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domingo, 2 de março de 2014

APOCALIPSE DÁ SEGURANÇA

 




O maior livro profético da Bíblia, o Apocalipse, foi escrito para orientar, esti­mular e fortalecer a igreja em todos os séculos. De fato, desde que fundada por Jesus, ela se viu em meio às tormentas e enganos de um mundo hostil e ameaça­dor, inimigo do bem e de quantos se co­locam do lado de Deus e de Sua vontade, Cristo advertiu Seus seguidores a que não se iludissem com a idéia de que não enfrentariam dificuldades no trajeto para o Céu. O evangelho da prosperidade, pregado por algumas igrejas atuais, não condiz com as claras afirmações bíblicas, de que os “que querem viver piedosa­mente em Cristo Jesus serão perseguidos” (II Timóteo 3:12), e de que “através de muitas tribulações, nos importa en­trar no reino de Deus” (Atos 14:22).
Já consideramos que Satanás, o rebel­de inimigo de Deus e Seu povo, empre­gou dois recursos básicos na tentativa de destruir a igreja: a perseguição, moti­vada pelo preconceito e intolerância do mundo, e a disseminação do engano que forçaria entrada nos domínios do cristianismo (ver a edição de agosto de 1998). E foi exatamente nesse contexto duplo de artifício satânico que o Apoca­lipse emergiu. O ano era 95 aD. quando a igreja enfrentava dois tipos de amea­ça, uma interna, a adoção de conceitos pervertidos, e outra externa, a persegui­ção por parte do mundo.
Naturalmente entendemos que a pri­meira, sutil e por isso perigosa, sempre re­sultou em maior dano espiritual. Vamos considerá-la primeiro.

AMEAÇA INTERNA

No fim do 1o. século, uma filosofia religiosa conhecida como gnosticismo era difundida em todo o Império Ro­mano. Sustentando múltipla expressão de pensamento e prática, o gnosticis­mo era uma ameaça para a pureza dou­trínária da fé cristã, com respeito prin­cipalmente à pessoa do Salvador, à na­tureza da Criação divina, à natureza do ser humano, e à forma como este po­deria ser redimido.
Muitos na igreja se sentiam atraídos por conjecturas que ofereciam uma li­sonjeira perspectiva de superação dos obstáculos à posse plena da vida autên­tica disponível apenas àqueles que obti­vessem o conhecimento dos mistérios divinos. Tal conhecimento, identificado como gnosis, era supostamente outorga­do é claro, àqueles que adotavam o gnosticismo. O cumprimento de certos rituais de iniciação conferia ao candida­to o título de inystes, o que outorgava a obtenção progressiva de um conheci­mento que, acreditava-se, o libertaria e lhe daria uma condição superior de vi­da. Naturalmente as verdades do Evange­lho eram distorcidas, e o pecador era acalentado num ilusório e fatal senti­mento de segurança.
    Por esse tempo, alguns mestres cris­tãos deixavam transparecer suas tendên­cias gnósticas. O gnosticismo tornara-se agora uma ameaça interna real. Entre es­ses mestres, destacava-se um certo judeu cristão do Egito, formado em Alexandria, e que habilmente conseguiu revestir os ideais gnósticos com uma roupagem cristã. Chamava-se Cerinto e seus ensinos conspiravam contra a estabilidade da igre­ja na Ásia Menor,  particularmente em Éfe­so, o domicilio do apóstolo João em seus derradeiros anos.
O que Cerinto ensinava? Como gnóstico, ele considerava que a matéria é essencialmente má. Deus não poderia ter criado o mundo diretamente, pois este é matéria, e Deus não Se relaciona com algo essencialmente mau. Deus, portanto, usara interme­diários para criar. Um desses seria Cristo, que  não deveria ser confundido com Jesus, o vulto histórico que vivem na Palestina, e que, embora ex­traordinário, em um homem co­mum, filho natural de José e Ma­ria. Cristo, entretanto, era espiri­tual, celestial e divino, Jesus e Cristo, portan­to, eram pessoas distintas. Cristo se juntara a Jesus por ocasião do batismo, mas O abando­nara pouco antes da cruz. Assim, a morte de Jesus não assumia qualquer valor salvíflco. Ele fora apenas mais um mártir entre outros.
Cerinto também ensinava uma esca­tologia antibíblica. Para o gnosticismo, a salvação começava para quem se apo­derasse da gnosis. Tal aquisição contri­buía para a libertação da alma, prisio­neira que era de coisas ligadas à maté­ria. Todavia, a libertação plena e defini­tiva ocorria na morte. Para o gnóstico, o corpo era um cárcere, e quanto mais cedo a alma se livrasse dele, melhor. Portanto, a teoria da imortalidade da al­ma é de origem greco-pagã, e não é par­te do cristianismo original.

FORÇA EXTERNA

Em seu Evangelho e na primeira epístola, João combate frontalmente a dicotomia herética de Cerinto (tanto no homem corno em JESUS) e outros enganos gnósticos. E no Apocalipse ele não deixa por menos. Já na abertura, João afirma que a revelação divina, o único meio de se obter a verdadeira gnosis, é feita por Jesus Cristo (Apoca­lipse 1:1). Os dois termos indicam que apenas uma pessoa é pretendida. A de­signação completa, Jesus Cristo, apare­ce mais duas vezes neste capítulo, nos versos 2 e 5, o último contendo a de­claração de que Ele é o ‘Primogênito dos mortos”, ou seja, Cristo positivamente morreu e ressuscitou. João não poderia ser mais claro. Além do mais, este mesmo Jesus Cristo em seguida apareceu em visão e lhe disse: “Estive morto, mas eis que estou vivo pelos sé­culos dos séculos” (verso 18).
Também observamos que, em termos de literalidade, é o Filho da mulher que é arrebatado para o trono de Deus, segundo Apocalipse 12:5, e que o sacrifício de Je­sus é de fato salvífico, pois garante ao ho­mem o triunfo sobre Satanás (verso 11). Esse sacrifício é também condição indis­pensável para que se torne efetiva a reve­lação sem a qual, repetimos, não é possível nenhum correto conhecimento de Deus (Apocalipse 5:5 e 9). Finalmente, é esse sa­crifício que nos coloca no reino eterno (Apocalipse 7:14-17 e 22:14).A posse da vida autêntica, portanto, não ocorre nas condições do gnosticismo, mas pela fé e pelo conhecimento de Jesus Cristo.
Que a matéria não é essencialmente má, ao contrário de como entendia Ce­rinto, e que Deus é o direto criador dela, se conclui nas palavras de Apocalip­se 4:11. Além disso, Deus recriará o mundo após colocar um ponto final na história do pedado (capítulos 20 a 22). E com isto, João contradiz a escatologia gnóstica com uma grandiosa descrição dos verdadeiros eventos finais: Deus ex­tirpará o pecado e trará de volta, então mais plenamente, o mundo perfeito e imaculado de antes. E João contesta o engano gnóstico da imortalidade da al­ma reafirmando que os crentes mortos tomarão posse da vida eterna exclusivamente através da ressurreição quando Jesus voltar (20:6).
E assim, justamente quan­do conceitos falsos ameaça­vam a unidade da fé e da esperança na igreja, Deus fez o Apocalipse emergir. O fim do 1o. século estava chegando. Por algum tempo a igreja esperara o retorno de seu Senhor, e Ele não viera. O gnostícismo acenava com as glórias da salvação para aquele momento mediante a posse da gnosis, e com a perspectiva da ida para o Céu lo­go após a morte. Cristo então retornaria para quê?
A igreja, portanto, carecia uma vez mais do amparo da verdade para o for­talecimento da esperança do advento como algo plenamente genuíno e ne­cessario. A isto o Apocalipse se pres­tou de forma singular.
Hoje vivemos o fim não do primeiro mas do último século. Cristo ainda não retornou e igualmente somos bombar­deados com todo tipo de idéias, todas tentando se impor como verdadeiras. Que fazer? Nossa única alternativa segu­ra é voltar a atenção ao que a Bíblia diz. Particularmente o Apocalipse revela o que está para acontecer. Simplesmente não precisamos ser enganados.

Sinais dos Tempos

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