Sacudidura
Um novo remanescente?
Como Deus vai administrar a crise final da Igreja
É
necessário um novo remanescente? Algumas pessoas acham que sim, argumentando
que a História revela ter sido precisamente o fracasso dos que foram originalmente chamados que provocou
a necessidade do remanescente.
A Israel foram feitas, sob condições, promessas de que
ele permaneceria como povo escolhido. Ao fracassar, Deus suscitou a Igreja
Cristã. Quando esta se tornou corrompida em doutrinas e práticas, Ele levantou
os reformadores para se separarem e formarem o corpo protestante. Então, estes
também falharam em avançar na luz que lhes foi concedida, e o Senhor suscitou o
movimento adventista com uma missão especial para o fim da História. O modelo é
consistente:
até
aqui os fiéis saíram do remanescente apostatado para constituírem um novo
remanescente.
Quer isso dizer que o ciclo de chamado, apostasia e novo
chamado continua aberto indefinidamente?
E precisamente aqui que o cenário do fim impõe uma nova
dinâmica. Obviamente, esse ciclo deve ser quebrado em algum ponto; do contrário,
por causa da natureza humana, ele ocorreria constantemente sem qualquer
resolução final. Notemos que o fracasso de Israel ou da própria Igreja não
tomou Deus de surpresa. A antecipação divina já fizera provisão para a tragédia
da apostasia, tanto de Israel, da Igreja cristã, como da própria reforma
protestante. Contudo, não existe qualquer provisão profética para um novo
remanescente em substituição ao movimento adventista. Isso é evidente no
Apocalipse (capítulos 3 e 12). Sete igrejas, e não mais, simbolizam a
trajetória da Igreja através da Era Cristã. Laodicéia, a Igreja morna, o povo
do juízo, com todos os seus defeitos e fraquezas, fecha o circulo. Qualquer
outra conclusão significa estar em descompasso com o tambor da revelação.
Então, como tratará Deus com os problemas da Igreja, se
não há provisão profética para um remanescente do remanescente? Para embaraço
dos oponentes, Deus introduz aqui uma nova estratégia. O Senhor claramente
delineou como Ele há de administrar a crise final da Igreja, mas Sua agenda,
devemos entender, não inclui a probabilidade de um novo movimento
separando-se dela. No passado, como foi visto, o chamado foi para que os fiéis
se separassem do corpo apostatado. Mas esse processo
— repetimos
— não poderia continuar indefinidamente. Nas cenas finais da História, ao
contrário das reformas tradicionais, são os infiéis, não os fiéis, que deixarão
a Igreja. A sacudidura tomará o lugar do clássico chamado para sair. Esses
dois métodos de separação devem ser claramente diferenciados e entendidos.
Método
divino — “Haverá uma sacudidura da
peneira. No devido tempo, a palha precisa ser separada do trigo. Por se
multiplicar a iniquidade, o amor de muitos está esfriando. Este é precisamente
o tempo em que o genuíno será o mais forte.”’ Haverá uma separação de nós por
parte daqueles que não apreciaram a luz nem caminharam nela.
Qual o resultado final desse peneiramento? A palha, representando
os infiéis e insinceros que presentemente são encontrados na Igreja, será
separada do trigo, símbolo dos cristãos genuínos. O grupo classificado como
“morno” (Apoc. 3:15 e 16), para constrangimento da Igreja, presente hoje em
Laodicéia, há então de desaparecer para sempre, quer identificando-se com o
“quente”, ou assumindo o grupo dos “frios”. A polarização é inevitável, e não
poderia ser diferente!
Como um ato de sabotagem, o inimigo traz o joio para
dentro da Igreja (Mat. 13:24-30, 36-43). “Enquanto o Senhor traz para a Igreja
aqueles que são verdadeiramente conversos, Satanás, ao mesmo tempo, traz
pessoas que não são verdadeiramente convertidas para a sua [da Igreja]
comunhão.”2 Contudo, como Ellen
White indica, esse estado de coisas há de sofrer uma alteração radical: “A
sacudidura deve em breve acontecer para purificar a igreja.”3
Quem são os que deixarão a Igreja, sob a ação da
sacudidura, identificados dc forma geral sob as figuras do “joio’; “palha” e
“mornos”? Ellen White, em seus vários escritos sugere uma ampla identificação:
“os auto-enganados’; “os descuidados e indiferentes’; “os ambiciosos e
egoístas’; “os que se recusam a sacrificar’; “os orientados pelo mundanismo”;
“os que transigem e comprometem a verdade”; “os desobedientes”; “os invejosos
e críticos’ “os fuxiqueíros, os que acusam e condenam”; “a classe conservadora
superficial’; “os que não controlam o apetite’; “aqueles que promovem a
desunião’; “os estudantes superficiais da Bíblia’; “aqueles que perderam a fé
no dom profético”.
Aqui, dois fatos são evidentes:
primeiro,
a ampla variedade do catálogo; e, segundo, todas as categorias estão hoje
representadas na Igreja.
Ellen White estabelece ainda uma clara convergência entre
esses dois aspectos, observando que, “ao aproximar-se a tempestade, uma
classe numerosa que tem professado fé na mensagem do terceiro anjo, mas não
tem sido santificada pela obediência à verdade, abandona sua posição, passando
para as fileiras do adversário” 5
Novamente, a ênfase é colocada no fato de que são os
infiéis que abandonarão a Igreja: “Logo o povo de Deus será testado por
severas provações e uma grande proporção daqueles que agora parecem ser
genuínos e verdadeiros, provar-se-á metal inútil. Em lugar de serem
fortalecidos e confirmados pela oposição, ameaças e abusos, eles,
covardemente, tornarão o Lado dos oponentes. ... Permanecer em defesa da
verdade e da justiça —quando a maioria nos há de abandonar — para lutar as
batalhas do Senhor, quando os campeões serão poucos, esse será o nosso teste.
Neste tempo devemos tirar calor da frieza de outros, coragem da covardia
deles, e lealdade de sua traição.” 6
A purificação da Igreja virá no tempo indicado, ruas não
através das reformas e reformulações inventadas e promulgadas pelos
dissidentes. A Igreja será purificada afinal, mas o movimento será precisamente
o inverso daquilo que aconteceu ao Longo dos desdobramentos da História. Sairão
os insinceros, enquanto os fiéis permanecerão na comunhão da Igreja. E
exatamente por isso, não há provisão divina para um novo remanescente.
Aqueles que hoje buscam pureza eclesiástica através da critica e da acusação,
e finalmente se afastam do corpo remanescente de Cristo, cometem um colossal
erro de cálculo.
Enquanto aguardamos a resolução final da História e a
purificação da Igreja, devemos lembrar-nos de que
“Deus
não deu a nenhum dos Seus servos a obra de punir aqueles que não dão ouvidos às
Suas advertências e reprovações. Quando o Espírito Santo habita no coração,
Ele guiará o agente humano a ver os seus próprios defeitos de caráter, a ter
piedade das fraquezas dos outros, a perdoar como ele deseja ser perdoado.
Será misericordioso, cortês e semelhante a Cristo’7
Vitória
assegurada — O caráter não é construído nas crises, mas é revelado
por elas. Os frutos continuam sendo o grande teste da natureza da árvore e,
certamente, se o Senhor não pode mudar nosso caráter, dificilmente Ele poderá
mudar nosso destino final. Cada dia, nossa submissão ou rebelião à voz do
Espírito está definindo as formas de nossa construção eterna. Ninguém precisa
ser enganado pelas aparências. “Quando homens se levantam, pretendendo ter uma
mensagem de Deus, mas em vez de combaterem contra os principados e potestades,
e os príncipes das trevas deste mundo, eles formam um falso esquadrão, virando
as armas de guerra contra a igreja militante, tende medo deles. Não possuem
as credenciais divinas. Deus não lhes deu tal responsabilidade no trabalho.”8
Falhará a Igreja? Independente de como os críticos e
analistas do negativismo percebam a condição do remanescente de Deus, o
Senhor está no controle. Fracasso de nossa parte em crer neste fato nos levará
ao desencorajamento ou ao sentimento de que necessitamos “fazer justiça” com
as nossas mãos. Essas, porém, são tentações que devem ser resistidas. “A Igreja
pode parecer quase a cair, mas ela não cairá. Ela permanece, ao passo que os
pecadores de Sião serão lançados fora no joeiramento — a palha separada do
trigo precioso. Este é um transe terrível, não obstante importa que tenha
lugar.”9
O remanescente de
Deus não fracassará, mesmo quando as aparências sugerem outra conclusão.
Podemos afirmar tal convicção porque ela está ancorada em quatro fatos fundamentais:
primeiro, Cristo é o cabeça da Igreja. Isso, evidentemente, não nos coloca além
da possibilidade de fracasso individual. Segundo, não há qualquer provisão
profética para um remanescente do remanescente. Tal certeza, entretanto, não
deveria levar-nos a qualquer orgulho denominacional, acomodação ou falsa
segurança na prática do pecado. Ao contrário, deve conduzir-nos à crescente submissão
ao Senhor da Igreja. Terceiro, as vitórias da igreja, através das crises de sua
história, crises e pressões que em sua violência e poder de ataque pareceram
insuperáveis, dão-nos segurança de que as crises futuras serão administradas
pela eficiência dAquele que não pode falhar.
Finalmente, o quadro profético do Apocalipse quanto à
Igreja dos últimos dias, é esboçado em termos de vitória (Apoc. 14:1-5; 7:9,
10, 13-17). Não há nada incerto ou duvidoso quanto ao triunfo final da Igreja,
ao enfrentar o mar tormentoso dos últimos eventos.
Segundo a tradição ligada ao Titanic, o navio
considerado insubmergível pelo seu capitão, E. J. Smith, mas que fatalmente desceu
para o seu mergulho sem retorno nas águas gélidas do Atlântico Norte, na
madrugada de 15 de abril de 1912, no domingo seguinte à tragédia, na cidade
de Southampton, de onde o navio havia saído alguns dias antes, e onde viviam
muitas das vítimas daquele naufrágio, um pregador americano convidado para uma
campanha evangelística, pregou um poderoso sermão sob o título “O navio que
não pode afundar’
O sermão,
evidentemente, não era unia referência ao Titanic, mas a uma Outra embarcação,
de 1900 anos antes, também seriamente ameaçada pelas águas, cruzando o mar da
Galiléia (Mat. 8:23-27). O único navio que não pode afundar, concluiu o pregador
com extraordinário senso de propriedade, é aquele em que Cristo está presente.
Essa é a única segurança da Igreja ao enfrentar a procela do mar aberto, nos
instantes finais de sua jornada. Nossa garantia não se encontra na habilidade
ou na perfeição dos homens, na suficiência ou na fortaleza da “embarcação’;
mas na presença e autoridade dAquele a quem “os ventos e o mar obedecem” (v.
27).
Referencias:
1. EIIen G. Wh4e. Eee,,to~ Ç7na,~, p~g. 149.
2. EII~n C. IM,ite. Spiritsd Gifts. vol, 2, p4~. 284.
3. __________ . Cwta 46, 1887, pág. 6.
4. Ver Testjmo,,ies, vol.
4. ~ 31, 89, 90 e 232; sol. 5, pãgs.
81. 211.
212
e 463; sol. 1, págs. 182, 187, 251 e 288; Pdmekos
Escritos, pa~3. 50
e
269; lhe Upemrd Look, p~g. 122: Revie,.’ and Heraíd, 08/06/1901;
losteas,,,i,os Pan, Miniatros. pág. II?; Mensagens
Escolhidas. sol. 3, p~g.
84.
5. EIIen G. Wliite, O
Groflde Conflito, pág. 608.
6. Sev~nth-doyAdso~,/isi Ribis Commentary, sol.
2, pág. 1.038.
7. EIlon G.
White. Tesbmon,es for lhe Church, sol. 5, p~g. 136.
6.
____________ Testemunhos Pesa Miaoi-os,
págs 22 e 23.
9. ____ ... Mensagens
Escohiib,s, sol.?, pág. 380
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