QUAL E A REAL
SIGNIFICAÇÃO DA FRASE BÍBLICA
“TU ES MEU
FILHO, HOJE TE GEREI” Heb. 1:5
Pedro Apolinário –
As Testemunhas de Jeová e Sua Interpretação da Bíblia –
4a. Edição
Instituto Adventista de Ensino - 1986
Esta expressão aparece na Bíblia quatro vezes, sendo a primeira no Salmo
2:7 e as outras três em Atos 13:33; Heb. 1:5; Heb. 5:5.
Uma análise do segundo Salmo, mostrar-nos — a exatamente a sua significação. Sabemos pela história antiga, que era
sempre uma situação difícil ao ser entronizado um novo rei. Por não ter
experiência, alguns viam a oportunidade para escapar do seu poder. O
conhecimento hist6rico do tempo indica que as naç6es estavam conspirando contra
o ungido do Senhor. Os versos um a três confirmam este fato, indicando que as
naç3es vizinhas queriam libertar—se da submissão de Israel.
Deus, o dirigente supremo de tudo, se ri das tentativas desses povos,
porque Ele toma conta da situação (versos 4-6).
Deus se dirige ao novo rei (versos 7-9)
O todo poderoso aconselha aos reis destas naç6es a serem prudentes, e para
o seu bem, aceitarem a orientação divina (versos 10-12)
Ao ser entronizado o novo rei, inicia-se uma nova fase, para esta Deus
declara que o tinha gerado naquele dia. No dia da coroação o rei entrava num
novo relacionamento com Deus.
Vemos assim que para melhor compreensão da frase: Tu és meu filho, eu hoje
te gerei é muito útil
observar bem o contexto do Salmo 2. A tradução do verso 6 em várias vers6es é muito significativa para nos. A tradução
de Almeida Revista e Atualizada apresenta:
“Eu, porém
constitui o meu Rei sobre o meu santo monte Sião”.
Na Septuaginta
os versos 6 e 7 foram assim traduzidos:
“Mas tenho sido feito rei
por Ele sobre Sião, Seu Santo monte, declarando a ordenação do Senhor: o Senhor
disse para Mim: Tu és Meu Filho, hoje Te gerei.”
A tradução de
Donay consigna:
“Eu porém, sou
designado rei por Ele sobre Sião, Sua Santa montanha, pregando Seu mandamento”.
O segundo
Salmo tem sido chamado o canto da unção do Senhor, porque há nele referências à unção de David como rei de Israel, e o
propósito de Deus de exaltar a Cristo como rei de todas as coisas. Ver The Treasury
of Davis, de Spurgeon, Vol. 1,
pág. 16.
O verso 6 nos
diz que Deus ungiu a Davi rei sobre Israel.
No verso 7 diz
o salmista: “Declarei a ordenança do Senhor: o Senhor disse para mim, tu
meu filho eu
hoje te gerei”.
Para os
escritores judeus: hoje eu tenho gerado significava: hoje tu tens sido
ungido rei.
“A expressão
‘Hoje te gerei’ pode somente significar: Neste dia eu declaro e manifesto que
és meu filho, por investir-te com dignidade real e colocar-te sobre o trono”. The Book of Psalms, vol. 1, pág. 117 de J.J. Stewart Perowne.
O comentarista judeu, Salomão B. Freehof, declara o seguinte sobre o Salmo
2:7
“Eu hoje Te gerei”. Isto quer dizer “neste dia foste ungido Rei”. Commentary on the Psalms, pág. 4.
Outro comentarista da mesma nacionalidade afirma:
“Eu hoje Te gerei deve ser interpretado em sentido figurado. No dia de Sua
entronização, o Rei foi gerado por Deus como Seu servo para dirigir os
destinos de Seu povo. Quando o trono foi prometido a Salomão, Deus fez a
asseveração: Eu lhe serei por Pai, e ele me será por filho (II Sam. 7:14).” A Cohen, The Psalms (Londres: Soucino Press, 1945.
A Bíblia usa esta expressão figurada querendo significar: no dia da
entronização do rei ele era gerado por Deus. A prova de que se refere a
coroação é que esta me~ma
afirmativa 5 a— plicada
pelo profeta Natã à entronização
do rei Salomão sobre Israel. II Sam. 7:14. “Eu lhe serei Pai, e ele me será
Filho”. A mesma expressão é usada
para Cristo em Hebreus 1:5.
Esta citação do Salmo 2:7 é aplicada
a Cristo três vezes no Novo Testamento, ou seja em Heb. 1:5; 5:5 e Atos 13:33.
Nos dez primeiros versos de Hebreus o autor apresenta sete declarações do
Velho Testamento, para confirmar os seus argumentos de que o Filho de Deus é superior aos anjos. Ele jamais disse aos
anjos: Tu és meu filho, eu hoje te gerei. São os anjos filhos de Deus? Alguns
citam Jô 1:6; 2:1; 38:7 como evidências de que as Escrituras chamam os anjos de
filhos de Deus. São filhos porque são criaturas suas, mas, a nenhum deles cabe
a expressão —
Tu és meu filho no sentido que lhe foi
dado em Atos 13:33; Hebreus 1: 5; 5:5.
Hebreus 1:5 está contestando a declaração de algumas pessoas que afirmam
ser Cristo um anjo elevado a sua mais alta posição. Ver SDABC sobre este
versículo.
F.F.Bruce em The Book of The Acts, (O Livro de Atos), pág.276, comentando
Atos 13:33 tem esta oportuna observação: “O dia da unção do rei, no antigo
Israel, tornava—se o dia em que ele como representante do povo nascia para uma
nova filiação com Deus”.
A Que
Acontecimento Na Vida De Cristo Se Refere Esta Frase — Tu És
Meu Filho, Eu Hoje Te Gerei?
W.E.Read, pesquisador adventista, bastante notável, em artigo aparecido no
Minist5rio Adventista, Março-Abril, 1965, páginas 19-21, assim responde a esta
pergunta:
“Em sua aplicação ao Messias esta expressão tem sido debatida atrav5s dos
s5culos. Alguns insistiram em que ela se referia á encarnação de Cristo, outros
ao batismo, e ainda outros à Sua ressurreição e um quarto grupo, à Sua entronização
como nosso Sacerdote e Rei, após ascender ao Céu”.
A aplicação desta frase ao Messias nosso Senhor, evidentemente é múltipla,
e bem pode referir—se a vários eventos distintos na vida de Cristo. Observemos
os seguintes:
1) Aplicação a Sua Encarnação: ‘Tu és Meu Filho, Eu hoje Te gerei.
Heb. 1:5.
Isto está intimamente relacionado como verso que segue: “Ao introduzir o
Primogênito no mundo”. Heb. 1:6. Este verso sugere que se refere à encarnação.
Estas duas passagens, estão aí tão relacionadas, que não deixam margem a
dúvidas quanto à intenção do escritor da Epístola aos Hebreus. A aplicação dos
primeiros versos deste capitulo à encarnação, também é salientada pelos
escritos do Espírito de Profecia. Ver Testimonies, Vol. 2, pág. 426.
2) Aplicação a Seu Batismo: Atos 13:33. Alguns estudiosos sugerem
que a expressão é aplicada ao batismo de Cristo como o faz a Bíblia de
Jerusalém, em nota ao pé da página sobre Lucas 3:22. É verdade que em S.Lucas
3:22 a voz do Céu que proclamou a filiação divina do Messias, disse: ‘Tu és o
Meu Filho amado, em Ti me comprazo’ . Mas na Revised Standard Version, inglesa, conquanto esta expressão apareça
no texto, a nota ao pé da página dá outra tradução:
‘Eu hoje Te
gerei’, a mesma forma que aparece no Salmo 2:7.
Evidentemente, há boas razões para esta nota na R.S.V., pois aquela
expressão se encontra num dos manuscritos gregos, o Codex Bezae, e é citada por
Justino Mártir....
3) Aplicação a Sua Ressurreição: Esta é a idéia mais generalizada. A
ressurreição ocupa um lugar relevante na mente dos escritores do Novo
Testamento, pois a referência no Salmo 2:7 constituía para eles vigorosa
profecia da ressurreição de Cristo. Pode-se ver isto no discurso de Paulo,
relatado em Atos 13, onde lemos:
‘Nós vos
anunciamos o evangelho da promessa feita a nossos pais, como Deus a cumpriu
plenamente a nós, seus filhos, ressuscitando a Jesus, como também está escrito
no Salmo segundo: ‘Tu és Meu Filho, Eu hoje Te gerei’.
E novamente em Rom. 1:3 e 4: ‘Com respeito a Seu Filho, o qual, segundo a
carne, veio da descendência de Davi, e
foi poderosamente demonstrado Filho de Deus, segundo o espírito de santidade,
pela ressurreição dos mortos
A confirmação do Espírito de Profecia a esta aplicação e vista em Atos dos
Apóstolos, página 172 e em O Desejado de Todas as Nações (3a. ed.),
págs. 580 e 581.
4) Aplicação a Sua Investidura: É evidente que nosso Senhor foi
“exaltado” (Atos 2:33) quando ascendeu ao Céu, após Sua gloriosa ressurreição;
‘Deus o exaltou sobremaneira (Fil. 2:9); foi exaltado ‘acima de todo
principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa
referir não só no presente século, mas também no vindouro’ (Ef. 1:21); com
efeito, foi ‘coroado de glória e de honra’ (Heb. 2:9).
Isto também é salientado por
Ellen G. White no livro o Desejado de Todas as Nações, pág.62l.
‘Com inexpremível alegria, governadores, principados e potestades
reconhecem a supremacia do Príncipe da Vida. A hoste dos anjos prostra-se
perante Ele, ao passo que enche todas as Cortes celestiais a alegre aclamação:
Digno é o Cordeiro,
que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra e
glória, e ações de graças’... O céu ressoa com altissonantes vozes que
proclamam: Ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, sejam dadas
ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre’.
Há, porém, outro aspecto de Sua Investidura que faremos bem em recordar.
Isto inclui o tornar-se Ele sumo Sacerdote bem como nosso Rei. Lemos:
‘Cristo a Si mesmo não se glorificou para se tornar sumo Sacerdote, mas
Aquele que Lhe disse:
Tu és Meu Filho,
Eu hoje Te gerei; como em outro lugar também diz: Tu és Sacerdote para sempre,
segundo a ordem de Melquisedeque’ . Heb. 5:
5 e 6.
Esta aplicação do Salmo 2:7, mencionada acima, é uma clara referência a Seu sacerdócio.
Citação de Ellen G. White:
‘A ascensão de Cristo ao Céu foi, para Seus seguidores, um sinal de que
estavam para receber a bênção prometida. Por ela deviam esperar antes de
iniciarem a obra que lhes fora ordenada. Ao transpor as portas celestiais, foi
Jesus entronizado em meio a adoração dos anjos. Tão logo foi esta cerimônia
concluída, o Espírito Santo desceu em ricas torrentes sobre os discípulos, e
Cristo foi de fato glorificado com aquela glória que tinha com o Pai desde toda
a eternidade. O derramamento pentecostal foi uma comunicação do céu de que a
confirmação do Redentor havia sido feita. De conformidade com Sua promessa,
Jesus enviara do Céu o Espírito Santo sobre seus seguidores, em sinal de que
Ele, como Sacerdote e Rei, recebera todo o poder no Céu e na Terra,
tornando-se o Ungido sobre Seu povo’. Atos dos Apóstolos, págs. 38 e 39.
The Book of Psalms , vol. 1 de J.J. Stewart Perowne, página 117 diz: “São Paulo nos ensina que
devemos ver o cumprimento destas palavras na ressurreição de Cristo dentre os
mortos. Foi por meio disso que Ele foi declarado ser, em um sentido distinto e peculiar o Filho de Deus.
F.F.Bruce em Comentary on The Epistle to the Hebrews, ao estudar os versos de Heb.
1:5 e 5:5 nos diz que eles se referem à divina aclamação de Cristo como
nosso Sumo Sacerdote.
As seguintes idéias colhidas em algum lugar ampliarão nossa compreensão
sobre a afirmativa de Davi no Salmo 2:7 : Pelo contexto vemos que se refere à coroação de Cristo como Sumo
Sacerdote e não ao nascimento físico. Heb. 5:1-10.
Quando no antigo Israel o rei era coroado naquele dia ele não nascia
físicamente, o que seria um absurdo, mas nascia para um novo concerto com Deus,
novos privilégios e responsabilidades. Tu és meu Filho, Eu hoje te gerei, Eu
te ponho hoje a capacidade de dominar, governar.
Em Heb. 1:5 esta expressão se refere à entronização ou coroação de Cristo
depois de sua ressurreição.
A coroação de Cristo se deu por ocasião de sua ascensão, quando Ele foi
recebido pelo Pai e seu sacrifício foi aceito, conforme declaração de Ellen
G.White em D.T.N.
Um dos resultados da coroação de Cristo foi o derramamento do Espírito
Santo no dia de Pentecostes como nos afirma E.G.White no livro Atos dos
Apóstolos, cujo trecho já foi citado anteriormente.
Estudando a teologia paulina concluiremos que em nenhum aspecto ela se
contradiz. Se o mesmo Paulo em várias de suas Epístolas enfatiza que Cristo é Deus como poderia mais adiante declarar ser Cristo um ser gerado, uma criatura.
Paulo está aqui usando uma passagem do V.T. dando-lhe porém um novo
colorido, uma nova aplicação.
Estudando atentamente o contexto do Salmo 2
compreenderemos em que sentido o salmista está empregando a declaração do verso
7, passagem utilizada por Paulo não para descrever uma geração física, natural,
mas simbólica e espiritual. Nos versos anteriores, Paulo mostra as
qualificações de Cristo como rei, e neste texto reporta-se à experiência mais
destacada na vida terrestre de Cristo, a sua ressurreição, pois se esta não
fosse na realidade, as nossas esperanças seriam vãs.
Após a ressurreição, Cristo foi ao Pai para
receber a certeza da aceitação do Seu sacrifício e ser ungido por Deus, como
Rei e Senhor dos Senhores no grande evento da redenção. Cristo foi ungido o nosso sumo
sacerdote, foi gerado por Deus na economia divina para ser o nosso advogado,
sumo sacerdote e grande rei.
No livro A Symposium on Biblical Hermeneutics (Um
Simpósio Sobre Interpretações Bíblicas) o capítulo — Princípios de Interpretação Bíblica de Gerhard F. Hasel, página 190, assim
comenta esta expressão:
“O pleno significado e o sentido mais profundo
duma passagem da Escritura segue geralmente a característica da homogeneidade.
O escritor de Hebreus cita a frase, “Tu ás Meu Filho, Eu hoje Te gerei (Heb.
1:5). Embora estas palavras do Sal. 2:7 tivessem sido usadas nas cerimônias de
entronização dos reis de Judá da dinastia davídica (confira II Sam. 7:14), elas
se referem especialmente ao Rei ideal futuro que pode ser visto mais claramente
quando nos baseamos nos escritos da Carta aos Hebreus. O pleno significado
messiânico e o sentido mais profundo desta passagem foram desvendados por
revelações inspiradas posteriores. Novamente temos aqui uma homogeneidade entre
as palavras do salmista e o seu cumprimento em Jesus Cristo. Embora não tenha havido,
nunca, um tempo em que o Pai não pudesse dizer para Jesus, “Tu és Meu Filho”,
veio o dia, isto á, o “hoje” do Sal. 2: 7 quando, pela ressurreição na humanidade glorificada,
Jesus Cristo foi gerado para um status que nunca tivera antes (Atos 13:33; Rom.
8:29)’.
Os comentaristas nos informam que não devemos
fazer a separação da ressurreição, ascensão e a coroação porque fazem parte do
mesmo evento.
CONCLUSÃO
A frase - Tu ás meu Filho, hoje Te gerei, do Sal. 2:7 refere-se a coroação de Davi
como rei de Israel e aplicada a Cristo em Atos 13:33 e Heb. 1:5; 5:5 tanto pode
referir-se à encarnação, batismo, ressurreição como ao ser entronizado como nosso Sumo
Sacerdote e Rei como foi visto.
Deus está dizendo a Davi: “Assim como eu sou Deus
e tenho o direito de reinar, a partir de hoje tu ás o meu Filho, pois permiti que reinasses também”.
A conclusão inelutável a que se chega da afirmativa do Sal. 2:7 é que Davi está falando da
relação que existe entre o rei terrestre e Cristo como rei celeste, quando eles
são entronizados e jamais do nascimento físico. Hebreus 1: 5 não á uma citação literal, mas uma
expressão figurada, referindo—se também a exaltação de Cristo.
Todos os comentaristas provam que não há referências ao nascimento físico, a um começo
no tempo, mas à coroação, ou em outras palavras, ao momento preciso, exato de
sua exaltação.
Deve-se ter ainda em mente que a carta aos Hebreus á dirigida ao povo judeu para
quem esta expressão — “Tu ás meu Filho — hoje Te gerei”, era fácil de ser compreendida por ser familiar a eles.
Sem comentários:
Enviar um comentário