A DISCUTÍVEL
TERMINAÇÃO DO EVANGELHO
DE MARCOS
Sendo que a genuinidade dos
versos 9 a 20, do capítulo 16 de marcos, tem sido constantemente questionada
pela cri’tica textual, é necessário que os estudantes da Bíblia estejam bem
enfronhados deste problema.
Alguns estudiosos declaram enfaticamente que Marcos não escreveu os versos
9 a 20 do capítulo 16, para isso apresentando duas razões principais:
1o.) As evidências textuais mais antigas não justificam estes
versos, pois eles não se encontram nos dois mais antigos manuscritos unciais
do 4o. século, ou sejam os manuscritos alef ou sinaítico e o do
vaticano. Versões antigas latinas, siríacas, etíopes e armênias também não
apresentam esta parte.
2o.) Existem nítidas diferenças de estilo, vocabulário e de
doutrina nestes versos com as outras partes do livro de Marcos.
Quanto ao argumento do estilo, os comentaristas nos chamam a atenção para
frases peculiares estes versos, não condizentes com a maneira de Marcos
escrever. Outro curioso aspecto estilístico que nos relembram é este: nos
primeiros oito versos, do capítulo, seis deles começam com a conjunção kai, isto
é, e, enquanto nos doze finais questionáveis, apenas um deles se inicia com
esta partícula. Com respeito ao vocabulário aparecem palavras, como por
exemplo: porenomai, ekeinos e theomai não encontráveis no resto do evangelho. A
maior objeção a estes versículos, são encontradas nas declarações seguintes:
pegarão em serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará mal
(verso 18).
Alguns comentaristas declaram: E difícil acreditar que Jesus fizesse tais
promessas, porque o veneno mata tanto o crente como o incrédulo e que Marcos
lhe atribuísse tal declaração. Jesus quando esteve aqui na Terra nunca se
isentou, nem aos seus discípulos das conseqüências dos seus atos. Um dos ensinos
fundamentais do Cristianismo é este: os cristãos têm que tomar o “seu lugar no
mundo”, submetendo-se às condições de vida, não isentas de perigos naturais,
neste mundo tão repleto de injustiças.
Certos comentaristas têm sugerido o seguinte: a última folha do evangelho,
muito cedo foi danificada, perdendo-se assim o fecho do livro. Para que este
não terminasse de maneira incompleta e abrupta algum copista acrescentou esta
terminação. E evidente que
as primeiras e as últimas páginas de um manuscrito estavam mais expostas a se
estragarem, especialmente se o rolo ou códice fosse de papiro.
Seria bom sabermos que os manuscritos, quanto a este problema, podem ser
agrupados em quatro classes:
1o.) Os que finalizam com o verso A do capítulo 16;
2o.) Os chamados de terminação longa, isto é, até o verso 20;
3o.) Aqueles que
apresentam uma conclusão curta, ou seja uma síntese da longa;
4o.) Finalmente outros
que trazem as duas terminações.
Vejamos o que nos dizem os estudiosos sobre este problema.
a) “The Interpreter Dictionary of the Bible, vol.
III, págs. 275 e 276 ao tratar da teminação de
Marcos pondera: “embora se encontre na maioria dos manuscritos gregos, ela é
omitida nos unciais alef e vaticano e nos manuscritos das versões geórgicas,
etiópicas e armênias. Tanto Eusébio quanto Jerônimo, reconhecem que estes
versos não são autênticos, em virtude da sua ausência em quase todos os
manuscritos gregos conhecidos por eles.”
Este dicionário acrescenta que há quatro possíveis sugestões para
solucionar este problema:
1o.) Que Marcos por uma ou outra razão não pôde concluir o seu
evangelho;
2o.) Que a conclusão foi perdida ou destruída por alguma
desgraça;
3o.) Que a conclusão foi deliberadamente suprimida;
4o.) Que Marcos intencionalmente concluiu o seu evangelho no
verso 8.
b) O Novo Comentário da Bíblia de
Davidson, apresenta uma hipótese que não aparece em outros comentários e é a
seguinte:
“O Evangelho de Marcos talvez tenha perdido a sua popularidade em
conseqüência do aparecimento dos evangelhos de Mateus e Lucas. Sendo assim ele
foi colocado de lado por algum tempo. Mais tarde, quando a igreja de Roma teve
interesse em preservar seus documentos, ela encontrou apenas um exemplar do
evangelho de Marcos, mutilado em seu final. Este se tornou o original de todos
os exemplares futuros, e a este foi acrescentada a conclusão atual, que é
bastante diferente das outras partes escritas pelo apóstolo.”
c) Lenski é um dos poucos comentaristas que argumenta em favor da
conclusão longa. Para ele, talvez, a explicação mais aceitável é que a
conclusão do evangelho original se perdeu antes que cópias suficientes fossem
dele tiradas. Para enfrentar esta realidade outros tentaram uma conclusão
substitutiva, sendo a mais afortunada destas a que hoje comumente conhecemos.
d) Barclay com suas peculiaridades comentarísticas afirma que não
precisamos entender tudo literalmente. Não precisamos crer que o cristão
precise ter o poder de levantar víboras e beber líquidos venenosos sem correr
perigo. A linguagem do verso 18 apenas quer indicar que o cristianismo
transmite ao cristão um poder para enfrentar as vicissitudes da vida que outros
não têm, nem podem ter.
e) SDA Bible Commentary, vol. 5, págs. 658 e 659 relata:
“Podem-se citar importantes evidências textuais para a omissão dos versos
9-20, concluindo o evangelho de S. Marcos com o verso 8. Os comentaristas que
favorecem essa omissão apontam para numerosas diferenças no estilo literário,
idiomatismo e fraseologia entre esses versículos e a parte anterior do
Evangelho. Alguns manuscritos trazem o resumo: ‘Mas relataram resumidamente a
Pedro e aos que com ele estavam tudo que lhes fora dito. E depois disto, Jesus
mesmo enviou por meio
deles, do Oriente ao Ocidente, a
sagrada e imperecível proclamação da salvação eterna’. Como um todo, porém, a
evidência textual favorece o texto como se encontra nos versos 9-20.”
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