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domingo, 2 de março de 2014

APOCALIPSE DÁ SEGURANÇA

 


Na edição anterior vimos que o Apo­calipse foi escrito num momento crucial da história do cristianismo. O fim do pri­meiro século se aproximava e a grande maioria daqueles que haviam conhecido pessoalmente a Jesus já não estavam vi­vos. Do corpo apostólico, apenas João ain­da vivia, mas não por muito tempo mais, em vista da idade avançada.
Duas situações adversas co­locavam em risco a estabilidade e o progresso da Igreja. De um lado, estava o insidioso gnosti­cismo, com sua atraente pro­posta de posse da verdadeira vi­da por meio da gnosis, ou o co­nhecimento dos mistérios de Deus e de Seus propósitos. Ele fazia suas incursões e ganhava a cada dia novos adeptos dentre professos cristãos. A verdadeira fé estava sendo minada, e mui­tos simplesmente não se aper­cebiam do perigo. Encantavam-se com a idéia gnóstica de pos­suírem uma alma imortal, e com a perspectiva de, pela mor­te, terem-na libertada para o desfruto pleno da imortalidade. Assim perdiam de vista o único recurso de salvação.
A Igreja necessitava de uma nova “re­velação de Jesus Cristo” como Senhor da glória e Salvador exclusivo. Essa revelação se tornou possível com o Apocalipse (ver Apocalipse 1:1). Esse livro faz coro com o restante do Novo Testamento ao afirmar que a única morte que nos liberta é a de Jesus (Apocalipse 1:5). e que a ressurrei­ção no dia de Sua vinda é o único portal para a imortalidade (Apocalipse 20:6).
Outra situação, agora de caráter ex­terno, igualmente ameaçava a Igreja: a intolerância imperial. Os fogos da perse­guição já se avivavam, e a Igreja necessi­tava de um novo fortalecimento tal como apenas a mensagem do Apocalipse poderia oferecer.

CULTO AO IMPERADOR

Um dos últimos imperadores de Roma, no primeiro século, chamava-se Domicia­no. Entre outros abusos, ele reacendeu a prática do culto ao imperador, intensifican­do urna situação que inevitavelmente re­sultou em perseguição contra os seguido­res de Cristo. A partir do segundo Século a.C., quando os exércitos romanos avança­ram com suas campanhas para a formação de um grande império, já deparavam uma variedade de cultos e crendices religiosas. Cada nação conquistada possuía seus pró­prios deuses, a quem adorava de forma es­pecífica. Cedo os conquistadores entende­ram que a tolerância religiosa seria conve­niente, desde que condicionada ao reco­nhecimento da “divindade” de Roma.
Com o tempo, o culto a Roma foi su­plantado pela adoração aos imperadores mortos, e então àquele que exercia o domínio. Com isso, os romanos alegavam que, muito ao contrário de proibirem o culto local, estavam na verdade incrementando-o. Mas o que de fato queriam era a unificação religiosa e política do Império
Tal condição foi acatada como verdadei­ro privilégio na região da Asia Menor, cujos habitantes devotavam grande estima pelos mandatários romanos. Em 195 a.C., um tem­plo foi levantado em Esmirna em homena­gem à deusa Roma. No ano 29 a.C., sob a liderança de César Augusto, outro templo foi erigido, agora em Éfeso, para a adoração conjunta de Roma e Júlio César, enquanto que um terceiro era construído em Pergamo em homenagem ao próprio Augusto.
Tibério sucedeu a esse imperador e foi substituído, em 37 d.C., por Calígula um desequilibrado mental que pretendeu deificação absoluta. Após a morte de Calígula em 41, o culto ao imperador caiu em desuso, até que Domiciano, 40 anos mais tarde, começou a reinar, e o reativou. Suetônio, historiador romano, registra que Domiciano expedia os de­cretos imperiais encabeçando-os com os termos: “O vosso senhor e vosso deus Domiciano assim ordena...”

APOIO INDISPENSÁVEL

       As províncias romanas da Ásia, preci­samente onde agora se localizavam as se­te igrejas referidas no Apocalipse e às quais o livro foi particularmente endere­çado, novamente acataram com entusias­mo o referido culto, e os cristãos ali de­frontaram um momento critico. Na verda­de, em todos os lugares eles sofreram os efeitos da determinação imperial, e come­çaram a ser perseguidos. Mas isso ocor­reu, em especial, na Ásia. O momento era realmente difícil. Como afirmamos, a Igre­ja entrava para o segundo século e não podia então nem mesmo contar com o precioso apoio espiritual dos apóstolos, já que quase todos estavam mortos. Restava apenas o idoso João. Mas como receber nesse momento o apoio apostólico indis­pensável, se o único apóstolo sobreviven­te fora banido para a colônia penal de Pat­mos, justamente por decreto de Domicia­no, o perseguidor da Igreja?
Foi nessa hora decisiva que Deus atuou em beneficio do Seu povo, dando a João as revelações que proveram o con­teúdo do Apocalipse. Fazia-se necessário um novo vislumbre do Cristo glorifica­do, um vislumbre que viesse fortalecer a Igreja na certeza do Seu amor, sabedoria e poder. Outorgando o Apocalipse, Deus deu à Sua atribulada Igreja um vislumbre das realidades celestiais. Jesus transcendia em glória, majestade e poder, infinitamente mais do que o maior imperador terreno. E o que era mais importante, cristãos poderiam contar com o Seu desvelo, interesse, e direção. Mesmo diante da morte não deveriam temer, pois o Senhor, a quem serviam, havia triunfado sobre ela e sobre todos os demais inimigos. Esse triunfo pertencia também a ele “Não temas as coisas que tens de sofrer... Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida” (Apocalipse 2:10).

AUXÍLIO ATUAL


Ser cristão hoje aparenta ser mais fácil que no tempo em que o Apocalipse foi es­crito. Afinal, não existe por ai nenhum rei ou presidente reclamando adoração e servi­ço. Há liberdade de consciência e de culto.
O verdadeiro cristianismo, porém, nunca contou nem contará com o con­sentimento e o louvor do mundo, pois Sa­tanás é o real inimigo do povo de Deus em qualquer época ou lugar. As condi­ções aparentemente favoráveis do mo­mento não perdurarão indefinidamente. O Apocalipse afirma que poderes despóti­cos e antagônicos estarão de volta, e a in­tolerância e perseguição contra os que desejam servir correta e fielmente a Deus caracterizarão os últimos dias da História (ver os capítulos 12, 13 e 17).
É imperativo que nos familiarizemos agora com as orientaçôes da Palavra de Deus, e que nos apoderemos deste mara­vilhoso vislumbre de glória, poder e ma­jestade divinos que o Apocalipse nos ofe­rece. Mais do que no passado, a certeza do amor de Jesus, a confiança de que os propósitos de Deus estão sendo e conti­nuarão a ser plenamente cumpridos, e de que finalmente a Igreja estará vitorio­sa no reino celestial, precisam ser cons­tantemente reafirmadas e consolidadas em nossa experiência cristã. Só assim es­taremos seguros e marcharemos triun­fantes  para o glorioso dia da volta de Je­sus a este mundo. Só assim teremos as promessas apocalípticas de alegria e feli­cidade eternas plenamente cumpridas em nós e para nós. Só assim constatare­mos que realmente o Apocalipse é auxí­lio divino na hora certa.

Sinais dos Tempos

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