Um
ex-escravo que nem mesmo nascera na Irlanda se tornaria a mais eficiente
testemunha cristã naquele país. Patrício, filho de pais cristãos, nasceu na
Bretanha romana por volta do ano 390. Embora nos primeiros anos esse menino não
levasse fé tão a sério, começou a orar com fervor aos dezesseis anos, quando
foi preso, escravizado e enviado para trabalhar como guardador de porcos em uma
fazenda no norte da Irlanda. Para fugir de sua escravidão, Patrício viajou
cerca de 320
quilômetros a pé rumo à costa. Ali, o capitão de um
navio que transportava cachorros de caça concordou em levá-lo como tratador.
Ele viajou para a França e, de lá, para um mosteiro no Mediterrâneo.
Quando voltou para sua terra natal, Patrício
sonhou com as crianças irlandesas implorando para que ele levasse a elas o
evangelho. "Imploramos que você venha e caminhe entre nós uma vez
mais." Como achava que não tinha a compreensão adequada da fé, Patrício
voltou para a França a fim de estudar em um mosteiro. Por volta do ano 432, ele
voltou à Irlanda.
Poucos anos antes, o monge britânico
Paládio tentara converter os irlandeses, mas obtivera pouco sucesso. Os anos de
escravidão de Patrício entre os irlandeses, aparentemente, o prepararam para
ser um homem de coragem que compreendia aquele povo e sabia como pregar para eles.
A lenda obscurece muitos dados da vida de
Patrício, mas a história de muitas vilas atesta seu ministério ali. Sabemos que
o missionário converteu a maioria dos irlandeses ao cristianismo, estabelecendo
cerca de 300 igrejas e batizando cerca de 120 mil pessoas. Embora Patrício
enfrentasse problemas com alguns chefes de tribos hostis e com os druidas — os
defensores do velho paganismo — "o povo comum o ouvia com alegria".
Não houve um mártir sequer no processo de conversão dos membros daquelas tribos
contenciosas.
Usando a natureza, que já haviam adorado no
passado, Patrício descreveu a Trindade comparando-a a um trevo. A compreensão
dos irlandeses de que Patrício agia por Deus quando extirpou a falsa religião e
estabeleceu a verdade entre o povo pode ser vista na lenda que diz que ele
expulsou as cobras da Irlanda.
Depois de 30 anos de ministério altruísta,
Patrício morreu por volta do ano 460. Ele nos deixou poucas coisas escritas,
dentre as quais podemos destacar o notável hino I bind unto myself today [Hoje constrangido], conhecido como
"Brasão de Patrício".
Muitos anos depois, os missionários da
igreja Ocidental chegaram à Irlanda e descobriram uma fé viva naquele lugar. Os
sacerdotes e monges irlandeses eram estudiosos e missionários notáveis, e a igreja
causara profundo efeito sobre as pessoas comuns. O clero vivia de maneira
simples e devota, muitas vezes em circunstâncias difíceis. Embora seus
mosteiros fossem despretensiosos, simples estruturas de pedra, o aprendizado e
a arte (por exemplo, o extraordinário Livro de Kells) mostravam a
piedade extremamente viva dos monges. O fato é que esse estilo de vida piedoso
alcançou o restante da Europa à medida que levaram a Palavra para fora de seu
país.
A igreja da Irlanda se desenvolveu à
parte do sistema hierárquico de Roma, pois Patrício evangelizou a nação sem se
basear na igreja oficial. A igreja irlandesa foi organizada ao redor de
mosteiros, o que refletia o sistema tribal da nação. Sem o desejo de
estabelecer uma burocracia eclesiástica, os abades irlandeses encorajaram seus
monges a levar adiante o "verdadeiro negócio" da igreja: pregar,
estudar e ministrar aos pobres.
A Irlanda só se tornou católica
por volta do ano 1100, quando o papa deu a Henrique II, rei da Inglaterra, a
soberania sobre a Irlanda. Em sinal de admiração pela maneira como Patrício
trabalhara na conversão dos irlandeses, a Igreja Católica o canonizou.FONTE : OS 100 ACONTECIMENTOS MAIS IMPORTANTES DO CRISTIANISMO
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