Estar com Cristo Filip. 1:21-23.
O que
Paulo queria dizer quando afirmou que, quando morresse, iria imediatamente
estar com Cristo? A. J.
Diz a passagem:
“Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro. Entretanto, se o
viver na carne traz fruto para o meu trabalho, já não sei o que hei de escolher. Ora, de um e outro lado, estou constrangido,
tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor)
Filip. 1:21-23.
Se não houvesse
nenhum outro texto na Bíblia que tratasse do assunto da recompensa final dos
justos, o leitor poderia ser perdoado por concluir que Paulo esperava entrar
no Céu logo após a morte. Mas queremos acrescentar que, se uma frase isolada
em algum texto das Escrituras deva ser vista isoladamente, a Bíblia parece ensinar
salvação pelas obras, oraçôes pelos mortos e outras doutrinas que os
protestantes consideram não bíblicas.
Não podemos
concordar com a interpretação das palavras de Paulo com o sentido apresentado
pelo consulente. Por quê? Porque faria o apóstolo contradizer-se. Paulo escreveu
muito sobre o assunto de estar com Cristo. Examinemos uma parte de seus
escritos, antes de chegarmos a uma conclusão a respeito dessa passagem.
Em outra de suas
cartas, Paulo entra em detalhe quanto ao tempo em que os justos irão “estar
com o Senhor”:
“Porquanto o Senhor mesmo, dada a Sua
palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus,
descerá dos Céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós,
os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre
nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre
com o Senhor. Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras.” 1 Tess.
4:16-18.
ti impossível
pensar que Paulo acreditava que os justos vão estar com o Senhor por ocasião
da morte, uma vez que ele afirmou aos tessalonicenses que os justos, tanto os
vivos quanto os que ressuscitarão, irão “juntos” “estar com o Senhor”, no
segundo advento. Disse que lhes estava escrevendo para que não fossem
“ignorantes’l Seria inadmissível que os deixasse na ignorância quanto a
estarem com Cristo na morte, se ele assim acreditasse. De fato, disse-lhes
exatamente o contrário: que os justos mortos não estarão com o Senhor logo após
a morte, mas aguardam a manhã da ressurreição. Se ele acreditasse que vamos
estar com o Senhor na morte, por que deixou de mencionar esse fato quando
estava escrevendo para consolá-los? Ele os exortou a procurar consolo em um
evento futuro: a ressurreiçao.
Os líderes
religiosos que crêem em almas imortais, “consolam” os enlutados com a idéia de
que os amados já foram para junto do Senhor e declaram que nós, adventistas,
estamos privando um enlutado do maior con
solo possível. Portanto, não estariam
questionando também a Paulo?
Se o apóstolo
acreditasse que os justos vão para Deus por ocasião da morte, por que disse à
igreja de Corinto que a transformação da mortalidade para a imortalidade
ocorrerá na “última trombeta”? (Veja 1 Cor. 15:51-54.) Ou por que disse aos
colossenses que, quando Cristo Se manifestar, “então, vós também sereis
manifestados com Ele, em glória”? Col. 3:4. Ou por que, ao aproximar-se o tempo
de sua própria “partida” pela espada do executor, afirmou: “Já agora a coroa da
justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele dia; e
não somente a mim, mas também a todos quantos amam a Sua vinda”? II Tim. 4:8.
E por que o
próprio Cristo disse a Seus discípulos que eles estariam novamente com Ele
quando cumprisse a promessa: “Voltarei e vos receberei para Mim mesmo”? Por
que focalizou a atenção de Seus perturbados discípulos no segundo advento, se
fosse verdade que todos eles iriam estar com seu Senhor imediatamente após a
morte?
Essas e outras
passagens estão em total contradição com a interpretação dada às palavras de
Paulo na objeção acima. Devemos concluir, então, que a Bíblia se contradiz?
Não. Em sua declaração aos filipenses, Paulo não diz quando espera estar
com Cristo. Menciona o fato de estar cansado das lutas da vida e seu desejo de descansar
do conflito, se isso levasse Cristo a ser “engrandecido’l Mas, para o veterano
apóstolo, que tão constantemente havia pregado o glorioso retorno de Cristo
como o único evento grandioso além da sepultura, o adormecer na morte estava
imediatamente ligado com o que ocorreria no despertamento da ressurreição: o
ser “arrebatado” “para o encontro do Senhor’l
Não é incomum um
escritor bíblico reunir eventos separados por um longo espaço de tempo. A
Bíblia, geralmente, não entra em detalhes, mas apresenta os pontos realmente
importantes do trato de Deus com a humanidade no transcorrer dos séculos. Por
exemplo, Isaías 61:1 e 2 contém uma profecia da obra que Cristo faria em Seu
primeiro advento. Em Lucas 4:17- 19, está o relato de Cristo lendo essa profecia
para o povo e informando: “Hoje, se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir.”
Mas um exame cuidadoso mostra que Cristo não leu toda a profecia de Isaías,
embora evidentemente ela seja uma declaração conectada. Ele terminou com a frase:
“Apregoar o ano aceitável do Senhor)’ Mas a frase seguinte da sentença é: “E o
dia da vingança do nosso Deus.” Ele não leu essa parte porque ela não devia
ainda se cumprir. A passagem de lsaías nem mesmo sugere que um período de tempo
se interpõe entre esta frase e as precedentes. Mas outras passagens bíblicas
indicam claramente tal fato, e é pelo exame de todas as outras passagens que
entendemos uma profecia breve e condensada como essa de Isaías.
Revista Adventista,
setembro 2004
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