O
maior livro profético da Bíblia, o Apocalipse, foi escrito para orientar, estimular
e fortalecer a igreja em todos os séculos. De fato, desde que fundada por
Jesus, ela se viu em meio às tormentas e enganos de um mundo hostil e ameaçador,
inimigo do bem e de quantos se colocam do lado de Deus e de Sua vontade,
Cristo advertiu Seus seguidores a que não se iludissem com a idéia de que não
enfrentariam dificuldades no trajeto para o Céu. O evangelho da prosperidade,
pregado por algumas igrejas atuais, não condiz com as claras afirmações
bíblicas, de que os “que querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão
perseguidos” (II Timóteo 3:12), e de que “através de muitas tribulações, nos
importa entrar no reino de Deus” (Atos 14:22).
Já consideramos que Satanás, o
rebelde inimigo de Deus e Seu povo, empregou dois recursos básicos na
tentativa de destruir a igreja: a perseguição, motivada pelo preconceito e
intolerância do mundo, e a disseminação do engano que forçaria entrada nos
domínios do cristianismo (ver a edição de agosto de 1998). E foi exatamente
nesse contexto duplo de artifício satânico que o Apocalipse emergiu. O ano era
95 aD. quando a igreja enfrentava dois tipos de ameaça, uma interna, a adoção
de conceitos pervertidos, e outra externa, a perseguição por parte do mundo.
Naturalmente entendemos que a primeira, sutil e por isso
perigosa, sempre resultou em maior dano espiritual. Vamos considerá-la
primeiro.
AMEAÇA INTERNA
No fim do 1o. século, uma filosofia religiosa
conhecida como gnosticismo era difundida em todo o Império Romano. Sustentando
múltipla expressão de pensamento e prática, o gnosticismo era uma ameaça para
a pureza doutrínária da fé cristã, com respeito principalmente à pessoa do
Salvador, à natureza da Criação divina, à natureza do ser humano, e à forma
como este poderia ser redimido.
Muitos na igreja se sentiam atraídos por conjecturas que
ofereciam uma lisonjeira perspectiva de superação dos obstáculos à posse plena
da vida autêntica disponível apenas àqueles que obtivessem o conhecimento dos
mistérios divinos. Tal conhecimento, identificado como gnosis, era supostamente outorgado é claro, àqueles que adotavam o
gnosticismo. O cumprimento de certos rituais de iniciação conferia ao candidato
o título de inystes, o que outorgava
a obtenção progressiva de um conhecimento que, acreditava-se, o libertaria e
lhe daria uma condição superior de vida. Naturalmente as verdades do Evangelho
eram distorcidas, e o pecador era acalentado num ilusório e fatal sentimento
de segurança.
Por esse tempo, alguns mestres cristãos
deixavam transparecer suas tendências gnósticas. O gnosticismo tornara-se
agora uma ameaça interna real. Entre esses mestres, destacava-se um certo
judeu cristão do Egito, formado em Alexandria, e que habilmente conseguiu
revestir os ideais gnósticos com uma roupagem cristã. Chamava-se Cerinto e seus
ensinos conspiravam contra a estabilidade da igreja na Ásia Menor, particularmente em Éfeso, o domicilio do
apóstolo João em seus derradeiros anos.
O que Cerinto ensinava? Como gnóstico, ele considerava
que a matéria é essencialmente má. Deus não poderia ter criado o mundo
diretamente, pois este é matéria, e Deus não Se relaciona com algo essencialmente
mau. Deus, portanto, usara intermediários para criar. Um desses seria Cristo,
que não deveria ser confundido com
Jesus, o vulto histórico que vivem na Palestina, e que, embora extraordinário,
em um homem comum, filho natural de José e Maria. Cristo, entretanto, era
espiritual, celestial e divino, Jesus e Cristo, portanto, eram pessoas
distintas. Cristo se juntara a Jesus por ocasião do batismo, mas O abandonara
pouco antes da cruz. Assim, a morte de Jesus não assumia qualquer valor salvíflco.
Ele fora apenas mais um mártir entre outros.
Cerinto também ensinava uma escatologia antibíblica.
Para o gnosticismo, a salvação começava para quem se apoderasse da gnosis. Tal aquisição contribuía para a
libertação da alma, prisioneira que era de coisas ligadas à matéria. Todavia,
a libertação plena e definitiva ocorria na morte. Para o gnóstico, o corpo era
um cárcere, e quanto mais cedo a alma se livrasse dele, melhor. Portanto, a
teoria da imortalidade da alma é de origem greco-pagã, e não é parte do
cristianismo original.
FORÇA EXTERNA
Em seu Evangelho e na primeira epístola, João combate
frontalmente a dicotomia herética de Cerinto (tanto no homem corno em JESUS) e
outros enganos gnósticos. E no Apocalipse ele não deixa por menos. Já na
abertura, João afirma que a revelação divina, o único meio de se obter a
verdadeira gnosis, é feita por Jesus
Cristo (Apocalipse 1:1). Os dois termos indicam que apenas uma pessoa é
pretendida. A designação completa, Jesus Cristo, aparece mais duas vezes
neste capítulo, nos versos 2 e 5, o último contendo a declaração de que Ele é
o ‘Primogênito dos mortos”, ou seja, Cristo positivamente morreu e ressuscitou.
João não poderia ser mais claro. Além do mais, este mesmo Jesus Cristo em
seguida apareceu em visão e lhe disse: “Estive morto, mas eis que estou vivo
pelos séculos dos séculos” (verso 18).
Também observamos que, em termos de literalidade, é o
Filho da mulher que é arrebatado para o trono de Deus, segundo Apocalipse 12:5,
e que o sacrifício de Jesus é de fato salvífico, pois garante ao homem o
triunfo sobre Satanás (verso 11). Esse sacrifício é também condição indispensável
para que se torne efetiva a revelação sem a qual, repetimos, não é possível
nenhum correto conhecimento de Deus (Apocalipse 5:5 e 9). Finalmente, é esse sacrifício
que nos coloca no reino eterno (Apocalipse 7:14-17 e 22:14).A posse da vida
autêntica, portanto, não ocorre nas condições do gnosticismo, mas pela fé e
pelo conhecimento de Jesus Cristo.
Que a matéria não é essencialmente má, ao contrário de
como entendia Cerinto, e que Deus é o direto criador dela, se conclui nas
palavras de Apocalipse 4:11. Além disso, Deus recriará o mundo após colocar um
ponto final na história do pedado (capítulos 20 a 22). E com isto, João
contradiz a escatologia gnóstica com uma grandiosa descrição dos verdadeiros
eventos finais: Deus extirpará o pecado e trará de volta, então mais
plenamente, o mundo perfeito e imaculado de antes. E João contesta o engano
gnóstico da imortalidade da alma reafirmando que os crentes mortos tomarão
posse da vida eterna exclusivamente através da ressurreição quando Jesus voltar
(20:6).
E assim, justamente quando conceitos falsos ameaçavam a
unidade da fé e da esperança na igreja, Deus fez o Apocalipse emergir. O fim do
1o. século estava chegando. Por algum tempo a igreja esperara o
retorno de seu Senhor, e Ele não viera. O gnostícismo acenava com as glórias da
salvação para aquele momento mediante a posse da gnosis, e com a perspectiva da ida para o Céu logo após a morte.
Cristo então retornaria para quê?
A igreja, portanto, carecia uma vez mais do amparo da
verdade para o fortalecimento da esperança do advento como algo plenamente
genuíno e necessario. A isto o Apocalipse se prestou de forma singular.
Hoje vivemos o fim não do primeiro mas do último século.
Cristo ainda não retornou e igualmente somos bombardeados com todo tipo de
idéias, todas tentando se impor como verdadeiras. Que fazer? Nossa única
alternativa segura é voltar a atenção ao que a Bíblia diz. Particularmente o
Apocalipse revela o que está para acontecer. Simplesmente não precisamos ser
enganados.
Sinais dos Tempos
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