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segunda-feira, 25 de agosto de 2014

QUAL É O DESCANSO DE HEBREUS 4:9?


QUAL É O DESCANSO DE HEBREUS 4:9?

Durante anos temos ouvido de pregadores e lido de estudiosos, argumentos baseados em uabbatismos —  sabbatismós de Heb. 4: 9 em defesa da continuidade da guarda do sábado no Novo Testamento.

Pesquisando este assunto com mais profundidade, concluiremos que este texto não deve ser usado, como prova de que o repouso sabático permaneceu inalterável após a morte de Cristo. Embora o tema ventilado nesta passagem não seja o dia santificado, ele nos traz uma profunda mensagem referen­te ao sábado do sétimo dia.

Para uma boa compreensão deste problema, é preciso estu­dar os capítulos 3 e 4 da carta aos Hebreus, ou o contexto des­te verso.

Pela leitura se conclui que o autor da carta mostra como o povo judeu, do tempo de Moisés e Josué, não conseguiu en­trar no repouso de Deus por causa da sua incredulidade.

Quando Deus tirou a Israel do Egito Ele disse a Moisés:

 “A minha presença irá contigo, e eu te darei descanso”. Êxo.33:14.

Para Moisés e Israel estas novas eram muito agradáveis após um período de lutas e agitações no Egito.

As promessas de descanso eram condicionais:

“Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz, e guardardes a minha aliança, ent5o sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos. . .“. Israel, muito interessado em entrar na terra prometida, sempre se lembrava das promes­sas, mas se esquecia de cumprir as condições. Sabemos que por sua incredulidade quase todos morreram no deserto, sem desfrutarem da terra prometida.

Foi a este mesmo descanso que Jeremias se referiu quan­do disse: “Ponde-vos à margem no caminho e vede, perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho; andai por ele e achareis descanso para as vossas almas     Jer. 6:16.

O livro de Hebreus tem como centro a obra de Cristo para salvar a humanidade. Os capítulos 3 e 4 constituem um apelo para que o povo não falhasse em entrar no repouso divino, como havia acontecido aos filhos de Israel durante as vagueações pe­lo deserto.

O descanso aqui mencionado é a libertação das tribula­ções, tragédias, angústias e dores após a segunda vinda de Cris­to. Este descanso seria uma maneira diferente de falar da sal­vação que Deus nos oferece.

Norman Russell Champlin em O Novo Testamento Inter­pretado Versículo por Versículo, Vol. 59, pág. 513, assim se expressou sobre o descanso de Hebreus 3 e 4:


 “A fim de que se aplique bem a passagem do A.T., em consideração, o termo chave descanso deve assumir um senti­do diferente daquele que foi obviamente empregado no caso da geração do deserto. Ali a palavra indicava uma vida pacifica e estabelecida em Canaã, a Terra prometida. Portanto, esse termo tinha um sentido essencialmente físico. Para os judeus cristãos, porém, era necessário dar-lhe um significado espiritual, equivalente ao entrar nas bênçãos do mundo espiritual. Toda­via, essa modificação não foi feita pelo próprio autor sagrado. Primeiramente, isso faz parte inerente do próprio A.T., pois, apesar de que Israel buscava um descanso terreno, por outro lado sempre houve o ensino de seu paralelo celeste, o bem-estar espiritual, embora os pensamentos sobre o outro mundo não tenham sido definidos do mesmo modo como o é no cristia­nismo, séculos mais tarde”.

Uma pergunta natural que vem a nossa mente é esta: Em que tempo o cristão entra para este repouso? Quando aceita a Cristo ou apenas após a sua segunda vinda?

O estudo do contexto, especialmente das palavras resta (katakeipo), hoje (semeron) e entrar (eiserkomai) nos dão a idéia de que o repouso está à nossa disposição no presente. Es­te descanso pode ser parcialmente desfrutado agora, median­te a lealdade a Cristo, mas a apropriação plena deste descanso só será possível no futuro, na nova terra.

O livro Consultoria Doutrinária da Casa Publicadora, pág. 161, declara: “Quando o homem angustiado e perdido aban­dona seus próprios esforços e lutas, suas próprias obras, sua justiça própria e seus pecados, e se rende inteiramente a Deus através de Cristo e de sua justiça imaculada, ele entra no prin­cípio desse repouso, e esse repouso se completará, quando o homem entrar na terra renovada por ocasião da segunda vinda de Cristo”.

Uma outra pergunta que nos ajuda a reflexionar é a seguin­te: Como se entra para este repouso? A resposta se encontra no capítulo 4 verso 3. Este é o repouso no qual entrarão os cren­tes e do qual fala Jesus em Mat. 11: 28 e 29. Vinde a mim. Por­que nós, os que cremos, entramos neste descanso. Crer é ter fé, é obedecer, é ter confiança em Deus.

Esta oportunidade não estará para sempre á nossa dispo­sição, por isso Heb. 3: 13, 15, nos mostra que ela deve ser apro­veitada hoje. Este privilégio está à disposição de todo aquele que aceita a Cristo como seu Salvador pessoal.

Através de Hebreus 3 e 4 Paulo usa 9 vezes o termo repou­so katapausis, como o alvo a ser atingido, mas em Heb. 4: 9 surge uma palavra diferente para repouso sabbatismós, que apropriadamente pode ser traduzida por “descanso sabático”.

“A palavra usada como ‘repouso’ aqui é diferente da que tem sido empregada em toda a primeira parte do comentário (katapausis) . . . A palavra significa ‘o repouso de um sábado’, e fornece um importante elo de ligação no argumento, indi­cando o fato de que ‘o repouso’ que o autor tem em vista é o repouso de Deus, uma concepção muito mais alta de repouso, do que qualquer espécie de descanso que Canaã pudesse tipi­ficar de modo adequado. O sábado, que em II Macabeus 15: 1 é chamado o ‘dia de repouso’, é tipo mais aproximado do céu do que Canaã.” Farrar, Cambudge, Greek Testament, Epistle to the Hebrews, pág. 68.

Os estudiosos são unânimes em declarar que o termo “sabba­tismós” foi criado pelo autor de hebreus, já que em nenhum documento ou inscrição esta palavra foi encontrada.

Qual a razão do emprego desta nova palavra?

Tudo indica que o apóstolo está unindo a mais profun­da experiência de repouso, à qual Deus convida seu povo, com o símbolo da fé que o próprio Deus instituiu, o sábado. Em outras palavras: sendo katapausis o símbolo do repouso de Deus em Cristo, ele nos relembra o repouso do sábado corno cessa­ção das nossas obras, assim como Deus cessou das suas no séti­mo dia da criação.

Como bem asseverou Russel Norman Champlin em O No­vo Testamento Interpretado, ao explicar Hebreus 4: 9: O au­tor sagrado criou um vocábulo, que fala ao mesmo tempo, de “descanso” e de “sábado”. E foi assim que ele obteve dois re­sultados:
1o.) Ele distinguiu esse descanso restante de qualquer ou­tro descanso.

2o.) Ele o identifica com o próprio descanso de Deus, o qual no quarto versículo, é visto como algo que ocorreu no sé­timo dia, quando toda a obra da criação se completara”.

Após citar Heb. 4: 9, 11 Ellen White diz:

“O repouso aqui mencionado é o repouso da graça, que se obtém seguindo o preceito: Trabalhai diligentemente. . . . Aque­les que não estão dispostos a prestar ao Senhor um fiel, zeloso e amorável serviço não acharão repouso espiritual nesta vida nem na vida porvir. Apenas de um diligente trabalho provém a paz e o gozo no Espírito Santo —   felicidade sobre a terra e glória no além”. The SDA Bible Commentary, Comentários de Ellen G. White sobre Heb. 4:9, 11.

O pastor Jerry N. Page em artigo no Minístry, junho 1978, pág. 13, com muita propriedade assim se expressou sobre o re­pouso de Heb. 4:9:

“Embora o sábado seja mencionado apenas incidentalmen­te em um contexto que enfatiza a disponibilidade do repouso da salvação para o homem, o repouso de Deus, no sétimo dia da semana da Criação, revela que o sábado é um símbolo, é uma amostra do repouso da graça. Da mesma forma que o homem comunga com Deus pela fé e desse modo obtém o repouso, as­sim aconteceu no domínio do tempo, de modo que esta comu­nhão encontra sua suprema expressão na simbólica dádiva divi­na do sábado. Quando nosso autor introduz o conceito do re­pouso divino, não é por coincidência que ele faz um trocadilho pela introdução da palavra sabbatismós. A relação entre o re­pouso divino como experiência e o sábado como seu símbolo é de maneira conveniente explicada por E. J. Waggoner: ‘O re­pouso no Éden era repouso sabático. O sábado é um pedaço do Éden que nos resta, até que o Éden seja novamente restau­rado; aquele que guarda o sábado como Deus o fez, como Deus o concedeu para ser guardado, goza do repouso que o Senhor Jesus Cristo tem no Céu. Mas como pode alguém guardá-lo? Pela fé!”1

O sábado como um símbolo da realidade do repouso espi­ritual tem implicações com a futura, bem como com a passada e a presente salvação. O sábado é um elo especial com a consu­mação do prometido repouso de Deus. - - O sábado, como sím­bolo daquele repouso eterno é, num sentido especial, o sinal entre Deus e Seu verdadeiro povo do concerto (Ezeq. 20: 12). Ele é o antegozo do eterno repouso e comunhão vindoura com Aquele que ~ o fundamento de nossa confiança e nosso Cria­dor, Jesus Cristo. O sábado é um símbolo do profundo repou­so de Deus no qual entramos agora, enquanto aguardamos a experiência ainda mais completa da qual partilharemos se con­servarmos firmes nossa confiança e esperança até o fim.

Concluiremos com as palavras de Vincent em Word Studies in Um New Testament, Vol. IV, pág. 420:

“A salvação cristã, após ter sido exposta como a autori­dade (de Cristo) sobre o mundo vindouro, como o livramento do temor da morte, agora é apresentada como a participação no descanso de Deus. O propósito dos versículos primeiro a décimo primeiro do quarto capitulo (de Hebreus) consiste em confirmar a esperança desse descanso, advertindo contra a possibilidade de perdê-lo. O descanso de Deus foi proclamado aos nossos antepassados; mas não entraram no mesmo devido à sua incredulidade. Tal descanso também nos foi proclamado. E podemos falhar como aqueles falharam, e devido à mesma ra­zão”.

Do livro Reposo Divino para la Inquietud Humana, de Samuel Bacchiocchi, no capítulo “O Sábado Mensagem de Re­denção”, págs. 127-132, retirei os seguintes pensamentos es­parsos por serem os mais expressivos:

Neste capítulo vamos ver de que maneira o sábado tem sido utilizado na Bíblia por Deus, para dar a seu povo um vis­lumbre de sua salvação presente e futura.

“Anteriormente, vimos como a bênção e santificação do sábado são a expressão do desejo divino de transmitir aos ho­mens vida abundante por meio de sua presença.

Quando o pecado arruinou as perspectivas de uma vida feliz na presença de Deus, o sábado se converteu no símbolo do empenho divino para restabelecer essas relações rompidas após a queda.

Havendo identificado em Heb. 4: 4 a promessa que Deus fez de um repouso para seu povo com o descanso do sábado, o autor se sente livre para substituir no versículo 9 a expres­são comum para ‘descanso’ katapausis, pelo termo mais expe­cifico de ‘repouso sabatico’ —   sabbatismós. Que este vocábu­lo se refere explicitamente a observância do sétimo dia, está provado pelo significado que este termo tem nos escritos de Plutarco, Justino Mártir e Epifânio, entre outros. Ademais, o verbo afim sabbatizo ‘repousar’ é empregado várias vezes na Septuaginta referindo-se claramente à observância do sábado (conf. Êx. 16: 30; Lev. 23: 32; II Crôn. 36: 21). Estes fatores advogam decisivamente em favor da interpretação de ‘sabbatis­mós —   repouso sabático’, como uma referencia ao descanso do povo de Deus (4: 7) no sétimo dia. De outro lado, aquele ‘repouso de Deus’ que os israelitas encontraram ao chegar à terra prometida atualiza-se no sábado, ‘de maneira que resta um repouso sagrado para o povo de Deus’ (4: 9). Porém, por outra parte esse descanso tem adquirido uma nova dimensão com a vinda de Cristo (4:3,7).

Para o autor de Hebreus, como disse Gerhard von Rad, ‘a finalidade última da criação e a finalidade última da redenção se identificam’ na realização dos objetivos, que Deus havia sim­bolizado no descanso do sábado.

O conceito de ‘repouso sabático menuhah, como ex­plica Abraham Joshua Heschel, ‘significa na mentalidade bíblica felicidade e tranqüilidade, paz e harmonia.’

A paz e o repouso do sábado, como aspirações políticas, permaneceram geralmente sem ser cumpridas, e se converte­ram em símbolos da era messiânica, chamada ‘o fim dos tem­pos’ ou ‘o mundo por vir.’ Teodoro Fríedman observa que ‘duas das três passagens nas quais Isaías menciona o sábado es­tão relacionadas com o tempo do fim (Is. 56: 4, 6; 58>13, 14; 66: 22, 24) - . . Não é uma mera coincidência que Isaías em­pregue as palavras ‘alegria’ (oneg) e ‘honra’ (havod) tanto em suas descrições do sábado como nas do dia da restauração fi­nal (58: 13 ‘considera este dia como dia de alegria...  e digno de honra’ conf. 66: 10). A razão é clara: a alegria e o gozo que caracterizaram aquele dia estão ao nosso alcance, aqui e agora, no sábado.’

A literatura rabínica e apocalíptica tardia proporciona exemplos mais específicos do sábado concebido como uma an­tecipação do mundo por vir.

O tema do sábado, como sinal de liberação, aparece em diferentes formas no Antigo Testamento e na literatura judai­ca posterior. Sua condição de dia de descanso, faz que o sá­bado seja a primeira vez um símbolo e um agente de liberação física e espiritual particularmente eficaz. O fato de que o sá­bado proporcione liberdade da opressão do trabalho o conver­te na mais afetiva expressão da redenção divina. Daí a razão do sábado aparecer freqüentemente associado com o tema da salvação.”


Referência

1.     Studies in the Book of Hebrews, de Ellet Joseph Waggo­ner, Boletim da Associação Geral, 1897, pág. 301.


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