Cenário Apocalíptico
Especialista
em assuntos do fim analisa a situação atual e a crise futura prevista na Bíblia
Dr. Jon Paulien
Após o terror de 11 de setembro, cientistas políticos,
economistas, historiadores e sociólogos foram convidados a pintar o novo
cenário mundial. Mas, em Certo sentido, os teólogos podem entender mais do
futuro do que os analistas seculares. E nesse contexto que Sinais decidiu ouvir a opinião do Dr.
Jon Paulien, um equilibrado estudioso das profecias bíblicas e da sociedade.
Especialista na literatura de
João, o Dr. Paulien é professor de Interpretação do Novo Testamento na Andrews
University em Berrien Springs, Michigan. Ele é autor de vários livros,
incluindo What the Bible Says About the
End-Time (O que a Bíblia diz sobre o tempo do fim), e de mais de cem
artigos acadêmicos e populares. Ao mesmo tempo em que apresenta estudos
acadêmicos em instituições como a Society of Biblical Literature, ele diz ter
um prazer especial em dirigir seminários e dar palestras para não-especialistas
que possam fazer uso pratico do material no mundo real. A entrevista:
Sinais: Como o senhor vê
o impacto dos atentados de 11 de setembro
na psiquê americana?
Dr.Paulien:Tendo crescido em Nova York, posso testemunhar que
aqueles prédios grandiosos, com um design
monumental e assombroso, transmitiam uma mensagem de invulnerabilidade,
poder, beleza e grandeza humana. Ser rico e viver em Manhattan é poder ter um
Céu na Terra. Você pode fazer o que deseja e desfrutar
o que aprecia. Levar o evangelho a alguém nessas
condições nunca foi o ponto forte do adventismo ou do cristianismo em geral.
Os atentados destruiram tudo isso. Os nova-iorquinos de repente se tornaram
conscientes de sua fragilidade. Eles se abriram à abordagem espiritual e à
comunidade, ao ponto de cumprimentar estranhos na rua!
Sinais: Esses eventos
representam uma mudança real na política e na psicologia americanas?
Dr. Paulien: A curto prazo, sim. Mas duvido que,
a longo prazo, eles terão algum significado ou importância maior do que Pearl
Harbor teve, a menos que eventos similares voltassem a ocorrer.
Sinais: Qual é a implicação dos atentados, se é que
existe alguma, para o cenário bíblico do fim?
Dr.Paulien: Há um elemento significativo. Pelo que entendo do
Apocalipse, os eventos finais da história da Terra envolverão uma confederação
política e religiosa mundial buscando lidar com uma memoria espiritual mundial
vista como uma ameaça à paz e à segurança da ordem mundial. Embora as
circunstâncias no cenário bíblico sejam diferentes, há um estranho numero de
coincidências com a situação atual. Por um lado, pela primeira vez, as grandes
religiões e todos os governos estão trabalhando juntos para preservar a lei e
a ordem. Em segundo lugar, o objeto de sua atenção é um corpo de “fé”
internacional frouxamente organizado. Isso quase parece um balão-de-ensaio da
crise final.
Sinais: Acontecimentos como os de 11 de setembro tem o poder de aumentar o interesse e a especulação
sobre o fim. É preferível a
indiferença sobre o fim, ou o interesse estimulado por idéias erradas?
Dr. Paulien: Indiferença e entusiasmo mal
orientado são os dois lados da mesma moeda. Nenhum dos dois é saudável. Mas, em
minha experiência, o interesse despertado pelos atentados tem sido positivo.
Sinais: Os americanos parecem ter um fascínio por
ideias apocalípticas e milenaristas. Isso é uma exclusividade americana?
Dr. Paulien: Esse fenômeno pode ter raízes no fato
de que os Estados Unidos foram fundados por indivíduos que criam nas profecias
bíblicas. Eles achavam que a formação da nação era de alguma maneira parte do
plano de Deus. Como escrevi num artigo recente, penso que não foi por acaso
que a Igreja Adventista surgiu no solo americano. Talvez Deus tenha visto que
aqui era o berço ideal para suscitar o tipo de movimento que Ele tem em mente
para proclamar o evangelho eterno no contexto da crise final.
Sinais: Como o Apocalipse,
com seu simbolismo de dragões e monstros, pode fazer sentido para as pessoas
do século 21?
Dr.Paulien: O simbolismo do Apocalipse tem
despertado bastante interesse no mundo de hoje, o que é demonstrado por filmes
como O Externinador 1 e 2, Matríx, Armaggedon e outros. Eu diria
que a analogia atual mais próxima do livro do Apocalipse é o desenho O Rei Leão.
Assim como o Apocalipse, trata-se de uma história sobre animais que na verdade
não tem nada a ver com animais; é uma
alegoria apocalíptica sobre pessoas, nações e relacionamentos humanos.
Sinais: Na condição de especialista em fim dos tempos, que cenário o senhor
visualiza para o fim?
Dr. Paulien: Com base no Apocalipse, imagino as forças do mal envolvidas no
grande engano final, criando uma falsa trindade e mesmo imitando a segunda
vinda de Jesus. Ao mesmo tempo, visualizo
Deus propagando poderosamente o evangelho pelo mundo, O resultado são três confederações mundiais. Uma é a
confederação dos Santos, um corpo mais
ou menos organizado de crentes fiéis a Deus. A segunda é uma confederação
religiosa que fará oposição a esse primeiro grupo de crentes e ao trabalho de
Deus. A terceira é uma confederação de poderes políticos seculares que
apoiará a confederação religiosa, na tentativa de destruir os verdadeiros
crentes. No fim, as confederações política e religiosa se voltam uma contra a
outra, e Cristo as destrói em Sua segunda vinda.
Sinais: Esse cenário inclui guerra, desastres naturais, um poder ditatorial...
Dr. Paulien: A
batalha final será algo mais parecido com uma ação policial do que com uma
grande guerra envolvendo aviões, tanques e artilharia pesada. No Novo
Testamento, a imagem da guerra é usada para descrever realidades espirituais.
A linguagem do Apocalipse, especialmente no capitulo 16, parece incluir a
possibilidade de desastres.
Sinais: Onde os Estados Unidos se encaixam nesse cenário?
Dr. Paulien: Em grande parte, isso ainda está para ser visto. Devemos
ser cuidadosos ao aplicar a profecia a eventos futuros. Os fariseus em parte
rejeitaram Jesus porque Ele não Se encaixava em seu cenário do fim. Não queremos
cair no mesmo erro. Mas, se interpreto corretamente, os Estados Unidos parecem
se encaixar melhor na descrição da besta terrestre de Apocalipse 13:11-18, a
qual organiza os poderes
políticos e religiosos mundiais em oposição ao verdadeiro
povo de Deus.
Sinais: Há um papel específico para o Islã no
quebra-cabeça profético?
Dr. Paulien: Não estou convencido de que o Islã, em si mesmo, tenha um
papel especifico. Se o Islã vai participar da confederação religiosa ou da
confederação política (ou de ambas), só o tempo dirá. O Islã certamente forma
a mais formidável barreira para a unidade religiosa mundial no momento.
Sinais: O senhor escreveu
um artigo sobre o “armagedom” para o renomado Anchor Bible Dictionary. Qual é
o significado dessa palavra que está
sendo usada até por Hollywood?
Dr.Paulien: Armagedom (na
verdade, Har-Magedon) é uma forma grega para uma expressão hebraica que
significa “montanha de Megido”. Considerando que não existe tal montanha,
devemos perguntar se a referência é simbólica. Muitos eruditos defendem que a
antiga cidade de Megido estava situada à margem de um amplo vale próximo ao
Monte Carmelo. Do Megido, dava para ver o lugar onde o profeta Elias trouxe
fogo do céu para definir quem era o verdadeiro Deus: Yahweh ou Baal. O
Apocalipse prevê um tira-teima similar, definido por fogo vindo do céu (Apoc.
13:13 e 14), entre duas trindades e dois evangelhos. Porém, neste caso, o fogo
cai no altar errado, Isso significa que somente aqueles que confiarem nos
claros ensinos da Bíblia serão capazes
de perceber a realidade e resistir ao grande engano que ocorrerá no “Monte
Carmelo” do fim.
Sinais: Então, a adoração terá um papel de destaque na crise final...
Dr. Paulien: A adoração é claramente a questão central nessa crise
futura. Em Apocalipse 13 e 14, há sete menções á besta ou à sua imagem como
objeto de adoração. Num ponto crucial da passagem (Apoc. 14:7), aparece o
convite para adorar o verdadeiro Deus.
Sinais: Existe algum
sinal de que Cristo possa vir logo (“logo”, neste caso, quer dizer alguns anos
ou décadas), se esta é uma pergunta politicamente correta
para se fazer a um erudito que tem combatido a especulação sobre o fim?
Dr. Paulien: Não vejo nenhuma indicação clara
que nos leve a ver os sinais do fim como iminentes. Não devemos tentar ser mais
específicos do que a Bíblia é. Por outro lado, precisamos ter em mente que os
eventos finais serão rápidos, quando aparecerem.
Sinais: Há paralelos
sociais, culturais e espirituais entre o tempo da primeira vinda e o tempo da
segunda vinda?
Dr. Paulien:
Em ambos os casos, um crescente nacionalismo/tribalismo é contrabalançado
pela tendência a uma língua comum (no passado, o grego; hoje, o inglês) e a
uma realidade política e filosófica comum (no passado, o helenismo e a
hegemonia romana; hoje, o secularismo, o pós-modernismo baseado na Internet e
a hegemonia americana). Esses paralelos sugerem que os acontecimentos recentes
podem desempenhar algum papel no preparo do mundo para a segunda vinda.
Sinais: A idéa do “rapto
secreto” entrou para o imaginário evangélico graças a livros e filmes como o
fenômeno Left Behind, mas esse
conceito não é bíblico, certo?
Dr. Paulien: Em nenhum
lugar a Bíblia fala de duas vindas separadas de Jesus. A exceção é 2a.
Tessalonicenses 2:8 e 9, mas, nesse caso, uma “vinda” é claramente contrafação. Creio que essa perspectiva
especulativa sobre arrebatamento pode ter um papel no engano final.
Sinais: Qual é o melhor
maneira de pensar a respeito do fim sem perder a cabeça?
Dr. Paulien: O foco tem de ser o relacionamento com Jesus. Se a sua
expectativa sobre o fim for baseada na observação dos eventos, você se
cansará. Mas, se for baseada num relacionamento de amor com Jesus, então a
demora irá apenas intensificar o seu desejo de encontrá-Lo face a face.
Sinais dos Tempos
Janeiro-Fevereiro/2002
Sem comentários:
Enviar um comentário