O INFERNO E O FOGO ETERNO
Pedro Apolinário – Sermões Exaltando a
Verdade – Casa Publicadora Brasileira – 1a. Edição
Professor de Grego e Exegese Bíblica do
Seminário Latino Americano de Teologia – Eng. Coelho, S.P
Dois grandes
mistérios têm preocupado o homem através dos séculos;
1o.)A origem do ser humano.
2o.) O que
acontece ao homem após a morte.
A explicação
para estes dois problemas é encontrada na Bíblia e não em cogitações humanas.
Líderes
religiosos acreditam e ensinam aos seus paroquianos a existência de um lugar
de sofrimento eterno, chamado “inferno”, para onde serão levados os seres
humanos que por não aceitarem a Cristo foram condenados por Deus.
Para boa
compreensão deste assunto é preciso estudar as palavras hebraicas e gregas,
que foram impropriamente traduzidas por “inferno”.
No Antigo
Testamento existem duas palavras hebraicas; sheol
e Gê Hinon (Vale de Hinon), e no
Novo os seguintes vocábulos gregos: hades,
geena e tártaros.
O estudo
destas palavras bíblicas, na sua etimologia, nos leva à conclusão de que o
sentido delas é bem diferente do sentido que o povo em geral atribui à palavra
“inferno
Sheol, em hebraico,
era o lugar para onde iam os mortos, por isso é sinônimo de “sepultura” ou
“lugar de silêncio”, como confirmam as palavras de Ezequiel 31:16 “do que
desce ao sheol” (sepultura), e de
Amós 9:2 “ainda que cavem até o sheol”.
Não existe na
Bíblia uma única passagem que dê a idéia de existir atualmente um inferno ou
lago de fogo onde serão castigados os que se perderem.
Sheol nunca teve em
hebraico a idéia de lugar de suplício para os mortos.
Os
especialistas na arte de traduzir afirmam que não há nenhuma palavra em
português que dê a idéia exata do significado original, por isso é melhor
mantê-la transliterada como fazem a Tradução
Brasileira e a Bíblia de Jerusalém.
Apenas duas
passagens são suficientes para mostrar a impossibilidade de traduzir sheol por “inferno
Gênesis 42:38: “... fareis descer
minhas cãs com tristeza ao inferno” (sepultura).
Jonas 2:2: “... do ventre do abismo
gritei.
A Bíblia de Jerusalém traduz assim: ... do seio do Sheol pedi ajuda e Tu
ouviste a minha voz.
Hades
A palavra hades do Novo
Testamento corresponde exatamente à palavra sheol do Antigo Testamento.
A prova de sua exata correspondência se
encontra na tradução da Septuaginta, pois das 62 vezes que sheol é usada no Antigo Testamento, 61 vezes ela foi traduzida por hades.
A palavra hades é formada do
prefixo alfa com a idéia de negação, privação e do verbo idein — ver.
Significa, então, “o que não é visto”, “lugar de onde não se vê”, por isso e
sinônimo de “sepultura”, “habitação dos mortos”.
O inferno, como um lugar de castigo depois da morte, foi copiado da
mitologia grega, especialmente dos adoradores de Plutão. Os gregos ensinavam
que esse deus tinha o domínio do inferno — lugar de horror e sofrimento, onde sofriam as almas dos maus. Ver Manual Enciclopédico, parte da
mitologia, pág. 725.
É triste
pensarmos que idéias pagãs se introduzam entre nós como se fossem ensinamentos
bíblicos.
A doutrina de um inferno para tormento eterno se espalhou também por
influência da mitologia romana. Em 1946, ao cursar a Universidade de São Paulo,
estudávamos os Poemas Épicos com o notável professor Silveira Bueno. Lembro-me
muito bem do dia em que ele ao falar da Eneida
de Virgílio nos informou que este grande poeta épico apresenta o inferno
como tendo origem pagã. Mas acrescentou o seguinte:
“Dante
Alighieri, na Divina Comédia, cristianizou
o inferno pagão.”
A igreja dominante, nos séculos escuros da Idade Média, para forçar os
pagãos a aceitarem suas doutrinas, intimidava-os com as chamas eternas do
inferno.
Que Dizem os Dicionários e
Comentaristas Gregos sobre Hades?
a) Arndt and Gingrich:
“Hades originalmente era um nome próprio, nome do deus do subterrâneo, o lugar dos
mortos, a sepultura.”
b) Liddell and Scott:
“Hades é o lugar do descanso dos mortos.
c) Vincent:
o lugar para onde descem todos os que
partem desta vida sem levar em consideração o seu caráter moral.”
d) Moulton and Milligan:
“Hades é o submundo, a sepultura.”
Os gregos dividiam o hades em
duas partes: o Elysium — a
habitação dos vitoriosos; e o Tartarus — a habitação dos ímpios.
Ninguém deve concluir de nossas afirmações, que os ímpios ficarão impunes
dos crimes cometidos, pois a Bíblia fala na justiça de Deus. “Não fará justiça
o juiz de toda a Terra?” (Gênesis 18:25).
A obstinada e consciente rebeldia dos maus fará com que Deus os castigue,
mas esta atitude divina será um estranho ato, uma estranha obra, como declara
Isaías 28:21.
Por outro lado, precisamos precaver-nos contra o ensino antibíblico de
apresentar a Deus como um Pai amantíssimo e compassivo que irá salvar a todo o
homem, não importando quão pecaminoso tenha sido. Os extremos são sempre
perigosos; a Bíblia não apresenta a Deus como um tirano e vingativo, nem como Pai terno e
afetuoso que não castigará a ninguém.
Geena
E a transliteração da expressão hebraica Gê Hinon (Vale de Hinon). Também era chamado Gê Ben Hinon (Vale do Filho de Hinon). Neste vale havia uma
elevação denominada Tofete, onde ímpios queimavam seus próprios filhos. Neste
vale, situado a sudeste de Jerusalém, os cananeus ofereciam sacrifícios humanos
ao deus Moloque. Posteriormente, judeus apostatados continuaram com esta pratica
abominável como nos relata II Crônicas 28:3: “Também queimou incenso no vale
do filho de Hinon e queimou a seus próprios filhos, segundo as abominações dos
gentios...” Esta é uma referência ao ímpio rei Acaz.
Manassés, neto do rei Acaz, restaurou esta prática execrável.
Alguns anos mais tarde, o bom rei Josias exterminou os sacrifícios humanos,
derribando totalmente as elevações (Tofete) do vale de Hinon.
Terminados os sacrifícios humanos, este local ficou reservado para depósito
do lixo proveniente da cidade de Jerusalém. Juntamente com o lixo, que era
cremado, atiravam cadáveres de animais e corpos de criminosos indignos de
serem sepultados no Campo Santo dos judeus.
O fogo que ardia neste vale para queimar as coisas imprestáveis não se
apagava, enquanto houvesse alguma coisa para ser consumida ou queimada. O fogo
que destruiria a Jerusalém também não devia apagar
— enquanto não realizasse a sua obra (Jeremias 17:27).
O fogo ardia constantemente neste sítio, e com o objetivo de avivar as
chamas e tornar mais eficaz a sua força lançavam ali enxofre. Devido a estas
circunstâncias, Jesus com muita propriedade usou este vale para ilustrar o que
seria no fim do mundo a destruição dos ímpios, sendo queimados na geena universal.
Evidentemente, tornou-se uma ilustração muito apropriada para o extermínio
do pecado e dos pecadores pelo fogo.
Conta Roy Allan Anderson, ilustrando o problema do fim do pecado e início
de uma nova era:
“Recentemente passamos pelo Vale de Hinon, perto do Monte Sião. Não é mais
o depósito de lixo da cidade, mas um vale fértil coberto de casas e bem
cuidados jardins. Dezenove séculos atrás era ilustração apropriada para o fim
do pecado e da rebelião, mas os tempos mudaram. Os fogos há muito se apagaram
ali. Hoje poderia prover uma limitada ilustração do plano final de Deus para o
mundo, quando o diabo e todas as suas hostes forem destruídos nos fogos quentes
do inferno, sendo que o fogo desce de Deus, procedente do Céu, e os devora
(Apocalipse 20:9). O lugar
de destruição será a Terra.”
Tártaro
A palavra grega tártaros aparece
somente uma vez no Novo Testamento, isto é, em II Pedro 2:4: “Ora, se Deus não
poupou anjos quando pecaram, antes, precipitando-os no inferno os entregou a
abismos de trevas, reservando—os para juízo.”
A palavra inferno neste verso foi traduzida da palavra grega tártaros que significa “as trevas para
onde foram lançados os anjos maus com o originador do pecado — Satanás”.
O termo tártaro, usado por Pedro, se assemelha muito à palavra tartarus, usada na mitologia grega como
nome de “um escuro abismo” ou “prisão”. Não existe nenhuma idéia de fogo ou
tormento nesta palavra, ela simplesmente declara que estes anjos estão
reservados para um julgamento futuro.
Os problemas relacionados com a palavra inferno são solucionados quando
conhecemos bem o significado etimológico das palavras sheol, hades, geena e tártaro,
que jamais poderiam ser traduzidas pela nossa palavra inferno, por ter um
sentido totalmente diferente do que é expresso por aqueles vocábulos.
De acordo com a Bíblia, todos os que morrem, bons e maus, descem à
sepultura, ao lugar do esquecimento e ali esperam até o dia da ressurreição,
quando então receberão a recompensa (Apocalipse 22:14).
A Bíblia nos ensina que o castigo dos ímpios será literal e ocorrerá após a
segunda vinda de Cristo a este mundo.
O
Fogo Eterno da Biblia
A Bíblia, usando as expressões “tormento eterno” ou “fogo eterno”, leva
muitos a concluírem que os ímpios sofrerão através de toda a eternidade.
O problema é esclarecido quando sabemos que os termos hebraicos e gregos,
traduzidos em português por “eterno”, se aplicam muitas vezes a coisas
temporais e também a coisas que subsistirão por toda a eternidade.
O termo grego aion, usado 123
vezes no Novo Testamento, em mais ou menos a metade dos casos é usado no
sentido limitado.
Sodoma e Gomorra foram queimadas com “fogo eterno
Mateus 25:41: “apartai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno.”
Este texto e outros semelhantes querem simplesmente dizer o seguinte:
o fogo no qual os ímpios serão lançados
permanecerá pelo tempo em que haja alguma coisa de que se alimente — até que estejam totalmente consumidas
suas vítimas. O sétimo versículo de Judas confirma esta idéia, ao declarar que
as cidades de Sodoma e Gomorra sofreram a pena do fogo eterno. Esse fogo eterno
depois de consumir as cidades delinquentes se apagou. O fogo era inextinguível
enquanto houvesse matéria combustível. E neste mesmo sentido que são empregadas
as expressões “para todo o sempre” e pelos “séculos dos séculos” em textos como
Apocalipse 14:10 e 11; 20:10, etc.
O castigo será eterno nas suas conseqüências, mas não na durabilidade, pois
o sofrimento terminará quando tiverem sido destruídos os seus corpos.
Segue-se um
artigo que escrevi para a revista Decisão
de maio de 1985, com o seguinte título: “Qual é o Verdadeiro Sentido de
Castigo Eterno de Mateus 25:46 e ‘Pelos Séculos dos Séculos’ de Apocalipse
20:10?”
Há passagens bíblicas que tornam clara esta
verdade: o castigo não será igual para todos: Isaías 59; Lucas 12:47 e 48.
É indefensável pelas Escrituras o
ensinamento tradicional de que os ímpios queimarão eternamente.
O significado
das palavras originais traduzidas por “eterno , para sempre , “pelos séculos
dos séculos”, nos ajuda a compreender melhor este assunto.
O termo
hebraico para eterno é olam traduzido
na Septuaginta (versão do Antigo Testamento hebraico para o grego, no 3o.
século a.C.) por aion, como prova
Isaías 34:10.
No Novo
Testamento “eterno”, para sempre”, “pelos séculos dos séculos” são traduzidos
do substantivo aion e do adjetivo aiônios.
Que significam
estas palavras em grego?
O lexicógrafo Greenfield assim define aion: “Duração finita ou infinita,
ilimitada duração, eternidade, período de duração, tempo, século, idade.”
O dicionário de Liddell e Scott
declara: “Um espaço ou período de tempo, especialmente o período de uma vida,
um século, uma geração, longo espaço de tempo, eternidade.”
Em An Expository Dictionary of the
New Testament Words, W E. Vine afirma:
“Aion é uma época,
uma era... significa um período de indefinida duração. Aiônios descreve duração indefinida, porém, não eterna ou infindável,
como em Romanos 16:25; II Timóteo 1:9; Tito 1:2.”
A prestativa e
conceituada obra Word Studies in the New
Testament, de Vincent, apresenta o seguinte comentário à eterna destruição
de II Tessalonicenses 1:9:
“Aion é um período
de tempo de mais longa ou curta duração, tendo um início e um fim. A duração
do aion depende da pessoa ou coisa à
qual está ligada. A palavra sempre carrega a noção de tempo, e não de
eternidade.”
O adjetivo aiônios, de modo idêntico, transmite a
idéia de tempo. Nem o nome, nem o adjetivo, em si mesmos, transmitem o sentido
de perpétuo ou sem fim.”
As definições propostas nos fazem compreender a frase de Aristóteles: “O
período que inclui o tempo todo da vida de cada pessoa é chamado o aion de cada um.”
O aion
de uma mosca seria 15 dias;
de um homem, 70 ou 80 anos.
O significado flutuante do vocábulo
nos evidencia que, usado para Deus, tem o sentido de “sem fim”, mas junto de
substantivos de natureza transitória tem o sentido de “duração limitada”.
H. G. Moule diz: “O adjetivo aiônios tende a marcar a duração
enquanto a natureza da matéria permitir.”
Os vocábulos olam (hebraico) e aion (grego) traduzidos por “eterno?’
são aplicados muitas vezes a coisas temporárias como os seguintes exemplos
bíblicos confirmam:
1- Êxodo 21:6 declara que o escravo
servirá o seu senhor para sempre (olam — eternamente). O sentido é bem claro,
isto é: “enquanto ele viver”.
Olam, usado para Deus em Gênesis 21:33, tem o sentido de eternamente.
2- II Reis 5:27: “Portanto a lepra de Naamã se pegará a ti e à tua
descendência para sempre.
Os comentaristas são unânimes em afirmar que o “para sempre” se refere até
a extinção dos seus descendentes.
3- Judas 7 se refere às cidades de Sodoma e
Gomorra que sofreram o castigo do fogo eterno. O castigo aplicado, que deveria
servir de advertência aos ímpios, reduziu-as a cinzas de acordo com II Pedro
2:6.
O Novo
Comentário da Bíblia (Edições Vida Nova) declara sobre “o fogo” que
destruirá os ímpios:
“Aquele fogo queimará até ao fim, até que cumpra todo o seu propósito.”
Os defensores de que o fogo é eterno, isto é, queimará para sempre,
apresentam o argumento de que a mesma palavra é usada para vida eterna. E real
que os justos receberão a vida eterna, desde que a morte não lhe pode pôr fim.
O castigo dos ímpios é exatamente o oposto à morte eterna, que jamais conhecerá
a vida.
A expressão grega no plural “eis tous
aionas ton aionon” traduzida em português por “para sempre”, “pelos séculos
dos séculos” não significa que esse período não chegará ao fim, mas que haverá
extinção da vida para sempre, porque a pessoa rejeitou a vida que deveria
prolongar-se pelos séculos dos séculos.
Como Igreja cremos no ensino bíblico de que Satanás, os anjos maus e os
ímpios serão reduzidos a cinza, e que a duração do castigo será proporcional à
responsabilidade de cada um, destacando-se, evidentemente, a de Satanás.
Razões
para Rejeitar a Doutrina do Tormento Eterno
Nós, adventistas, rejeitamos a doutrina do tormento eterno pelas seguintes
razões:
1~) Porque a vida eterna é dom de Deus
(Romanos 6:23). Os ímpios não a possuem (João 3:36); “nenhum homicida tem
permanente nele a vida eterna” (1 João 3:15).
2~) Porque o tormento eterno perpetuaria e
imortalizaria o pecado, o sofrimento e a miséria, contradizendo, cremos, a
revelação divina, que prevê o tempo em que essas coisas não existirão mais
(Apocalipse 21:4).
3~) Porque parece que nos provê um lugar
maculado no Universo de Deus, por toda a eternidade, indicando ser impossível
ao próprio Deus, aboli-lo.
4~) Porque a nosso ver, reduziria o
atributo de amor visto no caráter de Deus, e implica o conceito de ódio que
jamais se aplaca.
5~) Porque as Escrituras ensinam que a
obra expiatória de Cristo é“aniquilar ... o pecado” (Hebreus 9:26) — primeiro
do indivíduo, e finalmente do Universo. A posse plena da obra sacrifical e
expiatória de Cristo se verificará não só num povo redimido, mas também num céu
e terra restaurados (Efésios 1:14) (Resposta à pergunta 12 do livro Os Adventistas Respondem a Perguntas Sobre
Doutrina).
Paulo descreve este fogo com linguagem trágica e rigorosa em II Tessalonicenses
1:7-9.
No final da história da humanidade só haverá dois grupos:
(1) Os que aceitaram o chamado divino, receberam o dom da salvação e
seguiram o caminho com Cristo, por isso herdarão a Terra.
(2) Os que rejeitaram os apelos divinos e seguiram o seu próprio caminho;
sobre eles cairá o fogo da condenação.
A pergunta que precisamos responder é esta: em que grupo estaremos nós?
Deus que nos ajude a aceitarmos o Seu maravilhoso convite de salvação,
para estarmos com Ele nas mansões dos salvos. Amém.
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