O MINISTÉRIO EXPIATÓRIO
DE
CRISTO NA CRUZ
Raoul Dederen
Professor
no Theologícal Seminary, Andrews University.
O cristianismo é,
proeminentemente, uma religião redentora. Cristocêntrica. Nossa religião não é
a aceitação de um credo em primeiro lugar. Em sua essência mais profunda é um compromisso
com uma Pessoa. Ser cristão significa
dizer “sim” a Cristo, e fazê-lo sem reservas. Portanto, no coração de nossa
vida crista existe este relacionamento pessoal com Cristo, no qual nos
entregamos a Ele em obediente amor. Então, tudo passa a girar em torno d’Aquele
com quem nossa alma está em direta e viva comunhão. Tudo gravíta em torno do
eterno ato de Deus em Cristo, em torno da pessoa de Cristo e da cruz de Cristo.
E em último termo, em torno da cruz de Cristo, “porque ela é a única chave para
chegar à Sua pessoa
Conforme Oscar Cullmann demonstrou de
forma tão convincente em sua significativa obra Christ and Time, evento-Cristo é
o centro da história da redenção. E a morte de nosso Senhor e sua epítome. E o
marco de identificação mais claro da religião que se originou em Jesus de
Nazaré.3 “A cruz do Calvário”, escreve Ellen G. White, “é o grande
centro”. Em contraste como que acontece no caso de um homem comum, o testemunho
do NT mostra que a morte de Cristo é tão importante quanto Sua vida. Era
inevitável que o relato dos Evangelhos a respeito do ministério de nosso
Senhor, tivesse como seu final a paixão. Devido a natureza do caso, a morte de
Cristo devia estar no encerramento de cada um dos Evangelhos. Mas, mesmo que
do ponto de vista biográfico seja suficiente uma breve exposição do fato e suas
circunstâncias, o que realmente nos é oferecido nos Evangelhos e um poema épico
da paixão, ampliado até o limite máximo que o assunto podia alcançar. É um fato
bem conhecido que, pelo menos uma quarta parte de cada Evangelho, concentra-se
nos eventos imediatos que precedem e se quem a morte do Senhor. Henry
Clarence Thiessen vai longe ao escrever que “se todos os três anos e meio
do ministério público de Cristo tivesse sido escrito tão de- talhadamente como
Seus últimos três dias, terramos uma ‘Vida de Cristo’ de umas 8400 páginas”
(Introductory Lectures Theology, Grand Rapids, Eerdmans, 1963,
pág. 313). Obviamente a morte e a ressurreição de Jesus Cristo foi considerada
de suprema importância na igreja primitiva. Além do fato histórico da morte de
Cristo, é algo que tem significado teológico.
Esse significado teológico, creio eu,
encarnou-se na doutrina cristã da expiação. E uma doutrina de insondável
profundidade e inexaurível mistério. Em grande medida é originadora de todas as
demais doutrinas. O próprio termo “expiação” é ambíguo, e requer
definição. Segundo Robert H. Culpepper, é de origem Anglo-saxônica e seu
significado original é “em uma ação”, ou reconciliação,
a restauração do companheirismo rompido”5. Apesar de que no inglês Shakespeariano
“expiar”é reconciliar, ultimamente o termo chegou a significar “fazer reparação”,
fazer emendas por uma ofensa. Em nosso estudo, o termo é usado para descrever o
ato salvador de Deus em Cristo, através do qual nossa reconciliação com Deus e
efetuada.
A Morte
de Cristo e o Pecado do Homem
Cristo Como o Cordeiro de Deus
Desde o surgimento do memorável Cur Deus Homo? de Anselmo,
(1908), a doutrina da expiação sempre tem sido o centro da teologia
cristã. Os teólogos estão geralmente de acordo sobre esta centralização. É com
referência à interpretação da expiação que a grande diversidade de
opiniões prevalece. Conforme me foi solicitado, eu me prenderei a um aspecto do
ministério expiatório de Cristo de acordo com o NT: Sua morte na cruz. Como
pode a morte desse homem, acontecida numa distante cidade do mundo antigo, há
quase 2.000 anos, ter significado salvador e reconciliador para mim hoje?
Numa série de apresentações como esta,
que pretende ser breve e simples, é impossível evitar a distorsão resultante
de uma simplificação excessiva. Tampouco é possível evitar a impressão de
arbitrariedade na seleção dos aspectos a serem discutidos. Eu,
particularmente, lamento, por exemplo, separar a morte de Cristo de Sua
ressurreição. Assim como a cruz de Cristo não deve ser separada de Sua
encarnação nem de Sua vida, não se deve considerá-la separadamente da
ressurreição. Considero a ressurreição de Cristo como algo essencial no
ministério da salvação. A teologia da redenção que dá exclusiva atenção à
morte de Cristo, é necessariamente desiquilibrada e empobrecida. Entretanto, a
despeito dessas deficiências, tal atenção precisa ser dispensada, pois uma compreensão
correta do significado e importância da cruz de Cristo é a essência da
experiência cristã.
Uma das primeiras coisas que surpreende o leitor do NT, interessado na
compreensão teológica da crucifixão de Cristo, e a confíssão da Igreja
primitiva sobre a impecabilidade de Cristo. Sua inocência ou,
mais positivamente, Sua santidade. Ele é o “Cordeiro de Deus”
(João 1:36). No entanto, raramente, o NT fala de Sua santidade sem
imediatamente e em conotação, mencionar a culpa que Ele carregou como Cordeiro
de Deus. “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”, declara João (João
1:29). A morte de Cristo está intimamente ligada ao fato de que foi “por
nós”. Foi uma morte frutífera e benéfica; a morte de um grão de trigo
que somente pelo fato de morrer primeiro, produz muito fruto (João l2-20-25)
Três Dimensões
Fundamentais da Morte de Cristo
Não estamos tratando aqui do
trágico fim de um homem desiludido, nem da morte de um mártir, mas de um sacríficio, de uma entrega
voluntária, de um resgate e uma sofrida reconciliação.
0s Homens Prepararam o Caminho para a Cruz. Os primeiros
sermões do livro de Atos apresentam a crucifixão de Cristo como um crime
dos judeus, mas um crime que Deus dirigiu ressuscitando Jesus dos mortos.
O homem preparou o
caminho para a cruz.. Jesus, certamente, tinha perfeita consciência desse fato.
Ele sabia que seria entregue nas mãos dos homens (Mar. 9:31) e dos gentios
(Mar. 10:33), que seria morto (Mar. 8:31), escarnecido, açoitado e que Lhe
cuspiriam no rosto (Mar. 10:34), Ele sabia o que alguns de Seus discípulos
fariam (João 19:11). Nós lemos nos Evangelhos sobre as ações, planos,
encontros, intrigas; o resultado daquilo que se resume nas seguintes palavras:
“Ali O crucificaram” (Lucas 23:33).
A Manifestação
da Atividade de Deus. Não é surpreendente, portanto,
que a pregação dos apóstolos desde seu próprio início, dava ênfase a este
fato, pois sabiam plenamente o papel que os homens haviam desempenhado em relação
com a crucifixão de Cristo. A responsabilidade e culpabilidade do homem
aparece em declarações tais como: “a quem crucificastes”(Atos 2:36; 4:10)8
E ainda, por mais paradoxal que possa parecer, os mesmos
sermões no mesmo livro de Atos, tornam bem claro que a morte de Jesus não
ocorreu por acidente, mas em cumprimento de “tudo o que a tua mão e o
teu conselho anteriormente determinado que se havia de fazer” (Atos 14:28;
3:18). A ação humana sozinha não explica a morte de Cristo. Os homens,
certamente, prepararam o caminho para a cruz. Mas os planos e as intrigas dos
homens não foram fatos decisivos. Em todo o Evangelho isto é evidente -- e
este É o Evangelho -- que finalmente outra linha cruzou a linha da ação humana
na manifestação desse mistério.
A fé, à luz da revelação, discerne aqui, claramente,
a natureza da ação divina. Este profundo discernimento já é visível imediatamente após o Pentecostes, quando
Pedro, por exemplo, vê dois aspectos neste solene ato: “A este”, declara o apóstolo,
“que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus,
tomando-o vós, o crucificastes e matastes pelas mãos de injustos” (Atos 2:23).
A providência de Deus estava dirigindo cada passo do caminho de
Cristo. A ação de Deus estava se manifestando em, e através da ação humana. O próprio apóstolo Pedro fala da “pedra viva,
reprovada, na verdade, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa” (1
Ped. 2:4). É interessante que o autor do Salmos 118, o qual o apóstolo está
citando, acrescenta: “Foi o Senhor que
fez isto, e é cousa maravilhosa aos nossos olhos” (Salmos 118:23). A ação do
homem é evidente, mas a sabedoria de Deus e Sua amorosa bondade se interpõem à iniqüidade dos homens. O
horror e a injustiça da morte de Cristo situam-se sob a luz da permissão
divina.
Cerca de 700 anos antes, o profeta Isaías
expressou-se sobre o ato de Deus no e através do Messias em sua profecia
referente ao Homem de Dores. É verdade
que essa profecia indica claramente qual a parte que o homem desempenharia
nesse processo, quando declara que o Servo do Senhor seria afligido e oprimido (Isa.
53:7), e que seria contado entre os transgressores (Isa. 53:12);
diz que Cristo aplica essas palavras a Si mesmo em Lucas
22:37). A ênfase, no entanto, está no fato de que o Senhor fez cair sobre Ele a
iniqüidade de todos nos (Isa. 53:6). “Todavia,
ao Senhor agradou o moê-lo” (verso 10).
É precisamente a total compreensão do
relacionamento entre estes dois elementos: rejeição humana e boa vontade
divina, o que dá o conceito correto do significado do sofrimento e morte de
Cristo. E é precisamente porque Paulo compreendeu o propósito redentor de Deus
na morte de Cristo que ele pôde falar do Cristo crucificado como “o
poder de Deus, e sabedoria de Deus” (I Cor. l:24), e pôde falar da morte do
Senhor como “segundo a vontade de Deus nosso Pai” (Gal. 1:1 a 4). Esse é o
motivo porque ele se gloriou na cruz e a fez o centro de sua mensagem (Gal. 6:14;
1 Cor. 2:2). Qualquer que ao olhar para a cruz de Jesus vê apenas o sofrimento
e o escárnio que os homens causaram ao Filho de Deus, não percebe o profundo
significado de Sua morte.
A Própria e Deliberada Escolha de Cristo. Deveria estar
evidente agora porque Cristo, em Sua morte, reage não apenas ante as ações dos
homens, mas também as ações do Pai. Estava plenamente cônscio de que havia
sido enviado pelo Pai. Ele via a ação de Deus através do sofrimento que os
homens Lhe ínfligiam. Sabia que o cálice que Ele enfrentava, procedia do Pai
(João 18:11). Assim no Getesêmani, é ao Pai que Ele roga com referência a isso
(Mat. 26:39, 42). Sabe que Seu sofrimento não é simplesmente o resultado do que
os homens estão fazendo com Ele, mas que o Pai , através de Suas ações, coloca
a taça na mão de Seu Filho. E sobre a cruz é novamente ao Pai que Jesus clama
pelas trevas do abandono que O circundavam (Mat. 27:46). Isso também era um ato
de Deus. Não há dúvidas quanto a isso, que atrás da cruz está o desígnio dos
homens, uma sinistra coalisão de forças humanas. Mas há, também, outra
ação, outra dimensão: é também “ação de Deus”. É maravilhoso --cheia de
admiração e surpreendente a nossos olhos.
Até agora mencionamos duas dimensões da
morte de Cristo, a saber: A ação de Deus, e a participação do homem.
Desejo chamar-lhes a atenção agora para a terceira dimensão. Refiro-me à
própria ação de Cristo em Sua morte. Cristo, em Sua morte, não foi uma vítima passíva,
involuntária. Pelo contrário. Ele a escolheu plenamente cônscio. Foi um ato
Seu, deliberado. No início de Seu ministério público deixou bem claro a
Nicodemos que “como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa
que o Filho do homem seja levantado; para que todo aquele que nele crê não
pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:14, 15). Ele veio para dar Sua vida em resgate de muitos
(Mar. 10:45); e Como o Bom Pastor, dá Sua vida pelas ovelhas (João
10:11-15). Ele não deixou qualquer vestígio de dúvida quanto a Sua atividade
até o próprio fim, quando disse: “Por isto o Pai me ama, porque dou a minha
vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou;
tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la” (João 10:17-18).
Sob qual vontade, por qual ação, Jesus
pendeu na Cruz do Calvário? Pela vontade de Pilatos, o intento dos judeus, o
triunfo jactancioso dos poderes diabólicos e o propósito de Deus. Mas essa é
apenas uma parte da verdade. Ele próprio afirmou: “Tenho poder para dar (minha vida)
e poder para tornar a tomá-la” (João 10:18). Ele podia ter evitado a crucifixão
e, de fato, era continuamente tentado a desviar-se dela: tentado no deserto9
tentado por Pedro --“Isto nunca Te acontecerá” 10, tentado no
Getsémani ao ponto de Seu suor se tornar em grandes gotas de sangue” 11.
Não foi uma vítima indefesa. Não foi uma morte por acidente. Poderia tê-la
evitado mas, simplesmente, escolheu não fazê-lo. Em todos os momentos, e
em todos os passos do ministério de Cristo entre nós, houve sempre a mesma
disposição de dar Sua vida. E evidente que Cristo pensava em Sua
crucifixão como parte essencial da tarefa que viera cumprir ao levar a cabo o
plano divino de salvação 12.
A Morte
de Cristo: Sua Necessidade
Conforme nos temos conduzido através;
das linhas mestras do NT referente à cruz, notamos que três caminhos, três
linhas se cruzam entre si: a linha da ação humana, a mão de Deus que mantém os
remos, e a disposição de Cristo de dar Sua vida. Nisso reside outra grande
ênfase escriturística indispensável a um entendimento correto da singularidade
da morte de Cristo, com referência à sua necessidade.
Cristo DEVIA sofrer em Jerusalém. As escrituras expressam isto ao dizer
que Cristo devia sofrer em Jerusalém. Este “devia ” é, sem a menor dúvida, uma força que elimina a livre
vontade e ação humana. Algumas vezes isso é declarado explicitamente, em outras
citando algumas declarações do AT ( Antigo Testamento) como sendo o
cumprimento de certos incidentes ao longo do ministério de Cristo. Assim, nos
encontramos, por exemplo, que o Filho do homem “convém que padeça muito, e seja
reprovado por esta geração” (Lucas 17:25). As palavras de Cristo a Pedro em
Cesaréia de Filipos são muito significativas (Mat. 16:16-21). Pedro havia
ardorosamente confessado que Jesus era o “Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mat.
16:16), que começou Jesus a mostrar aos seus discípulos que convinha ir a
Jerusalém, e padecer muito dos anciãos e dos principais dos sacerdotes. e dos
escribas, e ser morto e res
suscitar ao terceiro dia” (Mat. 16:21)
13. Poucos meses mais tarde nosso relatou o fato de que os discípulos
seriam escandalizados e cumprir-se-ia a profecia de Zacarias (13:7) referente
ao pastor que seria ferido e as ovelhas se dispersariam (Mat. 26:31). Ele
também recusou, quando aprisionado no Getsêmani, a orar a Seu Pai por 12 legiões
de anjos, porquanto, pergunta Ele, como pois se cumpririam as Escrituras, que
dizem que assim convém que aconteça?” (Mat. 26:55). O fato de Ele ser
aprisionado e levado embora por Seus inimigos ocorre “para que se cumpram as
escrituras dos profetas”(Mat. 26:56).
Era evidente
que, para Cristo, atrás do testemunho das Escrituras, estava o plano de Deus. Este testemunho
é tão fiel que se poderia dizer que as Escrituras deviam ser cumpridas.
Segundo palavras de Kittel, este “deviam” tem um “caráter de necessidade e
inevitabilidade”. A Sua não era uma crença cega no destino, mas fé nos eternos desígnios de Deus”. Cristo
não Se sujeitou involuntariamente a este “devia” como a uma má sorte mas
submeteu-Se voluntariamente à vontade do Pai.
“Nada menos que a morte e intercessão do
Filho de Deus poderia pagar o débito e salvar o homem perdido de desesperada
tristeza e ruína” (Primeiros Escritos pág.127).
A
Cruz Como Uma Prova do Amor de Deus. A esta altura, o
que nos impressiona como mais significativo na morte de Cristo? Os primeiros
cristãos, certamente, ao olhar para trás e ponderar sobre o terrível fato
acontecido no Calvário, compreenderam que aquilo era essencialmente uma prova
do amor redentor de Deus. De Deus. Assim é. Não só do amor abnegado de Cristo,
mas do amor do Pai também. Assim Paulo nos diz, por exemplo, que “Deus prova o
seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda
pecadores” (Rom. 5:8). Nós podíamos esperar que falasse tanto do amor de Cristo
como do amor de Deus! Não parece que a
cruz é incompatível com a crença de que o mundo é governado por uma bondosa
providência? Para um observador eventual isto pode parecer assim, mas não para
Paulo. Estava claro para Ele que Deus estava em Cristo e que a cruz nos mostra
o amor de Deus. Sem a menor hesitação ele afirma que”Deus que é riquíssimo
em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos
em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo “ (Efé. 2:4, 5).
Na cruz, o que ele sente que está presente, é o próprio amor do Pai.
Os primeiros seguidores de Cristo criam que
Deus indubitavelmente se preocupa com o homem, e que a crucifixão aconteceu
pelo propósito de Deus, por Seu propósito de conceder perdão aos pecadores. Não
há lugar aqui para uma divisão entre o Pai e o Filho neste ponto, como alguns
têm aventado; pois segundo as palavras de João, “Deus amou o mundo de tal
maneira que deu seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não
pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16). O NT evidencia uma notável
identificação do amor de Cristo que O levou a cruz e o amor do Pai que O enviou
e O entregou.
Por que é que os apóstolos nunca
pregaram sobre a cruz sem dizer: “Este é um ato de Deus, propósito de Deus em
ação, o meio de Deus trazer a salvação ao mundo perdido’’? Nos próprios dias de
Paulo, judeus e gregos igualmente chamavam a cruz de “escândalo”, “loucura” (1
Cor. 1:23). Por que os discípulos não sentiam o mesmo a esse respeito? Por que
eles também não desejavam tirar, remover, apagar isso como se fosse uma
loucura, um absurdo? Por que? Porque pelo ministério do Espírito Santo, com
respeito e admiração, conseguiram compreender a esmagadora verdade de que a
crucifixão de Jesus Cristo era a forma como Deus tratava com nossos pecados.
Foi um ato de Deus. É a ação de Deus. E nas memoráveis expressões de Paulo: “E
tudo isto provém de Deus que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo.. .
Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando
os seus pecados. . .“ (lI Cor. 5:18, 19). Deus estava em Cristo, reconciliando
o mundo consigo mesmo. É tão simples assim.
A cruz de Cristo é o único evento que nos dá a própria chave do eterno. Por isso, não há palavras, nem
mesmo um sublime pronunciamento profético que possa expressá-la. E um ato. Um
ato de Deus, um ato no qual o Pai, Filho e Espírito Santo enfrentam o pecado e
tomam uma atitude a seu respeito. Embora seja verdade que no NT não existe
a mais simples idéia de corno este sacrifício produz a reconciliação, de
qualquer modo, o processo da salvação através da morte de Cristo é considerado
e é sempre apresentado como o clímax da revelação do amor de Deus.
Um amor divino que produz em nos um amor retribuitivo. Essa é a razão porque
nós pregamos a Cristo e a Cristo crucificado; a verdade de Deus revelada.
A Morte de Cristo: Seu
Significado
Havendo examinado o testemunho do NT em relação
com a experiência de Cristo na cruz e a importância crucial desta morte, desejo agora considerar sua
correta compreensão. Qual é o significado da crucifixão, seu sentido?
Este assunto é da maior importância uma vez que o verdadeiro propósito da morte
de Cristo está em jogo.
É possível, conforme a longa história de
controvérsias sobre a morte de Cristo, interpretar mal seu significado17.
Não apenas os inimigos de Cristo tinham uma concepção errada a esse respeito, mas
também já anteriormente, Seus discípulos mais íntimos. Apesar de crer que a
Bíblia é a Palavra de Deus para o homem, e que as declarações da Escritura
em.relação com a morte de Cristo estavam destinadas a ser compreendidas pelo
homem e pela mulher, cristãos comuns da época, defendo de que é nossa tarefa e
privilégio, sob a promessa de orientação do Espírito Santo, “investigar as
Escrituras” até que alcancemos a compreensão que satisfaça a mente, o coração e
a consciência, e nos conduza a uma vida com segurança e sentido. Conquanto seja
verdade que nunca seremos capazes de chegar a uma explicação cabal sobre a
Expiação, nem a uma compreensão total de suas implicações, é evidente que
somente A luz da revelação podemos evitar uma idéia completamente errônea sobre
este fato.
O Testemunho
de Paulo
Vamos, portanto, às Escrituras para
obtermos a resposta á nossa questão. No caso, o testemunho de Paulo nos será de
grande ajuda. Nenhum escritor do NT parece haver compreendido tão profundamente
o propósito redentor de Deus, quanto Paulo. Nenhum outro escreveu tão exaustivamente
sobre o assunto. O primeiro contato de Paulo com Jesus não foi, como para os
outros apóstolos, durante a vida do Mestre, mas na estrada para Damasco (Gal. 1:11-17) 18. Então Paulo
experimentou “o poder de
Sua ressurreição’’ (Fi1. 3:10). Tão arrasador foi aquele
encontro que provocou uma mudança radical em suas crenças teológicas
fundamentais. Desde então, Paulo transformou-se num “servo de Jesus Cristo’’
(Rom. 1:1). Chegou à compreensão da centralidade da cruz, e de Jesus Cristo, não
principalmente como um mestre ou exemplo --embora fosse ambas as coisas-- mas
como Salvador e Redentor. Ele sentiu um poder em sua vida, um poder novo, e o
associou à cruz: “Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas
para nós, que somos salvos, é o poder de Deus” (1 Cor. 1:18; cf. Rom. 1:16)
19.
Para Paulo, a cruz de Cristo era
essencialmente um ato de Deus, o ato de Deus, e absolutamente central.
Gloriava-se nele, e o fazia o centro de sua mensagem (Gal. 6:15; 1 Cor. 2:2).
Tudo o que ele era e tudo o que esperava, centralizava-se na ação de Deus na
cruz.
Cristo Morreu “Por”Nós. Era
fundamental para Paulo, que Cristo morreu “pelo” pecado, e que foi crucificado
“por causa” do homem. Assim por exemplo, Cristo “o qual por nossos pecados foi
entregue, e ressuscitou para nossa justificação” (Rom. 5:25), “morreu
por nossos pecados” (1 Cor. 15:3), e “se deu a si mesmo por nossos pecados” (Gal.
1:4). Ao mesmo tempo ele afirma que ‘‘Cristo.., morreu pelos ímpios’’ (Rom.
5:6) ou ‘‘sendo nós ainda pecadores” (Rom. 5:8). Morreu “por nos” (1 Tes. 5:10), como também ‘‘por todos’’ (II Cor. 5:14).
Este não é um
conceito particular de Paulo. Cristo mesmo descreveu Sua morte sob essa luz,
quando disse: “Isto é o meu corpo, que por vós é dado; fazei isto em memória de mim” (Lucas 22:19). Portanto, falamos da
morte de Cristo como ‘‘vicária’’, isto é, uma morte que Ele morreu por outros,
ou tendo em vista o benefício de outros. Tem havido grandes diferenças de opinião
concernente a esse ‘por vos’, e a distinção tem sido geralmente feita entre “em
nosso favor’’ (hyper) e ‘‘em vosso lugar”(anti)
20.
Como muitos outros, considero que as
Escrituras não endossam uma diferença tão radical. “Em lugar de” e “em favor
de” uma não exclui a outra. A morte de
Cristo foi totalmente “em favor de” porque ocorreu “em lugar de”. Sua morte foi
vicária e substitutiva.
A Morte de Cristo: Um Sacrifício. Algumas vezes Paulo considera a morte de
Cristo como um sacrifício. A idéia de um sacrifício de sangue e de um
relacionamento divino-humano interligados, é muito repulsiva para muitos de nossos contemporâneos. Embora alguns teólogos
tenham tentado negligenciar esse aspecto da teologia de Paulo21, é difícil passar por alto a ênfase paulina
sobre esse ponto. Ele nos diz, por exemplo, que “Cristo nos amou, e se
entregou a si mesmo por nos, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave”
(Efé. 5:2). Refere-se também a um sacrifício específico quando nos lembra que
“Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado” (1 Cor. 5:7). Tais declarações apontam
para a morte de Cristo como um tratamento definitivo para o pecado, um assunto
de suma importância para nós.22
O Sangue de Cristo. Ocasionalmente Paulo prefere falar do
“sangue de Cristo”, como quando nos diz que Deus enviou Seu Filho “como propiciação...
no seu sangue” (Rom. 3:25), ou quando confessa que “sendo justificados pelo
seu sangue” (Rom. 5:9). É “através de Seu sangue” que temos a redenção (Efé.
1:7).
Têm sido feitas tentativas para mostrar
que a palavra “sangue” nas Escrituras nos indica, essencíalmente, a vida: que
se refere especialmente a “vida” do que a “morte” 24. Mas um estudo
do testemunho do AT sobre o tema, mostra claramente que os hebreus entendiam
“sangue”, via de regra, no sentido de morte violenta, significando
essencialmente vida entregue na morte25. E essa é, certamente, a
compreensão de Paulo. Enquanto que me parece fútil e totalmente alheio às
Escrituras, isolar a morte de Cristo de Sua vida, considero, ao mesmo tempo,
mais difícil compreender as declarações que acabamos de referir como apontando
para qualquer outra coisa que não seja a morte de nosso Senhor, infligida a Ele
de forma violenta.
Remido da Maldição da Lei
Nossa salvação,
no entanto, está relacionada não apenas com a morte de Cristo, mas com um tipo
específico de morte. Esta é: a morte de cruz. Paulo destaca que Cristo
foi “obediente até à morte, e morte de cruz” (Fil. 2:8). Esta morte sobre a
cruz tem um signíficado definido, declara Paulo; de fato uma relação
específica entre cruz e maldição, algo
que afeta ao crente. Paulo escreve: “Cristo nos resgatou da maldição da lei,
fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for
pendurado no madeiro” (Gal. 3:13; cf. Deut. 21: 22-23). Aos olhos de Paulo, a
decisão de crucificar a Cristo não
foi por acidente. Ele vê nisso uma íntima correlação com Deuteronômio que,
certamente, não fala explicitamente de crucifixão, mas pelo menos de “pendurado”.
Esse ato público de pendurar, conforme está indicado em Deuteronômio, era
considerado uma manifestação do terrível juízo de Deus. E dentro de um
contexto claramente soteriológico, Paulo vê a Cristo no ato de Sua crucifixão,
como transformando-se em uma maldição para
nós. Ele Se fez maldição por nós. Sua morte provocou uma mudança
fundamental: Os crentes que estavam sob a maldição que repousa sobre os
transgressores da lei de Deus --a
sentença de morte-- estão agora redimidos. Outrossim, a noção do preço, está
certamente presente. O
verbo usado (exagorazõ) 26
indica que se fez uma compra, levando, por exemplo, a libertação dos
escravos. Em outras palavras, só há uma maneira de escapar desta maldição e do
castigo divino: Não pelas obras, mas pela fé em Cristo, que nos redimiu da
maldição tornando-se a Si mesmo em maldição, e isso por nós. A maldição
e retirada de nós porque recai sobre Ele. Como resultado desse ato, o homem é
“justificado” (Gal. 3:8, 11); recebe a promessa do Espírito (Gal. 3:14, 4:6), e
é 1iberto da escravidão para se tornar um filho de Deus (Gal.4:5-7) 27 Vemos aqui a luz irradiando da cruz, a libertação
do cativeiro do pecado.
Giramos em torno
da mesma idéia quando nos volvemos para 1 Pedro 1:18, 19, onde é revelado aos
leitores que eles foram “resgatados” de sua antiga vida de pecado, não com ouro,
ou prata, “mas com o preciso sangue de Cristo”. É difícil ver em declarações
como estas, outra coisa que não seja a referência a um sacrifício.
O Conceito de Reconciliação
Sendo redimidos,
isto é, readquiridos, nós somos também reconciliados. Não há dúvida de que as
Escrituras resumem a obra de Cristo no conceito de reconciliação.
Reconciliados com Deus. Este conceito é expresso de diferentes
maneiras. Mas sempre que ele é examinado fica evidente que esse tema é a
essência da mensagem evangélica.
Antes de mais
nada, está o termo reconciliação (katallagê).
Paulo o usa para referir-se a uma relação de paz e confiança, a uma comunhão
que contrasta com a inimizade anterior produzida pelo pecado. Estamos, diz
Paulo, “reconciliados com Deus pela morte de seu Filho. . . pelo qual agora
alcançamos a reconciliação” (Rom. 5:10,11). Há também as palavras que
citamos anteriormente: “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não
lhes imputando os seus pecados” (II Cor. 5:19).
Essa reconciliação
é efetuada por Cristo, colocando um fim à
posição anterior de inimizade (Rom. 5:10;
Col.
1:21), e isto ocorre através de Sua morte (Rom.5:10). por meio de Sua morte “Se fez pecado” (II Cor. 5:21), “Se fez pecado” não é
uma expressão muito comum. Entretanto, parece-me que é claro que quer dizer
“tratado como um pecador”, “feito para carregar a pena do pecado”, ou algo
semelhante. “Deus mesmo” -— comenta Karl Barth —- “olhou-O e O tratou como um pecador”.28
Como isto é possível, é declarado categoricamente quando Paulo
escreve, alguns versículos antes, que ‘‘se um morreu por todos, logo todos
morreram” (II Cor. 5:14). Novamente a morte de Cristo é aqui descrita como tendo caráter substitutivo e
abrangente. Não vejo como esta avaliação pode, razoavelmente, ser discutida. Um
morreu, e a morte desse Um significa que muitos morreram. Cristo morreu a morte que os
pecadores deveriam sofrer. Se a linguagem tem sentido, isto, certamente, significa
que a morte de Um tomou o lugar da morte de muitos. Assim é, que num contexto
de reconciliação, Paulo nos relata como tudo aconteceu.
A reconciliação refere-se a remoção de
obstáculos, ao ‘‘acesso” ao Pai realizado na morte de Cristo
(Efê. 3:12) 29.
Esta interpretação apostólica da cruz, esta ênfase dada ao conceito de
reconciliação, é tão fundamental que Paulo a vê como a própria essência da
mensagem evangélica. “Deus”, específica ele, confiou-nos “a palavra de
reconciliação”. Portanto, “rogamo-vos pois da parte de Cristo, que vos
reconcilieis com Deus” (II Cor. 5:19, 20).
Expiação-Propiação. Além de hatallgê, Paulo usa outro termo para exprimir este conceito de
reconciliação através da morte de Cristo: o grupo de palavras hilasmos.
30 É também usado por João
quando ele salienta a Cristo dizendo que “Ele é a propiciação pelos nossos
pecados” (1 João 2:2). e que “Deus... enviou seu Filho para propiciação pelos
nossos pecados” (1 João 4:10). Como expiação (ou propiciação), o grupo de
palavras hilasmos refere-se mais aos meios de reconciliação do que ao que a produz. Notem, por exemplo, a declaração de Paulo que “Deus propôs para
propíciação (hilastêrion) pela fé no seu
sangue” (Rom. 3:25). Essa inquestionabilidade
refere-se a remoção do pecado, conforme indica o contexto. Expiação nunca
significa o oposto de reconciliação, porém abre o caminho para esta última.
Cristo, visto por Paulo como a hilasterion,
a expiação-propíciação, é o meio de reconciliação através de Sua morte, o
caminho que leva à nova comunhão e
novo relacionamento. “Isto”, acrescenta Paulo, foi “para demonstrar a sua
justiça pela remíssão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus”
(Rom. 3:25). Isto era para
mostrar a justiça de Deus!
Como Atua a Justiça
de Deus. Como é que a justiça de Deus vem através de Jesus Cristo,
de modo que este dom se torna justificação para vida, uma libertação da
sentença de morte que repousa sobre cada um de nós. Quando essa pergunta é
respondida, a mensagem da morte e ressurreição de Jesus assume novamente uma
importância primordial.
Acho que encontramos uma resposta à nossa pergunta
na tão conhecida passagem de Romanos, da qual este versículo é apenas uma
parte. Rom. 3:21-26. Em Romanos 1:18-3:20, Paulo mostra que todos os homens,
tanto judeus como gentios, estão sob a ira de Deus, e portanto, sob a sentença
de morte da LEI DE DEUS. Notem algumas de suas declarações: Rom. 1:18; Rom.
2:5 e 3:5, 6, onde o juízo e a ira são inseparáveis. Cf. Rom. 2:1, 2, 8, 12.
Declarações como estas deixam poucas dúvidas quanto à convicção do apóstolo de
que a ira de Deus é uma terrível realidade, e de que o que faz o mal tem uma
aterradora perspectiva à sua frente. É nesse contexto que de vamos Interpretar
nossa passagem. Tendo dito isto, Paulo acrescenta: Rom. 3:21-26.
A passagem não é fácil de ser
explicada,uma vez que tanto o significado como o objeto de muitas frases
preposicionais não estão claros. Mas a idéia principal está absolutamente
clara. Sob o domínio da lei, não se pode obter justificação. Todos merecem
punição. A Justifícação vem como um dom de Deus que se recebe através da fé.
Isto também já foi defendido no AT. Mas a fé que recebe a justificação como um dom, é a fé
em Cristo, pistis Iêsou Christou. (Rom. 3:22), uma
fé que consiste em receber a Jesus como o Cristo. Jesus como o Cristo é o
Libertador, o Redentor. A Justificação, dádiva da justiça de Deus outorgada a
quem merece punição é, portanto, urna libertação; é uma redenção, e apolutrõsis (Rom. 3:21.). Mas essa redenção
na qual Jesus Se torna o Crísto, e que pela fé é possível receber-se como justiça
de Deus, é efetuada através de Sua morte sacrifical. Através de Seu sangue Deus
O fez intrumento da expiação. A palavra hilasterion (Rom. 3:25), tem vários
significados. No entanto, esta palavra combinada com “sangue”, referindo-se à
morte de Jesus, leva inevitavelmente a idéia de sacrifício. A obra redentora de
Jesus é efetuada como um sacrifício expiatório.
Esta idéia de sacrifício, no entanto,
inclui não apenas a morte de Jesus, mas também Sua ressurreição e ministério
celestial. Quando o sangue é mencionado como o meio de expiação, a idéia que o
sangue é tanto derramado como apresentado diante de Deus, ao ser aspergido
sobre o propicíatório. A aspersão do sangue precisa ser compreendida como algo
que tem lugar por meio da morte, e de sua apresentação perante Deus através da
ressurreição e ascensão de nosso Senhor.
É esse o sacrifício que a fé recebe. E ao
fazê-lo, recebe a justificação que é aceitável a Deus. A nova justificação de
Deus é a recepção da fé de Jesus como o Cristo, que através de Sua morte e
ressurreição transformou-se em um novo sacrifício expiatório, o que estabeleceu
um novo relacionamento com Deus.
O Pai nos Ama. Poderíamos traduzir hilastêrion em Romanos 3:25 como “propíciação” --sugerindo
apaziguamento, afastamento da Ira, por meio de um sacrifício apropriado-- ou
“expíação” -- o ato de satisfazer completamente, de tirar o pecado? Tem havido
e continua havendo, um ardoroso debate sobre o que deveríamos entender
exatamente sobre este termo grego. Aqueles que estão familiarizados com a obra
de Leon Morris não precisam de uma introdução no debate dessa questão. 32
Certamente não posso entrar em detalhes aqui. E suficiente dizer que a polêmica
com referência ao significado do termo nesta passagem, a respeito do qual
Morris demonstra que se refere a “propiciação”, pelo menos tanto como a
“expiação”, tem sido confirmada pela obra de Roger
Nicole e David Hill. 33 E conquanto é verdade,
que diante de uma maior compreensão da morte de Jesus, “expiação” parece ser
a tradução mais completa deste grupo de palavras (cf. a tradução dá passagem da
NEB: ‘Deus O designou como meio de expiação do pecado através de Sua morte
sacrifical”), ao mesmo tempo me parece que, se olharmos o contexto, podemos
dizer que nesta passagem e mais natural um significado que inclua um elemento
de propiciação. Do meu ponto de vista, isto é necessário porque, como notamos
anteriormente, Paulo demonstrou repetidamente que a ira e o juízo de Deus estão
diante do pecador. Parece ser claro que a intenção de Paulo era enfatizar o fato de que todo o
mundo está sujeito ira divina, e que
para os homens serem salvos essa ira precisa ser afastada de alguma maneira.
Alguns cristãos rejeitam, sem hesitação, qualquer idéia sobre a ira
de Deus e a propiciação, por não ter valor como um ponto de vista cristão de
Deus. Tenho certa simpatia por tal posição, pois nada pode ser mais acertado do
que o ponto de vista cristão de Deus como um Deus de amor. Qualquer coisa que
possa interferir na da ra percepção dessa verdade básica não pode ser sustenta
da por um momento sequer. Entretanto, deve aceitar-se o fato de que a Bíblia,
tanto no Antigo como no Novo Testamento, fala também da ira do Senhor. Pode ser
que a dificuldade surja devido a posição de falso antagonismo que colocamos entre
a ira divina e o amor divino. O que nos dificulta é o fato de que precisamos
necessáriamente usar termos que sejam aplicáveis a assuntos humanos, e para nós
é extremamente difícil estar, ao mesmo tempo, irados e afetuosos. Aqueles que
se opõem à ira de Deus, no entanto, deveriam compreender que não se refere a
uma paixão irracional, que irrompe descontroladamente, mas a um zelo ardente
pelo que é correto, unido a uma completa repulsa por tudo o que é mau. É
possível que a ira não seja a palavra adequada para descrever uma atitude tal,
mas nenhuma outra palavra melhor tem sido sugerida.
Portanto, se existe tal hostilidade
divina ao mal, é óbvio que alguma coisa tem que ser feita a respeito, para que o homem, pecador como e,
possa ser aceito diante de Deus. Creio que o conceito de expiação-propiciação
vem justamente ajudar-nos a compreender como a hostilidade divina pode ser
afastada. E é exatamente a combinação do profundo amor de Deus pelo pecador e
de sua reação contra o pecado o que origina a situação para a qual a Bíblia faz
referência a propiciação.
Em outras palavras, a propiciação é
apresentada nas Escrituras como que brotando do amor de Deus.
O Pagão e os Conceitos Cristãos. Entre os pagãos,
a propiciação era entendida como uma atividade na qual o adorador podia por si
mesmo proporcionar o que produziria uma mudança na mente da divindade. Em
linguagem mais simples, subornava seu Deus para que se tornasse favorável a
ele. Não acontece o mesmo nas Escrituras.
Certamente, há um afastamento da ira,
que passa de mim para Cristo. Mas não no sentido de aplacar a ira de Deus, de
apaziguá-Lo. Deus não muda Sua maneira de pensar a nosso respeito, devido à
morte de Cristo, a fim de que a reconciliação possa ocorrer. Ao contrário, João
mesmo afirma, juntamente com Paulo35, que “nisto está a caridade, não
em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu
Filho para propiciação pelos nossos pecados” (1 João 4:10). Notem: Deus nos
amou. “O Pai, --enfatiza Ellen O. White-- nos ama, não por causa da grande
propiciação, mas Ele proporcionou a propiciação porque nos ama”.36 Como resultado do afastamento do pecado
do homem, pelo sacrifício substitutivo de Cristo, o homem não experimenta mais
a ira de Deus provocada pelo pecado.
Quando eu digo que nosso Salvador
suportou a ira de Deus, quero dizer que Ele sofreu a manifestação, o efeito
concreto da repulsa de Deus pelo mal. Sobre Jesus, na cruz, foi concentrado
não apenas o pecado do homem, mas também a ira que acompanha esse pecado. Sozinho,
no momento supremo da história da humanidade, Cristo lançou o brado dAquele que
havia chegado à conseqüência máxima do pecado: “Deus meu, Deus meu, por que me
desamparaste?’’ (Mar. 15:34). O inevitável e irrevogável resultado do pecado
será deixado de lado por Deus. O pecado, em sua origem, foi rebelião contra
Deus. O pecado, como resultado será deixado de lado por Deus. O homem pecou
quando destronou a Deus e entronizou-se a si mesmo. Ele colhe os frutos de seu
pecado quando perde completamente a Deus. Este é o resultado de todo o pecado.
E a punição final do pecado. O pecado é a alienação de Deus por escolha.
O Significado
da Cruz
Ouçamos agora o brado de Cristo: “Deus
meu, Deus meu, por que me desamparaste?” Nenhum outro ser humano tem sido
abandonado por Deus nesta vida, O homem, por sua própria ação alienou-se de
Deus, mas Deus nunca o abandonou. Pensou no homem com infinita paciência, e o
recebeu de volta no momento da queda, em virtude do mistério do Calvário, que
estava no desígnio e presciência de Deus muito antes que se concretizasse na
história da raça humana. Que explicação pode, então, ter este brado procedente
dos lábios de Jesus? Na cruz, estava completamente sozinho. A única coisa que
sentia era um sentimento de profunda
depressão. Nenhuma outra explicação se faz necessária além daquela dada por Seu
precursor, três anos antes, e a qual já fizemos referência: “Eis o Cordeiro de
Deus, que tira o pecado do mundo” (Joõo 1: 23). Ele Se fez pecado. Ele aceitou
a responsabilidade decorrente. Temos novamente a declaração de Paulo, uma das
mais profundas do NT: ‘Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós;
para que nele fôssemos feitos justiça de Deus’’ (II Cor. 5:21). Sobre
essa cruz, Cristo foi feito pecado, foi tratado como pecador, e chegou até as
conseqüências máximas do pecado. Não conheceu o pecado, mas foi feito pecado,
e como tal foi abandonado por Deus. Pecado de quem Ele foi feito pecado, e por
qual pecado foi Ele abandonado por Deus? Meu pecado. Cada um de nós deve assumir
sozinho --MEU PECADO. Ou, segundo Pedro: “Levando ele mesmo em seu corpo os
nossos pecados sobre o madeiro” (1 Pedro 2:24).
Julgamos, com Paulo, que Sua morte
significa: “que se um morreu por todos, logo todos morreram” (II Cor. 5:14).
Esta interpretação da morte de Cristo explica porque nós cremos também que “o
amor de Cristo nos constrange”. E a compreensão de que Ele sofreu a morte que
nós deveríamos haver sofrido, o que nos faz sentir o poderoso apelo de amor de
Cristo e não viver mais para nós mesmos, mas para Ele, que morreu por nós e
ressuscitou dos mortos. E é disso que nos ocuparemos a seguir.
A Morte de
Cristo: Sua Apropriação
Nosso estudo,
até agora, tem mostrado claramente que os escritores do NT apresentam uma visão
muito seria da condição do homem. Olham com igual realismo a solução de Deus
para o pecado. Deus planejou a salvação para o homem e a cruz é exatamente o
centro dela. Foi na cruz, no sacrifício substitutivo de Cristo, que a salvação
foi consumada. “E tudo isto provém de Deus” (II Cor. 5:18). Chegou o
tempo em que se deve adotar uma dimensão mais ampla da obra de Cristo, a que
deveria também chamar a atenção da Igreja de Deus, principalmente em seu
aspecto regenerador. Estou referindo-me aqui a influência santificadora e
renovadora da morte de Cristo na alma do crente.
A Expiação: Objetiva ou Subjetiva?
Do ponto de
vista bíblico não há dúvidas sobre isto: Conquanto seja verdade que a cruz tem
sua origem no eterno propósito de Deus (Atos 3:18; 5:27-28) ela é também um acontecimento
da história da humanidade. Foi planejada numa época determinada e num
determinado lugar. Estes dois aspectos da morte de Cristo, eterno e histórico,
são apresentados juntos no sermão de Pedro no dia de Pentecostes (Atos 2:23).
37
É um fato objetivo
que ocorreu uma vez para sempre nos arredores da cidade chamada Jerusalém, por
um homem chamado Jesus, cerca de 2.000 anos. Algo aconteceu na história que não
pode se repetir. Isto é o que o NT quer dizer ao usar as palavras hapax e
eph apax, ‘‘uma vez para
sempre’’ (1 Pedro 3:18; Heb. 7:27; 9:12).
A expiação de
Cristo é, definitivamente, um fato “objetivo”; porém, conforme pergunta D.M.
Baillie, é uma realidade “objetiva”, algo feito por Cristo, ordenado e aceito
por Deus para a expiação do pecado do homem, alheio ao nosso conhecimento dele
e de seus efeitos sobre nós? Ou é um processo “subjetivo”, uma reconci1iação
nossa com Deus através de uma demonstração do amor de Deus destinado a levar o
homem ao arrependimento de seus pecados e a seguir o exemplo de Cristo no sacrifício
de Si mesmo?38 É a expiação
uma necessidade primária da parte de Deus? E para satisfazer a necessidade da
honra de Deus, da justiça de Deus (Anselmo, Calvino), ou isso diz respeito
exclusivamente a relação do pecador com Deus, cujo amor perdoador para com o
pecado do homem é sem limite (Abelardo, Socinus)?
O ponto
de vista subjetivo --de acordo com o qual Cristo Se fez carne e habitou entre
os homens, e morreu na cruz a fim de revelar o amor de Deus e assim despertar
em nos um amor retribuitivo, o qual é nossa reconciliação e redenção-- é
claramente inadequado, por que não expressa a total oposição de Deus a tudo o
que seja mau e se oponha a Sua vontade, e ao fato de que e necessário para a
natureza divina que, quando o pecado é perdoado, deve sê-lo de tal modo que
seja inconfundível a total aversão que Deus tem por ele.
Por outro lado, as teorias objetivas da
expiação, que argumentam que Jesus Cristo, como homem, sofreu a pena do
pecado do homem, foi punido em nosso lugar, tornando-Se assim propício a Deus
e reconciliando-O conosco, e/ou nós com Ele, são algumas vezes apresentadas de
tal modo que são inaceitáveis quando parecem dizer que o propósito da expiação
é provocar uma mudança na atitude de Deus para com o pecador.
Qual é o significado correto da expiação
Estes dois aspectos, realmente, não podem ser facilmente separados. A verdade
do assunto é que a necessidade da expiação é bilateral.
Uma Expiação Objetiva
E essencial que
compreendamos qual é o significado de uma expiação objetiva. Eu sei que para
muitas pessoas, expiação objetiva é paganismo puro. Mas o elemento realmente
objetivo da expiação não é que se oferecia algo a Deus para apaziguá-Lo, mas
que Deus mesmo fazia a oferta. Era algo feito partindo da profundidade de Deus
que mudou eternamente toda a situação e o destino de nossa raça. Isto produziu
também uma mudança em Deus. Já salientei anteriormente que o coração de Deus e
Sua bondosa disposição para conosco, têm sido os mesmos através da eternidade.
Nunca foi necessário que Seus sentimentos mudassem para conosco. Mas o
tratamento de Deus conosco, Seu relacionamento prático conosco, isto foi o
que mudou. 39 Deus nunca
deixou de nos amar mesmo quando merecíamos Sua justa ira. Ele não precisava
ser aplacado, mas não podia restaurar a comunhão com Seus indivíduos sem algum
ato que alterasse permanentemente o relacionamento introduzido pelo pecado.
40
O Julgamento
de Deus Sobre o Pecado. Paulo declara:
“Porquanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne,
Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou
o pecado na carne” (Rom. 8:3). A natureza de Deus requer que o perdão seja
conseguido de tal maneira que se já revelada, de forma inequivoca, a atitude de
Deus para com o pecado e, portanto, Seu total repúdio do mesmo.
Na cruz, o pecado mostrou plenamente sua
verdadeira natureza. No tratamento que o homem deu a Jesus, revelou-se pela
primeira vez, sem reservas, o antagonismo inerente entre o pecado e o amor, e
sua maldade foi exposta até os ossos.
Na cruz, Deus julgou o pecado e o
condenou (Rorn. 8:3). Expôs sua verdadeira natureza. O abandono de Cristo no
Calvário destaca a repulsa divina ao pecado. Este foi o julgamento de Deus
sobre o pecado. Ao mesmo tempo, ao morrer uma morte substítutiva, e tratando
assim com a justiça de Deus, com os justos requisitos da lei de Deus, Cristo
deu a Deus -—que nos ama-- o direito legal de nos perdoar. Deus Se tornou ao
mesmo tempo “justiça” e “justificador” de todo aquele que tiver fé em Jesus
(Rom. 3:26) 41 Cf. Rom. 8:4 pp.
O Julgamento de Cristo Sobre o
Pecado. Mas a morte de Jesus faz algo mais do que
simplesmente me dizer alguma coisa do amor de Deus, Sua santidade, Seu zelo pelo
que é justo e Sua repulsa por tudo o que é mau. Diz-me alguma coisa a respeito
do próprio Jesus. Revela Sua atitude diante da malignidade do pecado. 42
Durante todo o Seu ministério declarou Seu total antagonismo para com o pecado,
não apenas denunciando-o com palavras (Mar.l:15; Mat. 12:39; Luc. 11:13) 43,
mas negando-Se resolutamente a comprometer-se com ele (Mat. 4:4-10), mesmo que
isso significasse sofrer a morte nas mãos dos pecadores. Lutou contra ele ao
ponto de derramar Seu sangue (Heb. 12:14).
Submeteu-se de todo o coração ao julgamento de Deus sobre o pecado,
oferecendo-Se como um ‘‘sacrifício a Deus” (Efé. 5:2). Aceitou Sua morte como sendo a vontade de Deus (Mat.
27:46; Mar. 8:31; Luc. 22:39-43), confessando a justiça de Deus ao atuar como
Ele, contra o pecado. Sua morte, a Seus próprios olhos, concordava
essencialmente com a santidade de Deus. Nosso Salvador considerou que a
reconci1iação do homem era impossível a menos que a santidade divina fosse
reivindicada de uma vez por todas na cruz. Na cruz, Cristo revelou não apenas o
amor perdoador de Deus, mas também a santidade de tal amor.
Embora a obra de
Cristo por um lado evidenciasse o pecado, também revelaria, fundamentalmente,
algo maior, a santidade de Deus no julgamento do pecado. E Sua revelação não
foi apenas na quantidade de palavras, mas de uma forma muito mais poderosa, por
obra e ato de vida e morte. Como a uma só boca, como se toda a raça humana
confessasse por Seu intermédio, como a uma só alma, Ele, de fato, levantou Seu
rosto e disse: “Santo és em todos os Teus juízos, mesmo que estes juízos não
poupem nem a mim, o Filho do Homem”. Ele assumiu a situação da raça humana
diante de Deus. Ele o fez pela graça de Deus. Por Seu próprio consentimento o
fez.
Sua Apropriação
Subjetiva
Por tudo isto está claro que a expiação de
Cristo é um fato objetivo que satisfaz uma necessidade de Deus. Este é o lado
objetivo. Há também o lado subjetivo da questão. A expiação, logicamente, é um
fato histórico. Mas, conquanto seja para mim apenas isso, um fato histórico,
não tem, para mim, um significado salvador. A expiação objetiva deve ser
subjetivamente adotada.46 Cristo morreu pelos meus pecados, quer eu
reconheça ou não. Mas, qual o valor desse fato para aqueles que não o
compreendem subjetivamente, isto é, não aceitam a salvação de Deus por meio do
arrependimento do pecado e a fé em Jesus Cristo?47
O Julgamento
do Homem Sobre o Pecado. De parte do homem algo precisa ser
removido, recriado. Nossa reconciliação com Deus pressupõe nosso conhecimento de
que o pecado é real, de que é rebelião contra Deus, inimiza de com Ele, e de
que o julgamento de Deus sobre o pecado é justo. Em obediência, Cristo aceitou
o julgamento de Deus sobre o pecado. Mas Sua obediência era também a aceitação
em favor do homem, desse julgamento que o pecado havia provocado; e a
confissão em favor do homem, nesse único ato, de que o julgamento divino era
bom e santo. 48 A pergunta é: Compreendemos a inimizade do pecado,
de nosso pecado? Cristo tomou o nosso lugar, mas estamos nós prontos a tomar
o Seu lugar? Estamos dispostos a repetir e confessar com Ele a justiça do
julgamento de Deus, manifestando: “Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó
Rei dos Santos” (Apoc. 15:3).
Essa é a maneira como a cruz de Cristo
transforma-se em minha cruz, e como somos crucificados com Cristo (Gal. 2:20).
E é o arrependimento o que faz isso. Mas arrependimento é justamente o
impossível. Arrependimento significa ter uma nova mente 49. Essa
mente nova não pode proceder de mim mesmo. Eu não compreendo a inimizade que o
meu pecado traz. Constantemente arranjo desculpas para mim. Mas quando vejo o
que aconteceu no Calvário, onde o pecado foi exposto em toda a sua horrível
maldade, onde Jesus, o Único sem pecado, em humilde obediência aceitou o justo
juízo de Deus sobre o pecado, então o arrependimento se torna possível para
mim, exatamente como aconteceu com o ladrão da cruz.
E ali onde
compreendo que perdão não significa ser liberto do castigo. Isso é o que
pensava o ladrão impenitente (Luc. 23:39). Compreendo que o decreto de Deus
pelo qual o pecado leva ao sofrimento e a morte, é justo. Aceito esse decreto
como Cristo o aceitou. Mas quando vejo Jesus ali, o único imaculado, tomando o
pecado sobre Si mesmo por amor ao homem, sofrendo uma morte de pecador com os
pecadores, não fazendo diferença entre Ele e eles, mas sendo contado entre os
transgressores., e então que nasce em mim uma nova mente --a nova mente que
fez o outro ladrão dizer: “Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu
reino” (Luc. 23:142). Em primeiro lugar, há um verdadeiro arrependimento: Devemos
aceitar o julgamento que Jesus aceitou por nós. Em segundo lugar, há fé: Ele
está antes de nós, dando-se a Si mesmo por nós. Portanto, quer em vida ou na
morte podemos confiar nEle. Desta maneira, o elo entre nós e Deus, que o pecado
rompeu, é restaurado, não porque tenhamos chegado a Deus pela força do nosso
arrependimento, mas porque Ele baixou até nós para sofrer a morte de um pecador.
Este é o perdão verdadeiro --não a remissão de uma pena, mas a restauração do
elo de amor que havia sido quebrado. A pena ainda tem de ser sofrida. Mas Ele a
sofreu por nós, e agora nos convida a suportá-la voluntariamente com Ele em
favor de outros. Perdão significa que primeiramente eu aceitei o julgamento de
Deus sobre a minha pessoa como um pecador, e somente em meio a esta
condenação, descubro que Deus ainda me considera como um filho amado.
O “Amem” da Fé. Permitam-me repetir isso novamente. Através da
cruz, compreendemos primeiramente que a ordem divina pela qual o pecado leva ao
sofrimento e a morte, é justa. Nós a aceitamos como Cristo a aceitou.
Mas, ao mesmo tempo, na cruz
compreendemos também a profundidade do amor de Deus. E contra Deus que eu
pequei . Quando vejo que Aquele, contra quem eu pequei desceu para tomar sobre
Si o fardo do pecado, para receber o salário do pecado e sofrer sua terrível
pena, é então que nasce em mim uma nova mente. Em primeiro lugar, há
arrependimento: Aceitamos o julgamento que Jesus aceitou por nós. Em segundo
lugar há fé, um “Amém” que é arrancado do meu coração pelo poderoso ato de Deus
em Jesus Cristo. 50
Esta entrega, este “Amém”, é fé. É a
obra do Espírito Santo. Não podemos separar estas duas coisas. O lado de Deus
está a obra do Espírito Santo, do meu lado está a fé, como resultado da
influência do Espírito Santo em meu coração. E o homem, através da obra do
Espírito Santo, compreende e crê que é tanto julgado como perdoado, uma vez que
“agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rom. 8:1). O
homem é posto, assim, em correta relação com Deus, de cuja forma de pensar ele
agora participa. E justificado “pela fé em Jesus Cristo” (Gil. 2:16). A ele é
dado o que foi prometido pela fé em Cristo, isto é, “a justiça que vem de Deus
pela fé” (Fil. 3:9). 51
Cristo não é somente o “sim” de Deus,
Ele é também o ‘‘Amém’’ do crente para Deus, pois “porque todas quantas
promessas há de Deus, são nele sim, e por ele o Amém, para glória de Deus por nós’’,
exulta Paulo (II Cor. 1:20). Ao assim dizer, sugere novamente que Cristo
ofereceu a Deus a perfeita resposta requerida de todos os homens, em lugar e em
favor deles, para que todo aquele que tomar seu lugar “em Cristo’’, permaneça
perante o Pai vestido da justiça de Cristo e não em seus pecados. Não somente
perdoado e redimido, mas ATRAÍDO ao lado de Deus. Deus renovou minha mente. Ele
me conquistou.
O Dom
de Uma Vida Nova
Mais um detalhe requer a nossa atenção.
A cruz de Cristo não é somente a sentença de morte sobre o pecado. É também o
dom de uma vida nova. Redimido, o homem é levado a dizer como Paulo: “Já estou
crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim” (Gal.
2:20). “Sendo de novo gerados... pela palavra de Deus, viva, e que permanece
para sempre” (1 Ped. 1:23), o cristão entra num processo de crescimento, bem como em uma luta diária contra as mas tendências
que ainda existem na natureza humana (Rom. 6:12-14; 12:1, 2). Cristo morreu pelos nossos pecados a fim de que nós
morramos para eles. Ele foi à cruz não para que pudéssemos escapar dela, mas
para que possamos tomar nossa cruz e segui-Lo. (Mar. 8:34, 35). Sua perfeita
obediência não torna desnecessária a nossa. Pelo contrario, torna-a possível.
O Redentor da condenação do pecado, também nos redime de seu poder.
O sexto
capítulo de Romanos faz referencia a es te mesmo pensamento: Morremos para o
pecado (Rom. 6:2); nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o corpo
do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado. Porque aquele
que está morto está justificado do pecado” (Rom. 6:6, 7); “considerai-vos como
mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus’’ ( v. 11); ‘‘não
reine portanto o pecado em vosso corpo mortal” (v. 12); “o pecado não terá
domínio sobre vos” (v. 14); “tendo sido servos do pecado’’ (vs. 17, 20. Os
tempos dos verbos estão no passado); haveis sido “libertados do pecado” (vs.
18, 22). Paulo arremata o pensamento contrastando “o salário do pecado” com “o
dom gratuito de Deus” que é a “vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor” (v.
23). É claro que Paulo vê o pecado como algo que não deve mais ser temido. Seu
poder foi destruído. Ele tem prazer em viver livre do pecado, que é a
experiência do cristão. Deus, que derrotou poderosa mente o pecado, tornou essa
vitória real para Seu povo. O pecado não os tiraniza mais.
O Ministério Sacerdotal de Cristo. Isto se torna
possível através da presença de Cristo e de Seu contínuo ministério no Céu.
Ele não somente Se deu uma vez por todas como sacrifício por nossos pecados,
mas continua o Seu ministério de intercessão em nosso favor (Rom. 52 8:33. 34;
Heb. 14:114-16; 6:19, 20) 52 Ele
não apenas salva, mas nos mantém salvos e em comunhão crescente com Ele (Efé.
14:15; II Ped. 3:18) 53
O Aspecto Individualista da Expiação. Como o sacrifício
de Cristo no Calvário, realizado há mais de 1900 anos, se torna efetivo para a
nossa salvação hoje? O sacrifício de
Cristo torna-se efetivo para nós somente quando se torna efetivo em nós.
Sua morte na cruz foi um evento
objetivo, único, definitivamente histórico, além do efeito resultante desse
fato que realmente aconteceu e não um simples conceito abstrato concebido pelos
cristãos primitivos. Entretanto, devemos rejeitar qualquer ênfase unilateral
sobre a expiação como um simples fato histórico isolado. Tudo depende da fé que
introduz a cruz na esfera de nossa vida diária, fazendo da cruz nossa cruz. De
igual modo, deve ser repudiado com o mesmo zelo, o extremo oposto: a ênfase
unilateral sobre nossa experiência subjetiva de morrer e ressuscitar com Cristo
sem o devido reconhecimento de que podemos morrer e ressuscitar somente
porque há muito tempo, no Calvário, como fato único ocorrido no tempo e no
espaço, Ele morreu por nós. Os elementos objetivos e subjetivos da expiação
devem ser mantidos numa união indissolúvel. Sua cruz se torna então,
em nossa cruz, e Sua ressurreição em nossa ressurreição (Gal. 2:20).
Vitória de Cristo Sobre o Pecado. A vitória de
Cristo sobre o pecado e os poderes do mal é real, e nós participamos dessa
vitória pela fé.54 Sua vitória
é real mas ainda não e completa. Vivemos nossa vida num estado de tensão entre
o “já” e o “ainda não”.
Os cristãos ‘‘reinarão em vida por um só — Jesus Cristo’’ (Rom. 5:17), mas
temos ainda que diariamente crucificar a carne com suas paixões e concupisciências.
A morte, de igual modo, continua sendo um fato real na experiência humana, e a derrota
final do diabo não será consumada antes do eschaton
(1 Cor. 15:24, 25; Apoc. 20:10). Entretanto, as forças do mal foram derrotadas
no Calvário, e a batalha decisiva foi ganha.
O propósito
de Deus para o mundo hoje é o estabelecimento de Sua soberania na vida das
pessoas que reconhecem alegremente o Seu domínio. Ele alcança este objetivo
através do poderoso ato da redenção, exatamente como o fez no passado. Na era
do AT foi a libertação do Egito e o estabelecimento do povo do concerto. No
período do NT é o evento-Cristo e o estabelecimento do povo do novo concerto: a
Igreja. Porque a Igreja e o instrumento escolhido por Deus para testemunhar ao
mundo. O povo remanescente de Deus está no mundo para continuar o Servidor
ministério do crucificado e ressurrecto Salvador, “para que anuncieis as
virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (I Pedro
2:3)
Certamente, a luta ainda não terminou.
Como cristãos não devemos esquecer que ainda estamos numa batalha, mas a
promessa da Segunda Vinda significa que o êxito é certo. “Aguardando a
bem-aventurada esperança” (Tito 2:13), a Igreja é o instrumento de Deus para a
reconciliação. E até o final , sua função permanente é pro clamar, por
palavra e adoração, e por toda a sua vida, o “Evangelho eterno”, a mensagem do
que Deus tem feito através de Jesus Cristo. A Igreja de Deus é, mais do que
nunca, uma comunidade crente e que testifica que somente ela pode contar a “sagrada
historia”, isto é, confessar aos homens que “Deus estava em Cristo
reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pos em nós
a palavra de reconciliação” (II Cor. 5:19).
REFERÊNCIAS
1Peter
1. Forsyth, The Crucialíty of the
Cross (London: Independent
Press, 1957), p. Vi i.
2Oscar
Cullman, Christ and Time, trans. F. V. Filson (London: SCM Press, 1951), pags.
116-118, 121-130.
3Ernst
Kasemann, “The Problem of a New Testament Christology,” New Testament
Studies 19 (1973), págs. 235-245.
4Carta
201, 1899, Seventh-day Adventist
Bible Commentary, IV, 1173.
5Robert
H. Culpepper, Interpreting the Atonement (Grand Rapids: Eerdmans, 1966),
p.12.
6Para uma
introdução nas teorias históricas da Expiação, cf. Gustaf Aulen, Christus
Victor, trans. de A.G. Hebert (New York: Macmillan, 1951).
7Atos 2:23, 24,
36; 3:13, 14; 4:10; 5:30; 7:52; 10:39, 40. Isto é exposto de forma admirável por Gerrit V. Berkouwer, The Work
of Christ, trans. de C. Lambregtse (Grand Rapids: Eerdmans. 1965),
págs. 135-137. Cf. James S. Stewart, A Faith to Proclaim (New York:
Charles Scribner’s Sons, 1953), pigs. 84ff.
8Cf Atos 3:15;
5:30; 10:39; 13:28-31.
9Mat. 4:8-10;
Cf. ElIen G. White, ME, Livro 1, págs. 286, 287, DTN,
págs. 100-109.
10Mat. 6:22. Com
quanta realidade se manifestou essa tentação na dureza da repreensão de Cristo:
“Para trás de mim, Satanás!” Cf. E. G. White, DTN, págs. 1102, 1403.
11Lucas 22:44. Cf.
comentários de E. G. White sobre a tentação de Jesus neste caso, particularmente,
em DTN, págs. 658-668.
12Oscar
Cullman expressou isto de forma convincente em “Jesus, the Suffering Servant
of God”, cap. 3 de sua “Christology of the New
Testament”, rev. ed. trans. S.C. Guthríe e C.A.M. Hall (Philadelphia:
Westminster Press, 1963), esp. págs. 60-69.
13Cf.
Lucas 9:22; Mar. 8:31; Lucas 24:7, 26; Atos 17:3.
14Walter
Grundmann, “dei,
deon esti”, Theological Dictionary of the New Testament,
Gerhard Kittel, ed. trans. G.W. Bromiley, II (Grand Rapids: Eerdmans, 1964)
págs. 21-25. Daqui em diante referência a TDNT.
15D.M. Baillie
indica corretamente que “poderíamos haver esperado que eles perdessem a fé no
amor de Deus, pois a crucifixão bem poderia parecer ao final ‘reductio ad absurdum da crença de que
o mundo era governado por uma bondosa providência” (God Was in Christ.
New York; Charles Scribner’s Sons, 1948, pág. 184).
16Cf Atos 2:23,
38, 39; 3:17-19, 26; 4:27, 28.
17Três teólogos,
no século XX, escreveram extensamente sobre o tema da Expiação: um erudito
francês, católico romano, Jean Rivier; um ministro metodista britânico, Vincent
Taylor; e um anglicano da Austrália, Leon L. Morris.
18Cf Atos 9:1-19;
22:3-16; 26:9-18.
t9Ver também 1
Cor. 2:4, 5; 14:20; II Cor. 13:14; Efe. 3:20; I Tes. 1:15.
20Ver
Henry G. Liddell e Robert Scott, A Greek English Lexicon, rev. ed. (Oxford:
Clarendon Press, 1940) para o uso
clássico de ambas as preposições, e James H. Moulton e George Milligan, The
Vocabulary of the Greek New Testament (London: Hodder £ Stoughton,
1952), pelo koine.
21Um exemplo
recente é o ponto de vista de Ernst Kasemann de que em Paulo “a Idéia da morte
sacrifical, se há alguma, parece estar em segundo plano.. .“ Perspectives
on Paul, trans. M. Kohl (Phlladelphia: Fortress Press), pags. 42-45; cf.
Víncent Taylor, The Atonement ín New Testament Teaching, 3a.
ed. (London: Epworth Press, 1958), págs. 185-190.
22León
Horris. The Cross in the New Testament (Grand Rapids: Eerdmans, 1965),
pag. 257. Três
significativos termos sacrificais são encontrados nas palavras que Cristo usou
na instituição da Santa Ceia (I Cor. 11: 23-26; Mar. 14:22-25): “sangue’’ (Lev.
17:11), “concerto” (Exo.24:8), e “se derramará ‘ (Lev. 4:7, 8).
23Ver
também Col. 1:20; Efé. 2:13; 1 Cor. 10:16. Cf. 2T, págs. 208, 209.
24
Ver, por
exemplo, Henry C. Trumbull, The Blood Covenant (New York: Charles
Scribner’s Sons, 1885) Frederick C.N. Hicks, lhe Fulness of Sacrifice
(London Macrnillan, 1930); Vincent Taylor, Jesus and His Sacrifice
(London: Macmillan, 1948).
25Ver
Alan M. Stibbs, The Meaning of the Word “Blood’’ in Scripture
(London: Tyndale Press, 1947), e esp. León Morris, The Apostolic Preaching
of the Cross (London; Tyndale Press, 1955) cap. III.
26Ver
Friedrich Buschel, “agokazõ, exagorazõ”. TDNT, 1, págs. 124-218.
27Cf PP, pág. 554. A esta altura a
terminologia da redenção está ligada à de livramento e liberdade: cf. Rom. 8:21: 1 Cor. 7:22, 23; Gál. 5:1, 13; Rom.
6:18.
28Church
Dogmatícs, IV, trans. G.W. Bromiley (Edinburgh: T & T Clark,
1961), pág. 165.
29Ver
Rom. 5:2; 1 Ped. 3:18, 19.
30Ver
Friedrich Buschel & Johannes Herrmann, “hileos, hitaskomai, hilasmos, hilasterion”. TDNT, III págs.
300-323.
31Encontrarnos hilaskomaí
em Lucas 18:13; Heb. 2:17; hilasmos em I João 2:2; 4:10; hilasterion
em Rom. 3:24;
Heb. 9:5.
32Ledn
Morris, The Apost. Preach of the Cross, pags. 125—185.
33Roger
Nicole: “C.H. Dodd and the Doctrine of Propitiation”, Westminster
Theological Journal, 17 (1954-55), págs. 117-157; David Hill, Greek
Words and Hebrew Meanings (Cambridge: University Press, 1967), pags. 23-48. O ponto
de vista oposto foi defendido por Charles H. Dodd, The Bible and the Greeks
(London: Hodder and Stoughton, 1935) págs. 82-95.
34Rom. 1:18; 2:5,
8, 12; 3:5, 6, 19.
35Rom. 5:8; 8:32.
36Bible Echo, agosto 1,
1892, Cf. DTN, págs. 659- 660. Quão oportuna foi a observação de Charles A.
Dinsmore de que “havia uma cruz no coração de Deus antes que uma fosse plantada
na verde colina próximo de Jerusalém” Atonement in Literature and Life,
pág. 23, conforme citação de D. M. Baillie, God was in Christ, pág.
194).
37Uma das mais
poderosas defesas da natureza histórica do que aconteceu no Calvário é a apresentada por Karl Barth em sua Church
Dogmatics, IV, 1. O centro de sua doutrina está inserido na seção intitulada: “The
Judge Judged in Our Place” (págs. 211-282).
38D.M.
Baillie, God Was in Christ, págs. 197-198.
39Ver P.T Forsyth
em sua memorável forma de tratar o sujeito, esp. “Reconciliação, Expiação e
Julgamento”, The Work of Christ, págs. 97-137.
40Nada, senão a morte de Cristo,
podia salvar o homem pecador. Ver AA, pág. 210; PE, págs. 127,
152; CC, págs, 32, 33; ME, Livro 1, págs.
239, 240.
41Amor e justiça
divinos uniram-se na cruz. Ver ME, Livro 1, pág. 349; PP, 334, 74; FFD,
Med. Mat. pág. 243; GC,
503, 504,
652; DTN,
págs. 602, 733, 734; 4T, pág. 503.
42Hugh
R. Mackintosh, The Christian Experience of Forgiveness (London: Nisbet
& Co., 1927), págs. 198-20 ; Leslie Newbegín, Sin and Salvation
(London: SCM Press, 1956), págs. 73-80.
43 Cf. Mar. 2:17; 4:44; Mat. 9:13; pasim;
Mar. 2:5; Luc. 18:19.
44Cf. João 5:30;
8:38, 29; 12:24, 27.
45Aqui novamente não vamos separar a vida de Cristo de Sua
morte. A confissão de Cristo sobre a santidade de Deus não foi feita
exatamente na hora de Sua morte, embora tenha sido consumada ali. Foi feita em
Sua vida, ensinos, ações; através de toda a Sua vida. Embora de capital importância,
Sua morte é organicamente uma com Sua vida toda.
46Um fato objetivo
que não seja entendido subjetivamente em qualquer sentido é, para aqueles que não
tenham nenhuma relação subjetiva com ele, como senão existisse”, salienta
Robert C. Moberly, The Atonement and Personality, (London:
John Murray, 1925, pág. 151).
47CC,
27; 6T, págs. 230-231; AA, pág. 324; DTN, pag. 156. Ver Regin Prenter,
Creation and Redemption, trans. Th. I. Jensen (Philadelphia: Fortress
Press, 1967), págs. 441-451; Robert C. Moberly, The Aton and Personality,
pigs. 136-153; Emil Brunner, The Mediator, trans. 0. Wyon (Philadelphia:
Westeminster Press, 1947), pigs. 515-535.
48P.T.Forsyth,
The Work of Christ, págs. 206-210.
49.
Behm, E. Wurthwein, “metanoeo, metanoia”,
TDNT, IV, págs. 975-1008.
50Leslie
Newbegin, Sin and Salvation, págs. 97-100.
51Isto porque,
“pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para
condenação assim também por um só ato de justiça (pela “obediência de um”, v.
13), veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida” (Rom. 5:18).
52Atos 5:30, 31;
Heb. 7:23-25; 9:24; 10:19-25:1 João 2:1, 2.
53Cf. Col. 1:10; 1
Ped. 2:2; 1 Tes. 3:12.
54A importância do
tema do NT a respeito da vitória de Cristo sobre os poderes do mal e suas
implicações tem sido demonstrada por Gustaf Aulen, The Faith of the
Christian Church (Phíladelphia: Muhlenberg Press, 1948), passim..
55Robert
H. Kulpepper, Interpreting the Atonement, pags. 146-150; León Morris, The
Cross in the New Testament, pág. 259.
*
* *
Sem comentários:
Enviar um comentário