O apóstolo João foi amigo pessoal de Cristo.
O Apocalipse foi
escrito por alguém que desde a juventude foi um ardoroso seguidor de Jesus. Seu
nome era João, conhecido como o apóstolo do amor.
Seus dados biográficos, a exemplo de outras
personalidades da igreja primitiva, aparecem esparsamente no Novo Testamento.
Mateus o menciona apenas quatro vezes. Marcos, dez vezes e Lucas, sete. No
quarto evangelho, de sua autoria, ele é mencionado como discípulo amado e como
um dos filhos de Zebedeu.
João era o mais jovem dos discípulos de Jesus. Alguns
pensam que ele não era muito estimado pelos demais, em vista de seu ambicioso
desejo de ocupar o primeiro lugar no reino de Jesus. De fato, a cobiça, o
amor à posição e à supremacia e a avidez por promoção pessoal (ver Mateus
10:35-37 e 41) eram graves defeitos em seu caráter. E não eram só estes. Jesus
chamou a ele e a seu irmão Tiago de “filhos do trovão”. Eram geniosos,
impetuosos de ressentimentos fáceis e propensos à vingança (Lucas 9:49-54).
Por trás desses graves defeitos, porém, Jesus visualizou
em João um ardente, sincero e amante coração. Embora muitas vezes repreendido,
João apegava-se cada vez mais firmemente a Jesus, até que sua alma se juntou à
dEle.Tornou-se o “discípulo a quem Jesus amava”, não porque Jesus não amasse os
demais, mas porque ele mais efetivamente deixou-se dirigir por esse amor, a
ponto de ter a vida totalmente transformada. Em seu coração a chama da
lealdade e devoção ardente tornaram-no um dos mais destacados apóstolos na
igreja cristã. Entre Jesus e ele desenvolveu-se profunda amizade, mais forte do
que em relação aos outros discípulos.
João absorveu tanto da Fonte, que alguns estudiosos e
comentaristas de seu Evangelho crêem que sua linguagem e estilo correspondem à
linguagem e ao estilo de Jesus. Embora isso não seja provável, é indiscutível
que João nos apresenta um quadro profundamente original e distintamente
genuíno de Jesus. Ele percebeu que Cristo se encarnara para ser, unicamente
Ele, uma perfeita revelação de Deus, em vista do íntimo e pleno conhecimento
que tinha do Pai.
Este
fato despertou no apóstolo o anseio de adquirir um conhecimento de Seu
Salvador tão íntimo e pleno quanto possível, e de se tornar assim uma autêntica
testemunha dEle. João conseguiu alcançar este elevado ideal. Isso fica claro
em sua vida como apóstolo e em seus escritos. No último livro da Bíblia, por
exemplo, ele nos oferece uma revelação final e surpreendete de Jesus. De fato,
ninguém foi capacitado a exaltar melhor a Cristo do que o apóstolo João, mesmo
tendo os demais amado também a Jesus e anunciado com fervor as verdades
concernentes a Ele.
João
foi escolhido para cuidar
da
mãe de Jesus.
Se João era um dos dois discípulos de João Batista
mencionados em João 1:35, O seu primeiro encontro com Jesus teria ocorrido
quando Batista proferiu pela segunda vez o clássico testemunho “eis o Cordeiro
de Deus” (João 1:36). Esse testemunho transformou os dois em discípulos de
Jesus. O conhecimento que João tinha de Jesus, porém, é possível que
ante-cedia a esse momento, especialmente se considerado seu provável parentesco
com o Salvador.
Uma comparação entre Mateus 27:56, Marcos 15:40 e João
19:25 parece indicar que a mãe de João se chamava Salomé e que era irmã da mãe
de Jesus. Este e João, portanto, eram primos. Essa linha de parentesco,
somada à sua proximidade acentuada com Cristo, fez de João o mais indicado
para cuidar da mãe de Jesus, após a crucifixão. Por isso o Salvador dirigiu-se
a ele como o novo filho de Sua mãe (João 19:26 e 27). Outro intimo de Jesus, e
também Seu primo, era Tiago, irmão dc João. Mas sem dúvida Jesus sabia que não
muitos anos depois Tiago seria martirizado (Atos 12:2). João, realmente, era a
pessoa mais indicada para aquela nobre tarefa.
O testemunho do Batista, entretanto, proporcionou um
encontro mais pessoal e decisivo para que João se tornasse um seguidor de
Jesus, inclusive de forma definitiva quando, mais tarde, junto ao mar da
Galiléia, foi convidado pelo Mestre para que O seguisse (Mateus 4:21 e 22).
A exemplo de Pedro e Tiago, cedo João tornou-se discípulo
íntimo de Jesus. Ele testemunhou a ressurreição da filha de Jairo (Marcos
5:37), a transfiguração (Mateus 17:1) e, mais de perto, a agonia do Getsêmani
(Mateus 26:37). Esteve “aconchegado” a Jesus na hora da ceia e reclinou a
cabeça em Seu peito (João 13:23-25). Do Getsêmani, acompanhou o Mestre até à
sala do sumo-sacerdote, de quem era conhecido, e dali até ao Calvário onde
permaneceu ate Jesus expirar e ser retirado da cruz (João 18:15).
Os episódios descritos ao pé da cruz (João 19:18-35) são
tão vividos e reais que só uma testemunha ocular poderia narrálos dessa forma.
Na manhã da ressurreição correu na
companhia de Pedro, a fim de ver o sepulcro vazio (João 20:3-8). Em companhia
dos demais, viu o Salvador ressurrecto, inclusive logo após voltarem à
pescaria (João 21:7 e 8). Nessa ocasião. um diálogo de Jesus com Pedro é concluído
com a pergunta quanto ao destino de João. Jesus respondeu com uma declaração
que, mal compreendida, levou os discípulos a imaginar que João permaneceria
vivo até à segunda vinda do Mestre (verso 23).
Lucas registra a atuação de João
na companhia de Pedro, na pregação do evangelho logo após o Pentecostes (Atos
3:1-11), ao ser aprisionado sob as ordens do Sinédrio (Atos 4), e na pregação
em Samaria (8:14). Paulo afirma que ele era uma das colunas da Igreja apostólica
(Gálatas 2:9).
Entre os apóstolos, João foi o que
mais viveu, chegando à idade avançada. Nessa época, por instigação dos judeus,
foi aprisionado pelo imperador Domiciano que ordenou fosse ele atirado a um
caldeirão de azeite fervente. Milagrosamente preservado por Deus, foi
deportado pelo imperador a Ilha de Patmos, onde escreveu o Apocalipse.
Domiciano reinou entre 81 e 96. Segundo a tradição, Nerva, sucessor de Domiciano,
libertou o apóstolo. Em seguida João voltou para Éfeso onde terminou o seu
ministério e os seus dias. Como um dos lances finais do seu apostolado, João
empenhou-se no combate às tendências gnósticas que pressionavam os cristãos na
Ásia Menor sob a influência dos ensinos de um herege chamado Cerinto. De fato,
uma clara resistência a estes ensinos pode ser sentida em seu Evangelho e nas
epístolas. O Apocalipse se opõe indiretamente aos mesmos ensinos.
Afirma-se que, estando João para morrer, perguntaram-lhe
se tinha uma última mensagem a dar. ‘Amai-vos uns aos outros’, teria dito, e
em seguida expirado.
João é um vivido exemplo do que a graça de Deus pode
fazer por um homem possuidor de graves defeitos de caráter, mas que a ela se
entrega sem reservas. A educadora Ellen G. White afirma em seu comentário
sobre a expansão inicial da igreja cristã, em Atos dos Apóstolos, págs. 557 e 559: “Quando o caráter do Ser
divino lhe foi manifestado. João viu suas próprias deficiências, e foi feito
humilde pela revelação. Dia a dia. em contraste com seu próprio espírito violento,
ele observava a ternura e longanimidade de Jesus e ouvia-Lhe as lições de
humildade e paciência. Dia a dia seu coração era atraído para Cristo, até que
perdeu de vista o próprio eu no amor pelo Mestre. O poder e a ternura, a
majestade e brandura, o vigor e a paciência que enxergava na vida diária do
Filho de Deus, encheram-lhe a alma de admiração. Ele submeteu seu temperamento
ambicioso e vingativo ao modelador poder de Cristo, e o divino amor operou
nele a transformação do caráter.”
Ele observava a ternura e a
paciência do Mestre.
Uma transformação de caráter como a que se vê na vida de
João é sempre o resultado da comunhão com Cristo. Pode
haver marcados defeitos na
vida de um indivíduo. Contudo, quando ele se torna um verdadeiro discípulo de
Cristo, o poder da divina graça o transforma e santifica. Contemplando como
num espelho a glória do Senhor, é transformado de glória em glória, até
alcançar a semelhança dAquele a quem adora.
Ser semelhante a Cristo! Poderia haver experiência mais
preciosa a ser desfrutada?
Sinais dos Tempos
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