COMO HARMONIZAR AS 36 HORAS, MAIS OU MENOS,
QUE CRISTO ESTEVE NA SEPULTURA,
COM SUA DECLARAÇÃO EM MAT. 12:40?
São Mateus 12: 40 tem sido, muitas vezes, citado como prova de contradição,
no texto sagrado, por pessoas interessadas em desprestigiar a veracidade da
Bíblia.
Baseados ainda nesta passagem há outro grupo defendendo a tese de que
Jesus teria morrido na quarta-feira.
Para que haja uma explicação cabal do problema é preciso estudar a
passagem relacionando-a com passagens paralelas e compreender bem o que estas
palavras signiticavam para os ouvintes contemporâneos.
Tomando as palavras de Mat. 12: 40 ao pé da letra, poderá alguém afirmar
que Cristo esteve na sepultura 72 horas, mas relacionando-as com outras
declarações bíblicas, ver-se-á que esta não é a realidade. Lucas, claramente,
demonstra que Jesus foi sepultado no final do dia da preparação e ressuscitou
no primeiro dia da semana, ainda de madrugada.
Jesus esteve na sepultura, como nos relatam os evangelhos, no seguinte período
de tempo:
a) parte
da sexta-feira.
b) todo o dia de sábado
e) parte do domingo.
b) todo o dia de sábado
e) parte do domingo.
Não apenas a índole das línguas hebraica, grega e latina podia usar uma
parte para expressar a totalidade, porque esta peculiaridade existe também em
nossa língua. Qualquer estudante de português sabe muito bem, que no capítulo
da linguagem figurada, ele encontra a sinédoque, figura que toma o singular
pelo plural, o plural pelo singular, a parte pelo todo, etc. Observe nossas
expressões:
Ele tem duas mil cabeças de gado.
O rapaz pediu, a mão da moça (hoje pouco usada).
Será interessante a colocação do versículo no seu contexto.
Os escribas e fariseus pediram-lhe um sinal. Mat. 12: 38. Era costume deles
assim proceder com os que se proclamavam mensageiros de Deus. 1 Cor. 1: 22.
Queriam um sinal, porque n5o aceitaram os milagres relatados anteriormente,
como realizados pelo poder divino.
Pelo comportamento empedernido e apóstata, demonstrado, não tinham o
direito de pedir sinal e se Cristo lho desse, não aceitariam. Nenhum outro
sinal lhes seria dado a não ser o sinal do profeta Jonas.
Qual o significado do sinal do profeta Jonas?
O Comentário
Adventista ao explicar este verso defende que o
sinal prefigurava tanto a pregação como a ressurreição de Jesus. Assim como
Jonas escapara da morte para pregar aos ninivitas a mensagem de arrependimento
e salvação, do mesmo modo Cristo através de Sua ressurreição levaria a todos
que o aceitassem a salvação.
Barclay defende que o sinal de Jonas simbolizava apenas a pregação de
Jesus. Ver William Barclay — EI Nuevo Testamento, Vol. II, páginas 56-58.
O Desejado de Todas as Nações, págs. 421-422 declara:
“As próprias palavras de Cristo, proferidas com o poder do Espírito Santo,
que os convencia do pecado, eram o sinal dado por Deus para salvação deles. E
sinais vindos diretamente do Céu, foram concedidos para atestar a missão de
Cristo... Como Jonas estivera três dias e três noites no ventre da baleia,
havia Cristo de estar o mesmo tempo no seio da terra. E como a pregação de
Jonas fora o sinal para os ninivitas, assim era o de Cristo para Sua geração”.
Os versos seguintes de Mat. 12: 40 parecem comprovar que Jesus se referia
tanto à Sua pregação quanto à ressurreição.
Três Dias e Três Noites
Em seu anseio de harmonizar declarações bíblicas, aparentemente
conflitantes, comentaristas têm aventurado as mais variadas soluções. Por
exemplo, The Interpreter’s Bible, VII
Val. pág. 403, defende que o verso 40 não foi pronunciado por Jesus, mas
acrescentado por Mateus para explicar melhor o sinal do verso 39. Conclui
assim citando a passagem paralela de Luc. 11:29-32.
Outros, como W. G. Seroggie, no livro Guide
to The Gospel, apresentam a
estapafúrdia solução de que Cristo foi crucificado na quarta-feira. O texto
bíblico está repleto de claras alusões confirmativas de que este evento
ocorreu na sexta-feira (Marcos 15:42-43; Luc. 23: 46,54; João 19:14, 42).
A solução se encontra no seguinte:
Se todos hoje, compreendessem bem o método da contagem do tempo dos dias
de Jesus este problema nunca teria surgido. A expressão “três dias e três
noites” tinha para os judeus, que viviam no Oriente, uma conotação diferente,
do que tem para nós hoje, que vivemos no mundo ocidental.
A maneira de contar o tempo, chamada “contagem inclusiva” incluía o dia
(ou ano) inicial, bem como o dia (ou ano) final, sem considerar quão pequena
fosse a fração do dia iniciante ou finiciante.
Há exemplos deste processo nos escritos sagrados e profanos:
1.
Sagrados.
1o.) I Samuel 30: 12 e 13, declara pois havia três dias e três noites que
não comia pão nem bebia água”. Então lhe perguntou Davi: “De quem és tu, e de
onde vens?” Respondeu o moço egípcio: “Sou servo de um amalequita e meu senhor
me deixou aqui há três dias.” Note bem as expressões diferentes para o mesmo
período de tempo.
2o.) Outro exemplo concludente se encontra em Ester 4:16 e 5:1 “... e
jejuai por mim e não comais nem bebais por três dias, nem de noite nem de dia. - . Ao terceiro dia Ester se aprontou.” É claro que o período de três dias não havia
chegado ao fim quando ela se apresentou perante o rei, se fosse diferente,
estaria: no quarto dia.
3o.) As crianças em Israel eram circuncidadas ao terem 8 dias (Gên. 17:
12), porém, a circuncisão ocorreria no oitavo dia devido a contagem inclusiva
(Lev. 12: 3; Luc. 1:59).
Os exemplos bíblicos poderiam ser multiplicados, mas estes são suficientes
para nos elucidarem sobre Mateus 12: 40.
II. Profanos.
A Enciclopédia Judaica Universal no
item — “dia”, assim se expressa:
“Nas práticas religiosas, a parte de um dia é freqüentemente contada como
um dia completo. Tal é o caso dos sete dias de luto, se o funeral ocorre à
tarde: a curta porção restante do dia é contada como um dia completo. Na
contagem da data da circuncisão no oitavo dia após o nascimento, mesmo, uns
poucos minutos do dia restante após o nascimento são considerados como um dia
completo.
Era comum no Egito, Grécia e Roma a “contagem inclusiva” como nos atestam
seus documentos. Por exemplo, os gregos chamavam a Olimpíada, que se realizava
de quatro em quatro anos de pentaeteris (período de cinco anos) por contarem o
ano inicial e o final.
O SDABC, Vol. II, pág. 136
confirma as declarações anteriores:
“A
maneira de contar o tempo empregada na Bíblia é a chamada contagem inclusiva,
que considera tanto a primeira como a última unidade de tempo incluídas dentro
do período. Este sistema era também usado por outras nações como se pode ver
através de documentos. Uma inscrição egípcia que registra a morte de uma
sacerdotisa no quarto dia do 129 mês, relata que o
sucessor dela chegou no 159 dia, quando se passaram 12 dias. É evidente que,
pela nossa maneira de contar diríamos que os doze dias, passados a partir do 4o.
dia, chegariam à data de 16”.
Broadus e outros pesquisadores citam uma frase do Talmude de Jerusalém que
nos é útil: “um dia e uma noite juntos formam um onah e qualquer parte
deste período é contada como um todo. O termo hebraico onah, corresponde
ao grego nicthmeron, que significa, noite e dia, como está empregado em
II Cor. 11: 25. Não foi este o vocábulo empregado por Mateus, talvez em virtude
de estar fazendo uma citação do Velho Testamento (Jonas 1:17).
Seria de bom alvitre frisar que “três dias e três noites” só aparece em
Mat. 12: 40, porque nas passagens paralelas são usadas estas outras expressões
equivalentes: três dias, depois de três dias, ao terceiro dia. Cristo o fez por
estar citando o Velho Testamento (Jonas 1: 17), mas deve ficar bem claro, que
está usando em hebraísmo, ou a contagem inclusiva.
Textos que mencionam este mesmo período de tempo.
Em três dias Depois de três dias Ao
3o. dia
Mat.26:61;27:40 Mat.
27:63 Mat.16:21;17: 23; 27: 64.
Marc
Marc 14:58 Marc. 8: 31
Marc
Marc 14:58 Marc. 8: 31
João 2: 19 Luc.9:
22;24: 21, 46.
Para uma compreensão mais ampla do problema seria útil consultar o Comentário Adventista, Vol. I, pág. 82,
e Vol. II, págs. 135-137.
Conclusão
A passagem de
Mat. 12: 40 não deve ser citada por nenhum incrédulo como prova de contradição
nas Santas Escrituras.
Nenhuma
dificuldade existe para harmonizá-la com o período em que Crista esteve na
sepultura, se for considerada a cultura hebraica e o contexto histórico da
época.
Se o problema,
aparentemente existe, este é dirimido quando se considera a contagem diferente
dos orientais.
Vale ainda
ressaltar, mais importante do que o tempo da estada de Crista na tumba, foi a
sua morte vicária, que nos propicia a salvação.
Demos sempre
graças a Deus pelo sublime sacrifício de Crista por nós.
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