A história de Megido e
os deuses do passado são a pista para o último
confronto mundial.
“Então os ajuntaram no lugar que em hebraico se chama Armagedom” (Apocalipse
16:16).
Esse verso do Novo Testamento
identifica Megido, conhecido por milhões de cristãos pelo nome grego Armagedom, e O “lugar” em que se
confrontarão as forças do bem e do mal nos últimos dias. A palavra Armagedom não aparece em nenhum outro
lugar da Bíblia. Ela é uma combinação da palavra hebraica har (montanha) e Megido.
Por que João, o autor de
Apocalipse, escolheu citar Megido como o grande campo dessa batalha
escatológica? É uma pergunta que tem ampliado as especulações sobre o fim do
mundo.
Historiadores dizem que a
cidade de Megido estava em local chave para o controle de Israel, justamente à
margem do Caminho do Mar ou da Via Maris (ela fazia conexão entre o mar
Mediterrâneo e o mar da Galiléia). Sua posição era extremamente estratégica,
tanto militar quanto comercialmente. Era a via obrigatória entre as grandes
potências da Antigüidade: o Egito, ao sul; e Síria, Assíria, Babilônia e
Pérsia, ao norte.
Situada em um platô logo após
as montanhas de Samaria, no inicio da cordilheira do Carmelo e diante da planície
de Megido (Outros nomes, Jezreel e Esdráelom, a cidade de Megido oferecia a visão privilegiada do
extenso vale e das elevações da Galiléia e do monte Tabor ao leste. A planície
com 35 quilômetros de cada lado, tem a forma de triângulo e é uma área fértil
para a lavoura. Próximo às ruínas da velha cidade ainda existe a passagem
estreita entre elevações que liga o norte ao sul da Palestina. Esse lugar
recebeu o original nome de vale de Megido. Através desse caminho, certamente
Jesus passou com João e os demais discípulos quando retornaram de Jerusalém
por Samaria (ver João 4:3 e 4).
GUERRAS
No vale
de Megido, no ano 609 a.C., o rei Josias, de Judá, ousadamente avançou contra
as tropas do faraó Neco II e saiu do combate mortalmente ferido (II Crônicas 35:22). Outras sangrentas batalhas ocorreram ali, inclusive no século 20.
Nas inscrições sobre a vida de um rei egípcio aparece pela primeira vez o nome de Megido. Os hieróglifos
das paredes do templo de Karnat, no Egito, mencionam uma batalha em que
Tutmés III foi vitorioso em Megido, no ano 1468 a.C.A crônica de sua vitória
narra a captura de 924 carros inimigos.
Megido foi uma próspera colônia
egípcia por quase um século. Em Juizes 1:27 é mencionada ao lado de outras
aldeias que resistiram aos israelitas, e, em Josué 12:21,0 rei de Megido é
citado entre os vencidos. Apesar disso, alguns pesquisadores ainda acham que
ela somente foi conquistada mais tarde, pelo rei Davi.
Durante o reinado de Salomão,
no século 10 a.C., Megido se tornou em uma das maiores cidades do reino (1 Reis
9:15). Escavações arqueológicas descobriram as ruínas dos estábulos em que
Salomão guardava seus carros e cavalos e as fundações de um palácio construído
por ele.
Em 732 a.C., Megido foi
destruída e passou do controle israelita para as mãos dos assírios. Sua destruição
foi considerada pelos judeus mais conservadores como uma intervenção do
Altíssimo contra a acomodação da população israelita ao culto a Baal, que
segundo os profetas do Antigo Testamento era uma frontal desobediência aos
compromissos com a fé hebréia,
Depois de 720 a.C., o rei
assírio Sargão II reconstruiu uma nova cidade, povoando-a com pessoas de outras
regiões do mundo. Cem anos mais tarde a cidade começou a entrar em decadência,
ao ponto de, no tempo de Jesus, só existir uma guarnição romana nas
imediações.
Em
tempos mais recentes, os franceses, liderados por Napoleão Bonaparte (em 1799)
e os ingleses (em 1918) derrotaram os turcos perto de Megido. Em 1948, forças
judias e árabes lutaram neste lugar durante a Guerra da Independência. No ano
seguinte, os judeus estabeleceram no lado oeste das antigas ruínas o Kibutz
Megido. Todas essas batalhas suscitaram especulações em torno da região como o
palco para o Armargedom.
Hoje o sítio arqueológico de
Megido é mantido pelo Serviço de Parques Nacionais do Estado de Israel. No
local há uma lanchonete e um museu com artesanatos e maquetes que situam as
várias épocas da cidade. Além disso, andando entre as ruínas, os visitantes podem
identificar o lugar do sacrifício de animais, palácios, residências, depósito
de grãos e os estábulos de Salomão. Outra atração é atravessar um túnel de 70 metros de extensão que liga a cidade a
uma fonte d’água no monte Carmelo, uma construção audaciosa para aquela época,
feita por Acabe, rei de Israel.
DEUSES
Inscrições
do século 14 a.C., encontradas em Ugarite, uma cidade costeira do
Mediterrâneo, deixaram descrições detalhadas sobre as divindades da primitiva
Canaã. A mais importante divindade dos adoradores cananeus era El que - juntamente com sua
consorte Atirate (conhecida nas Escrituras como Asherah (Asterote) - era considerado
acima de todos os outros deuses e deusas.
El, no entanto, passou a ser desafiado por concorrentes, como Baal considerado o governante daTerra), Mot (que governava o mundo
subterrâneo), e — Yam (o deus do mar). Progressivamente,
Baal foi ganhando dianteira. Uma estátua dele em posição de ataque, constatando
sua autoridade, foi encontrada nas escavações de Megido.
O culto
a essa divindade tornou-se muito popular entre os moradores da região. Baal estava
diretamente ligado à natureza, especialmente à queda da chuva e ao
controle de trovões e relâmpagos. Essa importante função, em uma terra seca como
a Palestina, fazia do culto a Baal um considerável problema aos líderes da fé
hebréia.
Essa crise religiosa desencadeou uma
controvérsia entre o profeta de Deus, Elias e os profetas de Baal. Lances desse
episódio estão registrados em I Reis 18. No alto do Monte Carmelo, Elias
desafiou 400 profetas de Baal a evocar seu deus para fazer descer fogo do céu
sobre seu altar de sacrifícios e os venceu. A situação agravou-se ainda mais
porque o rei Acabe e sua corte, estavam comprometidos com o culto a Baal.
Uma oração encontrada em um
texto de Ugarite, mostra que os adoradores viam em Baal mais do que uma
divindade da natureza. Na visão deles, ele realmente agia na história: “Oh, Baal, por favor expulse dos nossos
portões o poderoso... O touro, Oh, Baal, nós dedicaremos; o sacrificio, Oh,
Baal, oferecemos... Então Baal ouvirá sua oração - ele expulsará... o guerreiro dos seus muros.”
Existe uma relação entre
sacrifícios oferecidos às divindades dos cananeus com ciclos agrícolas. Nessas
ocasiões, prostitutas também se juntavam aos sacerdotes nos templos, em práticas
sexuais que visavam a estimular os deuses a enviar chuva e trazer bons
resultados para as plantações.
BABILÔNIA E MEGIDO
No Apocalipse, “meretrizes” simbolizam forças malignas
que tentam tomar a autoridade da Bíblia e lutam contra o povo de Deus, no
grande conflito entre o bem e o mal. Nesse livro, a atuação de uma meretriz não
se enquadra em uma geografia local: “As águas que viste, onde a meretriz está
assentada são povos, multidões, nações e línguas” (Apocalipse 17:15).
“A mãe das meretrizes e das abominações da Terra” também
é chamada de “Babilônia, a Grande” (verso 5), formando a associação dessa prostituta. que atua em todo o mundo
como “mãe das abominações da Terra”, com Babilônia
uma cidade que, do mesmo modo que
Megido. não existia mais no tempo do Novo Testamento.
A exaltação da natureza acima do Deus da natureza e a
adoração das coisas criadas em lugar do Criador são práticas vistas pela Bíblia
como uma forma de prostituição. Porque, no passado, quando as pessoas em seu
culto a Baal rendiam suprema homenagem às forças da natureza, desvinculavam-se
do verdadeiro Deus e entregavam-se às práticas de prostituição subordinadas
aos poderes sobrenaturais de Baal.
A mística Babilônia do Apocalipse, por sua vez, é uma
clara representação dos sistemas religiosos que no futuro agirão afastados dos
princípios regidos pela Palavra de Deus.
Observando por essa perspectiva, a batalha do Armagedom
não será a Terceira Guerra Mundial, nem um envolvimento militar de nações do
mundo inteiro em um ponto qualquer do Oriente Médio.Tampouco o “rio Eufrates”,
nem “Babilônia”, nem “Megido” são citados como uma pista geográfica para o do
Armagedom.
Por causa de seu significado histórico (Megido foi o
palco de lutas militares e espirituais entre o antigo povo de Deus e seus
inimigos). Armagedom foi a expressão
escolhida por João para sintetizar o desfecho de um conflito de extensão
universal, que envolve homens rebeldes e espíritos maus contra o Criador e
seus leais seguidores. O inicio desse confronto ocorreu quando o diabo foi
expulso do Céu (Apocalipse 12:7-9); e terá seu fim com a intervenção de Cristo
e a vitória do povo de Deus (Apocalipse 19:11-16).
Nota-se, portanto, que o autor do Apocalipse ao enquadrar
algumas citações dentro da geografia do Oriente Médio, está tentando chamar
nossa atenção para um conjunto de práticas idólatras de épocas remotas que em
breve, dentro de uma embalagem nova e atraente, voltarão a se compor com as
forças do mal na batalha final contra o verdadeiro Deus e seus adoradores.
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