SERMÃO DA MONTANHA - O SER E O PARECER
1.
A Verdadeira Motivação
2.
"Guardai-vos de
exercer a vossa justiça diante dos homens, com o fim de serdes vistos por
eles." Mat. 6:1.
3.
As palavras de Cristo no
monte eram uma expressão daquilo que fora o mudo ensino de Sua vida, mas que o
povo deixara de compreender. Eles não entendiam como, tendo tão grande poder,
Ele não buscava empregá-lo em garantir-Se aquilo que reputavam o maior bem. Seu
espírito, motivos e métodos eram opostos aos de Jesus. Conquanto pretendessem
ser muito zelosos da honra da lei, sua própria glória era o verdadeiro objetivo
que buscavam; e Cristo queria tornar-lhes isto manifesto que o amante de si
mesmo é um transgressor da lei.
4.
Os princípios nutridos
pelos fariseus, porém, são os que formam os característicos da humanidade em
todos os séculos. O espírito de farisaísmo é o espírito da natureza humana; e,
quando o Salvador mostrou o contraste entre Seu próprio espírito e métodos e os
dos rabis, Seu ensino se aplicava igualmente ao povo de todos os tempos.
5.
Nos dias de Cristo os
fariseus procuravam continuamente conseguir o favor do Céu a fim de obter honra
e prosperidade mundanas, as quais consideravam como sendo a recompensa da
virtude. Ostentavam ao mesmo tempo seus atos de caridade diante do povo com o
intuito de atrair-lhes a atenção, e adquirir reputação de santidade.
6.
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7.
Jesus lhes censurou a
ostentação, dizendo que Deus não reconhece um serviço como esse, e que a
lisonja e a admiração do povo, as quais tão ansiosamente buscavam, seriam a
única recompensa que haviam de ter.
8.
"Quando tu deres
esmola", disse Ele, "não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua
direita, para que a tua esmola seja dada ocultamente, e teu Pai, que vê em
secreto, te recompensará publicamente." Mat. 6:3 e 4.
9.
Com essas palavras Jesus
não ensinou que os atos de bondade devem ser sempre conservados em segredo.
Paulo, o apóstolo, escrevendo inspirado pelo Espírito Santo, não oculta o
generoso sacrifício dos cristãos macedônios, mas fala da graça por Cristo neles
operada, de maneira que outros foram possuídos do mesmo espírito. Ele também
escreveu à igreja de Corinto, dizendo: "Vosso zelo tem estimulado
muitos." II Cor. 9:2.
10.As
próprias palavras de Cristo esclarecem Sua intenção - que nos atos de caridade
o objetivo não deve ser atrair louvor e honra dos homens. A verdadeira piedade
nunca promove um esforço para ostentação. Os que desejam palavras de elogio e
lisonja, delas se nutrindo como de um bocado delicioso, são cristãos apenas de
nome.
11.Por
meio de suas boas obras devem os seguidores de Cristo trazer glória, não para
si mesmos, mas para Aquele mediante cuja graça e poder eles operaram. É por
meio do Espírito Santo que toda boa obra é efetuada, e o Espírito é dado para
glorificar, não o recebedor, mas o Doador. Quando a luz de Cristo brilha na
alma, os lábios se encherão de louvor e ação de graças a Deus. Vossas orações,
o cumprimento de vossos deveres, vossa beneficência, vossa abnegação, não serão
o tema de
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13.vossos
pensamentos ou conversação. Jesus será engrandecido, o eu oculto, e Cristo
aparecerá como tudo em todos.
14.Cumpre-nos
dar em sinceridade, não para fazer ostentação de nossas boas ações, mas por
piedade e amor para com os sofredores. A sinceridade de desígnio, a verdadeira
bondade de coração, eis o motivo a que o Céu dá valor. A alma sincera em seu amor,
que põe todo o coração em sua devoção, Deus considera mais preciosa que as
barras de ouro de Ofir.
15.Não
devemos pensar na recompensa, mas no serviço; todavia a bondade manifestada
nesse espírito não deixará de ter o seu galardão. "Teu Pai, que vê em secreto,
te recompensará publicamente." Mat. 6:4. Conquanto seja verdade que Deus
mesmo é o nosso grande Galardão, que abrange todos os outros, a alma só O
recebe e frui à medida que se Lhe assemelha no caráter. Unicamente os
semelhantes se podem apreciar. É à medida que nos entregamos a Deus para o
serviço da humanidade, que Ele Se nos dá.
16.Ninguém
pode dar em seu coração e vida lugar para a corrente da bênção de Deus fluir em
direção a outros, sem que receba em si mesmo uma preciosa recompensa. As
encostas de montanhas e as planícies que oferecem caminho às correntes
montesinas para chegarem ao mar, nenhum prejuízo sofrem com isso. O que dão
lhes é centuplicadamente retribuído. Pois a corrente que passa cantando em sua
marcha, deixa após si dádivas de verduras e de frutas. A relva a sua margem tem
mais vivo verdor, as árvores mais opulência de cores, as flores são mais
abundantes. Quando o solo jaz despido e escuro sob o ressecante calor do Sol,
uma linha verdejante indica o curso do
17.Pág. 82
18.rio; e
a planície que abre o seio para conduzir o tesouro da montanha ao mar,
encontra-se viçosa e revestida de beleza - testemunha da recompensa que a graça
de Deus comunica a todos os que se entregam como condutos a fim de ela poder
fluir ao mundo.
19.Tal é a
bênção daqueles que mostram misericórdia aos pobres. Diz o profeta Isaías:
"Não é também que repartas o teu pão com o faminto e recolhas em casa os
pobres desterrados? E, vendo o nu, o cubras e não te escondas daquele que é da
tua carne? Então, romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente
brotará. ... E o Senhor te guiará continuamente, e fartará a tua alma em
lugares secos; ... e serás como um jardim regado e como um manancial cujas
águas nunca faltam." Isa. 58:7, 8 e 11.
20.A obra
de beneficência é duas vezes bendita. Enquanto aquele que dá ao necessitado
beneficia a outros, é ele próprio beneficiado em medida ainda maior. A graça de
Cristo no coração desenvolve traços de caráter opostos ao egoísmo - traços que
refinarão, enobrecerão e enriquecerão a vida. Atos de bondade praticados em
segredo, ligarão corações entre si, unindo os mais estreitamente ao coração
dAquele de quem provém todo generoso impulso. As pequeninas atenções, os
pequenos atos de amor e sacrifício, os quais exalam da vida tão suavemente como
o aroma se desprende da flor - constituem parte importante das bênçãos e
felicidade da vida. E verificar-se-á por fim que a negação do próprio eu para o
bem e a felicidade dos outros, embora humilde e não louvada aqui, é reconhecida
no Céu como o sinal de nossa união com Ele, o Rei da
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22.glória,
que era rico, e contudo Se tornou pobre por amor de nós.
23.Os atos
de bondade podem ser praticados em oculto, mas não se podem esconder os
resultados sobre o caráter do que os pratica. Se, como seguidores de Cristo,
trabalhamos com sincero interesse, o coração achar-se-á em íntima
correspondência com Deus, e o Seu Espírito, operando em nosso espírito,
despertará, em resposta ao divino toque, as sagradas harmonias da alma.
24.Aquele
que dá crescentes talentos aos que sabiamente desenvolveram os dons que lhes
foram confiados, agrada-Se de reconhecer o serviço de Seu povo crente no Amado,
mediante cuja graça e força eles agiram. Aqueles que houverem buscado o
desenvolvimento e a perfeição do caráter cristão mediante o exercício de suas
faculdades em boas obras hão de, no mundo por vir, ceifar aquilo que semearam.
A obra iniciada na Terra há de atingir sua consumação naquela vida mais elevada
e santa que se perpetuará por toda a eternidade.
25.
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