Brian Neumann
Minha peregrinação espiritual do rock para a Rocha dos
Séculos é uma história dolorosa de vício, autodestruição e redenção.
Meus pais eram missionários adventistas do sétimo dia.
Portanto, pareceria quase um absurdo que seu filho mais moço, criado no coração
da África, mergulhasse no mundo do rock.
Todavia, isso aconteceu. Não súbita, mas gradualmente.
Teve início quando, em companhia de alguns amigos, passei a ouvir certas
músicas. Um cântico levou a outro e finalmente meus talentos naturais para a
música e a arte foram canalizados para o sonho irreal e psicodélico do rock.
Acabei sendo fisgado. O poder, as vestes, a fama e a presença mundial da
revolução do rock cativaram-me. Logo me vi separado do mundo espiritual e da fé
de meus pais. Uma nova era, uma nova cultura, tinham-se apoderado de minha
vida, como ocorrera com a vida de tantos outros.
Logo passei para um estado permanente de rebelião. Nas
palavras de um pop star do rock, David Crosby, “imaginei que a única coisa a
fazer era roubar seus meninos... Ao dizer isso, não estou falando de
seqüestrar, mas de mudar o sistema de valores, que os remove muito efetivamente
do mundo de seus pais”.1
O rock afastou-me efetivamente do mundo de meus pais.
Enquanto ainda adolescente, fugi do internato e de casa, fui preso por uso de
drogas e prática de roubo, além de envolver-me em lutas corporais com colegas e
professores.
Meu sonho era aprender a tocar violão, coisa que fiz a
toda pressa a fim de conquistar o “mundo deslumbrante de sexo, drogas, moda e
rock’n’roll”. Eu sabia que o rock era exatamente isso. O próprio empresário dos
Rolling Stones havia dito inequivocamente: “Rock é sexo. Você precisa impressionar
os adolescentes com isso!”2
O rock e a cultura popular apregoavam ao meu
subconsciente que não havia nada de errado com sexo pré-conjugal. O resultado
tornou-se evidente em 1980, um ano após terminar o ginásio. Tornei-me, então,
pai de uma criança.
Entrando em cena
Despontei no cenário musical local. A banda de que
fazia parte chamava-se Primeira Página e se apresentava na televisão;
nossa música era também tocada em algumas estações de rádio. Contatos com um
produtor musical logo acrescentaram avanços à minha carreira. Tornei-me bom
amigo de Manlio Celloti, dos estúdios HI-Z, que logo formou um grupo de três
membros. Depois de gravar durante um ano em estúdios, estávamos prontos para
viajar para além-mar.
Após três meses de estada na Alemanha, nossa banda de
pop e rock, O Respeito, firmou contrato com a Discos Polydor, de
Hamburgo. A gravadora lançou nosso disco Ela é Tão Mística em setembro
de 1986. Esse lançamento abriu novas portas. A banda foi convidada a fazer
parte de uma coleção alemã de LPs, com artistas do calibre de Janet Jac-kson e
Elton John.
A vida se tornou uma miragem constante de programas,
sessões de estúdio, entrevistas, mulheres, drogas e mais drogas. A essa altura,
minha condição moral tinha-se deteriorado a tal ponto que nenhum tipo de vício
me era estranho. Nesse meio tempo, o sucesso de nossas gravações produziram
desavenças entre os membros da banda, e finalmente nos separamos.
Um dia depois de uma maratona de estúdio e uma orgia
de drogas, acordei com o rosto no chão de um banheiro frio, na casa de uma
vocalista de Hamburgo. Estava me afogando em meu próprio vômito, lutando pela
vida. Contudo, achava-me bastante consciente para invocar o Deus de minha
juventude, a quem eu havia esquecido há muito.
Ele, porém, não me tinha olvidado ou abandonado. Algo
miraculoso ocorreu naquele dia. Meus rumos haviam provocado uma reviravolta
importante, mas esse foi apenas o começo de uma viagem tortuosa, durante a qual
experimentei muitas recaídas no rock, antes de libertar-me desse vício infame.
A volta à sanidade
Retornei à África do Sul resolvido a livrar-me de meu
passado pecaminoso e iniciar uma nova vida. Decidi seguir o exemplo dos Músicos
Cristãos Contemporâneos, usando meu talento na execução de versões modificadas
de rock como meio de testemunhar.
Logo reconheci que não havia diferença significativa
entre o rock secular e sua versão “cristã”, independentemente da letra. Música
cristã contemporânea que se conforma com os critérios básicos do rock não pode
ser usada legitimamente como música de igreja. A razão é simples: o impacto do
rock ocorre pela música e não pela letra.
Esse pendor pelo rock através de seu “primo cristão”
resultou em nova queda. Comecei a fazer concessões à espécie de música que eu
tocava. O compromisso era fácil porque tudo o que eu tinha a fazer era mudar a
letra. O estilo musical permanecia o mesmo. Retornei gradualmente à escuridão
total e retomei rapidamente minha trajetória roqueira em Cape Town.
Numa de minhas apresentações ao vivo conheci Sue, que
haveria de se tornar uma parte muito importante em minha vida. Sue e eu
assistimos a seminários de profecia realizados em nossa cidade. Como resultado,
fomos batizados na Igreja Adventista. A verdade recém-encontrada satisfazia nossas
convicções. Contudo, três meses mais tarde estávamos fora da igreja. O rock
ainda estava em minha alma. Antes que me desse conta, eu estava mais uma vez
deslizando para o mundo da música popular.
Então formei minha própria banda, que recebeu o nome
de Projeto Caim, um nome apropriado para meu desalento espiritual. Eu
estava ocupado gravando com o pianista Duncan Mckay, da famosa banda “10 CC”,
quando fui chamado até Port Elizabeth, mil quilômetros ao norte de Cape Town. O
contrato requeria um programa de três meses. Fui contratado como solista,
trabalhando seis noites por semana numa das boates mais famosas da cidade.
Port Elizabeth tornou-se a etapa final de minha
peregrinação. Aluguei uma casa perto de uma praia isolada. Como trabalhava de
noite, tinha tempo durante o dia para passear ao longo da praia e refletir
sobre tudo que se passara em minha vida durante os últimos anos. Senti o
Espírito Santo falar-me como nunca antes. Examinei os recessos mais íntimos de
minha mente confusa. Às vezes as verdades ocultas de minha alma ferida eram
duras demais de se enfrentar. Mergulhei em angústia e vergonha, e permiti que
as lágrimas de arrependimento umedecessem as manchas de meus pecados. Por vezes
sentia a admoestação e o consolo do Espírito, trazendo cura espiritual à minha
vida.
A porta da aceitação de Deus parecia aberta.
Ousadamente entrei por ela, deixando atrás meu passado escuro. Ao voltar para
casa, em junho de 1994, Sue e eu tomamos a decisão de que, pela graça de Deus,
não haveria mais retorno ao mundo do rock. Cortei toda ligação com ele. Seis
meses mais tarde nos casamos e desde então temos dedicado nossas vidas a um
ministério especial em favor daqueles que buscam escapar do poder hipnótico do
rock.
Como fazer decisões enérgicas em
relação à música
1. Decida sobre o que constitui boa
música, na base de informação concreta e não sob pressão de colegas. Você não
terá de sacrificar seu gosto pessoal ou preferências especiais. Elas
simplesmente devem tornar-se santificadas e refinadas.
2. Considere suas novas escolhas
musicais como sendo uma aventura, um processo de descoberta. Tome tempo para
definir e refinar seu gosto. Você descobrirá que aquilo que considerava a
única opção em música era apenas uma pequena fração da boa música disponível.
3. Escute cuidadosamente as palavras
para determinar se são ou não boas do ponto de vista espiritual. Embora haja
distinção entre a música e a letra que usamos para os cultos e as outras
dedicadas ao entretenimento pessoal, o conceito básico de escolher aquilo que
é puro e enobrecedor permanece o mesmo (ver Filipenses 4:8)
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FONTE: Brian Neumann reside na África do Sul. Ele tem
dirigido seminários sobre apreciação musical na África, Europa e América do
Norte. Seu e-mail: neusue@lando.co.za A história completa da peregrinação
musical de Neumann faz parte do livro The Christian and Rock Music, Samuele
Bacchiocchi, ed. (Berrien Springs, Michigan:
Biblical Perspectives, 2000). Endereço: 4990 Appian Way; Berrien Springs,
Michigan 40104; EUA. E-mail: bacchiocchi@qtm.net
Notas e referências:
1. Peter Herbst, The
Rolling Stone Interviews (Rolling Stones Press, 1981).
2. Time (April 28, 1967), p. 53.
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