Havia dois cristianismos na Inglaterra. Um deles era celta, fortemente
monástico, contemplativo e voltado às missões. O outro era romano, bem
organizado e firmemente ligado ao restante da cristandade.
A missão de Columba a lona resultou no surgimento de uma expansiva
comunidade de cristãos de estilo celta, que evangelizaram de maneira agressiva
os anglos e os saxões. Pouco antes da morte de Columba, o papa Gregorio enviou
Agostinho e cerca de trinta outros monges para a Inglaterra a fim de
evangelizar e fazer com que a igreja celta se conformasse com a
igreja de Roma. O moderado sucesso de Agostinho concentrou-se especialmente em
Kent e Essex. Em 627, Paulino de York estabeleceu a igreja romana na
Nortúmbria, mas seus esforços logo fracassaram, quando um rei pagão
chegou ao poder. Assim que foi
restabelecida ali, a igreja já era celta.
Contudo, no começo do século vn houve um grande
movimento de dupla polinização. As duas tradições
não eram por demais diferentes entre si. A maior distinção entre elas era a data na qual celebravam a
Páscoa. Embora seus monges também raspassem a cabeça de maneira diferente e houvesse algumas poucas divergências cerimoniais,
não fundamentais, tudo era, na verdade, uma questão de poder. Será que o papa governaria a Igreja da
Inglaterra, indicando quais bispos liderariam o povo? A tradição celta dava
grande poder aos abades que, por sua vez, agiam de maneira bastante
independente.
Em função de sua independência, os mosteiros celtas estavam
muito vulneráveis aos abusos. No sistema feudal da Idade Média, era vantajoso
estabelecer mosteiros falsos para evitar a subserviência aos senhores
seculares. Esses mosteiros desfrutavam de independência econômica, mas careciam
de motivação espiritual. Embora a igreja celta fosse grandemente conhecida por
sua devoção espiritual, abusos como esses podem ter empurrado alguns crentes
rumo à política romana, mais severa.
Em 664, o assunto foi levantado por Oswy, o novo rei da
Nortúmbria, em uma reunião de cúpula. Ele seguia a tradição celta, mas sua
esposa era da tradição romana. Desse modo, ele estaria celebrando a Páscoa
enquanto a rainha jejuaria na Quaresma, e isso simplesmente não daria certo.
Convocou uma assembléia na região de Whitby, em que a aba-dessa Hilda dirigia
um mosteiro. Ali, o rei ouviu os argumentos de Cedd e Colman, pelo lado celta,
e de Wilfrid e Tiago, o Diácono, pelo lado romano. Todos esses homens eram
cristãos devotos. Cedd, que era abade, já fundara vários mosteiros. Colman e
Wilfrid foram bispos. Wilfrid já servira até mesmo como missionário em Frísia.
Tiago levara adiante a obra de Paulino na Nortúmbria durante os momentos
difíceis.
Eles discordavam com relação à Páscoa. Os líderes celtas citavam
Columba. Os líderes romanos citavam o apóstolo Pedro. Com um sorriso no rosto,
o rei anunciou que seguiria a Pedro, uma vez que ele era o guardador das chaves
do céu. O ponto de vista romano prevaleceu.
Alguns historiadores argumentam que a decisão provou ser a
mais sábia. A igreja inglesa alcançou o melhor dos dois mundos. O espírito
celta ainda estava bastante vivo, mas precisava da organização romana para se
firmar. Outros lamentaram a perda da oportunidade de se ter uma importante
tradição cristã separada e saudável.
Logo após o Sínodo de Whitby, alguns acontecimentos fizeram com que a
situação ficasse amarga. Uma praga se abateu sobre a Inglaterra, mais ou menos
na época em que o arcebispo de Cantuária morreu. Por cinco anos, a igreja
passou por dificuldades em razão de não ter liderança. Então, Teodoro de Tarso
chegou para assumir a posição. Agindo de maneira sábia, ele fortaleceu a
liderança da igreja, indicando bispos e sacerdotes tanto da tradição celta
quanto da romana. O século seguinte foi uma era de ouro na arte e na erudição
na Bretanha, à medida que os estilos romano e celta se complementavam
mutuamente. Muito disso foi destruído pelas invasões viquingues, mas diversas
cruzes de pedra permanecem em pé, esculpidas tanto no estilo celta quanto no
romano, simbolizando a interdependência dessas duas tradições.
FONTE : OS 100 ACONTECIMENTOS MAIS IMPORTANTES DO CRISTIANISMO
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