Cumprimento da lei
I.
introdução
A.
"Não vim para revogar, vim
para cumprir."
1.
Fora Cristo que, por entre
trovões e relâmpagos, proclamara a lei no monte Sinai. A glória de Deus, qual
fogo devorador, repousara no cimo do monte, e este tremera ante a presença do Senhor.
O povo de Israel, prostrado em terra, havia escutado em temor os sagrados
preceitos da lei.
2.
Que contraste com a cena
sobre o monte das bem-aventuranças! Sob um firmamento estival, sem som algum a
quebrar o silêncio senão o cântico dos pássaros, Jesus desenvolveu os
princípios de Seu reino. Todavia Aquele, que naquele dia falava ao povo em
acentos de amor, estava-lhes desvendando os princípios da lei proclamada no
Sinai.
B.
no Sinai, um deus de amor
1.
Ao ser dada a lei, Israel,
degradado pela servidão no Egito, necessitara ser impressionado com o poder e a
majestade de Deus; no entanto, Ele não menos Se lhes revelou como um Deus de
amor.
"O Senhor veio de Sinai
E lhes subiu de Seir;
Resplandeceu desde o monte
Parã
E veio com dez milhares de
santos;
À Sua direita havia para
eles o fogo da lei.
Na verdade, amas os povos;
Todos os Seus santos estão
na Tua mão;
Postos serão no meio, entre
os Teus pés,
Cada um receberá das Tuas
palavras." Deut. 33:2 e 3.
2.
Foi a Moisés que Deus
revelou Sua glória naquelas admiráveis palavras que têm sido a acariciada
herança dos séculos: "Jeová, o Senhor, Deus misericordioso e piedoso,
tardio em iras e grande em beneficência e verdade; que guarda a beneficência em
milhares; que perdoa a iniqüidade, e a transgressão, e o pecado." Êxo.
34:6 e 7.
3.
A lei dada no Sinai era a
enunciação do princípio do amor, a revelação, feita à Terra, da lei do Céu. Foi
ordenada pela mão de um Mediador - proferida por Aquele por cujo poder o
coração dos homens podia ser posto em harmonia com os seus princípios. Deus
revelara o desígnio da lei, quando declarara a Israel: "Ser-Me-eis homens
santos." Êxo. 22:31.
II. israel não compreendeu o caráter da lei
A.
os rabis ensinavam a
formalidade da lei
1.
Mas Israel não percebera a
natureza espiritual da lei, e com demasiada freqüência sua professada
obediência não passava de uma observância de formas e cerimônias, em vez de ser
uma entrega do coração à soberania do amor.
2.
Quando Jesus, em Seu
caráter e Sua obra, apresentava aos homens os santos, generosos e paternais
atributos de Deus, e lhes mostrava a inutilidade de meras formas cerimoniais de
obediência, os guias judaicos não recebiam nem compreendiam Suas palavras.
3.
Achavam que Ele Se demorava
muito ligeiramente nas exigências da lei; e quando lhes expunha as próprias verdades
que constituíam a alma do serviço que lhes era divinamente indicado, eles,
olhando apenas ao exterior, acusavam-nO de buscar derribá-la.
B.
Jesus ensinava a
espiritualidade da lei
1.
As palavras de Cristo,
conquanto proferidas com serenidade, eram ditas com uma sinceridade e poder que
moviam o coração do povo. Em vão apuravam o ouvido à espera de uma repetição
das mortas tradições e rigores dos rabis. Eles se admiravam "da Sua
doutrina, porquanto os ensinava como tendo autoridade e não como os escribas".
Mat. 7:28 e 29.
2.
Os fariseus notavam a vasta
diferença entre sua maneira de instruir e a de Cristo. Viam que a majestade, a
pureza e beleza da verdade, com sua profunda e branda influência, estavam
tomando posse de muitos espíritos. O divino amor do Salvador, Sua ternura, para
Ele atraíam os homens.
3.
Os rabis viam que, por Seus
ensinos, era reduzido a nada todo o teor das instruções por eles ministradas ao
povo. Ele estava destruindo a parede divisória que tão lisonjeira era ao seu
orgulho e exclusivismo; e temiam que, caso isso fosse permitido, deles
afastasse inteiramente o povo.
4.
Seguiam-nO, portanto, com
decidida hostilidade, esperando encontrar ocasião para fazê-Lo cair no
desagrado das multidões, habilitando assim o Sinédrio a conseguir Sua
condenação à morte.
5.
No monte, Jesus estava de
perto sendo observado por espias; e, ao desdobrar Ele os princípios da justiça,
os fariseus fizeram com que se murmurasse que Seus ensinos estavam em oposição
aos preceitos que Deus dera no Sinai.
III. Jesus e a lei
A.
jesus é a fonte da lei
1.
O Salvador nada dissera
para abalar a fé na religião e nas instituições que haviam sido dadas por
intermédio de Moisés; pois todo raio de luz que o grande guia de Israel
comunicara a seu povo fora recebido de Cristo.
2.
Conquanto muitos digam em
seu coração que Ele viera para anular a lei, Jesus com inequívoca linguagem
revela Sua atitude para com os estatutos divinos. "Não cuideis que vim
destruir a lei ou os profetas." Mat. 5:17.
3.
É o Criador dos homens, o
Doador da lei, que declara não ser Seu desígnio pôr à margem os seus preceitos.
Tudo na Natureza, desde a minúscula partícula de pó no raio de sol até os
mundos; nas alturas, encontra-se debaixo de leis. E da obediência a essas leis
dependem a ordem e a harmonia do mundo natural.
4.
Assim, há grandes
princípios de justiça a reger a vida de todo ser inteligente, e da conformidade
com esses princípios depende o bem-estar do Universo.
B.
a lei é eterna
1.
Antes que a Terra fosse
chamada à existência, já existia a lei de Deus. Os anjos são governados por Seus
princípios, e para que a Terra esteja em harmonia com o Céu, também o homem
deve obedecer aos divinos estatutos.
2.
No Éden, Cristo deu a
conhecer ao homem os preceitos da lei "quando as estrelas da alva juntas
alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus rejubilavam". Jó 38:7. A
missão de Cristo na Terra não era destruir a lei, mas, por Sua graça, levar
novamente o homem à obediência de Seus preceitos.
3.
O discípulo amado, que
escutou as palavras de Jesus no monte, escrevendo muito depois sob a inspiração
do Espírito Santo, fala da lei como de uma perpétua obrigação. Diz ele que o
"pecado é o quebrantamento da lei", e que "todo aquele, que
comete pecado, quebra também a lei". I João 3:4, Trad. Trinitariana. Ele
torna claro que a lei a que se refere é "o mandamento antigo, que desde o
princípio tivestes". I João 2:7. Ele fala da lei que existia na criação, e
foi reiterada no Monte Sinai.
4.
Falando da lei, Jesus
disse: "Não vim para revogar, vim para cumprir." Mat. 5:17. Ele
emprega aqui a palavra "cumprir" no mesmo sentido em que a usou
quando declarou a João Batista Seu desígnio de "cumprir toda a
justiça" (Mat. 3:15); isto é, atender plenamente à exigência da lei, dar
um exemplo de perfeita conformidade com a vontade de Deus.
C.
Jesus exaltou a lei
1.
Sua missão era engrandecer
a lei, e a tornar ilustre (ou gloriosa). (Isa. 42:21, Trad. Trinitariana.) Ele
devia mostrar a natureza espiritual da lei, apresentar seus princípios de vasto
alcance, e tornar clara sua eterna obrigatoriedade.
2.
A divina beleza de caráter
de Cristo, de quem o mais nobre e mais suave entre os homens não é senão um
pálido reflexo;
a)
de quem Salomão, pelo
Espírito de inspiração escreveu: "Ele traz a bandeira entre dez mil. ...
Sim, Ele é totalmente desejável" (Cant. 5:10 e 16);
b)
de quem Davi, vendo-O em profética visão,
disse: "Tu és mais formoso do que os filhos dos homens" (Sal. 45:2);
3.
Jesus, a expressa imagem da
pessoa do Pai, o resplendor de Sua glória, o abnegado Redentor, através de Sua
peregrinação de amor na Terra, foi uma viva representação do caráter da lei de
Deus.
4.
Em Sua vida se manifesta
que o amor de origem celeste, os princípios cristãos, fundamenta as leis de
retidão eterna.
IV. Jesus não aboliu a lei
A.
cristo diz que a lei é imutável
1.
"Até que o céu e a
Terra passem", disse Jesus, "nem um jota ou um til se omitirá da lei
sem que tudo seja cumprido." Mat. 5:18. Por Sua própria obediência à lei;
Cristo testificou do caráter imutável da mesma, e provou que, por meio de Sua
graça, ela podia ser perfeitamente obedecida por todo filho e filha de Adão.
2.
Ele declarou no monte que
nem o pequenino jota seria omitido da lei até que tudo se cumprisse - tudo
quanto diz respeito à raça humana, tudo quanto se relaciona com o plano da
redenção. Ele não ensina que a lei deva ser anulada, mas fixa o olhar no mais
remoto horizonte humano, e assegura-nos de que até que esse ponto seja
atingido, a lei conservará sua autoridade, de modo que ninguém julgue que Sua
missão era abolir os preceitos da lei.
3.
Enquanto o céu e a Terra
durarem, os santos princípios da santa lei de Deus permanecerão. Sua justiça,
"como as grandes montanhas" (Sal. 36:6), continuará fonte de bênção,
difundindo torrentes para refrigerar a Terra.
4.
Visto a lei do Senhor ser
perfeita, e portanto imutável, é impossível aos homens pecadores satisfazer,
por si mesmos, a norma de sua exigência. Foi por isso que Jesus veio como nosso
Redentor. Era Sua missão, mediante o tornar os homens participantes da natureza
divina, pô-los em harmonia com os princípios da lei celestial.
5.
Quando abandonamos nossos
pecados, e recebemos a Cristo como nosso Salvador, a lei é exaltada. Pergunta o
apóstolo Paulo: "Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma! Antes,
estabelecemos a lei." Rom. 3:31.
B.
cristo escreve a lei no coração
1.
A promessa do novo concerto
é: "Porei as Minhas leis em seu coração e as escreverei em seus
entendimentos." Heb. 10:16. Conquanto o sistema de símbolos que apontava
para Cristo como o Cordeiro de Deus que devia tirar o pecado do mundo havia de
passar com Sua morte, os princípios de justiça contidos no Decálogo são tão
imutáveis como o trono eterno.
2.
Nenhum mandamento foi
anulado, nem um jota ou um til foi mudado. Os princípios que foram dados a
conhecer ao homem no Paraíso como a grande lei da vida, existirão, imutáveis,
no Paraíso restaurado. Quando o Éden volver a florir na Terra, a lei divina do
amor será obedecida por todos debaixo do Sol.
3.
"Para sempre, ó
Senhor, a Tua palavra permanece no Céu." Sal. 119:89. "São... fiéis,
todos os Seus mandamentos. Permanecem firmes para todo o sempre; são feitos em
verdade e retidão." Sal. 111:7 e 8. "Acerca dos Teus testemunhos eu
soube, desde a antiguidade, que Tu os fundaste para sempre." Sal. 119:152.
4.
"Qualquer, ... que
violar um destes menores mandamentos e assim ensinar aos homens será chamado o
menor no reino dos Céus." Mat. 5:19.
5.
Isto é, não terá lugar ali.
Pois aquele que voluntariamente violar um mandamento, não observa, em espírito
e verdade, a nenhum deles. "Qualquer que guardar toda a lei e tropeçar em
um só ponto tornou-se culpado de todos." Tia. 2:10.
6.
Não é a grandeza do ato de
desobediência que constitui o pecado mas a discordância com a vontade expressa
de Deus no mínimo particular; pois isto mostra que ainda existe comunhão entre
a alma e o pecado. O coração está dividido em seu serviço. Há uma virtual
negação de Deus, uma rebelião contra as leis de Seu governo.
V. conclusão
1.
Fossem os homens livres
para se apartar das reivindicações do Senhor e estabelecer uma norma de dever
para si mesmos, e haveria uma variação de normas para se adaptarem aos vários
espíritos, e o governo seria tirado das mãos de Deus. A vontade do homem se
tornaria suprema, e o alto e santo querer de Deus - Seu desígnio de amor para
com Suas criaturas - seria desonrado, desrespeitado.
2.
Sempre que os homens
preferem seus próprios caminhos, põem-se em conflito com Deus. Eles não terão
lugar no reino do Céu, pois se encontram em guerra com os próprios princípios
do mesmo. Desconsiderando a vontade de Deus, estão-se colocando ao lado de
Satanás, o inimigo do homem.
3.
Não por uma palavra, nem
muitas palavras, mas por toda palavra que sai da boca de Deus viverá o homem.
Não podemos desatender uma palavra, por mais insignificante que nos pareça, e
estar seguros. Não há um mandamento da lei que não se destine ao bem e à
felicidade do homem, tanto nesta vida como na futura.
4.
Na obediência à lei de
Deus, o homem se acha circundado como por um muro, e protegido do mal. Aquele
que, em um só ponto que seja, derruba essa barreira divinamente erigida,
destruiu-lhe o poder para o guardar; pois abriu um caminho pelo qual o inimigo
pode entrar, para estragar e arruinar.
5.
Arriscando-se a desprezar a
vontade de Deus em um ponto, abriram nossos primeiros pais as comportas da
miséria sobre o mundo. E todo indivíduo que segue o seu exemplo ceifará idênticos
resultados. O amor de Deus fundamenta cada preceito de Sua lei, e aquele que se
afasta do mandamento está operando sua própria infelicidade e ruína.
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