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terça-feira, 12 de agosto de 2014

CAMELO PELO FUNDO DE UMA AGULHA? Mateus 19: 24



CAMELO PELO FUNDO DE UMA AGULHA?

São Mateus 19: 24


Muitos concluem: Os ricos não poderão entrar no reino do Céu, desde que um camelo jamais passará pelo fundo de uma agulha.


Comentários Gerais


A palavra camelo é usada seis vezes no Novo Testamento:

1.     Três vezes relatando uma ilustração de Cristo. S. Mat.19: 24; S. Mar. 10:25 e S. Luc. 18:25.

2.     Duas vezes com referência, ás vestes de João Batista. S. Mat. 3: 4 e S. Marc. 1: 6.

3.     Uma crítica de Cristo aos escribas e fariseus que coa­vam um mosquito e engoliam um camelo. S. Mat. 23:24.

Uma leitura rápida da passagem tem levado muitos à se­guinte conclusão:  Os ricos nunca poderão entrar no reino dos Céus, desde que um camelo jamais passará pelo fundo de uma agulha.

Vejamos primeiro o estudo do contexto porque ele nos ajudará na boa compreensão do texto.

Um moço rico aproximou-se de Cristo dirigindo-Lhe a per­gunta: “Mestre, que farei de bom, para alcançar a vida eterna?” S. Mat. 19:16.

Jesus o informa da necessidade de guardar os mandamen­tos. A resposta do jovem foi incontinenti: “Tudo isso tenho observado; que me falta ainda?”

Preso aos bens materiais, a sua maneira de guardar os man­damentos, não se coadunava com as diretrizes divinas. Diante desta realidade foi que Cristo lhe expôs a necessidade de guar­dar os mandamentos não de maneira fria, ritualística e farisai­ca, mas sim de modo consentâneo com o desprendimento ce­leste.

O jovem rico, embora houvesse guardado os mandamentos literalmente, a sua atitude egoística não se harmonizava com o que Deus espera de nós, guardara na letra, mas não no espírito, por isso de maneira franca e sincera Cristo lhe apresentou o que lhe faltava desprender-se completamente das posses ter­restres. O pedido do Mestre lhe pareceu exigente demais para ser cumprido, portanto o diálogo foi encerrado.

Cristo espera que Seus filhos não vejam as possesões com o único objetivo de trazer-lhes comodidade e conforto, mas como um privilégio outorgado por Deus para converter-se numa bênção aos mais carentes.

Os judeus tinham noções erradas sobre os ricos e os pobres. Inclinavam-se a pensar que a prosperidade era a prova máxima do favor divino e um símbolo das bênçãos de Deus: iam mesmo além em suas conjeturas, pois criam que era mais fácil a salva­ção para os ricos do que para os pobres. Cristo teve que desar­raigar estas conclusões erradas, por isso O vemos antes deste incidente com o moço citar a parábola do Rico e Lázaro, onde o rico vai para a perdição e o pobre para a salvação. Longe de nós a conclusão simplista de que os ricos vão se perder, e de ou­tro lado os pobres se salvarão. O ensinamento bíblico de acor­do com esta passagem é este: É mais difícil para um rico ser salvo do que para um pobre. As riquezas podem ser perigosas para aqueles que as possuem.

O Comentário Adventista tem para o verso 23 a seguinte observacão:

“E difícil para um homem rico obter o reino dos Céus, não porque ele é rico mas por causa da sua atitude para com as riquezas.”

O contexto de S.Mateus 19: 24 não apresenta a impossi­bilidade da salvação para os ricos, mas apenas as maiores difi­culdades que eles terão de vencer, basta ler os versos 23 e 26.

Os três maiores perigos das riquezas, de acordo com William Barclay, ao comentar S. Mateus 19: 24; são estes:

1o.)   As posses numerosas fomentam uma falsa independência.­

Quem tem bens materiais é inclinado a pensar que pode vencer qualquer situação inesperada. O dinheiro leva a pessoa a pensar que pode comprar o caminho da felicidade, bem como aquele que o livrará da dor. Pensa ainda que pode afastar todas as dificuldades sem Deus.

2o.)   As riquezas prendem as pessoas a este mundo.

 “Porque onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração.” S. Mat. 6: 21.

Se tudo o que o homem deseja pertence a este mundo, se todos os seus interesses estão centralizados aqui, nunca pen­sa em ir ao mundo do além. Apegado demasiadamente à Ter­ra é possível esquecer que há um Céu.

3o.) As riquezas tendem a fazer a pessoa egoísta.

Por mais que possua é natural ao homem desejar um pou­co mais. O suficiente é sempre um pouco mais do que se tem. A pessoa que chegou a desfrutar do luxo e da comodidade sem­pre tende a temer viver sem eles. A vida se converte em uma luta cansativa para reter o que se possui. O resultado é que quan­do o homem enriquece, em lugar de sentir o impulso de dar, só experimenta o desejo de prender-se às coisas. O seu instin­to o leva a possuir mais e mais, em busca da segurança, que crê, as coisas lhe possam dar.

O perigo das riquezas é que estas levam o homem a esque­cer que perde o que retém e ganha aquilo que dá aos outros.


Três Interpretações Para S. Mat. 19:24

1a.) Houve uma substituição da palavra grega —    kámilos
—    corda, para kámelos —   o animal. O fundo da agulha consi­derar-se-ia literalmente.

2a.) A palavra camelo deve ser considerada literalmen­te, mas o fundo da agulha era uma pequena porta ao lado da porta principal de Jerusalém, pela qual um camelo passaria, após tirar-lhe a carga e, mesmo assim ajoelhado e aos empur­rões.

3a.) Tanto o camelo quanto o fundo da agulha são con­siderados literalmente.

1a.) A Substituição por uma Palavra Semelhante:

Júlio Nogueira em seu livro A Linguagem Usual e a Com­posição pág. 350, sem citar nenhuma fonte, nem autoridade declara: “Tem-se visto em S. Mateus 19: 24 um engano de tra­dução do texto grego, feita por S. Jerônimo: Em vez de kámilos, corda grossa, cabo, ele tomou a palavra kámelos, camelo.”

O que aconteceu foi o inverso, pois Robertson, na pág. 192, da sua memorável gramática afirma: “alguns poucos ma­nuscritos cursivos substituem kámelos por kámilos, mas isto é evidentemente um erro, um mero esforço para solucionar uma dificuldade do texto.”

R.  C. H. Lenski, na obra The Interpretation of St. Ma­thew’s Gospel, pág. 755, confirma:

“Antes do quinto século kámelos não foi mudado para kámilos.”

O renomado comentarista Henry Alford na obra An Exegetical and Critical Commentary, vol. 1, pág. 197 acrescenta:

“Nenhuma alteração para kámilos é necessária ou admis­sível. Esta palavra, com o significado de corda ou cabo, pare­ce ter sido inventada para escapar da dificuldade encontrada aqui.”

O   Dicionário Enciclopédico da Bíblia da Editora Vozes de Petrópolis corrobora as declarações anteriores:

“Sem muito fundamento, autores mais recentes quiseram ler kámilos, corda grossa, em vez de kámelos, alegando que no Talmude se encontram expressões análogas e que no tempo bizantino essas duas palavras pronunciavam-se da mesma ma­neira.”

A Crítica Textual nos esclarece que algum copista, sécu­los depois de Cristo fez a substituição para kámilos. Este fato apareceu em apenas alguns manuscritos cursinos, isto é, minús­culos.

A prova de que Cristo usou a palavra camelo, nós a temos no fato de que assim aparece nos primitivos manuscritos e nas primeiras traduções da Bíblia, como a Menfítica, Latina e Peshita.

2a.) A Explicação da Porta Estreita Chamada Fundo de Agulha.

Aquino apresenta um comentário sobre Anselmo, observe a data (1033-1109 a.D) declarando que este autor afirma que em Jerusalém havia certa porta, chamada “fundo de agulha” pela qual um camelo só passava se entrasse de joelhos, depois de lhe ser retirada toda a carga.

Existem muitas outras vagas citações, mais ou menos idên­ticas à seguinte:

Lord Nugent, ouviu falar, faz muitos anos em Hebrom de uma entrada estreira para os que passavam a pé, ao lado da por­ta grande e que se denominava “o fundo de uma agulha”.

Talvez um dos livros que mais contribuiu, para que esta idéia se generalizasse foi Memórias de um Repórter dos Tem­pos de Cristo do Padre Carlos M. de Heredia, onde ele faz men­ção a esta porta estreita chamada “fundo de uma agulha”. De­vemos notar bem que o próprio autor nos adverte no Prólogo, que sua obra é uma novela.

O  comentarista Lenski, no mesmo livro e pagina já citados, prossegue:

“No século quinze foi tentado o oposto, o fundo de agu­lha foi aumentado pela referência a um pequeno portal, que era usado por viajores a pé ao entrarem em uma cidade murada, pelo qual um camelo poderia passar ajoelhado, depois de re­movida a sua carga. Isto mudou o impossível para o possível e tornou-se atrativo porque sugeria que, como o camelo tinha de deixar sua carga e arrastar-se sobre seus joelhos assim o ho­mem rico teria que desprender-se de suas riquezas ou de seu amor por elas e humilhar-se sobre seus joelhos. Mas como em São Mateus 23: 24 Jesus tinha em mente um mosquito e um camelo reais, assim aqui camelo e fundo de agulha são reais.”

O   livro Jóias do Novo Testamento Grego, de Kenneth S. Wuest, pág. 25 diz:

“Alguns têm imaginado que o buraco da agulha referido fosse uma portinhola no muro de Jerusalém, através do qual pudesse finalmente passar um camelo, depois de muitos puxões e empurrões.”

“O grego de S. Mateus 19: 24 e de S. Marcos 10: 25, fala de uma agulha usada com linha, enquanto que o de São Lu­cas 18: 25 usa o termo indica uma agulha usada nas operações cirúrgicas. É evidente que ali não é considera­da nenhuma portinhola, mas sim, o pequeno orifício de uma agulha de costura.”

A palavra grega usada por Mateus (19: 24) é “rhafis” =  agulha de costura; enquanto Lucas por ser médico empregou “belone” =  agulha cirúrgica.

Note bem a afirmação seguinte, encontrada na obra: A New Testament Commentarv G. C. Howley. Consulting Edi­tors F. F. Bruce e H.L. Ellison.

“A interpretação popular em certos círculos de que o fun­do de uma agulha é uma pequena porta dentro do portão de uma cidade é sem fundamento.”

Dentre os mais considerados estudiosos do Novo Testa­mento Grego se acha Vincent; este autor após comentar o ver­so 24 de S. Mateus 19, sintetiza enfaticamente:

“A alusão não deve ser explicada como se referindo a uma porta estreita chamada o fundo de uma agulha.”

Segundo o comentarista Broadus, esta explicação nada mais é do que uma conjetura sugerida da seguinte observação alegórica de Jerônimo:

“Assim como os camelos de Midiã e Efá (Isa. 60: 6), vin­dos com dádivas, torcidos e apertados entravam pelas portas de Jerusalém, assim os ricos podem entrar pela porta estreita despojando-se de sua carga de pecados e de toda a deformida­de corporal.”

O preeminente estudioso F. F. Bruce, conceituado entre nós por suas notáveis obras, no livro Answers to Questions, págs. 55 e 56, respondeu da seguinte maneira à um de seus inquiri­dores. Eis a pergunta e a resposta dada:

“Tem-se afirmado recentemente que a passagem que men­ciona um camelo passando pelo fundo de uma agulha (S. Mar. 10: 25), tem sido mal traduzido devido a uma confusão entre as palavras gregas kámelos (‘camelo’) e kámilos (‘corda’), e que nosso Senhor realmente falou de uma corda passando pelo fun­do de uma agulha. É isto assim?

 “Em S. Marcos 10: 25 a evidência textual parece ser unâ­nime em favor de kámelos (‘camelo’). No tocante às duas ana­logias sinóticas, um punhado de minúsculos e a Versão Armê­nia atestam kámilos (‘corda’) em S. Mat. 19: 24, bem como o fazem um mais recente uncial e uns poucos minústulos em
S.  Luc. 18: 25. Em todos os três lugares a evidência é esmaga­dora em favor de ‘camelo’, e isto é reconhecido pela maioria das traduções. Eu penso que no momento a única versão in­glesa que dá a tradução de ‘corda’ é The Book of Books, publi­cada em 1938. Os poucos escribas ou editoras que substituí­ram camelo’ por ‘corda’ podem ter sido inconscientemente in­fluenciados pelo desejo de fazer a entrada de um rico no reino de Deus levemente menos difícil do que nosso Senhor disse que era. O mesmo pode ser dito da idéia de que Suas palavras se referem a uma pequena passagem subterrânea em um gran­de portão, através da qual um camelo poderia comprimir-se quando as entradas principais estivessem fechadas, por cujo motivo sua carga deveria ser primeiramente removida. Nosso Senhor Se referia aos embaraços na impossibilidade da entrada de um rico no reino. Se víssemos um camelo entrando pelo fun­do de uma agulha, diríamos ser isto um milagre; e é igualmen­te um mi!agre um homem rico ser salvo. Esta não é minha in­terpretação, é a clara afirmação de nosso Senhor: ‘Para os ho­mens é impossível, mas não para Deus; porque para Deus to­das as coisas são possíveis’ (S. Mar. 10: 27). Uma observação adicional: em comparação com as condições da Palestina nos dias de nosso Senhor, muitos de nós que gozamos os padrões do viver comum através de nossa ‘opulenta sociedade’ ociden­tal, hoje seríamos classificados como ‘ricos’.”

3a.) A Única Explicação Defensável.

“Tanto o camelo, como o fundo da agulha devem ser com­preendidos literalmente... não é necessário sugerir que camelo poderia significar uma corda, ou que o fundo de agulha era um nome, às vezes, dado a um pequeno portão lateral para passageiros a pé. Nenhum expositor antigo adota este método de explanação, mas toma o fundo de agulha em sentido literal, co­mo podemos crer que Cristo fez.”

Estas declarações foram feitas por Alfred Plummer na obra An Exegetical Commentary on the Gospel of Mathew, pág. 269.

Outro comentarista apreciado, especialmente por suas idéias conservadoras, é William Hendriksen. Em New Testament Com­mentary (Mathew), págs. 727 e 728, ele nos afirma:

“Para explicar o que Jesus quer dizer é inútil é injustífica­do tentar mudar camelo para cabo —  veja S. Mat. 23: 24, on­de um camelo real deve ter sido empregado —   ou definir o fun­do de agulha como o portão estreito no muro de uma cidade, através do qual um camelo pode passar apenas de joelhos e de­pois de ter sido removida sua carga.”

Os comentaristas nos informam que Jesus Se valeu de uma ilustração, que já existia em forma de provérbio no seu tempo, como prova o Talmude. Em Babilônia, nesta mesma época, ha­via uma frase idêntica, apenas com a seguinte variante: É mais fácil um elefante passar pelo fundo de uma agulha.

Os exemplos poderiam ser multiplicados, como os do The Interpreter’s Bible, The Anchor Bible e muitos outros, porque nesta mesma tecla insistem os exegetas e comentaristas, mas para término de nossas considerações, apenas mais um relato:  o do Comentário Adventista sobre S. Mateus 19:24.


Fundo de Uma Agulha


“A explicação que o fundo de uma agulha, se refere a uma porta menor aberta no painel de uma grande porta da cidade pela qual os homens podiam passar quando a grande porta estava fechada para o tráfego principal, originou-se nos séculos depois dos dias de Cristo. Não há portanto nenhum fundamen­to para tal explicação, embora ela possa parecer plausível, Je­sus está tratando com impossibilidades (v. 26) e não há nenhum apoio para se defender uma explicação pela qual se possa tra­duzir como possível o que Jesus especificamente salientou co­mo impossível.”

Será que há necessidade de aduzir mais exemplos compro­batórios, para a eliminação completa de explicações não alicer­çadas em bases seguras?


Conclusão


Das três explicações existentes apenas uma é defensável para os teólogos adventistas, bem como para todos os erudi­tos das demais organizações religiosas.

Cristo estava usando uma hipérbole, figura que se carac­teriza pelo exagero, com o objetivo de despertar a atenção dos ouvintes, para melhor fixar o fato na memória.

A informação de uma porta estreita se espalhou pelo mun­do por influência de suposições e de relatos não fidedignos.

Jamais devemos usar explicações populares vulgarizadas, porque não são sancionadas pelos grandes estudiosos da Bíblia.

O seguinte princípio exegético não deve ser esquecido por nós. O pregador deve ser bastante cuidadoso para não ti­rar do texto o que seu autor nunca tencionou dizer.

O contexto nos mostra que os impossíveis para os homens, tornam-se possíveis para Deus.


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