessoa do Pai: outra
do Filho: e outra do Espírito Santo.
6. Mas a Deidade
do Pai, do Filho, e do Espírito Santo, é totalmente uma: a Glória semelhante, a
Majestade co-eterna.
7. Tal como é o Pai: assim é o
Filho, e assim é o Espírito Santo.
8. O Pai incriado: o Filho incriado:
e o Espírito Santo incriado.
9. O Pai
incompreensível (ilimitado); o Filho incompreensível (ilimitado): e o Espírito
Santo incompreensível (ilimitado, ou infinito).
10. O Pai eterno: o Filho eterno: e o Espírito
Santo eterno.
11. E contudo eles não são três eternos:
mas um eterno.
12. Como também
não há três incriados: nem três imcompreensíveis (infinito), mas um incriado:
e um incompreensível (infinito).
13. Assim do mesmo modo o Pai é onipotente:
o Filho Onipotente: e o Espírito Santo Onipotente.
14. E
contudo eles não são três Onipotentes: mas um Onipotente.
15.
Assim o Pai é Deus: o Filho Deus: e o Espírito Santo é Deus.
16. E
contudo eles não são três Deuses: mas um Deus.
17. Assim semelhantemente o Pai
é Senhor: o Filho é Senhor: e o
Espírito Santo é Senhor.
18. E contudo não
há três Senhores: mas um Senhor.
19. Porque, como somos compelidos pela verdade
cristã a reconhecer cada Pessoa por si mesma como Deus e Senhor:
20. Assim, somos proibidos pela Religião
Católica a dizer: Há três Deuses, ou três Senhores.
21. O Pai não é feito de ninguém: não criado, nem gerado.
22. O
Filho é somente do Pai: nao feito, nem criado, mas gerado.
23. O Espírito Santo é do Pai e do Filho: não
feito, não criado, nem gerado: mas procedente.
24. De sorte que
há um Pai, não três Pais: um Filho, não três Filhos: um Espírito Santo, não
três Espíritos Santos.
25. E nesta
Trindade nenhum é anterior, ou posterior ao outro: nenhum é maior, ou menor do
que o outro (não há nada antes ou depois: nada maior ou menor) .
26. Mas todas as três Pessoas
são,co-eternas, e coiguais.
27. De sorte que em todas as
coisas, como dito anteriormente: a Unidade na Trindade, e a Trindade na
Unidade, deve ser adorada.
28. Aquele, portanto, que será salvo,
deve (permita-lhe) assim pensar na Trindade.
29. Outrossim, é
necessário para a salvação eterna: que ele também creia corretamente
(fielmente) na Encarnação de nosso Senhor Jesus Cristo.
30. Porque a
verdadeira Fé consiste em que creiamos e confessemos: que nosso Senhor
Jesus Cristo, o Filho de Deus, é Deus e Homem;
31. Deus, da
Substância (Essência)do Pai; gerado antes dos mundos: e Homem, da Substância
(Essência) de sua Mãe, nascido no mundo.
32. Perfeito
Deus: e perfeito Homem de uma alma justa e carne humana permanente.
33. Igual ao Pai, no tocante à sua Divindade:
e inferior ao Pai no que respeita à sua
Humanidade.
34. O qual embora seja (é) Deus
Homem; contudo não são dois, mas um Cristo.
35. Um; não pela conversão da
Divindade em carne: mas pela recepção (apropriação)da Humanidade em Deus.
36. Totalmente uno; não pela
confusão da Substância (Essência): mas pela unidade da Pessoa. .
37. Quanto à carne e alma justa,é
um ser humano: de sorte que Deus e Homem é um Cristo;
38. Que padeceu
pela nossa salvação: desceu ao inferno (Hades, mundo dos espíritos): ressurgiu
dos mortos ao terceiro dia.
39. Ascendeu ao
céu, está assentado à mão direita de Deus Pai (Deus o Pai) Todo-Poderoso.
40. Donde (dali) ele virá para
julgar os vivos e os mortos.
41. Em cuja vinda todos os
homens ressuscitaria com seus corpos;
42.
E prestarão contas por suas próprias obras.
43. E
aqueles que tiverem feito o bem irão para a vida eterna: e aqueles que tiverem
feito o mal, para o fogo eterno.
44. Esta é a Fé Católica: que a
menos que o homem creia fielmente (verdadeira e firmemente), ele não pode ser
salvo.
(NOTA DOS EDITORES: As inserções entre parênteses estão na edição
de Schaff). Extraída do SDABC, Vol. IX, págs. 298-299.
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