Antes da Reforma, alguns grupos de cristãos se opuseram ao
caminho que a Igreja Católica tomava. Um desses grupos foi o dos valdenses,
fundado por um mercador francês que estava descontente com a igreja medieval.
Certo dia, Pedro Valdo ouviu um trovador viajante cantar
sobre um jovem rico que deixara sua família, e, anos mais tarde, voltou para
casa, mas estava tão malvestido e desnutrido que sua família não conseguiu
reconhecê-lo. Somente no leito de morte revelou sua verdadeira identidade. Ele
viveu entre os pobres e enfrentou a morte alegremente, feliz por se encontrar
com o Deus que sorria para os menos favorecidos.
Profundamente tocado pela história, Valdo agiu
rapidamente. Separou uma quantia de dinheiro suficiente para a esposa, colocou
as duas filhas em um convento e doou o restante das posses aos pobres.
Contratou dois sacerdotes para traduzir a Bíblia para o francês e começou a
memorizar longas passagens bíblicas. A seguir, saiu para ensinar sobre Cristo
ao povo.
Embora os monges e as freiras pregassem e ensinassem a
pobreza e a autonegação — a despeito, muitas vezes, de sua incapacidade de
manter esses votos — a igreja via isso como algo que apenas eles precisavam
praticar. Poucos esperavam que a pessoa comum vivesse uma vida religiosa
profunda.
Valdo e seus seguidores — que chamavam a si mesmos
"pobres de Lião" — acreditavam que Jesus queria que seus ensinamentos
fossem colocados em prática por todas as pessoas. Saindo de dois em dois, os
valdenses visitavam os mercados, falavam com as pessoas e lhes ensinavam o Novo
Testamento.
O contraste entre a igreja e esses pregadores ficou bem
aparente para o arcebispo de Lião. Ele ordenou que parassem de fazer aquilo.
Valdo citou o apóstolo Pedro: "É preciso obedecer antes a Deus do que aos
homens!" (At 5.29). Embora o arcebispo tivesse excomungado Valdo, isso não
o impediu nem tampouco o movimento que mantinha seu nome de prosseguir em suas
atividades. Os valdenses apelaram ao papa Alexandre π. Embora estivesse ocupado
com o πι Concilio de Latrão (1179), aqueles homens — que caminhavam "de
dois em dois, descalços, vestidos com, roupas simples, que não possuíam nada e
mantinham todas as coisas em comum, como os apóstolos" — impressionaram o
papa. Contudo, pelo fato de serem leigos, o papa não podia permitir que
pregassem sem a aprovação de um bispo; algo que, dificilmente, conseguiriam.
Fundamentados nas palavras de Atos, dos apóstolos, Valdo e
seus seguidores continuaram a pregar e acabaram por ser excomungados pelo papa
Lúcio II, em 1184.
Os valdenses não ensinavam heresias, a despeito das
afirmações que a igreja fez contra eles. Eram ortodoxos, mas, pelo fato de
estarem fora da estrutura da igreja, os seguidores de Valdo não puderam obter a
aprovação da hierarquia eclesiástica. Na Idade Média, para os clérigos,
qualquer pessoa que estivesse fora da igreja era considerada herege.
Muitos cristãos franceses e italianos, desanimados com a
igreja que havia se mundanizado, voltaram-se para os valdenses, que ensinavam o
sacerdócio de todos os crentes. Eles rejeitavam as relíquias, as peregrinações
e as parafernálias, como a água benta, a vestimenta dos clérigos, os dias
santos e outros dias de festa, assim como o purgatório. Para eles, a comunhão
não precisaria ser celebrada todos os domingos; os pregadores valdenses falavam
diretamente às pessoas e liam a Bíblia para elas em sua língua.
Em 1207, o papa Inocencio πι se dispôs a receber os
valdenses de volta se eles se submetessem às autoridades da Igreja Católica.
Muitos retornaram, mas outros não, e, em 1214, o papa os condenou como hereges
e pediu sua supressão. A Inquisição fez o melhor que pôde para eliminá-los.
Apesar de tudo isso, os valdenses prosseguiram. Eles se
espalharam por toda a Europa. Quando houve a Reforma, foram calorosamente
recebidos pela maioria dos protestantes. Hoje em dia, eles se consideram
protestantes também. Os valdenses são uma lembrança viva de que, a despeito dos
momentos obscuros da história da igreja, novos movimentos para corrigir a
direção sempre surgiram dentro dela mesma.
FONTE : OS 100 ACONTECIMENTOS MAIS IMPORTANTES DO CRISTIANISMO
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