Até mesmo quanto às heresias, "não há
nada novo debaixo do sol" (Ec 1.9). Os falsos ensinamentos que surgiram
dentro e em torno da igreja permanecem basicamente os mesmos.
Em vez de se voltar para a obra expiatória de Cristo,
muitos buscam salvar a si mesmos pela descoberta de algum conhecimento secreto.
Isso surgiu na igreja primitiva por meio de um conjunto de heresias chamado de
gnosticismo (gnosis é uma palavra grega que significa
"conhecimento"). Aparentemente, já existia uma forma de gnosticismo
antes da fundação da igreja. João desfechou um golpe contra esse falso
ensinamento, quando escreveu sua primeira carta. Contudo, essa doutrina ainda
continuou a exercer influência no século o.
Sabemos pouco sobre Ireneu, o homem
que se opôs ao gnosticismo na segunda metade do século n. Nasceu,
provavelmente, na Asia Menor, por volta do ano 125. Em virtude do intenso
comércio entre a Ásia Menor e a Gália, os cristãos puderam levar a fé àquela
região, onde foi estabelecida uma igreja vigorosa em sua cidade principal,
Lião.
Enquanto serviu como presbítero em Lião,
Ireneu viveu de acordo com seu nome, que significa "pacífico",
viajando até Roma para pedir indulgência aos montañistas da Ásia Menor. Durante
essa missão, a perseguição cresceu em Lião, e o bispo daquela cidade foi
martirizado.
Ireneu o sucedeu como bispo em seu lugar e descobriu que
o gnosticismo conseguira algumas conversões na Gália. Essa doutrina se espalhou
facilmente, porque os gnósticos usavam termos cristãos, embora tivessem
interpretações radicalmente diferentes dessas expressões. A fusão dos termos
cristãos com os conceitos da filosofia grega e das religiões asiáticas era
atraente aos que queriam acreditar que poderiam salvar a si mesmos, sem
depender da graça do Pai todo-poderoso.
Ireneu estudou as várias formas de
gnosticismo. Embora variassem grandemente, os ensinamentos mais comuns eram os
seguintes: o mundo físico é mau; o mundo foi criado e é governado por poderes
angelicais, e não por Deus; Deus está distante e não está realmente ligado a
este mundo; a salvação pode ser alcançada pelo aprendizado de alguns
ensinamentos secretos especiais. As pessoas espirituais — ou seja, os próprios
seguidores do gnosticismo — são superiores aos cristãos comuns. Os mestres do
gnosticismo sustentavam essas idéias valendo-se dos evangelhos gnósticos
— volumes
que normalmente tomavam emprestado o nome de um apóstolo e retratavam Jesus
Cristo ensinando doutrinas gnósticas.
Quando o bispo de Lião finalmente tomou conhecimento
dessa heresia, escreveu a obra denominada Contra as heresias, um enorme
trabalho no qual buscava revelar a tolice do "falso conhecimento".
Valendo-se tanto do Antigo Testamento quanto do Novo, Ireneu mostrou que o Deus
amoroso criou o mundo, que se corrompeu por causa do do pecado humano. Adão, o
primeiro homem inocente, tornou-se pecador ao ceder à tentação. Porém, sua
queda foi des-feita — rematada — pela obra do segundo homem inocente, Cristo, o
novo Adão. O corpo não é mau, e, no último dia, o corpo e a alma dos crentes
ressuscitarão; viverão para sempre com Deus.
Ireneu compreendia que o gnosticismo se
valia do desejo humano de conhecer algo que os outros não conheciam. Com
relação aos gnósticos, escreveu: "Tão logo um homem é convencido a aceitar
a forma da salvação deles [dos gnósticos], se torna tão orgulhoso com o
conceito e a importância de si mesmo, que passa a andar como se fosse um
pavão". Porém, os cristãos deveriam humildemente aceitar a graça de Deus,
e não se envolver em exercícios intelectuais que levavam à vaidade.
Durante toda a sua vida, Ireneu recordou com alegria o
fato de ter sido próximo de Policarpo, que conhecera pessoalmente o apóstolo
João. Desse modo, talvez não seja surpreendente o fato de Ireneu apelar para a
autoridade dos apóstolos, quando desaprovou as afirmações do gnosticismo. O
bispo destacou que os apóstolos ensinaram em público, e não guardaram segredo
sobre nenhum dos ensinamentos que receberam do Mestre. Por todo o império, as
igrejas concordavam sobre certos ensinamentos que vieram dos apóstolos de
Cristo e que apenas esses ensinamentos formavam os fundamentos de sua crença.
Ao declarar que os bispos, os sucessores dos apóstolos, eram os guardiães da fé,
Ireneu aumentou o respeito dispensado aos bispos.
Na obra Contra
as heresias, Ireneu apresentou o padrão para a teologia da
igreja: toda a verdade que precisamos está na Bíblia. Ele também provou ser o
maior teólogo desde o apóstolo Paulo. Suas
discussões amplamente divulgadas foram um golpe mortal para o
gnosticismo em sua época.
FONTE : OS 100 ACONTECIMENTOS MAIS IMPORTANTES DO CRISTIANISMO
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