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domingo, 10 de agosto de 2014

ENTREVISTAS - AMOR PELOS MUCULMANOS



                        Amor pelos muçulmanos


Missionário brasileiro fala de seu trabalho no Senegal e na Mauritânia


Paulo Roberto Bechara tem 40 anos e há mais de 5 trabalha como missionário entre a po­pulação muçulmana do Se­negal e da Mauritânia. Filho de pas­tor, iniciou seus estudos teológicos na Universidade Andrews, EUA. Em seguida, foi para a Áustria estudar a língua alemã e dar continuidade aos estudos de Teologia. Completou a fa­culdade no Brasil, iniciando seus tra­balhos como pastor em Curitiba. Tra­balhou posteriormente no Instituto Adventista Cruzeiro do Sul, no Rio Grande do Sul, e em Campo Grande, MS, de onde saiu para servir como missionário no Senegal, África.
É casado com Selma Augusta e tem três filhos: Aline Cristina, de 3 anos, Paulo Ricardo, 7, e Tiago Augusto, 8 me­ses (este nascido em Dakar, no Senegal).

Sinais:   Como são os países nos quais você trabalha?
Paulo Bechara: O Senegal, que foi colô­nia francesa até 1960, tem 9 milhões de habitantes. Cerca de 95% dos sene­galeses são muçulmanos. F um povo extremamente hospitaleiro, mas fe­chado á religião. (3 islamismo, presen­te no Senegal desde 1300, é bastante peculiar ali, pois eles seguem líderes espirituais locais, os marabus. Por isso, o lslã do Senegal é menos orto­doxo, porém muito fervoroso. Os ho­mens têm duas ou três esposas, mas há uma tendência em não se aceitar mais a poligamia, especialmente por parte das moças que estudam nas uni­versidades. Por isso mesmo, os mu­çulmanos mais conservadores não concordam que as mulheres estudem. Há 37 línguas no Senegal, das quais seis são reconhecidas pelo governo. Na capital se fala francês.

Sinais:   Como foi seu preparo e adapta­çcio para o trabalho missionário?
Paulo Bechara: Aprendemos no campo missionário, inclusive a língua fran­cesa. Atualmente os missionários se preparam no Canadá. Tivemos mui­tos choques culturais, e hoje rimos dos erros que cometemos. Precisa­mos ouvir as pessoas e aprender com elas. Você às vezes pensa que tem as respostas para tudo dentro de sua cultura, mas não é assim.

Sinais: Quais os maiores desafios em par­tilhar o evangelho com os muçulmanos?
 Paulo Bechara: É aprender que existem coisas a aprender com eles. Para dar seu testemunho, você precisa estar disposto a ouvir o testemunho deles. Não estamos contra o islamismo, es­tamos procurando pontes de ligação. Muitos muçulmanos deixaram de ou­vir o evangelho por causa de precon­ceitos e verdades ditas fora do tempo. E quando o muçulmano suspeita que alguma coisa não está de acordo com sua mentalidade, ele se fecha.
Os muçulmanos acreditam no mesmo Deus que nós. Allah vem da mesma raiz de Elohim, em hebraico, traduzido na Bí­blia como “Deus”. Os árabes cristãos uti­lizam o mesmo termo Allah para Deus. Os muçulmanos também acreditam que os anjos existem, acreditam nos profetas e nos livros sagrados. Crêem que o dia do Julgamento virá e que devemos nos pre­parar para ele. São fiéis na oração, no je­jum e na hospitalidade. Praticam boas obras, especialmente para com os desfa­vorecidos. A sexta-feira (Al-Jummah) é o dia da oração, mas o sábado também está presente no Alcorão como o dia santifi­cado por Deus e dia de guarda para ju­deus, cristãos e “piedosos de hoje” [mu­çulmanos]. Os muçulmanos também acreditam que Jesus foi um grande profe­ta. Creio que essas são boas “pontes” en­tre nós e eles.

Sinais:   O que você tem aprendido com os muçulmanos?
Paulo Bechara: O respeito pelas horas de oração e a devoção. Os jovens, se não vão às mesquitas, oram em casa. Para eles, a forma da oração é tão impor­tante quanto a oração em si mesma. Por isso, estamos tomando algumas providências a fim de orar como eles. Também temos aprendido muito so­bre o senso de comunidade e partilha. Na fronteira entre o Senegal e a Mau­ritânia, vi algo incrível. Eu tinha dois sanduíches preparados por minha es­posa, e, quando estava para comer um deles, um garotinho ficou me obser­vando. Não resisti e dei o lanche para ele. E foi ai que fiquei surpreso: uns trinta outros garotos apareceram e o menino distribuiu pedaços para eles, ficando com o último pedaço para si.

Sinais: Como os muçulmanos vêem Jesus?
Paulo Bechara: Como profeta é perfeita­mente aceito. Mas ainda não aceitam Jesus como divino. Acredito que, como para os discípulos foi um pro­cesso lento, em que o Espírito Santo trabalhou com eles para que enten­dessem, Ele também está trabalhando com os muçulmanos nesse sentido.
É empolgante acompanhá-los na descoberta deste “Grande Profeta” cha­mado pelo Alcorão de Jesus, filho de Maria, o Messias. Embora o Alcorão não defina o termo “Messias” como a Bíblia o faz, títulos divinos são atribui­dos a Jesus naquele livro: “A Palavra de Deus” e “Espírito de Deus”. Pela ação do Espírito Santo, muçulmanos estão descobrindo quem é Jesus através de uma busca que se inicia no Alcorão e se segue pela Taurat (Torah), Zaboor (escritos de Davi), os profetas e o Injil (evangelhos). Por isso mesmo, temos usado o Alcorão como ponte para as Escrituras, buscando respostas bíblicas dentro do Alcorão. Temos sido facilita­dores dessa busca, não focalizando as contradições logo de inicio.

Sinais:   Que atitude os cristãos devem ter com os muçulmanos?
Paulo Bechara: Se queremos alcançar mu­çulmanos para o Messias através de um diálogo frutífero, precisamos orar por eles fervorosa e sistematicamente. Al­guns de nós podem ir além: ler o Alco­rão e encontrá-los onde eles estão, con­tando histórias bíblicas a partir do livro deles, expressando verdades bíblicas com uma linguagem corânica. A Bíblia abre espaço para escolhermos nossa postura de oração de acordo com o con­texto e o lugar onde estamos.
Para o muçulmano, a forma de orar é tão importante quanto a oração. Por que não orar com eles á sua maneira de se prostrarem? Porventura ao ve­rem nossos irmãos muçulmanos o exemplo de pessoas piedosas curvan­do-se perante Deus corno eles o fa­zem, não poderiam ser levados pela fé, passo a passo, em direção ao Mes­sias enviado de Deus para nos salvar?
Outro aspecto importante é o cultu­ral. Quando Jesus Se revelou como Mes­sias à mulher samaritana, ela O aceitou plenamente e decidiu ser Sua seguidora, dentro de sua própria cultura; e Jesus a aceitou dessa maneira. Aliás, ela foi mui­to mais eficiente assim, testificando de Jesus aos seus conterrãneos numa lin­guagem entendida por eles. Acreditamos que o mesmo princípio se aplica aos dias de hoje. O muçulmano toma decisões baseado na comunidade. Nesse contex­to, a decisão da comunidade é mais im­portante do que a decisão individual. No passado, ao recebermos um muçulmano na comunidade cristã, nós o encorajáva­mos a mudar de nome, de roupa e de mentalidade. Tomando-se cristão, ele se desligava de todo vinculo com sua co­munidade anterior e se tomava persona non grata, um marginalizado para sem­pre. Hoje estamos aprendendo que se houver respeito pela sua mentalidade e a cultura local, e um muçulmano aceitar a Jesus Cristo como Messias e Senhor, pela graça de Deus, é possível ser uma teste­munha fiel e eficiente (sem comprome­ter a verdade) dentro de sua própria co­munidade, como o foi a mulher samari­tana. Dentro de uma cultura, somente elementos que contradizem o evangelho devem ser colocados de lado; os outros podem ser mantidos, pois fazem parte da pessoa e da comunidade local.
Uma pergunta rele­vante para missioná­rios no além-mar e missionarios em sua própria terra: “Quanto do evangelho que pre­go hoje é o evangelho puro e quanto é minha própria cul­tura ‘de carona’ com o evangelho?” Deus ama a todos os povos. A pecu­liaridade e beleza de grupos étnicos ao redor do mundo, suas culturas e mentalidades diversas são um reflexo do amor de Deus o Deus que não faz diferença entre as pessoas.

Sinais:   O distanciamento do cristianis­mo popular em relação à Bíblia tam­bém se constitui numa barreira?
Paulo Bechara: Sem dúvida. Para nos cris­tianismo é algo maravilhoso; para eles, éum mau exemplo de pessoas que be­bem e comem carnes imundas. Por isso, estamos tentando levá-los a Cristo, di­zendo: “Sejam muçulmanos como vo­cês são e não joguem fora esse funda­mento que têm, construam sobre esse fundamento. Sejam muçulmanos mes­siânicos.”

Sinais:   Qual o momento mais feliz e o mais difícil nesses seus cinco anos e meio de ministério na África?
Paulo Rachara: O momento mais difícil foi nossa adaptação á cultura local, especialmente no inicio. E o momen­to mais feliz foi a inauguração da Casa de Oração em Kolda, no sul do Senegal. No dia 9 de setembro do ano passado, cerca de 50 muçulmanos vieram de várias partes da cidade de Kolda para orar e adorar a Deus co­nosco. Retiramos nossos calçados para entrar na Casa de Oração e nos assentamos em tapetes de plástico para ouvir a pregação da Palavra de Deus. Cada sábado de manhã e outras vezes na semana, nos prostramos em oração e nos reunimos para a adora­ção de Allah. É impressionante ver como os muçulmanos nos olham como crentes tementes a Deus quan­do damos alguns passos em direção ao coração deles.

 

                                           CONTATO


Profissionais da Área médica ou outras áreas que queiram ser voluntários por uma semana, um mês ou um ano, ou quei­ram ajudar de outra forma, podem entrar em contato com o pastor Paulo Bechara pelo e-mail: paulo.bechara@usa.net.

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