A igreja
e o Estado deveriam se unir?
No mundo antigo, todo Estado tinha deuses próprios, e o
imperador romano era um deles. Ninguém separava a religião da política. Quando
Constantino se converteu e levou o cristianismo ao império na condição de
religião protegida, essa prática foi adotada pela igreja.
Mesmo depois da queda do império, muitas pessoas se
apegaram à idéia de que deveria haver um império cristão. Mas quem seria
seu líder? Seria um líder espiritual, o papa, ou a autoridade deveria ficar nas
mãos de um rei? Durante a Idade Média, os líderes buscariam as respostas para
essas perguntas.
Contudo, na metade do século viu, o papado já era
bastante forte, mas ainda não tinha alcançado o objetivo de restaurar a ordem
no mundo ocidental. Em 754, um documento forjado, denominado a Doação de
Constantino, tentaria manter viva a idéia de um Império Romano. De acordo
com a Doação, o imperador romano Constantino se mudara para
Constantinopla a fim de permitir que o papa controlasse o Ocidente. Constantino
teria deixado propositadamente essa parte do império nas mãos do bispo de Roma.
Seguindo as idéias da Doação de Constantino, o rei franco
Pepino 111, filho de Carlos Martelo, decidiu tomar Ravena da mão dos lombardos
e a entregou ao papa. Em 756,
a Doação de Pepino passava às mãos do papa as terras
que, mais tarde, seriam conhecidas por Estados papais.
Embora o papa tivesse recebido territórios, ele nunca
alcançou, de forma direta, o controle imperial. Este ficaria nas mãos do filho
de Pepino, Carlos Magno.
Ao assumir o trono, em 771, Carlos Magno deu
início a três décadas de conquistas. Ele expandiu as fronteiras de seu reino
para o leste e, no final do seu reinado, controlava a maior parte da Itália, a
Borgonha, a Alemanha, a Bavária e a Turgínia. No lado norte, tinha poder sobre
a Saxônia e a Frísia. A leste dessas regiões, criou territórios com
organizações militares especiais chamadas marches. Elas se estendiam do
mar Báltico ao Adriático. Pela primeira vez, considerável parte da Europa
possuía liderança estável.
Até o Natal do ano 800, Carlos Magno possuía o título de
"rei". Naquela data, o papa Leão u o coroou imperador. Mais uma vez,
parecia que a Europa Ocidental tinha um imperador para seguir os passos de Constantino.
Carlos Magno levou a sério a idéia de que ele se tornara um
imperador cristão, pois todos os seus despachos oficiais se iniciavam da
seguinte maneira: "Carlos, pela vontade de Deus, imperador romano".
A imagem do novo imperador era impressionante: alto, forte,
grande cavaleiro, lutador destemido e, em alguns momentos, cruel. Ele concedeu
à Europa uma figura paterna poderosa, mas benevolente.
Carlos Magno não queria perder seu poder de forma
alguma. O imperador de Constantinopla não representava qualquer tipo de
problema, pois reconheceu oficialmente os direitos de Carlos Magno. Contudo, os
que permaneciam sob seu poder e até mesmo o papa poderiam querer tirar um pouco
da sua autoridade. Como seu império era bastante amplo, Carlos Magno indicou um
grupo de oficiais conhecidos por missi
dominici. Esses homens viajavam pelo império para verificar como
estavam os oficiais locais. Nem mesmo o papa conseguiria esconder-se de seus
olhos atentos, e os missi dominici tinham
autoridade sobre a igreja e o Estado.
Embora possuísse pouca instrução, Carlos Magno tinha alta
estima pelo conhecimento. Sob seu governo pacífico, aconteceu um despertamento
da arte e da erudição, conhecido por Renascimento carolíngio. O imperador
patrocinou uma escola palaciana em Aachen. Alcuíno, brilhante estudioso
anglo-saxão, foi professor ali. Ele exortava seus estudantes com as seguintes
palavras: "Os anos correm como água. Não desperdicem os anos do
aprendizado com a indolência". Alcuíno
escreveu livros textos sobre gramática, ortografia, retórica e lógica.
Escreveu também comentários bíblicos e assumiu o lado ortodoxo em muitos
debates teológicos.
A escola de Aachen não apenas estimulou a
instrução por todo o império, mas levou
Carlos Magno a decretar que todo mosteiro deveria ter uma escola na qual
se ensinasse "todos os que, com a ajuda de Deus, fossem capazes de
aprender".
O Renascimento carolíngio preservou
muitos escritos do mundo antigo. Como os monges faziam copias de obras latinas
antigas — algumas delas maravilhosamente ilustradas — os mosteiros se tornaram
"bancos culturais". Em muitos casos, sem o trabalho desses monges, as
obras antigas teriam sido perdidas.
Em uma era de confusão e de guerra, o governo de Carlos Magno
forneceu a necessária estabilidade política e incentivou a cultura. Ele
assegurou que o Ocidente manteria o legado de sua cultura antiga, que o
cristianismo se espalharia pelo império e que o clero pregaria sobre os
elementos básicos da fé. Também deu sua proteção ao papa.
Carlos Magno, porém, não via razão para dar ao papa seu
poder. Afinal, ele não fora um imperador cristão cuja lealdade máxima era
devida a Deus? Na verdade, essa figura formidável não se submeteu a mais
ninguém, senão a Deus.
Quando Carlos Magno morreu, em 814, seu império começou,
gradualmente, a se desintegrar. Foi dividido entre seus três filhos, e
lentamente o papa ganhou cada vez mais poder.
Carlos Magno, no entanto, legou ao Ocidente uma visão
fascinante: um rei cristão com autoridade suprema sobre todos os seus domínios.
Por centenas de anos, os papas e os reis buscariam esse controle sobre seus
territórios — assim como sobre o território dos outros. Foi uma idéia que levou
muito tempo para morrer.
FONTE : OS 100 ACONTECIMENTOS MAIS IMPORTANTES DO CRISTIANISMO
Sem comentários:
Enviar um comentário