A BÍBLIA E A
IMORTALIDADE DA ALMA
Pedro
Apolinário – Sermões Exaltando a Verdade – Casa Publicadora Brasileira – 1a.
Edição
Professor
de Grego e Exegese Bíblica do Seminário Latino Americano de Teologia – Eng.
Coelho, S.P
Baseados
em algumas passagens, há impetuosos defensores da imortalidade, mas
baseando-nos no ensino geral da Bíblia concluiremos que tal ensino é estranho
ao Livro Sagrado.
Muitos
cristãos crêem que há em toda pessoa uma parte imortal e imaterial, que não
morre quando o corpo morre. Acredita-se que a “alma” da pessoa continua
vivendo no Céu ou no inferno. Esta crença não tem nenhum apoio na Bíblia,
porque em parte alguma das Escrituras é declarado que a alma do homem sobrevive
à morre do corpo como entidade imortal.
Bem
compreendemos que a aspiração à imortalidade é um dos mais sublimes desejos do
ser humano. Essa aspiração é legítima, visto que foi Deus quem colocou este
anelo em nós, mas aprendamos da Palavra de Deus quando será concedida esta
imortalidade ao homem.
Para
boa compreensão deste assunto é útil saber diferençar alma de espírito.
O que é Alma?
Gesênio,
o autor do melhor dicionário hebraico, assim a define: o princípio de vida
manifestado no fôlego.
Taylor,
autor de uma chave bíblica hebraica, diz que “nephesh” significa a vida animal, ou aquele princípio, mediante o
qual todo o animal, segundo a sua espécie vive (Gênesis 1:20, 24 e 30).
Buck,
em seu dicionário teológico assim define alma: Aquele princípio vital,
imaterial e ativo no homem, mediante o qual se exerce a percepção, a memória, a
razão e a vontade.
De
acordo com Bullinger em A Critical
Lexicon and Concordance, pág. 721, a palavra hebraica nephesh usada 755 vezes no Antigo Testamento é traduzida por alma (473
vezes); por vida (118 vezes); por pessoa (29), por corpo (15); por vontade (4);
por fôlego e ainda por outras palavras.
A palavra “alma”, em hebraico nephesh, corresponde a psiquê no grego. A prova de que alma significa
vida, criatura vivente, ser humano, encontra-se no fato de a Bíblia declarar
que a alma come (Lucas 12:19), jejua (Salmo 69:10), prospera (Provérbios
11:25), trabalha (Isaias 53:11) e pode até morrer (Ezequiel 18:4).
Psiquê (que aparece 105 vezes no Novo
Testamento) é traduzida da seguinte maneira:
Alma — 58 vezes
Vida — 40 vezes
Mente — três vezes
Você — uma vez
Nós — uma vez
Para Vincent, em Word
Studies in the New Testament, vol. 2, pág. 400, alma é o princípio de
individualidade, a sede dos sentimentos e das impressões pessoais, a sede dos
desejos, afeições e aversões.
O Dicionário Teológico do Novo Testamento, de
Kittel, diz o seguinte sobre a palavra nephesh: “A alma não tem existência separada do
corpo. Por isso, a melhor tradução em muitos casos é ‘pessoa’. Todo indivíduo é
uma alma, e quando os textos falam de uma só alma, como uma totalidade, a
totalidade é considerada uma só pessoa.”
O que é Espírito?
A palavra é empregada na Bíblia com diversos sentidos
como os seguintes:
a) O fôlego de vida soprado por Deus no homem (Gênesis
2:7; 7:15).
b) Ânimo, energia (Gênesis 45:17; Jó 17:1; Salmo 143:7).
c) Poder divino (Gênesis 1:2; Isaías 44:3; 1 Coríntios
6:19).
d) Faculdades morais, índole, caráter, pensamento,
sentimento (Salmo 51:10; Isaías 19:14; Lucas 1:17; Filipenses 1:27; Tiago
3:16).
e) Vida (Jó 12:10; Apocalipse 13:15).
f) Anjo (II Crônicas 18:20; Atos 8:26 e 29; Hebreus 1:13
e 14).
Espírito é um ser ou inteligência incorpórea; sentido em
que Deus é chamado um Espírito, como são os anjos e a alma humana.
O espírito é o princípio de vida que reside no fôlego
soprado no homem por Deus e que volta para Deus.
A palavra espírito em hebraico é ruah e corresponde ao grego pneuma.
Orientação Bíblica
Um estudo cuidadoso das passagens
bíblicas que tratam do problema da vida e da morte nos levará às seguintes
conclusões:
1o.) O homem foi criado por Deus com
imortalidade condicional. Gênesis 2:17 afirma: “mas da árvore do conhecimento
do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente
morreras.”
2o.)
Pela transgressão da lei de Deus o homem tornou-se mortal. Romanos 5:12:
“Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado,
a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram.”
Define-se a morte como cessação da
vida e é real, mas biblicamente a morte é a penalidade do pecado.
3o.) O estado intermediário
entre a morte e a ressurreição é de inconsciência. Salmo 146:4: “Sai-lhes o
espírito, e eles tornam ao pó; nesse mesmo dia perecem todos os seus
desígnios.”
Eclesiastes 9:5 e 10 declara que os
mortos nada sabem.
4o.) A Bíblia apresenta
a seguinte verdade: Deus ao criar o homem do pó da terra, isto é, o corpo,
soprou nele o fôlego da vida (espírito). A combinação do corpo e do espírito
resultou numa alma vivente. A afirmação de que o homem tem uma alma não é
própria, porque de acordo com Gênesis 2:7, o homem se tornou uma alma vivente.
Morrendo o homem, o pó volta à terra, o espírito volta a Deus e a alma vivente
desaparece.
Eclesiastes 12:7 não pode ser
apresentado como prova de que existe uma entidade imortal, que deixa o corpo
por ocasião da morte diante do seguinte: se o fôlego de vida soprado por Deus
no homem (Gênesis 2:7) o tornou imortal, este mesmo
fôlego (ruah) soprado nos animais os tornaria
imortais. Eclesiastes 3:19 afirma que os homens e os animais têm o mesmo
fôlego.
Uma verdade incontestável deduzida
do relato da criação é esta: o homem ao ser criado não recebeu uma alma
separada do corpo. O dicionarista Gesênio afirma: “Não há na Bíblia nada que
justifique a idéia de sobrevivência da alma na morte do homem.
Alguns imortalistas defendem sua
crença com o seguinte argumento:
“Sendo
que Deus é imortal, o homem criado a Sua imagem e semelhança deve também
possuir a imortalidade.” O ter o homem sido criado “à imagem de Deus” não prova
que foi feito igual ao Criador nos atributos de Sua natureza infinita. Deus é
onipotente, onipresente e onisciente, mas isto não prova que o homem também
possui essas prerrogativas.
5o.) A Bíblia nos
informa, em I Coríntios 15:54-56, que o homem mortal apenas se revestirá da
imortalidade quando Cristo voltar para buscar os Seus escolhidos.
6o.) Os ensinamentos bíblicos nos informam:
a) Deus deseja que o homem viva para sempre.
(João 3:16; II Timóteo 1:9).
b) A vida, e não morte, é o grande privilégio do
homem (João 10:10).
c) O Céu deu tudo para que o homem pudesse herdar
a vida eterna (Romanos 8:32).
d) A vida está unicamente em Cristo (Filipenses
1:21).
e) O evangelho aboliu a morte e trouxe à luz a
vida e a imortalidade (II Timóteo 1:10).
7o.)Não cremos, porque
não encontramos na Bíblia o ensinamento de que o homem é imortal. A declaração
de Paulo em I Timóteo 6:16, afirmando que Deus é o único que possui
imortalidade, seria suficiente para provar-nos que a imortalidade não pertence
ao ser humano.
O termo imortal também aparece
apenas aplicado a Deus (I Timóteo 1:17).
As palavras imortalidade e imortal
foram empregadas por Paulo para exaltar a sublime verdade da ressurreição,
porque se dirigia a pessoas que criam (contrariamente à Bíblia) na imortalidade
da alma (Atos 17:32; I Coríntios 15:12).
As Escrituras são muito claras em
nos ensinar que os que aceitam o evangelho da salvação não serão dotados de
imortalidade, senão na volta de Jesus. Paulo, escrevendo em I Coríntios 15:53
e 54, afirmou: “Porque é necessário que este corpo corruptível se revista da
incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade. E, quando
este corpo... que é mortal se revestir de imortalidade, então, se cumprirá a
palavra que está escrita: Tragada foi a morte pela vitória.”
Este ensinamento é a única
doutrina com respeito à imortalidade que está de acordo com a doutrina geral
das Escrituras.
8o.) Uma pergunta
natural vem a nossa mente. Se a crença na imortalidade da alma não tem nenhuma
base bíblica, como nasceu este ensino errôneo?
Esta doutrina teve sua origem em
influências pagãs dos egípcios, gregos e romanos, sobretudo gregas,
destacando-se Platão. Platão, uma das figuras grandes da filosofia grega, é o
autor das pretensas formas da imortalidade da alma.
Platão ensinava:
1. A
alma é preexistente e eterna.
2. Ela
é uma emanação de Deus.
3. É imaterial ou espiritual.
4. Neste
mundo ela é escrava da matéria ou do corpo.
5. Deve
libertar-se mediante a contemplação ou a transmigração.
6. É imortal.
Esses ensinamentos podem ser
aceitos por não cristãos, mas os que crêem na Bíblia como a revelada e
infalível Palavra de Deus os rejeitam, porque eles não se harmonizam com os
ensinos sagrados.
Emil Brunner, no livro Man in Revolt, e D. G. Owen, em sua obra
Body and Soul, argumentam que o
tradicional ponto de vista religioso de ser o homem composto de um corpo físico
e de alma que pode continuar vivendo após a morte do corpo é uma idéia
adaptada do pensamento grego, portanto não pode ser aceita na fé cristã, que
se desenvolveu da religião hebraica e não da filosofia grega.
O conceito
helenístico dicotômico — alma
imortal num corpo mortal não é defensável pela Bíblia, que apresenta o homem
como uma unidade psicológica indissolúvel. A concepção bíblica do homem é a de
um corpo animado que, ao morrer, morre também a alma.
Os Pais da Igreja Barnabé,
Clemente, Hermas, Inácio e Policarpo, que viveram nos séculos 1
e 2 d.C., apresentaram a imortalidade como um dom de Deus aos crentes, e a
destruição final como o galardão dos ímpios.
— Segundo os estudiosos foi
Atenágoras (século 2) o primeiro a aceitar as idéias de Platão acerca da
imortalidade da alma.
No fim do século 2 alguns Pais da
Igreja que valorizavam a filosofia grega tentaram conciliar o cristianismo com
a doutrina grega da imortalidade da alma.
Não é possível, em verdade,
conciliar a teologia paulina da ressurreição dos mortos com a doutrina da
imortalidade da alma.
O
Ensino de Comentaristas Não Adventistas
Não são apenas os adventistas que
negam a imortalidade da alma, visto que católicos e protestantes têm chegado à
mesma conclusão.
O Padre José Kokyon, dos Estados
Unidos, na revista Católica Commonweal, de
10/01/71, escreveu: “A idéia da universal imortalidade consciente, nasceu da
tentativa de interpretar e explicar as Escrituras por influência de Platão.”
Afirma ainda: “Não há nas Escrituras tais expressões como ‘alma imortal’. Elas
dão ênfase a este pensamento: Aquele que faz a vontade de Deus permanece
eternamente.
O conhecido ex-frei Leonardo Boff, em seu livro Vida para Além da Morte, pág. 163,
escreveu: “Alma e corpo não são coisas que se possam separar, mas dimensões de
um e o mesmo homem. Por isso não se concebe uma alma separada. Isso seria
destruir sua essência.
A afirmação do padre Hermilo E.
Preto, na Revista Teológica das Edições Paulinas, novembro de 1978, merece detida
atenção: “O homem não é imortal por natureza, mas graças a um ato salvífico de
Deus.”
Segundo Von Rad, o Antigo
Testamento é eminentemente monista, mostrando o homem como um todo que não pode
ser dividido.
A obra A Theology of the New Testament, de George Ladd, pág. 554, cita as idéias de Oscar Cullman sobre imortalidade, cujos
destaques seriam estes:
“A imortalidade da alma é um dos
maiores equívocos do cristianismo.”
“O estado intermediário entre a
morte e a ressurreição é de absoluta inconsciência.
Cullman enfatiza esta verdade:
“Os escritores bíblicos nos
ensinaram que a imortalidade só é possível pela aceitação de Cristo.”
Provas Bíblicas Para a Imortalidade
Os defensores da imortalidade da
alma apresentam como exemplos bíblicos para sua crença Gênesis 35:18 e II Reis
17:21 e 22, que declaram que a alma de Raquel saiu e a alma do menino tornou a
entrar nele. O dicionarista Gesênio apresenta a palavra “fôlego” como um dos
principais sentidos para a palavra nephesh
— alma em hebraico.
Conclusão
Apesar de todas as diferentes formas em que a alma e
espírito são empregados em nenhuma ocasião é dito que signifiquem “entidade
abstrata e imortal que sobrevive à matéria”.
A imortalidade, um dos mais acariciados anseios do ser
humano, e um dom que será conferido na ressurreição dos justos a todos. os que
aceitaram a morte e ressurreição de Cristo, conforme o ensinamento de Paulo em
Romanos 8:11 e I Coríntios 15:51 a 54.
Apenas Deus tem a imortalidade (I Timóteo 6:16) e é o
único imortal (I Timóteo 1:17), porque apenas Ele é o manancial da vida (João
1:4; 14:6) e só Ele é eterno por essência (Salmo 90:2).
Se a imortalidade é um dom que Cristo conferirá aos
fiéis por ocasião de Sua volta, nossa prece a Deus é que O aceitemos e
confiemos em Seus méritos para alcançarmos a tão almejada imortalidade. Amém.
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