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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

AS CRIANÇAS NO TEMPO DE JESUS





O filho e a educação

Tanto o Antigo Testamento quanto a literatura judaica antiga nos mostram que o filho é absolutamente essencial para o judeu: é ele a garantia de que o povo eleito continuará a existir, o sinal da perenidade da Aliança e portanto a prova da bênção divina: não ter filho é uma verdadeira maldição (pela qual unicamente a mulher é responsável!). Trata-se, portanto, de ter o maior número de filhos possível e são mui­to elogiadas as famílias numerosas.

O NASCIMENTO E SEUS RITOS

O nascimento acontecia em casa,4 com a ajuda duma parteira. O recém-nascido era lavado, esfregado com sal e envolto em faixas. Depois a mãe ou o pai lhe dava o nome; o uso de esperar o oitavo dia não é atestado antes do NT(Lc 1,59; 2,21). A mãe amamentava o filho du­rante longos meses, às vezes por dois ou três anos.

Oito dias após o nascimento, o menino era circuncidado. Os anti­gos hebreus certamente tomaram esse rito de iniciação ao matrimônio dos semitas, quando se instalaram em Canaã. Mas foi durante o Exílio em Babilônia, num momento em que quase já não tinham mais meios de afirmar seu caráter próprio, que a circuncisão adquiriu toda a sua importância e se tornou o sinal da pertença a Deus e a seu povo. Era praticada pelo pai ou por um especialista, em casa.

Todo menino primogênito pertence ao Senhor (Ex 13,2). Assim, devia ser "resgatado" (Ex 13,13). Nenhum lugar era prescrito para fa­zer esse resgate; era feito durante o mês que se seguia ao nascimento, mediante pagamento de cinco siclos de prata (Nm 18,15-16).

Ao cabo de 40 dias, se ela dera à luz um menino, e de 80 dias, se fosse uma menina, a mãe devia purificar-se (Lv 12,2-7). Esta purifica­ção nada tem a ver com impureza moral (no sentido atual do termo) que a mãe tivesse contraído. A noção de "impureza" no Levítico é se­melhante à de "tabu" e esta "purificação" se parece com uma espécie de "dessacralização".


A EDUCAÇÃO
A criança é amada por sua família, mas isso não quer dizer que seja adulada. Todos os textos preconizam, ao contrário, uma educação de tipo enérgico, para endireitar um rebelde, incapaz de sabedoria e de respeito pela Lei: há a convicção de que esta sabedoria penetra melhor usando a vara!
Durante os primeiros anos, a mãe é a única a cuidar da criança. Mas aos quatro anos, a situação muda conforme o sexo: a menina continua com a mãe e o menino passa para os cuidados do pai. Tanto para um como para o outro, começa então o aprendizado da profissão: o de cozinheira-dona-de-casa-futura-esposa para a filha e geralmente a profissão do pai para o filho. Pode acontecer que o filho seja manda­do para a casa de um outro para aí aprender o ofício, ou que a filha seja vendida como escrava, mas, para isso, deve-se esperar até os seis anos. Após esta idade, o pai não é mais obrigado, juridicamente, a sus­tentar os filhos: eles têm de aprender a se arranjar.5
A educação não visa somente ao aprendizado de um ofício: con­siste sobretudo em ensinar a Torá aos filhos. E aqui também, esta fun­ção compete aos pais. Mas há uma grande diferença neste ponto entre as meninas e os meninos. A menina, evidentemente, deve conhecer todos os preceitos negativos: "Tu não farás ., ." e os que se referem à sua condição; mas fora disso, quanto menos se lhe ensina, melhor é. O menino, ao contrário, deve saber o mais possível da Lei, a fim de me­lhor conhecê-la e honrar o Senhor. Deve saber ler o texto sagrado e ser capaz de interpretá-lo. Mas como muitos pais não podem fazê-lo por si mesmos, inventa-se a escola, destinada só aos meninos; as me­ninas conseguem, no entanto, adquirir certa formação, graças sobretu­do aos comentários do ofício sinagogal. De acordo com uma tradição judaica, só por volta de 63 d.C. é que o sumo sacerdote decidiu criar em cada aldeia uma escola gratuita para todos os meninos a partir de 6 ou 7 anos; mas alguns fazem a instituição do ensino público remon­tar a 130 a.C, embora sua finalidade não fosse outra senão preparar leitores para a sinagoga.6
Nestas escolas, são as Escrituras que formam a base do ensino: O mestre e os alunos as repetem, o mestre as comenta, para que os alunos acabem decorando-as. Utilizam-se os processos mnemotécnicos da época, dos quais os evangelhos nos oferecem muitos exemplos: paralelismo, antítese, assonância. É lendo o texto bíblico que se apren­de tudo: o cálculo é ensinado quando se fala da duração da vida dos patriarcas; a geografia, a propósito das guerras de Israel, as ciências a partir deste milagre ou daquele fenômeno. A Bíblia é o livro completo que permite integrar tudo e é inútil ir procurar algo fora dela, dizem os rabinos do séc. II da nossa era.
O ENSINO SUPERIOR
Como em todos os países do mundo, é o ensino superior que pri­meiro se organiza. Bem antes da época de Cristo, cada sábio (ou rabi­no) preocupava-se com formar discípulos e futuros escribas que pu­dessem exercer seu ofício nos tribunais e nas sinagogas. Hilel tinha cerca de 80. Dentro do movimento dos escribas de afinidade farisaica, havia duas correntes: uma mais rigorista, a outra mais laxista em ma­téria de pureza ritual; na escola de Shamai, exigia-se um ano de está­gio para conhecer essas prescrições rituais, ao passo que na de Hilel contentava-se com 30 dias.
Não temos informações sobre a escolarização antes da ruína do segundo Templo (70 d.C). Todavia, a preparação de pessoas capazes de fazerem a leitura e a homilia na sinagoga era certamente uma preocupação. Após o séc. II da nossa era, as informações existem.


Seriam antigas algumas delas? Demos alguns exemplos. Certas famílias se or­ganizam em grupos de cinco ou seis e contratam um professor para seus filhos. Cria-se no lugar principal da região uma espécie de escola secundária, que são obrigados moralmente a freqüentar todos os jo­vens de 16 a 18 anos. Mas isso cria problemas, pois o horário escolar vai do nascer ao pôr-do-sol: é preciso fazer a caminhada todo dia ou pagar pensão. Por outro lado, esses jovens de 16 a 18 anos nem sem­pre são muito dóceis: o Talmud nos diz que "quando o mestre tinha de se queixar de um dos seus alunos, este ficava revoltado e abandonava a escola". Essa iniciativa esquecia sobretudo que os jovens desta ida­de estão normalmente inseridos totalmente no mundo do trabalho e que, a não ser que tivessem uma fé profunda ou fortuna familiar que permitisse sustentá-los, tinham que pensar primeiro na sua alimenta­ção. Praticamente, portanto, só os filhos de famílias abastadas é que podiam receber tal ensino, embora os líderes de Israel tenham tido sempre o cuidado de oferecer a mais ampla educação a todos, inclusi­ve ao pobre e ao órfão. Foi isso que levou à criação de escolas gratui­tas para todas as crianças a partir de seis anos, em todas as aldeias.

O ensino superior tem como centro a discussão e a argumenta­ção entre estudantes a propósito desta ou daquela interpretação de um texto bíblico. O estudo do grego, a língua internacional da época, é aceito até o séc. II da nossa era (as traduções gregas das Escrituras, denominadas de Áquila e de Teodocião foram feitas em ambiente judeu, após o ano 70). Depois, será malvisto; segundo os escribas, já não tem mais sentido ensinar a filosofia grega, que perverte os homens; quanto à língua grega, dizem eles: "Podes estudá-la, se encontrares um tempo que não seja nem o dia nem a noite". No que diz respeito ao mestre, quase sempre um escriba, já que ele difunde a Palavra de Deus, deve ser honrado pelos alunos à imagem de Deus, primeiro doador da Lei; os pais passam para o segundo lugar depois dele.



 FONTE: CADERNOS BÍBÇLICOS

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