Em seus
primeiros dias, o cristianismo foi criticado como uma religião de pobres e
iletrados, pois, na verdade, muitos dos fiéis vinham das classes mais humildes.
Como Paulo escreveu, na igreja "poucos eram sábios segundo os padrões
humanos; poucos eram poderosos; poucos eram de nobre nascimento" (I Co
1.26).
No século ni, porém, o maior
intelectual da época era cristão. Pagãos, hereges e cristãos admiravam
Orígenes. Sua instrução e conhecimento vastos contribuíram muito para o futuro
da cultura cristã.
Orígenes nasceu em Alexandria, por
volta do ano 185, filho de pais cristãos devotos. Por volta do ano 201, seu
pai, Leónidas, foi preso durante a perseguição de Septímio Severo. Orígenes
escreveu ao pai, que estava na prisão, e o encorajou a não negar a Cristo por
amor à família. Embora Orígenes quisesse se entregar às autoridades e sofrer o
martírio com pai, sua mãe escondeu suas roupas e impediu esse ato zeloso, mas
tolo.
Depois do martírio de Leónidas, sua propriedade foi
confiscada e sua viúva foi deixada com sete filhos. Orígenes tomou as
providências para sustentá-los, ensinando literatura grega e copiando
manuscritos. Uma vez que muitos dos estudiosos mais idosos fugiram para
Alexandria na época da perseguição, a escola catequé-tica cristã tinha grande
necessidade de professores. Aos dezoite anos, Orígenes tornou-se presidente da
escola
e deu início à sua longa carreira de professor, estudioso e
escritor.
Praticava a ascese, passava grande parte das noites em
estudo e em oração, dormia no chão duro, nos poucos momentos em que realmente
conciliava o sono. Seguia o mandamento de Jesus, pois tinha apenas uma capa e
não possuía sapatos. Chegou até mesmo a seguir literalmente Mateus 19.12: ele
se castrou como defesa contra as tentações carnais. O maior desejo de Orígenes
era ser fiel à igreja e honrar o nome de Cristo.
Como escritor extremamente prolífico,
Orígenes foi capaz de manter sete secretários ocupados com seus ditados. Ele
produziu cerca de duas mil obras, incluindo comentários sobre quase todos os
livros da Bíblia, além de centenas de homílias. A obra Héxapla foi uma
façanha da crítica textual, pois tentou encontrar a melhor versão grega do
Antigo Testamento. Em seis colunas paralelas, era possível observar o a.t. em hebraico, uma transliteração
para o grego, três traduções em grego e a Septuaginta. A obra Contra
Celso foi um dos mais importantes trabalhos apologéticos do cristianismo,
pois o defendeu dos ataques pagaos. A obra De principiis [Sobre os
princípios] foi a primeira tentativa de criar uma teologia sistemática.
Nela, Orígenes examina cuidadosamente as crenças cristãs referentes a Deus, a
Cristo e ao Espírito Santo, bem como assuntos referentes à Criação, à alma, ao
livre-arbítrio, à salvação e às Escrituras.
Orígenes foi, em grande parte, responsável pelo
estabelecimento da interpretação alegórica das Escrituras, que dominaria a
Idade Média. Acreditava que em todo o texto existiam três níveis de
significado: o literal, o moral (que servia para edificar a alma) e o alegórico
ou espiritual, considerado oculto é o mais importante para a fé cristã. O
próprio Orígenes desprezou o significado literal e o histórico-gramatical do
texto, enfatizando o significado alegórico mais profundo.
Orígenes tentou relacionar o
cristianismo à ciência e à filosofia de seus dias. Acreditava que a filosofia
grega era a preparação para a compreensão das Escrituras e usava a analogia,
mais tarde adotada por Agostinho, de que os cristãos "despojaram os
egípcios", quando usaram a riqueza do conhecimento pagão na causa cristã
(Êx 12.35,36).
Ao aceitar os ensinamentos da
filosofia grega, Orígenes adotou muitas idéias platônicas, estranhas ao
cristianismo ortodoxo. A maioria de seus erros era causada pela pressuposição
grega de que a matéria e o mundo material são intrínsecamente maus. Acreditava
na existência da alma antes do nascimento e ensinava que a posição de alguém no
mundo era conseqüência de sua conduta em um estado preexistente. Negava a
ressurreição física e advogava que, no final de tudo, Deus salvaria todos os
homens e todos os anjos. Uma vez que Deus não podia criar o mundo material sem
entrar em contato com a matéria básica, o Filho foi eternamente gerado pelo Pai
que, por sua vez, criou o mundo eterno. Segundo ele, foi somente a humanidade
de Jesus que morreu na cruz, como pagamento feito ao Diabo em resgate pelo
mundo.
Devido a equívocos como esses, o
bispo Demetrio de Alexandria convocou o concilio que excomungou Orígenes.
Embora Roma e a igreja ocidental tivessem aceitado a excomunhão, a igreja da
Palestina e a maior parte do Oriente não a aceitaram. Eles continuaram
consultando Orígenes devido à sabedoria, à erudição e ao conhecimento que ele
possuía.
Durante a perseguição promovida por Décio, Orígenes foi
preso, torturado e condenado a morrer em uma estaca. Somente a morte do
imperador impediu que a sentença fosse executada. Com a saúde debilitada devido
à provação, Orígenes morreu por volta do ano 251. Ele fez mais do que qualquer
outra pessoa para promover a causa da erudição cristã e para fazer com que a
igreja fosse respeitada aos olhos do mundo. Os pais da igreja posteriores a
ele, tanto do Oriente quanto do Ocidente, sentiram sua influência. A
diversidade de seu pensamento e de seus escritos lhe rendeu a reputação de ser
o pai da ortodoxia, bem como das heresias.
FONTE : OS 100 ACONTECIMENTOS MAIS IMPORTANTES DO CRISTIANISMO
FONTE : OS 100 ACONTECIMENTOS MAIS IMPORTANTES DO CRISTIANISMO
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