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domingo, 3 de agosto de 2014

ARTIGOS SOBRE A TRINDADE - LIGEIRO ESTUDO DE PROVÉRBIOS 8:22-24



Ligeiro Estudo de Provérbios 8:22-24/79

LIGEIRO ESTUDO DE PROVÉRBIOS 8:22-24

Arnaldo B. Christianini
 Radiografia do Jeovismo - Cap.9 - 3a. Edição - CASA


No capitulo oitavo de seu livro de Provérbios, Salomão compõe interessante parábola, ou melhor, uma alegoria para descrever a excelência da sabe­boria. Em linguagem figurada, descreve o surgimento da sabedoria, sua antiguidade inescrutável, sua partici­pação na criação, seu valor inapreciável e seu regozijo com os homens. É o passo do Velho Testamento que as pseudo-testemunhas de Jeová exploram abusivamente para tentarem demonstrar que Cristo fora criado. A tra­dução feita por eles é esta ou semelhante a esta:

“Jeová me fez no começo do seu caminho, antes das suas obras da antiguidade.” (Verso 22).

E nisto querem seguir a Versão dos LXX, ou Septuaginta, toda em grego, que consigna: “O Senhor me criou... “, da qual os arianos tanto abusaram com o fim de defenderem seu estrambótico unitarismo. E desta forma forçam o verbo hebraico qânâh (que no texto aparece numa forma imperfeita e pronominal qananí) a ter o sentido de “criar” ou “fazer”. Ora, isto é insus­tentável, e podemos afirmar, com absoluta segurança, serem errôneas neste ponto, tanto a versão Septuaginta como a dos jeovistas.

Os especialistas em línguas semitas, destacando-se o douto F. C. Barney, afirmam que o verbo hebraico qâ­nâh tem o sentido de “gerar” (coisa bem diferente de “criar, como veremos adiante), “obter” e especial­mente o sentido de “possuir”; nunca, porém, o de “fa­zer” ou “criar”. Trata-se aí de um equívoco da versão dos Setenta, endossado pelos jeovistas.

Para maior compreensão, vamos recompor os três versículos em debate, grafando o original hebraico transliterado com a tradução colada, ipsis verbis:

           YEHVEH     QANANΠ     RÊI’SHITH    DARKÔ
O  Senhor (me) possuía (no) princípio (de)(seu) caminho
                         
                               QÊDHEM  MIPHALAIV   MÊ’AZ.
(da) antiguidade     (suas) obras       desde.

MÊ’ÕLAM                   NISSAKTI     MÊR’ISH
Desde a eternidade        fui ungida      desde a origem


                               MIQQADMEI-’ REÇ
                        antes do começo (da) Terra

         Be’ YN-TeHIMÔTH                                    CHÕLALTI.
fui gerada
Quando (não havia) profundezas

Transpostos, logicamente, em bom português, teremos:


“O Senhor me possuía no início de Seu caminho, desde as Suas obras mais antigas. Desde a eternidade fui ungida, desde a origem, antes de existir a Terra. Fui gerada antes que houvesse abismos.”


A chave do sentido encontra-se na exata tradução dos verbos. Analisemos os três casos que estamos considerando:

1 º. No versículo 22 aparece o verbo qânâh, cuja tradução mais exata é possuir, no imperfeito. A propósito,   “O Novo Comentário da Bíblia”   de F. Davidson, comentando o versículo, afirma:

Possuiu, tradução dada pelas versões em português, significaria que desde o principio a sabedoria de Deus estava com Deus: Deus é chamado de o Possuidor (raiz qânâh) dos céus e da Terra, em Gênesis
14:19 e 22....
“A referência aqui não é que a Sabedoria foi o primeiro ser criado, pois a sabedoria de Deus certamente é inseparável dEle; pelo contrário, devemos entender por isso que a Sabedoria estava com Ele desde toda a eternidade”.

2o. No versículo 23, aparece o verbo nassak, que al­guns vertem por “estabelecer”. Traduzimo-lo num par­ticípio passado. Os melhores léxicos hebraicos lhe dão vários sentidos: (1) “derramar”, (2) “fazer libações”, (3) “instalar”, (4) ‘‘tecer’’ (5) “ungir”. A tradução Al­meida clássica verteu-o por “ungir”, que preferimos, embora o erudito B. Metzger admita que a raiz sãka sig­nifica “unir estreitamente”, o que também aceitamos e valoriza a tese que defendemos. O comentário bíblico de Davidson, já citado, assim comenta o verso 23:

Ungida pode referir-se à nomeação da Sabedoria, por Deus, para Sua tarefa. Essa palavra é usada no sentido de consagrar... A sabedoria precedeu todos os seres criados e até mesmo as profundezas primevas. Mas isso ainda não é tudo. A sabedoria não só esteve presente na criação, mas serviu de medianeira na mesma.”

3o. No versículo 24 há o verbo chul a que os bons dicionários dão o sentido de “contorcer”, “agitar”, “tremer” e, em pouquíssimos casos, “gerar”. Qualquer que seja o sentido de chul (chôlalti devido à desinência), é todavia incabível dar-lhe sentido de um nascimento físico, pelo fato de toda a passagem ser uma espécie de parábola. O sentido é metafórico, figurativo e isso é importante. Também estaria dentro da lógica do hebraico traduzir-se: “Antes de haver abismos, eu vibrei.” Cremos honestamente que o que Salomão quis dizer, referindo-se à Sabedoria de Deus foi isto:

“Eu estava com Deus no princípio (e isto concorda plenamente com S. João 1:2: ‘Ele estava no principio com Deus’) ou no princípio de Seus caminhos, ou de Seus planos na insondável economia divina. Desde a eternidade fui ungida, desde o principio (...) Apareci antes de haver abismos.”

Tudo, porém, indica incomensurabilidade de tempo, pois a linguagem metafórica do texto indica a eternidade da sabedoria, ou de Cristo: sempre presente em Deus, em qualquer tempo presente com
Deus, desde a eternidade presente com Deus, fusionada com Deus.

Replicam as chamadas testemunhas de Jeová que as expressões “antes das obras antigas”, “antes do começo da Terra” e semelhantes por si só indicam um tempo em que Cristo surgira e, portanto, fora criado. O argumento não colhe. No Salmo 90, por exemplo, Jeová também é referido desta forma:

“Senhor [no original: Jeová] (...) antes que os montes nascessem e se formassem a Terra e o mundo (...) tu és Deus.”

E aqui os neo-russelitas não interpretam que Jeová haja sido criado em algum tempo antes da formação do mundo. Por que não o fazem?

Também em Dan. 7:9 e 13, Deus o Pai, como supre­mo Juiz, é descrito como o “Ancião de dias”; contudo Ele é eterno. Ninguém admitiria que, pelo fato de ser metaforicamente descrito como uma Entidade “de dias”, haja  Ele tido um começo ou um nascimento. A Bíblia deve ser interpretada com bom senso e imparcialidade, distinguindo o figurativo do real. Para fugirem à evidência, os jeovistas não aceitam a interpretação cor­reta do “Ancião de Dias”.

O douto Bruce Metzger, referindo-se à pretensão dos jeovistas em relação a Prov. 8:22, aduz:


“É um caso flagrante de exegese estrábica abandonar a corrente representação neotestamentária de Jesus Cristo como Ser incriado, e lançar mão de uma interpretação contestada de um versículo do Velho Testamento como se ele fosse a única descrição satisfatória dEle. A metodologia própria é, sem dúvida, começar com o Novo Testamento, buscando neles vislumbres, tipos e profecias cumpridas em Jesus Cris­to”
—           Jehovah Witnesses and Christ, pág. 87.

Aí está o caminho sensato e correto que os jeovistas deveriam seguir, para não inverterem a pirâmide.

Judiciosamente o SDA Bible Commentary faz a seguinte consideração sobre a passagem em lide:

“A passagem é alegórica, e deve-se exercer muito cuidado em não forçar uma alegoria além daquilo que o escritor do original tinha em mente. As interpretações extraídas dela, têm que estar sempre em har­monia com a analogia das Escrituras. Alguns têm buscado aqui apoio para a idéia de que houve um tempo em que Cristo não existia, e que Ele fora criado, ou gerado pelo Pai como o princípio de Sua obra em estabelecer um Universo ordenado e habitado. São incabíveis conclu­sões dogmáticas extraídas de passagens figurativas e parabólicas. Os resultados desvirtuados desse procedimento podem ser vistos, por exemplo, na interpretação popular da parábola do rico e Lázaro (S. Luc. 16:19-31). A comprovação de crenças doutrinárias sempre deve ser buscada nas declarações textuais, literais da Bíblia. E declarações explícitas sobre o assunto em causa acham-se em Miquéias 5:2; S. João 1:1; 8:54 e outros lugares. Conquanto haja, sem dúvida, uma referência a Cristo, Ele ai é apresentado na figura da sabedoria. Outro exemplo de aplicação figurada, ver em Ezeq. 28 onde o ‘rei de Tiro’ é, em parte, apresentado como figura de Satanás.”

O Sr. A. Neves de Mesquita, em seu livro “A Dou­trina da Trindade no Velho Testamento”, págs. 135 e 136, assim comenta o sentido da alegoria de Salomão, destacando cinco pontos:


                   O ápice desta alegoria encontra-se no oitavo capítulo, versos 22-31.
(1)     No principio de tudo, era a sabedoria;
(2)     ela estava no princí­pio com o Senhor, e ‘foi ungida antes que a Terra tivesse seus funda­mentos lançados’;
(3)     foi gerada antes que a Terra existisse, ‘e antes que os montes se levassem’ já existia;
(4)     quando o Senhor preparava o cosmos, lá estava ela, e antes dos fundamentos da Terra serem postos, lá a sabedoria se fazia ouvir;
(5)     ela era a alegria do Senhor, e, co­mo se alegraram os anjos, pela fundação do Universo, assim se alegrava a sabedoria pelo surgimento das coisas.”

Concluir que a alegoria de Provérbios 8 prove a criação ou o nascimento de Cristo é vesguice exegética, ou oposição enfermiça à Divindade do Filho de Deus!

Á luz de todas estas informações, não é difícil entender-se o sentido de Prov. 8:22-24. Que Deus ilumine os sinceros!

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