SERMÃO DA MONTANHA - PAGAR O MAL COM O BEM
1.
"Não resistais ao mal;
mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra."
Mat. 5:39.
2.
Surgiam constantemente
ocasiões de irritação para os judeus em razão de seu contato com a soldadesca
romana. Destacamentos de tropas achavam-se estacionados em vários pontos
através da Judéia e da Galiléia, e sua presença lembrava aos judeus a própria
degradação como um povo.
3.
Com amargura ouviam eles o
alto soar da trombeta, e viam as tropas formando em torno das bandeiras
romanas, curvando-se em homenagem ante este símbolo de seu poder.
4.
Freqüentes eram os choques
entre o povo e os soldados, choques que acendiam o ódio popular. Muitas vezes,
quando algum oficial romano ia, apressado, de um lugar para outro, acompanhado
de sua guarda, lançava mão dos camponeses judeus que trabalhavam no campo,
forçando-os a carregar fardos, montanhas acima ou a prestar outro qualquer
serviço de que necessitassem.
5.
Isto estava em harmonia com
a lei e o costume romanos, e a resistência a exigências desta ordem apenas
daria lugar a sarcasmos e crueldades. Dia a dia se aprofundava no coração do
povo o anseio de sacudir o jugo romano. Especialmente entre os ousados galileus
de rijos pulsos, era predominante o espírito de insurreição.
6.
Como cidade fronteiriça,
era Cafarnaum sede de uma guarnição, e mesmo enquanto Jesus estava ensinando, a
vista de um grupo de soldados evocou a Seus ouvintes a amarga lembrança da
humilhação de Israel. O povo olhava ansiosamente para Cristo, esperando que
fosse Ele Aquele que houvesse de humilhar o orgulho romano.
7.
Foi com tristeza que Jesus
contemplou as faces voltadas para Ele. Observava o espírito de vingança que
estampara seus maus traços sobre eles, conhecendo quão veementemente ansiava o
povo o poder a fim de esmagar seus opressores. Com tristeza, Ele lhes ordena:
"Não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita,
oferece-lhe também a outra." Mat. 5:39.
8.
Estas palavras não eram
senão uma reiteração do ensino do Antigo Testamento. É verdade que a regra:
"olho por olho, dente por dente" (Lev. 24:20), era uma providência
nas leis dadas por intermédio de Moisés; era, porém, um estatuto civil.
9.
Ninguém seria justificado
em se vingar a si mesmo; pois tinham as palavras do Senhor: "Não digas:
Vingar-me-ei." Prov. 20:22. "Não digas: Como ele me fez a mim, assim
lhe farei a ele." Prov. 24:29. "Quando cair o teu inimigo, não te
alegres." Prov. 24:17. "Se o que te aborrece tiver fome, dá-lhe pão
para comer; e, se tiver sede, dá-lhe água para beber." Prov. 25:21.
10.Toda a
vida terrestre de Jesus foi uma manifestação deste princípio. Foi para trazer o
pão da vida a Seus inimigos, que nosso Salvador deixou Seu lar no Céu. Se bem
que se amontoassem sobre Ele calúnias e perseguições desde o berço até à
sepultura, estas não Lhe provocaram senão expressões de um amor que perdoa.
11.Por
intermédio do profeta Isaías, Ele diz: "As Minhas costas dou aos que Me
ferem e a face, aos que me arrancam os cabelos; não escondo a face dos que Me
afrontam e me cospem." Isa. 50:6. "Ele foi oprimido, mas não abriu a
Sua boca." Isa. 53:7. E, através dos séculos, chega-nos da cruz do
Calvário Sua oração pelos que Lhe davam a morte, e a mensagem de esperança ao
ladrão moribundo.
12.A
presença do Pai circundou a Cristo e nada Lhe sobreveio sem que o infinito amor
permitisse, para a bênção do mundo. Aí estava Sua fonte de conforto, e ela
existe para nós.
13. Aquele
que estiver impregnado do Espírito de Cristo, habita em Cristo. O golpe que lhe
é dirigido cai sobre o Salvador, que o circunda com Sua presença. O que quer
que lhe aconteça vem de Cristo. Não precisa resistir ao mal, porque Cristo é
sua defesa. Nada lhe pode tocar a não ser pela permissão de nosso Senhor; e
todas as coisas que são permitidas "contribuem juntamente para o bem
daqueles que amam a Deus". Rom. 8:28.
14."Ao
que quiser pleitear contigo e tirar-te a vestimenta [túnica], larga-lhe também
a capa [manto]; e, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele
duas." Mat. 5:40 e 41.
15.Jesus
ordenou a Seus discípulos que, em vez de resistir às exigências dos que se acham
em autoridade, fizessem ainda mais do que lhes era exigido. E, o quanto
possível, se desempenhassem de qualquer obrigação, mesmo que fosse além do que
exigia a lei da Terra.
16. A lei,
segundo fora dada por Moisés, recomendava uma mui terna consideração para com o
pobre. Quando um homem pobre dava sua roupa em penhor, ou em garantia por uma
dívida, não era permitido ao credor entrar-lhe em casa a fim de a ir buscar;
devia esperar na rua para que o penhor lhe fosse levado. E fossem quais fossem
as circunstâncias, o penhor devia ser restituído a seu dono ao pôr-do-sol.
(Deut. 24:10-13).
17.No
tempo de Cristo essas misericordiosas providências eram pouco atendidas; mas
Jesus ensinou Seus discípulos a se submeterem à decisão do tribunal, mesmo que
esta exigisse além do que autorizava a lei de Moisés. Ainda que requeresse uma
parte de seu vestuário, deviam submeter-se. Mas ainda, deviam dar ao credor o
que lhe era devido, se necessário entregando mesmo mais do que o tribunal o
autorizava a tomar. "Ao que quiser pleitear contigo", disse Ele,
"e tirar-te a vestimenta, larga-lhe também a capa." Mat. 5:40. E se
os mensageiros vos exigirem que andeis com eles uma milha, ide com eles duas.
18.Jesus
acrescentou: "Dá a quem te pedir e não te desvies daquele que quiser que
lhe emprestes." Mat. 5:42.
19.A mesma
lição fora ensinada por intermédio de Moisés: "Não endurecerás o teu
coração, nem fecharás a tua mão a teu irmão que for pobre; antes, lhe abrirás
de todo a tua mão e livremente lhe emprestarás o que lhe falta, quanto baste para
a sua necessidade." Deut. 15:7 e 8.
20.Esta
escritura esclarece o sentido das palavras do Salvador. Cristo não nos ensina a
dar indiscriminadamente a todos quantos pedem por caridade; mas diz:
"Livremente lhe emprestarás o que lhe falta"; e isto deve ser uma
dádiva, de preferência a um empréstimo; pois cumpre-nos emprestar "sem
nada" esperar. (Luc. 6:35.)
21."Aquele
que se dá com sua esmola, está nutrindo a três de uma só vez:
22.A si,
bem como ao próximo, a quem consola; nutre também a Mim."
Sem comentários:
Enviar um comentário