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domingo, 2 de março de 2014

QUEM ESCREVEU O APOCALIPSE




O apóstolo João foi amigo pessoal de Cristo.

O  Apocalipse foi escrito por alguém que desde a juventude foi um ardoroso seguidor de Jesus. Seu nome era João, co­nhecido como o apóstolo do amor.
Seus dados biográficos, a exemplo de outras personalidades da igreja primitiva, aparecem esparsamente no Novo Testa­mento. Mateus o menciona apenas quatro vezes. Marcos, dez vezes e Lucas, sete. No quarto evangelho, de sua autoria, ele é mencionado como discípulo amado e co­mo um dos filhos de Zebedeu.
João era o mais jovem dos discípulos de Jesus. Alguns pensam que ele não era muito estimado pelos demais, em vista de seu ambicioso desejo de ocupar o primei­ro lugar no reino de Jesus. De fato, a cobi­ça, o amor à posição e à supremacia e a avidez por promoção pessoal (ver Mateus 10:35-37 e 41) eram graves defeitos em seu caráter. E não eram só estes. Jesus cha­mou a ele e a seu irmão Tiago de “filhos do trovão”. Eram geniosos, impetuosos de ressentimentos fáceis e propensos à vin­gança (Lucas 9:49-54).
Por trás desses graves defeitos, po­rém, Jesus visualizou em João um arden­te, sincero e amante coração. Embora muitas vezes repreendido, João apegava-se cada vez mais firmemente a Jesus, até que sua alma se juntou à dEle.Tornou-se o “discípulo a quem Jesus amava”, não porque Jesus não amasse os demais, mas porque ele mais efetivamente deixou-se dirigir por esse amor, a ponto de ter a vi­da totalmente transformada. Em seu co­ração a chama da lealdade e devoção ar­dente tornaram-no um dos mais destaca­dos apóstolos na igreja cristã. Entre Jesus e ele desenvolveu-se profunda amizade, mais forte do que em relação aos outros discípulos.
João absorveu tanto da Fonte, que al­guns estudiosos e comentaristas de seu Evangelho crêem que sua linguagem e estilo correspondem à linguagem e ao estilo de Jesus. Embora isso não seja pro­vável, é indiscutível que João nos apre­senta um quadro profundamente origi­nal e distintamente genuíno de Jesus. Ele percebeu que Cristo se encarnara para ser, unicamente Ele, uma perfeita revelação de Deus, em vista do íntimo e pleno conhecimento que tinha do Pai.
Este fato despertou no apóstolo o an­seio de adquirir um conhecimento de Seu Salvador tão íntimo e pleno quanto possível, e de se tornar assim uma autên­tica testemunha dEle. João conseguiu al­cançar este elevado ideal. Isso fica claro em sua vida como apóstolo e em seus escritos. No último livro da Bíblia, por exemplo, ele nos oferece uma revelação final e surpreendete de Jesus. De fato, ninguém foi capacitado a exaltar melhor a Cristo do que o apóstolo João, mesmo tendo os demais amado também a Jesus e anunciado com fervor as verdades concernentes a Ele.

João foi escolhido para cuidar
da mãe de Jesus.

Se João era um dos dois discípulos de João Batista mencionados em João 1:35, O seu primeiro encontro com Jesus teria ocorrido quando Batista proferiu pela se­gunda vez o clássico testemunho “eis o Cordeiro de Deus” (João 1:36). Esse teste­munho transformou os dois em discípu­los de Jesus. O conhecimento que João ti­nha de Jesus, porém, é possível que ante-cedia a esse momento, especialmente se considerado seu provável parentesco com o Salvador.
Uma comparação entre Mateus 27:56, Marcos 15:40 e João 19:25 parece indicar que a mãe de João se chamava Sa­lomé e que era irmã da mãe de Jesus. Es­te e João, portanto, eram primos. Essa li­nha de parentesco, somada à sua proxi­midade acentuada com Cristo, fez de João o mais indicado para cuidar da mãe de Jesus, após a crucifixão. Por isso o Sal­vador dirigiu-se a ele como o novo filho de Sua mãe (João 19:26 e 27). Outro inti­mo de Jesus, e também Seu primo, era Tiago, irmão dc João. Mas sem dúvida Je­sus sabia que não muitos anos depois Tiago seria martirizado (Atos 12:2). João, realmente, era a pessoa mais indicada pa­ra aquela nobre tarefa.
O testemunho do Batista, entretan­to, proporcionou um encontro mais pessoal e decisivo para que João se tor­nasse um seguidor de Jesus, inclusive de forma definitiva quando, mais tarde, jun­to ao mar da Galiléia, foi convidado pe­lo Mestre para que O seguisse (Mateus 4:21 e 22).
A exemplo de Pedro e Tiago, cedo João tornou-se discípulo íntimo de Jesus. Ele testemunhou a ressurreição da filha de Jairo (Marcos 5:37), a transfiguração (Mateus 17:1) e, mais de perto, a agonia do Getsêmani (Mateus 26:37). Esteve “aconchegado” a Jesus na hora da ceia e reclinou a cabeça em Seu peito (João 13:23-25). Do Getsêmani, acompanhou o Mestre até à sala do sumo-sacerdote, de quem era conhe­cido, e dali até ao Calvário onde permaneceu ate Jesus expirar e ser retirado da cruz (João 18:15).
Os episódios descritos ao pé da cruz (João 19:18-35) são tão vividos e reais que só uma testemunha ocular poderia narrá­los dessa forma.
Na manhã da ressurreição correu na companhia de Pedro, a fim de ver o sepulcro vazio (João 20:3-8). Em compa­nhia dos demais, viu o Salvador ressur­recto, inclusive logo após voltarem à pescaria (João 21:7 e 8). Nessa ocasião. um diálogo de Jesus com Pedro é con­cluído com a pergunta quanto ao desti­no de João. Jesus respondeu com uma declaração que, mal compreendida, le­vou os discípulos a imaginar que João permaneceria vivo até à segunda vinda do Mestre (verso 23).
Lucas registra a atuação de João na companhia de Pedro, na pregação do evangelho logo após o Pentecostes (Atos 3:1-11), ao ser aprisionado sob as ordens do Sinédrio (Atos 4), e na prega­ção em Samaria (8:14). Paulo afirma que ele era uma das colunas da Igreja apos­tólica (Gálatas 2:9).
Entre os apóstolos, João foi o que mais viveu, che­gando à idade avançada. Nessa época, por insti­gação dos ju­deus, foi aprisio­nado pelo impe­rador Domiciano que ordenou fosse ele atirado a um caldeirão de azeite fer­vente. Milagrosamente preservado por Deus, foi deportado pelo imperador a Ilha de Patmos, onde escreveu o Apoca­lipse. Domiciano reinou entre 81 e 96. Segundo a tradição, Nerva, sucessor de Domiciano, libertou o apóstolo. Em se­guida João voltou para Éfeso onde ter­minou o seu ministério e os seus dias. Como um dos lances finais do seu apostolado, João empenhou-se no com­bate às tendências gnósticas que pressionavam os cristãos na Ásia Menor sob a influência dos ensinos de um he­rege chamado Cerinto. De fato, uma clara resistência a estes ensinos pode ser sentida em seu Evangelho e nas epístolas. O Apocalipse se opõe indire­tamente aos mesmos ensinos.
Afirma-se que, estando João para mor­rer, perguntaram-lhe se tinha uma última mensagem a dar. ‘Amai-vos uns aos ou­tros’, teria dito, e em seguida expirado.
João é um vivido exemplo do que a graça de Deus pode fazer por um ho­mem possuidor de graves defeitos de ca­ráter, mas que a ela se entrega sem reser­vas. A educadora Ellen G. White afirma em seu comentário sobre a expansão ini­cial da igreja cristã, em Atos dos Apósto­los, págs. 557 e 559: “Quando o caráter do Ser divino lhe foi manifestado. João viu suas próprias deficiências, e foi feito humilde pela revelação. Dia a dia. em contraste com seu próprio espírito vio­lento, ele observava a ternura e longani­midade de Jesus e ouvia-Lhe as lições de humildade e paciência. Dia a dia seu co­ração era atraído para Cristo, até que per­deu de vista o próprio eu no amor pelo Mestre. O poder e a ternura, a majestade e brandura, o vigor e a paciência que en­xergava na vida diária do Filho de Deus, encheram-lhe a alma de admiração. Ele submeteu seu temperamento ambicioso e vingativo ao modelador poder de Cris­to, e o divino amor operou nele a trans­formação do caráter.”
Ele observava a ternura e a paciência do Mestre.

Uma transformação de caráter como a que se vê na vida de João é sempre o re­sultado da comunhão com Cristo. Pode
haver marcados defeitos na vida de um indivíduo. Contudo, quando ele se torna um verdadeiro discípulo de Cristo, o po­der da divina graça o transforma e santifi­ca. Contemplando como num espelho a glória do Senhor, é transformado de gló­ria em glória, até alcançar a semelhança dAquele a quem adora.
Ser semelhante a Cristo! Poderia haver experiência mais preciosa a ser des­frutada?

Sinais dos Tempos

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