Não é a fraqueza humana que age no lugar da ação divina
por Rodrigo P. Silva
O modo como Deus atua na História é um dos temas
mais discutidos no mundo teológico. Alguns, enfatizando por demais a soberania
divina, acabam negando a idéia de um livre-arbítrio. Outros, por sua vez,
acentuam tanto os resultados da ação humana que tornam Deus pouco mais que um
espectador dos acontecimentos sem quase nenhuma intervenção nos negócios da
Humanidade.
Na verdade, quando estudo a história dos debates teológicos, percebo que a
heresia sempre surge quando se acentua excessivamente um aspecto da revelação
em detrimento de Outro. Por
exemplo, os que enfatizam tanto a Lei a ponto de negar a Graça e vice-versa.
O mesmo se dá com o assunto da atuação divina nos negócios da humanidade.
Seria muito simplório dizer que tudo o
que acontece é resultado da vontade divina. Isso acabaria colocando a
Trindade como o responsável por tudo o que existe, inclusive o mal.
Mesmo sendo Deus todo-poderoso, há acontecimentos que podem escapar à Sua
vontade ou até frustrar Seus planos. Ora, como todos sabem, não era
determinação do Criador que Adão pecasse, muito menos que pessoas morressem
sem salvação. Contudo, há mais ou menos seis mil anos o pecado faz seu hiato na linha da eternidade. Alguns
aceitam a Cristo, enquanto outros O rejeitam para sempre. Isso, com certeza,
não estava nos planos do Altíssimo.
Mas ninguém deve se apressar em concluir que Deus não sabia o futuro ou que
existe no Universo algo mais forte que o Seu poder. Foi o próprio Senhor, por
Sua autodeterminação, que resolveu criar seres livres, capazes de voltar-Lhe as
costas e recusar Sua graça. Ao amar a humanidade, Ele aceitou a possibilidade de ser rejeitado por ela!
Aqui, portanto, o ponto-chave deste tema é a conciliação entre as ações divina
e humana na construção da história mundial. Quem, afinal, está escrevendo a
história e os acontecimentos que ela contém? Deus ou o ser humano?
A Bíblia, na verdade, acentua três modos
da ação divina em meio aos acontecimentos mundiais. O primeiro é aquele em que
Deus apenas respeita o livre-arbítrio humano e permite ao indivíduo colher os
frutos de sua própria decisão. L o caso, por exemplo, de Acaz que, recusando-se
a ouvir a mensagem de Deus, terminou mal o que poderia ter sido um grande
reinado (Isa. 7:10-25).
O segundo
é aquele em que Deus apenas retira Sua proteção, deixando ao inimigo a
oportunidade de agir provocando até mesmo doenças e desastres na natureza. O
caso de Jô ilustra bem essa situação
(Jó 2:6 e 7).
O terceiro
e, talvez mais importante, é aquele em que Deus mesmo intervém agindo na
História. Neste modo, Ele, em pessoa, pode executar Seu juízo (como no caso em
que escreveu sobre a parede a sentença contra Belsazar, Dan. 5) ou, quem
sabe, enviar um anjo destruidor como na noite em que foram mortos todos os
primogênitos do Egito (Êxo.12:23).
Pensando neste último ponto, tenho em
mente um recente artigo que publiquei na Revista
Adventista (agosto, 2000). Nele apontei os “desastres ecológicos” como o
melhor comentário de Apocalipse 16. E importante, porém, deixar claro duas
coisas: 1) Os juízos que hoje presenciamos são apenas gotas daquilo que virá
depois do fechamento da porta da graça. As sete pragas serão de natureza muito
mais aterradora, pois não possuirão a presente mistura de misericórdia. 2) Embora
as sete pragas sejam fruto da transgressão, não devemos entender o homem como
o executor último de sua própria sentença. Não é a fraqueza humana que age no
lugar da ação divina.
Ali, naquele tempo de angustia, o
qual nunca houve, teremos, a meu ver, os três modos acima descritos: Com a
retirada do
poder refreador de Deus (simbolizado pelos quatro anjos de Apoc. 7) Satanás
operará quase irrestritamente sua obra de destruição. Também haverá um amargo
desfruto populacional das conseqüências do pecado humano. Porém, mais
importante que isso, Deus cm pessoa estará pesando Sua mão sobre o planeta,
provocando no ambiente os flagelos que vêm diretamente do Seu trono. Noutras
palavras, mais do que poluição humana, ou destruição satânica, as sete pragas
serão atos de Deus punindo a
rebeldia.
Ë lógico que não podemos penetrar nos desígnios da mente do Altíssimo.
Mas, pela Revelação Bíblica, é possível rastrear Suas pegadas na História e
verificar que muitos acontecimentos foram ação direta de Deus, ora enviando um
exército destruidor, ora provocando um terremoto em meio à natureza. Episódios
como o Dilúvio, o Êxodo e as próprias Pragas contêm um tom sobrenatural que
extrapola as dimensões do que poderia realizar o homem ou o curso natural dos
eventos.
Um juízo para ser autenticamente divino tem de possuir um sinal que só Deus
pode colocar, porque Fiel é absoluto. Esse sinal tem de ser algo que supere
todas as hipóteses terrenas. Um fato externo que ultrapasse os elementos
visíveis. E assim que vejo esses desastres ecológicos: muito acima da ação
humana, há uma intervenção direta de Deus que imprime Sua digital nos juízos
que caem sobre a Terra.
Como adventistas, cremos num Deus que age e põe nos acontecimentos a marca
viva de Sua assinatura.
Rodrigo P Silva é professor de Ensino Superior do IAE-Campus 2, Engenheiro
Coelho, SP
Revista Adventista novembro/2000
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