A
Origem das etnias
O
Estudo dos diversos povos e línguas aponta para a origem comum da raça humana
O criacionismo
defende que, após a Criação, havia uma só língua, ou seja, uma só estrutura
lingúística, com um vocabulário comum, como pode ser observado em Génesis 11:1.
Entretanto, essa língua comum foi um dos fatores utilizados pelo ser humano
para violar uma das primeiras recomendações divinas, a de encher e dominar a
Terra. De fato, opondo-se a esse claro desígnio de Deus, o ser humano começou
a construir uma cidade e uma torre, “para não serem espalhados pela
superfície da Terra”. Foi essa, em parte, a razão pela qual o mesmo Deus que
havia dado a linguagem originalmente aos homens deu origem a várias famílias
lingüisticas (Gên. 11:7), em resultaçlo do que a humanidade acabou se
espalhando por todo o planeta. O ponto de vista criacionista, baseado no relato
bíblico, explica assim não só a unidade, tuas também a diversidade das línguas.
É sobre isso que o professor
Orlando Rubem Ritter fala nesta entrevista. Ritter é natural de Porto Alegre.
Formado em Matemática pela USP é tambem mestre em Educação pela Andrews Universiiy
nos Estados Unidos. Além de ter sido diretor de faculdades e fundador de
escolas, foi professor de Matemática e Física por mais de 30 anos, e professor
de Ciência e Religião por mais de 44 anos. Atualmente é coordenador do curso de
Pedagogia do Centro Universitário Adventista, campos 1 (São Paulo). Muito
solicitado para fazer palestras, é conhecido por sua vasta cultura.
Sinais: Fale um pouco sobre a variedade linguística e étnica no mundo.
Ritter: A variedade é um fato marcante neste planeta. Enquanto
seres humanos foram capazes de pintar a Capela Sistina e compor belíssimas
sinfonias, há tribos que ainda não sabem usar o fogo. É um grande contraste. No que diz respeito aos aspectos étnicos e
lingüísticos, também há grande variedade, embora em nível genético haja
diferenças mínimas. Só na África são mais de mil etnias. Os ramos lingüísticos
são certa de cinco mil.
Sinais: Existe consenso
com relação à origem comum de toda a humanidade, a partir de um casal original?
Ritter: Sim. É a
Antropologia Descritiva (ou a Etnologia) que estuda as etnias humanas. A Lingüística estuda as línguas.
Conhecer a origem das etnias e das línguas é realmente algo empolgante. A
origem comum da humanidade a partir de um par original é chamada monogenismo,
e esse conceito também se aplica à origem das línguas.
Podemos utilizar a Bíblia como
fonte de hipóteses, sustentadas, é claro, por evidências, para ter uma idéia
de como se deu a origem das etnias e das diversas línguas.
Sinais: O que a Bíblia fala sobre o primeiro
homem?
Ritter: Adão, ou Adam em
aramaico, quer dizer “tornar vermelho” ou “ficar vermelho”, o que sugere que a
pele dele tinha coloração avermelhada (e é bom lembrar que ele foi feito da
terra). Na tradição hindu, aparece o ancestral Adamu; e na tradição sumeriana,
a mais antiga civilização pós-diluviana, aparece Adapa. Segundo esta tradição,
Adapa vivia num país onde não havia morte, o ar era puro e a água, limpa. Mas
Adapa acabou perdendo o direito à imortalidade. Várias culturas possuem
relatos que mostram uma origem comum para a humanidade, com Adão e Eva, no
Jardim do Éden.
Sinais: Por que o mundo antediluviano não
promovia muita variabilidade?
Ritter: A humanidade
primeva vivia em um mundo bem diferente. O apóstolo Pedro fala do “mundo
daquele tempo” ou “mundo de então”, deixando clara a idéia de que o mundo
antediluviano era bem diferente do nosso. Os criacionistas e os evolucionistas
concordam em que havia um único continente, a Pangea, com clima e topografia
diferentes dos atuais. Esses fatores, entre outros, promoviam a relativa
invariabilidade de então, situação que perdurou até o dilúvio.
Sinais: As mudanças ocorridas no mundo
pós-diluviano promoveriam, então, mudanças no gênero humano.
Ritter: Também. A ação da seleção natural ocorrendo nos
diferentes ambientes pósdiluvianos, juntamente com o total isolamento
geográfico a que as populações humanas estavam submetidas no passado, pode ser
uma boa explicação para a origem das etnias humanas. Por exemplo, se após o
dilúvio um grupo de indivíduos migrou para o sul da África, acabou se
isolando totalmente dos grupos que viviam na Ásia, pois as viagens eram difíceis
naquele tempo, e eles nunca mais voltaram a casar entre si. Em lugares quentes,
como a África, a pele negra apresenta vantagem em relação à pele branca; então,
os indivíduos que nasciam com pele mais escura levavam vantagem seletiva em
relação aos indivíduos de pele mais clara. Com o passar de muitos anos e total
isolamento reprodutivo (ou seja, estes indivíduos de pele mais escura não se
casavam com os de pele clara, pois estavam isolados geograficamente), a pele
gradualmente se tomou mais escura. Atualmente estamos vendo o processo
inverso acontecer: devido às facilidades de transporte, as barreiras
geográficas estão sendo quebradas. Pessoas de etnias diferentes estão se
casando e gradualmente estão desaparecendo as diferenças marcantes entre as etnias.
Sinais: As características dos filhos de Noé sugerem alguma coisa ao
pesquisador?
Ritter:
Noé tinha 480 anos quando Deus lhe ordenou construir a arca. Com 500 anos
nasceu-lhe o primeiro filho, Jafé. Os dois seguintes, Sem e Cão, nasceram com
dois anos de diferença cada. Creio que as características diferenciadas entre
eles seja também uma possibilidade de explicação para a variação étnica
verificada entre os humanos.
Jafé possivelmente tenha nascido
com uma pele diferente da dos pais e um pouco mais clara, considerando-se as
etnias que se originaram dele, ou seja, os caucasianos. Curiosamente, o
significado do nome Sem é “nome”. Isso mesmo. Nunca vi alguém chamado “Nome”,
mas o plano de Deus era que esse filho de Noé preservasse justamente o nome da
família e o nome de Deus. Sem deu origem aos povos semitas, que de fato
contribuíram para manter viva a religião monoteísta. Cão significa “quente”.
Possivelmente sua bagagem genética tenha sido remodelada por Deus para
enfrentar as regiões mais quentes que haveria no mundo, após o dilúvio. Mas é
claro que também devemos levar em conta o fato da adaptação biológica natural e
o fator isolamento geográfico, como já disse.
Gênesis 9:19 diz que desses três
homens — Sem, Cão e Jafé — se povoou a Terra, originando-se
as etnias e as línguas. O mundo passou por grande fragmentação geográfica e
mudanças climáticas e topográficas, o que favoreceu a variabilidade em
diversos aspectos.
Sinais: Por que o senhor acha que Deus promoveria essa diferenciação
entre eles ou teria dotado a humanidade com essa capacidade adaptativa?
Ritter: Vejo aqui a presciência de Deus, em dotar a humanidade
renascente com características que lhe ajudariam a se adaptar melhor ao
estranho mundo pós-diluviano. Além disso, era também uma forma de conter a maldade,
isolando os povos.
Coincidentemente com a visão bíblica, os etnólogos
classificam as etnias a partir de três grandes “raças” e troncos linguísticos.
Mas o centro de dispersão, segundo a Bíblia, fica na Ásia Menor, no Cáucaso, ou
terra de Ararate, e não na África, como querem alguns.
Sinais: Os traços peculiares dos três filhos de Noé podem ser identificados ainda hoje?
Ritter: Sem dúvida. Até hoje os povos semitas (descendentes de
Sem) podem ser reconhecidos pelos traços fisionômicos. As línguas que falam,
apesar das variações, também podem ser identificadas através dos sons guturais
fortes, como no árabe, e das raízes trilíteras, compostas unicamente de consoantes
(só mais tarde os massoretas acrescentaram vogais ao hebraico).
Jafé deu origem aos povos
indo-europeus, ou caucasianos, ou ainda arianos. Os jafetitas, além de
povoarem a Europa, imigraram para o vale do Rio Indo (Índia), ocorrendo a
miscigenação com os povos que já havia lá. Os hindus têm, portanto, ascendência
jafetita e sua língua tem como base o sânscrito, que é uma língua jafetita.
Dessa língua surgiu uma grande família que originou idiomas como o latim, o
grego e o português, “a última flor do Lácio”. São línguas agradaveis, “de
cultura” e ampla flexão nominal e verbal, que permitem expressar idéias
profundas, o que não ocorria com as línguas semíticas. Um dos sete filhos de
Jafé, Gômer, originou os europeus; Javã originou os gregos; Magog, os povos
eslavos (russos); e Madai, os medo-persas.
Cão, por sua vez, deu origem às
raças negróides, australóides e mongolóides — ou camíticas. Suas línguas
sofreram grande fragmentação. São silábicas e aglutinantes. Exemplo: Itatiaia,
palavra indígena que significa pedra (ita) de muitas pontas. Do filho mais
velho de Cão, Cush, surgiram os cushitas, que deram origem aos etíopes,
sudaneses e núbios, ou seja, os negros. Ninrod, também filho de Cão, fundou
Babel, onde houve a grande fragmentação linguística. Misrain originou os
egípcios; e Canã. que quer dizer púrpura, deu origem aos cananeus. Quando os
gregos entraram em contato com os cananeus, na costa do Mediterrâneo,
chamaram-nos de fenícios, que quer dizer justamente púrpura.
Sinais: Fale um pouco mais sobre as características
das três grandes etnias.
Ritter: Os semitas tinham propensão á
religiosidade. Agarravam-se a Deus, ou a deuses. Como disse, o hebraico, por
exemplo, é uma língua rígida, invariável, própria para transmitir verdades
imutáveis. Cogitavam do mundo espiritual, característica que nossa cultura
cristã herdou.
Os jafetitas, por causa de sua linguagem
e estrutura mental, tinham vocação intelectual. Suas línguas eram próprias para
a literatura, a poesia e o canto. Buscavam a verdade, o que fizeram de fato os
grandes filósofos.
Já os povos camíticos foram os desbravadores
do mundo. Preocupavam-se mais com o “aqui e agora”, eram práticos.
Desenvolveram tecnologia náutica e de outras naturezas. Veja o bumerangue dos
aborígenes australianos, por exemplo. Uma maravilha da engenharia. Quando os
outros povos se lançaram a descobrir novos territórios, os descendentes de Cão
já estavam lá. Tome como exemplo a América.
Como se pode ver, todas essas etnias
têm características positivas que ajudaram a humanidade, de uma ou de outra
forma.
Sinais dos Tempos
Março-Abril/2003
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