DIA DO
SENHOR -
Kuriakh hgera
Apoc. 1: 10
“Eu fui arrebatado em espírito no dia do Senhor, e ouvi detrás de mim uma
grande voz, como de trombeta.”
A expressão grega - Kariakê hemera — dia do Senhor,
não deixa dúvida alguma de que o profeta se refere a um dia de propriedade do
Senhor, desde que o vocábulo kuriaké é adjetivo possessivo que está
determinando o substantivo hemera — dia, como posse. Em outras palavras, João faz alusão a um dia semanal que,
antes da visão, ele considerava como “dia do Senhor” propriedade do Senhor.
Esta expressão aparece apenas uma vez na Bíblia. Em I Cor. 11: 20
encontramos uma frase mais ou menos semelhante a esta, referindo-se à ceia do
Senhor — kuriakou deipnon — kuriakón deípnon.
A que dia está se referindo o apóstolo com esta afirmação?
Cinco posicionamentos são apresentados:
1º) Abrangendo toda a dispensação
cristã e não qualquer particular dia de vinte e quatro horas.
2o.) Uma segunda classe
sustenta que se refere ao dia do Juízo.
3o.) Uma referência ao
dia do imperador.
4o.) Um grupo mais
numeroso, por óbvias razões, defende ardorosamente que é uma referência ao dia
de domingo.
5o.) Ainda outra classe
mantém o princípio, que kuriakê hemera significa o sétimo dia, o sábado do
Senhor.
O Dia da Dispensação Cristã
Há ponderáveis razões para se rejeitar esta interpretação, considerando-se
os seguintes fatores:
Segundo o contexto da passagem (Apoc. 1: 9-10). Sabemos o lugar da visão — ilha de
Patmos; o motivo de estar ali — por causa da
palavra do Senhor; sua condição em visão — no espírito, e
o tempo específico do recebimento da visão — no dia do
Senhor. Estas circunstâncias nos cientificam de que o dia em que foi dada a
visão tem uma existência real e não simbólica ou mística. Os que defendem que
significa toda a dispensação cristã lhe atribuem um significado simbólico que
não é admissível.
Dia do Juízo
Embora João tivesse tido uma visão sobre o dia do juízo, não poderia ter
sido neste dia, porque este ainda estava no futuro.
Esta interpretação não pode ser aceita quando sabemos:
1º) Vincent em Word Studies in the New Testament, vol. II, pág., 425, comentando Apoc. 1: 10, assim se expressa:
“Dia do juízo é expresso no Novo Testamento por - hmeratou Kuriou - he hemera tu kuriu - II Tes. 2: 2; ou hmera Kuriou —
hemera kuriu — II Ped. 3:10; ou ainda hmera cristou hemera
christu — o dia de
Cristo — Fil. 2:16”.
2o.) O SDABC comentando
esta mesma passagem afirma: “O contexto nos indica que a expressão ‘dia do Senhor’
se refere ao tempo em que João teve a visão e não ao seu conteúdo”.
3o.) A palavra traduzida
por em é en, e, quando se refere a tempo, é definida por
Robertson nos seguintes termos: “tempo
em que, um ponto ou período definido em, durante o qual alguma coisa se
realizou”. Nunca significa acerca de, sobre.
Assim sendo os que defendem que João estava se referindo ao dia do
juízo, estão em contradição com a linguagem usada, querendo que a preposição
en (em) signifique acerca, sobre, em vez de em, e talvez o pior ainda é que
fazem João afirmar uma estranha falsidade, ao declarar que teve uma visão na
ilha de Patmos, há aproximadamente dezenove séculos, no dia do juízo, que
ainda hoje se encontra no futuro.
Dia do Imperador
A História nos confirma que no Império Romano o Imperador era
freqüentemente chamado de Kúrios - Senhor, conseqüentemente todas as coisas pertencentes ao Imperador eram
denominadas de Kuriakós = do Senhor.
Isbon T. Beckwith, no livro The
Apocalipse of John, pág. 435, nos diz que o primeiro dia do mês era chamado
na Ásia
Menor — “Dia do Imperador”.
Embora houvesse o “Dia do Imperador” e a expressão “Kuriakós” para designar
as coisas pertencentes ao imperador, seria difícil concluirmos que João se
estivesse referindo a um dia imperial, quando atentamos para o fato de que ele
fora perseguido e estava exilado, na ilha de Patmos, por negar-se a prestar
culto ao Imperador.
O Comentário Adventista pondera muito apropriadamente, ao explicar Apoc. 1: 10.
“Parece mais provável que João tenha escolhido a expressão “Kuriakê
Hemera”, para designar o dia do sábado, como uma penetrante maneira de
proclamar o seguinte fato: Como o imperador tinha um dia devotado a sua honra,
assim o Senhor de João, por cuja causa ele agora sofria, também tem o seu dia”.
Dia do Domingo
Este ponto de vista é defendido pela maioria dos comentaristas católicos e
protestantes, interessados em justificar pela Bíblia que o domingo é o dia do
Senhor.
Será que há provas bíblicas para fazer tal afirmacão?
A resposta a esta pergunta apenas pode ser uma forte negação — nem uma prova
bíblica jamais foi encontrada neste sentido.
A história eclesiástica nos confirma que os pais da igreja fizeram longo
uso da expressão “Kuriakê hemera” para o primeiro dia da semana. Por esta
razão muitos estudiosos argumentaram, que Kuriakê hemera, em Apoc. 1: 10,
também se refere ao domingo e que João não apenas recebeu sua visão naquele
dia, mas também o reconheceu como o “dia do Senhor” pelo fato de naquele dia o
Senhor haver ressuscitado dos mortos.
Esta argumentação não subsiste quando se pondera o seguinte, de acordo com
o SDABC, vol. VII, pág. 735:
“Existem razões tanto negativas como positivas para a rejeição desta
interpretação. A primeira, é o reconhecimento do princípio do método histórico,
que declara que uma alusão deve ser interpretada somente em termos da
evidência que lhe antecede no ponto de vista do tempo, ou que lhe seja contemporânea,
e não por dados históricos dum período posterior. Este princípio, tem um
aspecto importante no problema do significado da expressão ‘dia do Senhor’,
como aparece na presente passagem. Embora este termo ocorra freqüentemente nos
Pais da Igreja, com a significação de domingo, a primeira evidência conclusiva
de tal uso, não aparece senão na última
parte do segundo século, no apócrifo Evangelho Segundo Pedro (9-12; ANF. Vol.
9, pág. 8), onde o dia da ressurreição de Cristo é denominado ‘dia do Senhor’.
Desde que este documento foi escrito, pelo menos três quartos de séculos após
João ter escrito o Apocalipse, ele não pode ser apresentado como prova de que
a frase ‘dia do Senhor’, no tempo de
João, se refere ao domingo”.
O domingo ou primeiro dia da semana é designado no grego neotestamentário
pelas expressões mia twn sabbatwn — mia ton
sabbaton — Mar. 16: 2;
Luc. 24: 1; São João 20: 1, 19; Atos 20: 7; I Cor. 16: 2 e prwth sabbatou —
prote sabbatu — Marcos 16:9.
Arnaldo B. Christianini em Subtilezas
do Erro, minuciosa análise histórica e exegética do livro O Sabatismo à Luz da Palavra de Deus de
Ricardo Pitrowiski, inseriu um capítulo — “O Dia do Senhor”, do qual destacamos estes pensamentos:
“... o fato de um profeta ter visão em
determinado dia, não significa que tal dia deve ser guardado. A santidade de um
dia repousa em base mais sólida, fundamenta-se num claro e insofismável ‘assim
diz o Senhor’”.
“A afirmação de que ‘dia do Senhor’ nessa passagem se refira
indiscutivelmente ao primeiro dia da semana é baseada em presunção sem nenhum valor probante. O fato de
em fins do segundo século da era cristã surgirem escritos aludindo ao primeiro
dia da semana como sendo ‘dia do Senhor’, não autoriza a dogmatizar que João
também se referia ao domingo”.
O Sábado
— O Dia do Senhor
Tendo analisado as quatro posições anteriores, nossa atenção se fixará na
declaração de que o sábado é o “dia do Senhor”.
Após os seis dias da criação, Deus reservou o sétimo dia para si, colocando
sobre ele a Sua bênção e reclamando-o como Seu santo dia. Gên. 2: 2-3.
A Bíblia está repleta de declarações convincentes de que o sábado é o dia
do Senhor, destacando-se entre estas por sua clareza ímpar as seguintes:
a) Exodo 16: 23 — “Amanhã
é repouso, o santo sábado do Senhor.”
b) Êxodo 20: 8-11 — “O
sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus,...
porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que
neles há, e ao sétimo dia descansou: por
isso abençoou
o Senhor o dia do sábado e o santificou.”
c) Isaías 58: 13 “. - - mas se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do Senhor digno de honra. -
d) Mat. 12: 8 —
“Porque o Filho do homem é senhor do
sábado.”
“Cristo se apresenta como — Senhor do
sábado. Desde que é o Senhor dos homens, Ele é também Senhor sobre o que foi feito para os homens — o sábado” — Marcos 2:28.
“Assim, quando a frase ‘Dia do Senhor’ é interpretada de acordo com as
evidências anteriores e contemporâneas dos dias de João, torna-se evidente que
não há referência a nenhum outro dia a não ser o sábado ou o sétimo dia da
semana”. SOABC Vol. VII, pág. 736.
Em conclusão são oportunas ainda as asseverações do livro já citado de
Arnaldo B. Christianini págs. 177—178.
“Temos fundadas razões para crer que S. João se referia ao sábado. Porque,
consoante a Bíblia, o único ‘dia do Senhor’ que nela se menciona é o sábado”.
“O discípulo amado conhecia muito bem as palavras do Decálogo (Êxodo 20:
10) bem como as de Isaias (Is. 58: 13). À vista disso, não precisamos ter
dúvida quanto ao dia a que ele quis referir-se quando no Apocalipse escreveu:
‘fui arrebatado em espírito no dia do Senhor’.”
É uma verdade acaciana entre os
comentaristas, que em nenhum lugar da Bíblia, se encontra uma afirmação que
identifique o primeiro dia da semana como o dia do Senhor.
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