O SERMÃO DO MONTE - A ESPIRITUALIDADE DA LEI
Espiritualidade da
lei
1.
"Se a vossa justiça
não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos
Céus." Mat. 5:20.
2.
Os escribas e fariseus
tinham acusado não somente Cristo, mas também Seus discípulos por sua
desconsideração para com os ritos e observâncias rabínicos. Muitas vezes tinham
sido os discípulos deixados perplexos e perturbados pela censura e a acusação
daqueles a quem tinham sido habituados a reverenciar como mestres religiosos.
3.
Jesus revelou o engano.
Declarou que a justiça a que os fariseus davam tão grande valor, nada valia. A
nação judaica pretendia ser o povo peculiar, leal, favorecido por Deus; mas
Cristo apresentava sua religião como vazia de salvadora fé. Todas as suas
pretensões de piedade, suas invenções e cerimônias humanas, e mesmo o
cumprimento das exigências exteriores da lei, não os podiam tornar santos. Não
eram puros de coração ou nobres e semelhantes a Cristo no caráter.
4.
Uma religião legal é
insuficiente para pôr a alma em harmonia com Deus. A dura, rígida ortodoxia dos
fariseus, destituída de contrição, ternura ou amor, era apenas uma pedra de
tropeço aos pecadores. Eles eram como o sal que se tornara insípido; pois sua
influência não tinha poder algum para preservar o mundo da corrupção. A única
fé verdadeira é aquela que "atua pelo amor" (Gál. 5:6), para
purificar a alma. É como o fermento que transforma o caráter.
5.
Tudo isto deviam os judeus
ter aprendido dos ensinos dos profetas. Séculos antes, o grito da alma pedindo
justificação com Deus encontrara expressão e resposta nas palavras do profeta
Miquéias: "Com que me apresentarei ao Senhor e me inclinarei ante o Deus
altíssimo? Virei perante Ele com holocaustos, com bezerros de um ano?
Agradar-Se-á o Senhor de milhares de carneiros? De dez mil ribeiros de azeite?
... Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor pede de ti,
senão que pratiques a justiça, e ames a beneficência, e andes humildemente com
o teu Deus?" Miq. 6:6-8.
6.
O profeta Oséias indicara o
que constitui a própria essência do farisaísmo, nas palavras: "Israel é
uma videira estéril; dá fruto para si mesmo." Osé. 10:1, Trad.
Trinitariana.
7.
Em seu professo serviço a
Deus, os judeus estavam na verdade trabalhando para o próprio eu. Sua justiça
era o fruto de seus próprios esforços para guardar a lei, segundo suas próprias
idéias, e para seu benefício pessoal, egoísta. Daí o não poder ser ela melhor
do que eles mesmos. Em seu esforço por se tornarem santos, procuravam tirar uma
coisa pura de outra imunda.
8.
A lei de Deus é santa como
Ele próprio é santo, perfeita como Ele é perfeito. Ela apresenta aos homens a
justiça de Deus. Impossível é ao homem, de si mesmo, guardar essa lei; pois a
natureza do homem é depravada, deformada, e inteiramente diversa do caráter de
Deus. As obras do coração egoísta são como coisa imunda; e "todas as
nossas justiças, como trapo da imundícia". Isa. 64:6.
9.
Embora a lei seja santa, os
judeus não podiam atingir a justiça por seus próprios esforços para guardar a
lei. Os discípulos de Cristo precisam alcançar a justiça de um caráter diverso daquela
dos fariseus, se querem entrar no reino do Céu. Em Seu Filho, Deus lhes
oferecia a perfeita justiça da lei.
10.Caso
abrissem plenamente o coração para receber a Cristo, a própria vida de Deus,
Seu amor, habitaria então neles, transformando-os à Sua própria semelhança; e
assim, mediante o dom gratuito de Deus, haviam de possuir a justiça exigida
pela lei. Mas os fariseus rejeitavam a Cristo; "não conhecendo a justiça
de Deus e procurando estabelecer a sua própria justiça" (Rom. 10:3), não
se submeteram à justiça divina.
11.Jesus
Se pôs a mostrar a Seus ouvintes o que significa observar os mandamentos de
Deus - que isso é uma reprodução, neles próprios, do caráter de Cristo. Pois
nEle Se manifestava Deus diariamente aos olhos deles.
12."Todo
aquele que... se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento." Mat.
5:22.
13.O
Senhor dissera por intermédio de Moisés: "Não aborrecerás a teu irmão no
teu coração. ... Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu
povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo." Lev. 19:17 e 18. As
verdades apresentadas por Cristo eram as mesmas que haviam sido ensinadas pelos
profetas, mas haviam-se tornado obscuras através da dureza de coração e o amor
do pecado.
14.As
palavras do Salvador revelaram a Seus ouvintes que, ao passo que eles estavam
condenando outros como transgressores, eram eles próprios igualmente culpados;
pois acariciavam malícia e ódio.
15.De
outro lado do mar, defronte do lugar em que se achavam reunidos, ficava a terra
de Basã, uma região deserta, cujas selváticas gargantas e montes cobertos de
vegetação, haviam sido desde há muito um terreno favorito de esconderijos para
criminosos de toda espécie.
16.Estavam
vívidas na memória do povo notícias de roubos e assassínios ali cometidos, e
muitos eram zelosos em acusar esses malfeitores. Ao mesmo tempo, eles próprios
eram apaixonados e contenciosos; nutriam o mais terrível ódio contra seus
opressores romanos, e sentiam-se em liberdade de odiar e desprezar todos os
outros povos, e mesmo seus próprios patrícios que não concordavam em tudo com
as suas idéias. Em tudo isto, violavam eles a lei que declara: "Não
matarás." Êxo. 20:13.
17.O
espírito de ódio e de vingança originou-se com Satanás; e isto o levou a fazer
matar o Filho de Deus. Quem quer que acaricie a malícia ou a falta de bondade,
está nutrindo o mesmo espírito; e seus frutos são para a morte. No pensamento
de vingança jaz encoberta a má ação, da mesma maneira que a árvore está na
semente. "Qualquer que aborrece a seu irmão é homicida. E vós sabeis que
nenhum homicida tem permanecente nele a vida eterna." I João 3:15.
18."Qualquer
que chamar a seu irmão de Raca [indivíduo vão] será réu do Sinédrio." Mat.
5:22. No dom de Seu Filho para nossa redenção, Deus mostrou quão alto valor dá
Ele a toda alma humana, e não dá direito a homem algum de falar
desprezivelmente de outro. Veremos faltas e fraquezas nos que nos rodeiam, mas
Deus reivindica toda alma como Sua propriedade - Sua pela criação, e duplamente
Sua como comprada com o precioso sangue de Cristo. Todos foram criados à Sua
imagem, e mesmo os mais degradados devem ser tratados com respeito e ternura.
Deus nos considerará responsáveis mesmo por uma palavra proferida em desprezo a
respeito de uma alma por quem Cristo depôs a vida.
19."Pois
quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o
recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido?" I Cor.
4:7. "Quem és tu que julgas o servo alheio? Para seu próprio senhor ele
está em pé ou cai." Rom. 14:4.
20."Quem
lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno de fogo." Mat. 5:22. No Antigo
Testamento a palavra aí traduzida por "tolo" é usada para designar um
apóstata, ou uma pessoa que se entregou à impiedade. Jesus diz que quem quer
que condene seu irmão como apóstata ou desprezador de Deus, mostra ser ele
mesmo digno da mesma condenação.
21.O
próprio Cristo, quando contendia com Satanás acerca do corpo de Moisés,
"não ousou pronunciar juízo de maldição contra ele". Jud. 9. Houvesse
Ele feito isso, e ter-Se-ia colocado no terreno de Satanás; pois a acusação é a
arma do maligno. Ele é chamado na Escritura "o acusador de nossos
irmãos". Apoc. 12:10. Jesus não empregaria nenhuma das armas de Satanás.
Ele o enfrentou com as palavras: "O Senhor te repreenda." Jud. 9.
22.Temos o
Seu exemplo. Quando postos em conflito com os inimigos de Cristo, nada devemos
dizer em um espírito de represália, ou que tenha sequer a aparência de um juízo
de maldição. Aquele que ocupa o lugar de porta-voz de Deus não deve proferir
palavras que nem a Majestade do Céu empregaria quando contendendo com Satanás.
Devemos deixar com Deus a obra de julgar e condenar.
23."Vai
reconciliar-te primeiro com teu irmão." Mat. 5:24.
24.O amor
de Deus é qualquer coisa mais que simples negação; é um princípio positivo e
ativo, uma fonte viva, brotando sempre para beneficiar os outros. Se o amor de
Cristo habita em nós, não somente não nutriremos nenhum ódio contra nossos
semelhantes, mas buscaremos por todos os modos manifestar-lhes amor.
25.Jesus
disse: "Se trouxeres a tua oferta ao altar e aí te lembrares de que teu
irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai
reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem, e apresenta a tua
oferta." Mat. 5:23 e 24. A oferta sacrifical exprimia fé em que, mediante
Cristo, o ofertante se havia tornado participante da misericórdia e do amor de
Deus. Mas, que uma pessoa exprimisse fé no amor perdoador de Deus, enquanto,
por sua vez, condescendia com um espírito de desamor, seria simplesmente uma
farsa.
26.Quando uma
pessoa que professa servir a Deus ofende ou injuria a um irmão, representa mal
o caráter de Deus diante daquele irmão e, a fim de estar em harmonia com Deus,
a ofensa deve ser confessada, ele deve reconhecer que isto é pecado. Talvez
nosso irmão nos tenha feito um maior agravo do que nós a ele, mas isto não
diminui a nossa responsabilidade. Se, ao chegarmos à presença de Deus, nos
lembramos de que outro tem qualquer coisa contra nós, cumpre-nos deixar a nossa
oferta de oração, ou de ações de graças, ou a oferta voluntária, e ir ter com o
irmão com quem estamos em desinteligência, confessando em humildade nosso
próprio pecado e pedindo para ser perdoado.
27.Se, de
alguma maneira, prejudicamos ou causamos dano a nosso irmão, devemos fazer
restituição. Se, sem saber, demos a seu respeito falso testemunho, se lhe
desfiguramos as palavras, se, por qualquer maneira, lhe prejudicamos a
influência, devemos ir ter com as pessoas com quem conversamos a seu respeito,
e retirar todas as nossas errôneas e ofensivas informações.
28.Se as
dificuldades existentes entre irmãos não fossem expostas a outros, mas
francamente tratadas entre eles mesmos, no espírito do amor cristão, quanto mal
seria evitado! Quantas raízes de amargura pelas quais muitos são contaminados
seriam destruídas, e quão íntima e ternamente poderiam os seguidores de Cristo
ser unidos em Seu amor!
29. “Qualquer
que atentar numa mulher para a cobiçar já em seu coração cometeu adultério com
ela." Mat. 5:28.
30.Os
judeus orgulhavam-se de sua moralidade, e olhavam com horror às práticas
sensuais dos pagãos.
31.A
presença dos oficiais romanos que o governo imperial trouxera à Palestina, era
um contínuo escândalo para o povo; com esses estrangeiros, viera uma inundação
de costumes pagãos, concupiscência e desregramento.
32.Em Cafarnaum,
os oficiais romanos, com suas alegres amantes, freqüentavam os logradouros
públicos e os passeios, e muitas vezes os sons da orgia quebravam o silêncio do
lago, ao singrarem as águas tranqüilas seus barcos de prazer.
33.O povo
esperava ouvir de Jesus uma severa acusação a essa classe; mas qual não foi seu
espanto ao escutarem palavras que punham a descoberto o mal de seus próprios
corações!
34.Quando
o pensamento do mal é amado e nutrido, embora secretamente, disse Jesus, isso
mostra que o pecado ainda reina no coração. A alma ainda se acha em fel de
amargura e em laço de iniqüidade. Aquele que encontra prazer em demorar-se em
cenas de impureza, que condescende com o mau pensamento, com o olhar
concupiscente, pode ver no pecado aberto, com seu fardo de vergonha e esmagador
desgosto - a verdadeira natureza do mal por ele escondido nas câmaras da alma.
35.O
período de tentação sob a qual, talvez, uma pessoa caia em um pecado ofensivo,
não cria o mal revelado, mas apenas desenvolve ou torna manifesto aquilo que
estava oculto e latente no coração. Um homem é tal quais são os seus
pensamentos (Prov. 23:7); porque de seu coração "procedem as saídas da
vida". Prov. 4:23.
36.
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