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terça-feira, 12 de agosto de 2014

O ARREPENDIMENTO DE DEUS E DO HOMEM


O ARREPENDIMENTO DE DEUS E DO HOMEM

Introdução


O  leitor da Bíblia ao chegar a passagens como Gênesis 6:6; I Samuel 15: 11 e Jonas 3: 10 que declaram que Deus se arre­pendeu e posteriormente confrontá-las com Números 23: 19; I Samuel 15: 29; Salmo 110: 4 e Hebreus 6:17 que afirmam ser impossível que Deus se arrependa, pensará que existe grande contradição na Palavra de Deus quanto ao arrependimento divi­no.

Com a finalidade de dissipar dúvidas sobre a veracidade da palavra inspirada e para que declarações aparentemente con­flitantes sejam esclarecidas esta monografia foi preparada. Para que este objetivo seja alcançado é necessário pesquisar direta­mente nas línguas originais em que o Velho e o Novo Testamen­to foram escritos, porque estas nos fornecem elementos convincentes.

O Que é Arrependimento?


Afirmou Billy Graham que se o vocábulo arrependimento pudesse ser descrito com uma palavra, ele usaria o vocábulo renuncia. E esta renúncia seria o pecado.

O primeiro sermão pregado por Jesus foi: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus.”

Devemos a salvação unicamente à graça de Deus, mas a fim de que o sacrifício de Cristo na cruz do Calvário se torne efi­caz ao crenteé preciso que ele se arrependa do pecado e aceite a Cristo através da fé.

O arrependimento é mencionado 70 vezes no Novo Testa­mento. Jesus disse: “. . . se, porém não vos arrependerdes, to­dos igualmente perecereis.”

Que significaria a palavra arrependimento para Jesus?

Qualquer um de nossos dicionários a definirá como “sentir tristeza, ou lamentar.” Porém, a palavra no original hebraico e grego tem uma conotação muito mais ampla por significar mais do que lamentar e sentir tristeza pelo pecado.

Arrependimento na Bíblia significa “mudar ou voltar-se”. A palavra indica que deve haver uma completa mudança no indivíduo.

Pedro mostrou com seu arrependimento que estava dispos­to a transformar sua vida, a seguir uma nova direção. De outro lado Judas entristeceu-se, sentiu remorso, mas não se arrepen­deu.

De acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa de Au­rélio Buarque de Holanda Ferreira, “arrependimento é sinôni­mo de compunção, contrição. Insatisfação causada por viola­ção da lei ou de conduta moral e que resulta na livre aceitação do castigo e na disposição de evitar futuras violações.”

Como um termo teológico é o ato de abandonar o pecado, aceitando a graciosa dádiva da salvação de Deus, entrando para o companheirismo com Ele.

Arrependimento evangélico tem sido definido como mu­dança de pensamento, que leva a novo modo de agir. Em ou­tras palavras é a revolta consciente e definitiva do homem con­tra seu próprio pecado.

Arrependimento significa tornar-se outra pessoa, “se não vos converterdes e não vos tomardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus”. Mateus 18:3.

Russell Norman Champlin assim define arrependimento:
1o.)  “É um ato divino que transforma o homem, mas que depende de reação positiva do homem, uma vez inspirada pela fé.”

2o.) “É o começo do processo da santificação.”1

“Consiste de uma revolução naquilo que é mais determi­nativo na personalidade humana, sendo o reflexo, na consciên­cia, da radical mudança operada pelo Espírito Santo por oca­sião da regeneração.”2

Arrependimento no Velho Testamento


No hebraico são encontrados dois vocábulos para expressar a idéia de arrependimento.

1.       —     Naham. É o arrependimento de Deus e correspon­de ao grego metamélomai. As seguintes passagens bíblicas con­firmam a sua existência. Gênesis 5: 6 e 7; Êxodo 32: 14; Jonas 3:9 e 10.

Deus é imutável em seu ser, na sua perfeição e em  seus propósitos. O arrependimento divino não traz mudança do seu ser, do seu caráter, mas apenas mudança em sua maneira de tratar com os homens. O arrependimento de Deus é uma referência à alteração que se realiza na sua relação para com o homem. O exemplo dos ninivitas nos ajuda a compreender o arrependimento de Deus. A cidade não foi destruída porque o povo se arrependeu de suas más obras. Deus mudou o seu tratamento devido à mudança operada no povo. O arrependi­mento de Deus (naham) foi uma conseqüência do arrependi­mento do povo (shubh).

Na internacional Standard Bible Encyclopaedia, vol. IV, pág. 2.558 se encontra a seguinte explicação:

“A palavra hebraica naham é um termo onomatopaico, que significa dificuldade em respirar, como gemer, suspirar, e também lamentar, magoar-se, compadecer-se e, quando a emo­ção é produzida pelo desejo do bem dos outros, chega a signi­ficar compaixão e simpatia; quando, porém, se refere ao pró­prio caráter e atos, significa lastimar, arrepender-se. A fim de adaptar a linguagem á nossa compreensão, Deus é representa­do como alguém que se arrepende, quando retarda as penali­dades que tem de aplicar ou quando o mal a sobrevir é desvia­do por ter havido uma reforma genuína (Gênesis 5: 6; Jonas 3:10).”

II.      —     Shubh —arrependimento do homem.

Este vocábulo hebraico corresponde ao grego metanoéo.

A palavra significa girar, voltar ou retornar, e é aplicada quando a pessoa deixa o pecado e se volta para Deus de todo o coração.

Se pecado etimologicamente significa falhar em atingir o alvo, desviar-se do caminho certo: arrepender-se é retornar ao caminho correto ou total retorno da pessoa a Deus.

Arrependimento em o Novo Testamento


Assim como há no hebraico duas palavras, uma para ex­pressar o arrependimento divino e outra o humano, existem também em grego duas diferentes palavras para transmitir es­tes dois tipos de arrependimento.

1.     O verbo usado em grego para o arrependimento de Deus é metamelomai —      metamelomai.

Metamélomai  pode ser traduzido por pesar, sentir triste­za, remorso, mudança de sentimento. Ter cuidado ou preocu­pação por alguém ou alguma coisa. Etimologicamente signifi­ca mudar uma preocupação por outra.

Possuindo Deus caráter e atributos imutáveis Ele é per­feito, logo não pode mudar nem para melhor nem para pior. No entanto a imutabilidade divina não consiste em agir sem­pre da mesma maneira. Há casos e circunstâncias que podem ser alterados.

Strong nos esclarece sobre a imutabilidade de Deus:

“Deus, embora imutável, não é imóvel. Se Ele, coeren­temente, segue um curso de ação segundo a justiça, Sua atitu­de precisa ser adaptada à toda mudança moral nos homens.

“A imutável santidade de Deus requer que Ele trate os ímpios diferentemente dos justos. Quando os justos se tornam ímpios, seu tratamento a respeito destes deve mudar. O sol não é volúvel ou parcial porque derrete a cera, enquanto en­durece o barro; a mudança não está no sol, mas nos objetos sobre os quais brilha. A mudança no tratamento de Deus pa­ra com os homens é descrita antropomorficamente como se ocorressem mudanças no próprio Deus.”3
II.     Metanovw —   metanoéo é o verbo usado em grego para o arrependimento do homem.

Dicionários e comentários nos informam que significa:

a)     Uma mudança de mente, de pensamento

b)    Literalmente significa pensar diferentemente.

c)     Teologicamente a palavra inclui não somente mudan­ça da mente, mas uma nova direção da vontade, propósito e atitudes.

O verbo metanoéo é usado em o Novo Testamento 32 ve­zes.

O arrependimento inclui três aspectos:

1o.)  O aspecto intelectual, ou seja, o reconhecimento, pe­lo homem, do erro de sua vida, sua culpa diante de Deus, sua incapacidade para em suas próprias forças agradar a Deus. Sen­do o homem um ser intelectual, Deus somente se agrada em ser adorado por meio de um processo racional.

2o.)  O aspecto emocional —  tristeza pelo seu pecado co­mo uma ofensa contra um Deus santo e justo. Os sentimentos não são equivalentes ao arrependimento, mas podem conduzir a um verdadeiro arrependimento, porque o verdadeiro arrepen­dimento não pode provir de um coração frio ou indiferente.

3o.)     O aspecto da vontade ou volitivo — mudança de propósito. resolução íntima contra o pecado e disposição para bus­car de Deus o perdão, purificação e poder. Este é o mais impor­tante dos elementos, pois Deus pode apelar á pessoa para se converter, chamá-la ao arrependimento, mas como Deus dotou o homem com o livre arbítrio, somente este pode ou não acei­tar o perdão divino; somente o próprio homem pode escolher arrepender-se ou não.

Apesar das ponderações anteriores, o arrependimento, no mais profundo sentido está além das forças ou do poder huma­no. Ellen G. White declara: “O arrependimento, bem como o perdão, são dons de Deus por meio de Cristo.” 4

É importante compreender (como insisto Morris Venden, o autor de Meditações Matinais, 1981, nos dias 22 a 31 de maio) esta verdade fundamental. Não podemos primeiro arrepender-nos para depois ir a Cristo. Devemos ir a ele como estamos, ele irá transformar a nossa vida.

Paulo em Romanos 2: 4 nos asseverou com muita objeti­vidade que é a bondade de Deus que nos conduz ao arrepen­dimento.

O arrependimento é um passo decisivo na vida do cristão, desde que a Bíblia no-lo apresenta como uma das condições para a salvação.  As seguintes citações bíblicas corroboram para esta afirmação: Mat. 3:1 e 2.

Naqueles dias apareceu João Batista, pregando no deser­to da Judéia, e dizia: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus.”

Mat. 4:17:

Daí por diante passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus. Luc. 13: 3:
... Se, porém, não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis.

A pena abalizada de Ellen G. White confirma a nítida dis­tinção entre o arrependimento divino e humano.

“O arrependimento de Deus não é como o do homem. Aquele que é a Força de Israel não mente nem se arrerende; porquanto não é um homem para que se arrependa. I Samuel 15: 29. O arrependimento de Deus implica uma mudança de circunstâncias e relações. O homem pode mudar sua relação para com Deus, conformando-se com as condições sob as quais pode ser levado ao favor divino; ou pode pela sua própria ação, colocar-se fora da condição favorável, mas o Senhor é o mes­mo, ontem, hoje e eternamente. Heb. 13:8.”

“O arrependimento quando referente a Deus significa uma mudança de atitude, ou um voltar atrás. Nesse sentido é que a expressão é usada em I Sam. 18: 8. Deus não modifica seu pro­pósito, porém o homem, sendo um agente moral livre, pode modificar a realização do propósito divino. O relato de Jonas sobre a destruição de Nínive nos mostra que houve uma mu­dança de atitude com relação a Deus, e Ele também mudou Seu procedimento, isto é, arrependeu-se do mal de que lhes ameaçara.” 6


Dois Exemplos Distintos de Arrependimento
Encontrados na Bíblia

1o.) O arrependimento de Pedro.

Após a negação do Mestre, quando o olhar compassivo e perdoador de Cristo lhe penetrou na alma, ele se rendeu à influência benfazeja do amor Lucas 22: 62 afirma que ele chorou amargamente. Esta é a tristeza que opera o arrependimento que conduz à salvação — II Cor. 7: 9-10. O arrependimento de Pedro foi o metanoéo que modificou toda a sua vida. Ele estava triste por causa do seu pecado. Sua trágica queda por ocasião do julgamento de Cristo, seguida de seu arrependimen­to e subseqüente reabilitação, aparece como sendo o ponto de conversão de sua vida e caráter. Daí por diante, e com uma úni­ca exceção (Gál. 2: 11-13), ele nos é apresentado como nobre apóstolo, com dignidade, coragem, prudência e firmeza de pro­pósito.

2o.} O arrependimento de Judas.

Em Mateus 27: 3 se encontra o verbo metamélomai, que em algumas traduções aparece traduzido por arrepender-se, mas o seu arrependimento foi somente no sentido de tristeza ou re­morso pelo seu pecado, e não no sentido de mudança de vida, de abandono do pecado. Essa tristeza segundo o mundo é a que opera a morte (II Cor. 7:10).

Judas não sentiu profundo pesar por haver traído a Cristo, mas tristeza por perceber que seus planos falharam.

O verbo matamélomai foi usado porque o seu arrependimen­to foi apenas mera tristeza, desespero, sem nenhuma mudan­ça da mente (metanoéo).

Cristo sabia que o traidor não se arrependera verdadeira­mente.

A pena inspirada confirma esta declaração;

“Até dar esse passo Judas não passara os limites da possi­bilidade de arrependimento. Mas quando saiu da presença de seu Senhor e de seus condiscípulos, fora tomada a decisão fi­nal. Ultrapassara os termos.”


Conclusão


A idéia principal na afirmação de que Deus se arrependeu, nada tem a ver com falhas e pecados como acontece com o ho­mem, mas apenas a sua mágoa com o mau procedimento huma­no e o seu desejo de sustar o curso do mal.

Rendamos sempre graças a Deus porque no seu infinito amor ele se entristece com o nosso pecado e muda o seu trata­mento, quando nos arrependemos de nossas obras más.

Deus é imutável, mas a mutabilidade humana faz com que ele mude o seu trato para conosco.


Referências

1.       O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. vol. III, pág. 68.

2.     O Novo Dicionário da Bíblia, vol. 1, pág. 141.

3.     A Teologia Sistemática de Strong, pág. 124.

4.     Testemunhos Seletos, de Ellen G. White, vol. II, pág. 94.

5.       Patriarcas e Profetas, de Ellen G. White, pág. 700.

6.     SDA Bible Dictionary

7.     O Desejado de Todas as Nações, de Ellen G. White, pág. 490.





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