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domingo, 10 de agosto de 2014

A BÍBLIA E A MORTE - O MITO ABRASADOR


Mito abrasador
“A teoria de um tormento eterno no inferno é antibíblica e conflitante com o caráter justo e misericordioso de Deus”.
Como se originou a crença no “in­ferno”?   PH.H., São Paulo, SP

Alberto Ronald Timm, Ph.D., é diretor do Centro de Pesquisas Ellen G. White e professor de teologia no Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia, em Engenheiro Coelho, SP.


A noção de um “inferno” de fogo eterno para castigar os maus está intimamente associada à teoria da imortalidade natural da alma. Já no Jardim do Éden, Satanás, na forma de uma serpente, disse a Eva que ela e Adão não mor­reriam (Gên. 3:4; Apoc. 12:9). Entre os anti­gos pagãos havia noções de um outro mundo no qual os espíritos dos mortos viviam cons­cientes. Essa crença, somada à noção de que entre os seres humanos existem pessoas boas e pessoas más que não podem conviver para sempre juntas, levou antigos judeus e cristãos a crerem que, alem do paraíso para os bons, existe também um inferno para os maus.
Muitos eruditos criam que a noção de um inferno de tormento para os ímpios derivara do pensamento persa. Mas em meados do sé­culo 20 essa teoria já havia perdido muito de sua força, diante das novas investigações que enfatizavam a influência grega sobre os escri­tos apocalípticos judaicos do 2~ século a.C. Tal ênfase parece correta, pois na literatura greco-clássica aparecem alusões a um lugar de tormento para os maus. Por exemplo, a famo­sa Odisseia de Homero (rapsódia 11) descreve uma pretensa viagem de Ulisses à região infe­rior do Hades, onde mantém diálogo com a alma de vários mortos que sofriam pelos maus atos deles. Também PIarão, em sua obra A Re­publica, alega que “a nossa alma é imortal e nunca perece”.
Por contraste, o Antigo Testamento afirma que o ser humano é uma alma mortal (ver Gên. 2:7; Ezeq. 18:20); que ele permanece em estado de completa inconsciência na morte (ver Sal. 6:5; 115:17; Ecl. 319 e 20; 9:5 e 10); e que os impios serão ani­quilados no juízo linal (ver Mal. 4:1). Mas tais ensina­mentos bíblicos não con­seguiram impedir que o judaísmo do 2~ século a.C. começasse a ab­sorver gradativamen­te as teorias gregas da imortalidade natural
da alma e de um lugar de tormento onde já se encontram as almas dos ímpios mortos. Esse lu­gar de tormento era normalmente denominado pelos termos Hades e Sheol.
Já nos apócrifos judaicos transparecem as noções de uma espécie de purgatório (Sabe­doria 3:1-9) e de orações pelos mortos (20 Macabeus 12:42-46). Mas o pseudepigrafo ju­daico de 1~ Enoque (103:7) assevera explici­tamente: “Vocês mesmos sabem que eles [os pecadores] trarão as almas de vocês à região inferior do Sheol; e eles experimentarão o mal e grande tribulação em trevas, redes e cha­mas ardentes.” Também o livro de 40 Enoque (4:41) fala que “no Hades as câmaras das al­mas são como o útero”. A idéia básica sugerida é a de uma alma imortal que sobrevive conscientemente à morte do corpo.
O Novo Testamento, por sua vez, fala acena da morte como um sono (ver João 11:11-14; 1a Cor. 15:6, 18, 20 e 51; 1a Tess. 4:13-15; 2a Pedro 3:4) e da ressurreição como a única esperança de vida eterna (ver João 5:28 e 29; la. Cor. 15:1-58; 1a. Tess. 4:13-18). Mas o cristianismo pós-apostólico também não conseguiu resistir por muito tempo à tentação paganizadora da cultura greco-roma­na, e passou a incorporar as teorias da imortalida­de natural da alma e de um inferno de tormento já presente. Uma das mais importantes exposi­ções medievais do assunto aparece em A Divina Comedia, de Dante Alighieri, cujo conteúdo está dividido em “Inferno”, “Purgatório” e “Paraíso”.
Além de conflitar com os ensinos do Anti­go e do Novo Testamento, a teoria de um in­ferno eterno também conspira contra a justi­ça e o poder de Deus. Por que uma criança impenitente, que viveu apenas doze anos, de­veria ser punida nas chamas infernais por toda a eternidade? Não seria essa uma pena desproporcional e injusta (ver Apoc. 20:11-13)? Se o mal teve um início, mas não terá fim, não significa isso que Deus é incapaz de erradi­cá-lo, a fim de conduzir o Uni­verso à sua perfeição original?
Cremos, portanto, que a teo­ria de um tormento eter­no no inferno é antibi­blica e conflitante com o caráter justo e misericordioso de Deus.


Sinais dos Tempos      Maio - Junho / 2003

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