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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

A PALESTINA NO TEMPO DE JESUS - AS FESTAS JUDÁICAS





Três festas exercem, em Israel, um papel importante; são mo­mentos em que o povo faz questão de se reunir para manifestar a soli­dariedade que une seus membros e para celebrar as grandes interven­ções do Senhor, libertador de seu povo: são as três festas de peregri­nação, Páscoa, Pentecostes e Tabernáculos (ou Tendas). "Três vezes por ano, declara o Deuteronômio, todos os vossos varões se apresen­tarão diante do Senhor vosso Deus no lugar que ele tiver escolhido: na festa dos Ázimos, na festa das Semanas e na festa das Tendas" (Dt 16,16). Essas festas parecem ser, no início, celebrações ligadas ao rit­mo da natureza: na primavera, os nômades oferecem à divindade os primogênitos do seu rebanho (páscoa) e os camponeses sedentários, as primícias da colheita da cevada (festa dos ázimos); a festa das se­manas situa-se no verão, no fim da colheita do trigo e a das Tendas, no outono, no fim da colheita das frutas. No decurso dos séculos, essas festas foram "historicizadas", quer dizer, é ligado a cada uma delas um acontecimento histórico, como veremos.6
No séc. I, cada uma dessas festas dura uma semana completa, sem contar o tempo de caminhada que vai de poucas horas a duas ve­zes quatro dias, para quem mora na Alta Galiléia. Viaja-se a pé, em ca­ravana, que reúne os peregrinos de uma ou várias aldeias: assim corre-se menos risco de ter más surpresas da parte dos salteadores!
Seria utópico pensar que todos os judeus fazem efetivamente es­sas três peregrinações. Para os da Diáspora, é impensável; para os camponeses galileus não é impossível, mas é bem pesado em termos de tempo e de dinheiro, tanto mais que os Ázimos e as Tendas caem em pleno período de colheita, ocorrendo esta mais tarde na Galiléia que na Judéia. Assim, a festa mais freqüentada é a Páscoa.
A FESTA DA PÁSCOA
À festa agrária fora ligada a lembrança da libertação do Egito. Depois, com o passar dos tempos, o que se celebra nesta ocasião é o "aniversário" dos grandes acontecimentos fundadores e libertadores de Israel: a criação do mundo, a realização da promessa de descendên­cia para Abraão, a libertação do Egito e a (futura) libertação messiânica. (Ver o "poema das quatro noites", tirado do targum do Êxodo e citado em Cadernos Bíblicos nº 25 — Os Salmos e Jesus. Jesus e os Salmos, em preparo).
Por ocasião da Páscoa, 180 mil peregrinos se concentram numa cidade que possui talvez 25 mil habitantes, mais provavelmente 45 a 50 mil.7 Não podendo todos esses peregrinos se alojar na Cidade San­ta, os limites da cidade são ampliados para esta circunstância, abran­gendo as aldeias da periferia.


Na tarde do dia 14 de Nisan, os chefes de família (família no sen­tido estrito ou grupo de 10 a 15 pessoas, incluindo mulheres e crian­ças) vêm ao Templo com um cordeiro para ser imolado. Como não há lugar suficiente no pátio dos israelitas para acolher todo mundo, obser­vam-se três etapas: primeiro as pessoas se colocam em fila diante dos sacerdotes que têm por missão recuperar o sangue dos animais e ir le­vá-lo ao pé do altar em sinal de oferta a Deus. Depois cada um volta para casa e lá esfola o animal e o assa. Durante esse tempo, a esposa já retirou de casa tudo que poderia se assemelhar a pão fermentado (quer dizer, feito com fermento) e preparou pães não fermentados e "ervas amargas" (saladas diversas). Então tem início a refeição da fes­ta. Por ocasião do Êxodo, ela fora tomada às pressas (Ex 12,11); dora­vante faz-se a refeição estirado sobre divãs à moda romana. Neste jan­tar festivo, o vinho é obrigatório: se alguém é pobre demais para poder consegui-lo, o Templo lhe dá o suficiente para encher as quatro taças regulamentares. Durante a refeição, são cantados pela família os Sal­mos do Halel (SI 113-118), entrecortados de bênçãos dadas pelo pai de família ou por aquele que faz as vezes dele, sobre as taças de vinho.
Os filhos, surpresos — ou simulando surpresa — diante deste jan­tar extraordinário que se realiza ao cair da noite, fazem perguntas: "Por que tudo isso? Em que esta noite é diferente das outras noites?" Então o pai explica o sentido dos diferentes ritos e descreve sobretudo as in­tervenções de Deus em favor do seu povo.
Sobre a semana que se segue, faltam-nos informações: são dias de regozijo diante de Deus, durante os quais cada um se esforça por consumir o produto do segundo dízimo; no recinto do Templo têm lu­gar assembléias de oração, no estilo das celebrações sinagogais, com leituras diretamente em ligação com a festa e mais extensas do que de costume. Muitos peregrinos aproveitam a ocasião para oferecerem sa­crifícios de comunhão, para escutar os rabinos afamados explicar esta ou aquela passagem da Lei ou dar um conselho jurídico. A animação é tal que o procurador romano, sempre preocupado em manter a ordem, deixa Cesaréia marítima para vir controlar de perto a situação: do alto da fortaleza Antônia onde reside (a menos que não fique no antigo pa­lácio dos Asmoneus), ele ocupa as primeiras salas para observar o que se passa no pátio do Templo e para intervir caso haja a menor desor­dem. A presença do procurador e de reforços policiais parece tanto mais necessária, porque na ocasião da Páscoa ou das outras festas de romaria, personalidades políticas ou diplomáticas chegam à Cidade Santa: Herodes Antipas (cf. Lc 23,7), Agripa, um oficial superior da rai­nha da Etiópia (cf. At 8,27), a rainha de Adiabene que vai mandar construir para si um túmulo na periferia de Jerusalém . . . Essas con­centrações populares são igualmente favoráveis aos golpes violentos dos zelotes. E Josefo nos informa que os principais sinais precursores da revolta judaica de 66 tiveram lugar precisamente por ocasião das peregrinações.

PENTECOSTES

Como o indica sua etimologia grega, esta festa começa 50 dias após a Páscoa (cf. Dt 1 6,9). O livro do Êxodo chama-a de festa da co­lheita (Ex 23,16) ou das semanas (34,22). Mediante uma ligeira modi­ficação vocálica, alguns fizeram dela a festa dos juramentos. À sua ce­lebração foi vinculada, com efeito, a Aliança do Sinai; parece que des­de o séc. I da nossa era, ela se tinha tornado a festa' da renovação da Aliança (e sem dúvida não é por acaso que o autor dos Atos coloca neste dia a vinda do Espírito Santo).8
Nos inícios da era cristã, os diferentes grupos religiosos não con­cordam entre si quanto à data da sua celebração; assim é que certos grupos como os fariseus terminam a festa no momento em que outros como os Essênios ou o autor do livro dos segredos de Henoc a come­çam.

TENDAS
Para Josefo, é esta "a mais santa e a maior das solenidades ju­daicas" (Antiguidades VIII, 100). Sua origem é também rural, como no caso das festas precedentes: celebra o fim das colheitas frutíferas e tem todas as aparências de uma festa das vindimas com a alegria e os riscos de embriaguez que isto comporta! "Mas o Levítico (23,43) de­nota uma evolução e relaciona-a com a história: a festa deve relembrar que Deus fez os filhos de Israel morar em cabanas quando saíram do Egito. A dedicação do templo de Salomão coincide com esta festa (1 Rs 8,65-66), já lhe dando assim uma relação especial com o santuá­rio, lugar da Presença e da proteção divinas. Segundo o Targum, as ca­banas deviam efetivamente fazer recordar as nuvens protetoras da epopéia do deserto. Esdras (3,4) nos fala que os repatriados celebram a festa logo que o altar é reconstruído, antes mesmo de estarem colo­cados os alicerces do novo templo, e Neemias (8,13-18) descreve uma celebração segundo o ritual de Lv 23,40-43, com leitura quotidia­na da Torá (cf. Dt 31,10)".9
Esta festa é a mais espetacular de todas: para celebrá-la, cada família deve construir nos arredores imediatos de Jerusalém uma cabana de folhagens, na qual ela vai morar uma semana. Certos ritos eram muito populares como a procissão dos sacerdotes cada manhã, até Siloé, acompanhados por todo o povo levando palmas (os lulav), ao som do shofar (longo chifre de carneiro que serve de trombeta), a libação da água sobre o altar (cf. Jo 7,37) talvez para pedir o retorno das chuvas, a procissão em torno do altar e o acender quatro grandes candelabros de ouro no pátio das mulheres (cf. Jo 8,12) que ilumina­vam a cidade inteira.

OUTRAS FESTAS
Ao lado dessas três grandes festas de peregrinação, existiam ou­tras como o Yom Kipur ou Dia das expiações (que ficou célebre pela "guerra de Kipur" em 1973!). Era celebrada alguns dias antes da festa das Tendas. Não é um dia de alegria, mas ao contrário, de tristeza e de jejum, no qual se pede a Deus que apague todas as faltas de seu povo; durante 24 horas o povo se abstém de qualquer alimento e se reúne no Templo, onde o sumo sacerdote realiza solenemente o rito da ex­piação pelas suas faltas e pelas de todo o povo: é o único dia do ano em que o sumo sacerdote é obrigado a presidir a liturgia (a não ser que ele esteja impuro, mas para evitar isso, fica preso durante a semana anterior!); é o único dia em que ele penetra no Santo dos santos para aí depor um incensório e lançar, contra a pedra que outrora serviu de suporte à arca da aliança, o sangue do carneiro oferecido em holo­causto pelas faltas ocultas dele próprio e do povo; o dia, enfim, em que é solenemente conduzido para o deserto o bode Azazel, portador de todos os pecados de Israel. Os ritos, já descritos em Lv 1 6, são abun­dantemente comentados e ampliados na literatura antiga. Notemos que a teologia da epístola aos Hebreus é construída sobre esse rito 


Rosh Hashana é a festa do Ano Novo. Celebrada dez dias antes do Yom Kipur, é uma festa austera que prepara a celebração do per­dão.
A Dedicação ou Hanuká, em dezembro, celebra o aniversário da purificação do Templo, após a vitória de Judas Macabeu em 1 64 a.C. (1Mc 4). Josefo a denomina "a festa das luzes" (cf. Jo 10,22).
Os Purim  ou as sortes comemoram a libertação do povo narrada no livro de Ester. Tornou-se o equivalente do "carnaval".10

O sábado
As festas de Deus (Lv 23,4) são, literalmente, entrevistas que Deus concede a seu povo para santificar o tempo. O sábado exerce a mesma função, mas segundo um ritmo semanal.
Sua origem é muito complexa.11 As legislações sacerdotais que o codificaram definitivamente durante o Exílio (Lv 23,3; Ex 31,12-17) ajuntaram duas instituições, distintas na origem, mas ambas muito an­tigas: um dia de festa semanal e um dia de folga obrigatória (nos tex­tos antigos — Ex 23,12; 34,21 — esse dia de repouso não é chamado sábado). Por que esse ritmo de sete dias? Isto parece estar ligado ao calendário lunar dos antigos semitas do sul da Mesopotâmia, onde o mês não estava ligado às fases da lua, mas à sua posição em relação à constelação na qual ela se encontra na aurora.
O valor religioso do sábado foi desenvolvido em duas direções. Uma insiste no aspecto humanitário e social: o homem, especialmente o escravo, deve poder descansar; esse aspecto libertador do sábado está associado à libertação dada por Deus por ocasião do Êxodo (Dt 5,14-15; Ex 23,12). O sábado foi também associado à criação: no sé­timo dia Deus cessou (de intervir), literalmente fez sábado (Ex 20,11; Gn 2,2-3).12
A prática do sábado foi codificada cada vez mais estritamente no decorrer dos tempos, tendendo às vezes a se tornar uma espécie de ab­soluto escravizando o homem. Jesus não fará senão restituir-lhe seu significado primitivo quando declara: "O sábado foi feito para o ho­mem e não o homem para o sábado" (Mc 2,27).

A ORAÇÃO QUOTIDIANA
De manhã, antes de qualquer atividade, e à tarde, os homens adultos deviam rezar. Voltados para o Templo de Jerusalém, recitavam uma prece de bênção, depois o Shemá, bem como as primeiras e as úl­timas das Dezoito bençãos ou Shemoné Esré que certamente já esta­vam em uso

 FONTE: CADERNOS BÍBÇLICOS

 

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