QUAL A MELHOR
TRADUÇÃO DE APOC. 22:14
Introdução
Não existe nenhum autógrafo do livro de Apocalipse, bem como dos demais
livros da Bíblia. O que temos são cópias de cópias e estas, como nos informa a
História do Texto Bíblico, por vários fatores, sofreram o risco dos erros dos
copistas. Por exemplo alguns copistas tinham o hábito de colocar notas marginais
ou ao pé da página acrescentando algo ao que estava copiando ou explicando-o.
Um escriba posterior achando idéias válidas nestas notas e consentâneas com a
doutrina bíblica, ele as introduzia no texto. Crêem os estudiosos que foi isto
o que aconteceu com a doxologia do Pai Nosso, com as três testemunhas
celestiais de I João 5: 7-8, e com o anjo que agitava as águas em São João 5:4.
A inclusão de algumas palavras ou até frases, em um ou outro manuscrito do
texto sagrado, não alterou nenhuma de suas doutrinas, nem deu origem a nenhuma
doutrina nova e ainda mais, os textos envolvidos com problemas de Crítica Textual
nada têm a ver com a doutrina da salvação ou da justificação pela fé.
A finalidade
deste capítulo é esclarecer os problemas de Apoc. 22: 14, porque há nele
implicações tanto doutrinária como de Crítica Textual.
O Texto no Original e sua tradução:
a) No Grego
Makarioi oi plunontez tas stolaz autwn
makarioi hoi
plinontes tas stolás auton.
Makarioi oi poiountez taz entolaz
autou
makarioi hoi
piountes tas entolas autou.
b) Sua Tradução.
Em algumas
traduções como a de Figueiredo, Ferreira de Almeida, Bíblia de Jerusalém, New English
Bible, Novo Testamento na Linguagem de Hoje, Novo Testamento Viva e
estrangeiras como: Alford, Goodspeed, Spender, Moulton, Fenton, Weymouth,
Moffatt, Wyclif, Knox encontramos:
“Bem-aventurados
aqueles que lavam as suas vestiduras...”
enquanto que as traduções: The
Holy Bible, King James Version, La Sacra Bíblia, Giovani Diodati
(Italiana), a tradução siríaca e outras consignam:
“Bem-aventurados
aqueles que guardam os seus mandamentos...”
Comentários Sobre o Texto
Não nos foi
possível precisar a data em que o problema surgiu, entretanto quase todos os
estudiosos do assunto têm chegado a um denominador comum quanto à divergência
no texto; esta apareceu em conseqüência do equivoco dos copistas. A grande
semelhança entre os dois textos no original (pois há apenas seis letras
diferentes) fez com que és escribas substituissem um pelo outro. A diferença
entre as palavras “vestes” e “mandamentos” no grego é uma questão de letras
iniciais. Vestes no acusativo plural é stolas e mandamentos entolas sendo a
diferença de um “s” e de “en” nas respectivas palavras. Por isso muitos admitem
que esta pequena diferença foi a causa da troca de algum copista.
Qual era o texto original?
A Crítica Textual não tem condições de dar uma resposta definitiva a esta
pergunta.
Os adventistas citávamos, em tempos passados, Apocalipse 22: 14 como uma
prova eloqüente da observância dos mandamentos como fator de nossa salvação,
mas em virtude de ser uma passagem contraditória, hoje não o fazemos com tanta
veemência.
A seguir se encontram soluções propostas pela Crítica Textual e por
renomados exegetas e comentaristas.
o Comentário Adventista, vol. VII, pág. 897, na análise deste verso declara:
“Importante evidência textual pode ser citada para a variante ‘que lavam
as suas vestiduras’. Poucos
manuscritos consignam ‘que lavaram suas vestiduras’. Dos unciais primitivos,
somente o Sinaítico e o Alexandrino contém esta seção do Apocalipse, e ambos
inserem ‘que lavam as suas vestiduras’. A maior parte dos manuscritos
minúsculos apresenta que guardam os seus mandamentos’. As traducões antigas
acham-se divididas entre as duas formas, bem como as citações patrísticas. As
duas frases são muito semelhantes em grego, e é fácil concluir-se como um
escriba pôde ter confundido uma frase pela outra, embora seja impossível
saber-se qual seria a versão original.
A seguinte transliteração mostrará a semelhança:
hoi poiountes tas entolas auton, ‘que guardam os seus mandamentos’.
hoí plunontes tas stolas autou, ‘que lavam suas vestes’.
Como um fato autêntico ambas as versões se adaptam ao contexto e estão em
harmonia com os ensinamentos de João noutros lugares. Sobre o assunto de
guardar os mandamentos, veja-se Apoc. 17: 17; 14: 12; confira João 14: 15, 21;
15: 10; 1 João 2: 3-6. Sobre o assunto
de lavar as vestiduras veja Apoc. 7: 14, onde é descrita uma multidão de santos
como tendo lavado suas vestes e tornado brancas no sangue do cordeiro. O nosso
título ao céu é a justiça de Cristo imputada: nossa adequação para o céu, é a
justiça de Cristo comunicada, representada pelas vestiduras lavadas. A
evidência exterior da justiça de Cristo comunicada é perfeita obediência aos
mandamentos de Deus. Por isso as duas idéias de vestiduras lavadas e obediência
aos mandamentos de Deus estão intimamente relacionadas.
À luz dos problemas de tradução
aqui discutidos, pareceria mais sábio construir os fundamentos da doutrina da
obediência aos mandamentos de Deus, sobre outras passagens das Escrituras que
tratam da obediência, sobre as quais nenhum problema de evidência textual tenha
surgido. Há muitas delas.
Para um estudo mais completo deste problema veja — Problems in Bíble Translation, * * págs. 257 -262”.
O Comentário
Exegético y Explicativo de la Biblia de Roberto
Jamieson, A. R. Fausset e David Brown da Casa Bautista de Publicaciones assim
se expressa sobre Apoc. 22:14.
“Guardam os seus mandamentos”, assim aparece na tradução Siríaca, na
cóptica e nos escritos de Cipriano, porém, os códices Alexandrino e Alef ou
Sinaítico e a Vulgata trazem ‘Bem—aventurados os que lavam suas vestes’ isto é,
no sangue do cordeiro — Apoc.
7: 14. Este ensino tira o pretexto da salvação pelas obras. A nossa versão é
mais compatível com a salvação pela graça, pois que o mandamento evangélico
maior e primeiro, dado por Deus é crer em Jesus Cristo. Assim nosso poder (em
grego — privilégio ou autoridade legal — exousia) sobre a árvore da vida, não se
deve a nossas obras, mas àquilo que Jesus fez por nós. O direito ou privilégio,
está baseado não em nossos méritos, mas na graça de Deus”. II Vol. pág. 831.
Conforme o New Testament of our Lord and Savior Jesus, With
Commentary and Critical Notes, by
Adam Clarke — Published
by Lane & Scott (New York) 1950, temos a seguinte declaração:
“Para que eles tenham direito à árvore da vida, precisam ser obedientes aos
mandamentos de Deus. Todavia, sem a graça, não há obediência, sem a obediência
não há acesso à árvore da vida. Através da graça de Cristo nós recebemos o
bem”.
Conclusão
Creio serem oportunas e muito adequadas as palavras de C.W.Irwin, inseridas
em O Ministério Adventista, maio e
junho de 1954, pág. 20, como fecho destas considerações:
“Os escritores do Novo
Testamento têm a tendência de dar mais ênfase ao princípio da justiça pela fé
do que à justiça pelas obras da lei, do que resultou a
tradução: “Bem—aventurados aqueles que lavaram as suas vestiduras”. . . etc. Isto parece estar mais em
conformidade com o espírito do Novo Testamento, e é, sem dúvida, a tradução
dum original grego correto.
De maneira nenhuma pode essa versão ser usada como argumento contra a
validade e perpetuidade da lei de Deus, concretizada nos dez mandamentos. É simplesmente uma confirmação de
que o escritor inspirado, nesse passo, não se referia aos dez mandamentos, mas
enunciava um princípio de concerto novo de justiça pela fé.
Tanto no Velho como no Novo Testamento a expressão “vestir” refere-se ao
caráter. Em Zacarias, os trapos imundos representam a pobreza espiritual, pelo
que, a mudança das vestes ou vestes brancas, é um símbolo da pureza de
caráter, atingida apenas por meio da fé na graça salvadora de Jesus Cristo.
Deste ponto de vista, o passo é esclarecedor e belo.”
Nota
*Este livro citado, publicação
adventista da Review and Herald, é bastante útil para obreiros e mesmo leigos
estudiosos.
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