O Rico e Lázaro
Extraído do livro
“ALÉM DO CONHECIDO” de Leo Roberto
Odom
Casa Publicadora
Brasileira
É provável que nenhuma outra
(parabola) contada por Jesus tenha sido mais calorosamente usada como doutrina
acerca do estado dos mortos, como a do rico e Lázaro, registrada em S. Lucas
16:19-31. Os que pregam que já existe um inferno de fogo, se apegam firmemente
a essa história como apoio de seus ensinos. Tomam-na literalmente,
excluindo-lhe qualquer interpretação como uma parábola.
Primeiro, analisemos a história, dando-lhe uma interpretação literal. A
história diz que o piedoso mendigo “morreu e foi levado pelos anjos
para o seio de Abraão”. E o seio de Abraão literal a habitação de todos os
salvos que morreram ? Não teria que ser excessivamente grande para acomodar
tanta gente? Abraão nasceu
aproximadamente
2.000 anos depois da criação de Adão, de acordo com a cronologia da Bíblia.
Muitas pessoas justas morreram antes de
Abraão morrer. Existia seu seio literal, como habitação dos justos mortos, antes que ele mesmo existisse?
Estão, o
seio literal de Abraão, que contém os justos mortos, e o inferno de fogo, que
contém os ímpios mortos, tão próximos um do outro que as pessoas no interior de
um dos lugares ficam a urna distância que vêem, ouvem e falam com aqueles que
estão no outro lugar? No inferno de fogo os pecadores conversam amigavelmente
com os santos, como o pecador rico da história fala com Abraão? É este
patriarca ancião o governador e porta-voz dos justos mortos? Não podem eles ir
ou vir sem a sua permissão? Os ímpios
fazem orações a Abraão ? É ele, e não Deus, a pessoa de quem eles esperam
misericórdia?
Os proponentes de uma interpretação literal dessa
história assumem que na morte os ímpios vão imediatamente, em forma
incorpórea, para o fogo do inferno, deixando seu corpo de carne se decompor
aqui, numa sepultura. No entanto, a história não fala que a “alma” do homem estava no fogo do inferno. Na
verdade, as palavras “alma” e “espírito” não são usadas nessa narrativa. Porém,
supondo que ele esteja existindo, em forma de espírito, no fogo do inferno,
suplica ele por água literal? Os anjos têm que transportar literalmente os
justos mortos de um lugar para outro ? São os santos mortos confortados,
enquanto ao alcance de suas vistas e ouvidos existe um lago de fogo, repleto de
milhões de seres humanos literais
desventurados que, em indescritível tormento, literalmente gritam e clamam
eternamente por água literal por misericórdia? Os ímpios no fogo do inferno
intercedem por seus parentes que vivem agora na Terra? Essas são as implicações
se a história for tomada literalmente.
E muito evidente que o raciocínio baseado numa interpretação literal dessa
história se toma ridículo e absurdo. Até mesmo os que insistem em tomá-la
literalmente admitem que essa posição está cercada de dificuldades. E admitir
que a Bíblia se contradiz é fatal para qualquer argumento que se fia nela para
obter provas.
Alfred Edersheim, um
erudito hebreu cristão amplamente conhecido, de modo sábio salienta, ao comentar
essa história, que “Na interpretação
dessa parábola será necessário ter em mente que seus detalhes parabólicos não
devem ser explorados, nem devem ser derivadas deles doutrinas de qualquer tipo,
tampouco o caráter do outro mundo, a questão da duração das punições futuras,
ou o possível melhoramento moral dos que estão no Gehinnom [Geena]. Todas
essas coisas são estranhas à parábola, cuja única intenção é servir como
símbolo, ou exemplificação e ilustração do que se pretende ensinar.” - The Life and Times of Jesus the Messiah, vol. 2, pág. 277 e 278.
Alguns dirão : “A Bíblia
não diz que esta é uma parábola!” Tampouco Natã disse que estava relatando uma
parábola quando contou a Davi a história do delito do homem rico de tomar a
cordeirinha de seu vizinho pobre como refeição para um hóspede. II Samuel
12:1-6. Lucas registra diversas outras histórias sobre as quais não nos é dito
em outras palavras que são parábolas. O espírito imundo procurando sua casa, o
administrador infiel, a grande ceia, e o filho pródigo são exemplos. S. Lucas
11:24-26; 16:1-12; 14:16-24; 15:11-32.
Meu dicionário define uma parábola como segue: “Uma narrativa fictícia
geralmente breve e simples, que, sob o disfarce de fatos de ocorrência familiar
ou comum, conduz, à verdades morais ou espirituais.” Numa parábola a história em si, com seus
vários detalhes, não é a coisa principal, e sim, unicamente, o veículo que
transporta a moral que o narrador deseja apresentar. E aqui está o perigo no
uso das parábolas do Salvador. Algumas pessoas insistem em tomar as histórias
em si mesmas, e até mesmo seus detalhes, literalmente com esse propósito.
A colocação da história do rico e Lázaro revela que Jesus estava fazendo um
discurso a um grupo de judeus, na linguagem mais simples, sobre servir “a
Deus” e “a Mamom”. S. Lucas 16:13-15 (Almeida Revista e Corrigida). Em Seu
discurso, Ele estaria combatendo um pecado notório de alguns fariseus o amor ao dinheiro. “Os fariseus, que eram
avarentos, ouviam tudo isto e O ridicularizavam” Verso 14. Evidentemente, detendo-Se por causa desse
escárnio, Ele lhes disse: “Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante
dos homens, mas Deus conhece os vossos corações.” Verso 15. Depois dessas
observações, Ele relatou a parábola do rico e Lázaro.
Pelo rico, que era tratado
suntuosamente enquanto o seu vizinho padecia a mais terrível necessidade, Jesus
descreveu figuradamente uma classe de fariseus que eram avarentos, serviam a
mamom e amavam o dinheiro. Em 8. Mateus 23 e em outras passagens aprendemos que
eles viviam da gordura da terra, exploravam seus pobres e necessitados
compatriotas, amavam o elogio de homens mais do que os louvores de Deus,
buscavam os primeiros assentos e as mais
elevadas posições nos serviços das sinagogas, nos banquetes e em outras funções
públicas, e ao mesmo tempo tinham a maior pretensão de piedade. Enquanto isso
permaneciam insensivelmente indiferentes às necessidades e sofrimentos dos
pobres à sua volta, figuradamente representados pelo piedoso mendigo.
Na parábola
Abraão é representado como dizendo que um milagre de ressuscitar um homem morto
para a vida seria uma evidência inútil para pessoas que não dão ouvidos aos
claros ensinamentos das Sagradas Escrituras. “Se não ouvem a Moisés e aos
profetas, tão pouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre
os mortos.” S. Lucas 16:31. Uma lição oportuna para os homens de hoje! Por meio
da Palavra Escrita, freqüentemente o Salvador refutava os ensinos errôneos dos
Seus oponentes e “ninguém Lhe podia responder palavras, nem ousou alguém, a
partir daquele dia, fazer-Lhe perguntas.” S. Mateus 22:46. Porém, persistiam em
exigir dEle um milagre. S. João 6:30. Para que eles ficassem sem desculpas, o
Senhor concedeu-lhes a evidência que até mesmo Abraão lhes teria negado.
Lázaro de Betânia morreu, e depois de permanecer quatro dias na tumba, Jesus o
ressuscitou dos mortos. Na presença de uma multidão de testemunhas, Ele chamou
Lázaro para a vida, e não do Céu nem do inferno, mas da tumba. S.
João 11:38 - 44. Muitas pessoas creram em Jesus naquele dia, e “outros,
porém, foram ter com os fariseus e lhes contaram dos feitos
que Jesus realizara”. Verso 46. “Então os
principais sacerdotes e os fariseus convocaram o Sinédrio e disseram:
Que estamos fazendo, uma vez que este homem opera muitos sinais?... Desde
aquele dia resolveram matá-Lo.” Versos
47-53. Tal era sua dureza de coração!
Quando Jesus visitou Lázaro e suas irmãs em Betânia antes de Sua entrada
triunfal em Jerusalém, “soube numerosa multidão dos judeus que Jesus estava
ali, e lá foram não só por causa dEle, mas também para ver a Lázaro a quem ele
ressuscitara dentre os mortos. Mas os principais sacerdotes resolveram matar
também a Lázaro; porque muitos dos judeus por causa dele voltavam crendo em
Jesus”. S. João 12:9-11.
Com que exatidão a moral da história do rico e Lázaro se consumou na
experiência dos incrédulos judeus!
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