Depois que o cristianismo foi aceito no governo de
Constantino, foi difícil distinguir entre os que seguiam a Cristo, pois essa
era a atitude mais popular a ser adotada, e os que tinham fé verdadeira. O
resultado foi que muitos cristãos zelosos buscaram se separar das massas,
afastando-se delas.
Eremitas como Antão tornaram-se famosos por suas façanhas de
au-tonegação. Viviam sem comida e sem dormir para buscar a santidade. Ficavam
em pé por horas enquanto oravam e chegaram até mesmo a viver no topo de
pilares. Os que haviam se cansado da igreja, que fazia muitas concessões e
estava carregada de pecado, sentiram atração pelo comportamento bizarro que
parecia provar a dedicação dos eremitas a Deus.
Por volta do ano 320, Pacômio deu origem ao monasticismo
comunal. Ciente de que a tendência rumo à autonegação poderia sair do controle
e até mesmo degenerar em uma disputa espiritual, Pacômio se esforçou para regulamentar
o estilo de vida asceta, permitindo a vida simples de autonegação que tivesse
limites. Outros, como Basilio, o Grande (330-379), e os cristãos irlandeses,
também fundaram comunidades monásticas.
Porém, Bento de Núrsia se tornou a verdadeira força por trás
do monas-ticismo europeu. Ele nasceu em uma família italiana de classe alta e,
ainda jovem, foi estudar em Roma. Contudo, a cidade que tinha a reputação de
ser uma das mais cristãs do mundo era considerada por ele imoral e frivola.
Aborrecido com esse fato, Bento partiu e se tornou eremita.
Adquiriu grande reputação porsua espiritualidade, a ponto de
famílias trazerem seus filhos para que fossem treinados por ele na vida cristã.
Com bastante relutância, o eremita concordou em se tornar abade. Quando se
mostrou austero disciplinador, porém, o entusiasmo que as pessoas tinham por
Bento arrefeceu. Um monge chegou até mesmo a tentar envenená-lo. Temendo por
sua vida, Bento se escondeu em uma caverna e, depois, deixou a região. Contudo,
seus problemas ensinaram uma importante lição: a disciplina é boa, mas expõe a
fragilidade da natureza humana.
Por volta do ano 529, Bento se mudou para o monte
Cassino onde demoliu um templo pagão que ainda estava em uso, para construir um
mosteiro no lugar.
Se Bento apenas tivesse dado um monasterio para a
igreja, provavelmente não seria tão lembrado. A regra que ele escreveu para
governar aquele mosteiro foi, de longe, muito mais importante que o edifício.
Bento concebeu o mosteiro como uma comunidade au-tocontrolada e auto-sustentada
que tinha seus campos e oficinas. Ele queria criar uma "fortaleza
espiritual" para assegurar que os monges não precisassem ir a qualquer
outro lugar para satisfazer as necessidades da vida. Dentro do confinamento da
comunidade, os monges teciam as próprias roupas, plantavam a própria comida e
faziam sua própria mobília. Vagar fora do perímetro do mosteiro era considerado
grande perigo espiritual.
Como Bento já vira antes, alguns dos pretensos monges
tinham um comprometimento muito fraco. Assim, criou noviciado de um ano, um
tempo no qual o monge poderia decidir se era realmente o que queria. Somente
depois desse período de testes é que ele faria os três votos que o desligariam
completamente do mundo. O voto de pobreza exigia que ele entregasse todos
os seus bens pessoais à comunidade; o voto de castidade o levava a
renunciar a todos os relacionamentos sexuais; o voto de obediência era
promessa de obedecer sempre aos líderes do mosteiro.
A adoração desempenhava papel muito grande na vida
monástica. A Região de São Bento prescrevia sete cultos por dia,
incluindo-se um culto de vigília que acontecia às duas horas da manhã,
considerado muito importante. Cada culto tinha cerca de vinte minutos e
consistia praticamente da recitação de salmos.
Além da adoração pública, os monges tomavam parte em devoções
pessoais: leitura da Bíblia, meditação e oração. Embora muitos acusassem as
comunidades monásticas de se afastarem do mundo, os monges sempre oravam por
quem estava fora de seus muros.
"O ócio é o inimigo da alma", declarava a Regra.
Assim, todos os monges tinham de tomar parte no trabalho manual, incluindo
a preparação de alimentos.
Embora essa vida de trabalho, oração e adoração possa parecer
tediosa, foi uma tentativa de criar uma vida ordeira sem ir a extremos.
Bento também tentou disponibilizar a vida santa aos seres
humanos comuns. Em sua regra, escreveu: "Se parecemos muito severos, não
se assuste e não saia correndo. A entrada para o caminho da salvação deve ser
estreita. Contudo, conforme você progride na vida da fé, o coração se expande e
anda mais rápido com a doçura do amor por todas as veredas dos mandamentos de
Deus".
Vivendo em uma era cruel e instável, o monasticismo
beneditino forneceu refúgio aos que eram sensíveis à religião. Embora a Europa
Ocidental tivesse se tornado nominalmente cristã, a maior parte da população
ainda tinha comportamento pagão. Bento ofereceu uma vida calma, nobre e cheia
de propósitos que não estava disponível fora do claustro. Muitas pessoas podem
não simpatizar com esse afastamento, mas é certamente compreensível por que
muitos buscavam a paz em meio a um mundo vulgar.
Bento deu ao monasticismo um lugar permanente na Europa
ocidental — para o bem ou para o mal. Sua Regra orienta comunidades
monásticas há vários séculos e ainda está em vigência atualmente.
FONTE : OS 100 ACONTECIMENTOS MAIS IMPORTANTES DO CRISTIANISMO
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