A adoração ao “bezerro de ouro”, no Israel antigo, revela
a sutileza que pode haver entre o verdadeiro e o falso culto
Ao ler a história bíblica, muitas vezes ficamos chocados
com a rapidez com que muitos antigos israelitas se voltavam para a idolatria,
Os relatos ligados ás imagens de “bezerros de ouro” são surpreendentes, visto
que envolveram pessoas que tinham uma ligação direta com Deus.
Em Êxodo 32,
Arão, o próprio irmão de Moisés e seu colaborador direto na libertação do povo
de Israel da escravidão do Egito, confecciona um bezerro de ouro sob a pressão
da multidão impaciente. A vista da imagem fundida é feita a proclamação: “São
estes. ó Israel, os teus deuses [no hebraico, Elohim, um dos nomes de Deus] que
te tiraram da terra do Egito” (Êxo. 32:4). O mais espantoso é que o próprio
Arão toma então a iniciativa e edifica um altar diante da imagem e apregoa uma
‘festa ao Senhor [no hebraico, Yahweh, ou seja, o nome santo de Deus” no dia
seguinte. Pelo texto bíblico, tanto Arão como o povo estavam identificando aquela
imagem de bezerro com o Deus de Israel.
A mesma idéia
aparece no relato de 1o. Reis 11 e 12, certa de 500 anos após o
Êxodo. Por causa da idolatria de Salomão, Deus dividiu o povo de Israel em dois
remos distintos: Judá, ao sul, e Israel, ao norte. Roboão, filho de Salomão,
reinou sobre o sul, enquanto Jeroboão, filho de Nebate, da tribo de Efrairn, se
tornou rei sobre o reino do norte Jeroboão é apresentado na Bíblia como um
homem “valente e capaz, moço laborioso” (10 Reis 11:28), eleito por Deus para
ser rei sobre as dez tribos do norte. Mas quando assumiu o trono, ele temeu
que o povo Continuasse a ir a Jerusalérn, capital do reino do sul, para adorar
a Deus no templo de Salomão. O coração dos súditos poderia se voltar para os
reis da casa de Davi, abandonando-o e podendo mesmo matá-lo. Jeroboão criou
então dois outros centros de adoração a Deus. Em cada um deles, colocou um
bezerro de ouro e disse: “Basta de subirdes a Jerusalém; vês aqui teus
deuses, ó Israel, que te fizeram subir da terra do Egito!” (10 Reis 12:28).
A adoração do
bezerro de ouro também é vista história de Jeú, um homem “zeloso para com o
Senhor” (2o. Reis 10:16). Jeú manifestou o seu zelo por Deus
eliminando a família dos terríveis Acabe e Jezabel, matando todos os
profetas, servidores e sacerdotes de Baal, e destruindo o templo de Baal e a
sua estátua, exterminando assim o seu culto em Israel. O mesmo Jeú, no entanto,
não se afastou do pecado de Jeroboão, “a saber, dos bezerros de ouro que
estavam em Betel e Dã” (2o. Reis 10:29).
Como poderiam
tais pessoas aceitar e promover a adoração da imagem de um bezerro? Por que
lhes parecia ser tão natural? Na simbologia religiosa oriental antiga era
costume representar as características extraordinárias de um deus por aquilo
que, no mundo conhecido pelo ser humano, melhor representasse essa
característica. Se a crença era de que o deus tinha uma visão extraordinária
então era representado por um falcão. Se era o deus da força ou do poder,
representava-se por um leão ou touro, por exemplo. Assim, a estátua desses
animais seria simplesmente urna alegoria da mais admirável característica do
deus que se pretendia adorar. Fazer um bezerro de ouro seria identificar a
Deus como forte e poderoso.
Além disso,
descobertas arqueológicas na região da Síria antiga têm revelado estatuetas do
deus Baal-Hadad,o deus das tempestades, representando-o de pé sobre um touro
ou um leão Nesse caso, o animal parece servir de pedestal para aquele deus e ao
mesmo tempo exaltar o seu poder, visto que ele seria capaz de usar como
pedestal animais tão poderosos. Ao erigir a estátua de um touro, o adorador
estaria pedindo que
o seu deus se
manifestasse naquele local. Em Israel, o bezerro poderia ser visto assim corno
urna exaltação do extraordinário poder de Deus, ou como um local apropriado no
qual a glória divina poderia se manifestar. A reprovação radical de Deus a
tais práticas, no entanto, deixa bem claro que Ele não aceita ser associado
a qualquer imagem ou escultura, não importa o sentido que lhe queiramos dar.
No contexto de culto e adoração, o mandamento é claro: “Não farás para ti
imagem de escultura” (Êxo. 20:4).
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