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quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

ALCANÇANDO AS PESSOAS SECULARIZADAS - 4ª PARTE - A COMUNICAÇÃO, AS LÍNGUAS, A CULTURA, E A MENSAGEM BÍBLICA.


O PROCESSO DA COMUNICAÇÃO

            Geralmente, as pessoas não prestam atenção ao processo da comunicação e, com frequência, comunicam erroneamente. A comunicação é um processo pelo qual alguém transmite uma mensagem a uma audiência por meio de sinais. Os ouvintes, por sua vez, recebem-na, interpretam-na, compreendem-na ou entendem-na mal, e reagem a ela. A comunicação depende não só daquilo que é transmitido, mas também daquilo que se recebe. É importante controlar tanto o que os comunicadores enviam como também aquilo que as pessoas compreendem da mensagem que lhes é enviada.

            Factores, tais como, a língua, as crenças, os valores, a visão do mundo e as emoções, todos constituem filtros que influenciam os receptores e podem impedir ou facilitar a recepção da mensagem. As pessoas só podem assimilar uma nova informação relacionando-a com as crenças e valores já existentes. Geralmente um choque profundo com crenças ou valores do passado pode resultar numa rejeição da mensagem bíblica. O apóstolo Paulo apresentava a mensagem às pessoas de uma forma que estava em harmonia com algo que os ouvintes já conheciam ou acreditavam. Ele apresentava a mensagem, usando as formas linguísticas e culturais das pessoas que o escutavam.

            O ‘feedback’ completa o círculo da comunicação. Dá aos comunicadores a segurança de que o receptor compreendeu a mensagem. Num grupo pequeno a resposta é normalmente pronta e imediata.

            Quanto maior for a audiência, maior será a diversidade das suas culturas. Isto dificulta a comunicação eficaz. É por essa razão que o comunicador deve determinar o melhor número da audiência. Há vários tipos de audiências: uma audiência íntima de uma ou duas pessoas, um grupo pequeno de doze a vinte e cinco pessoas, e um grupo maior de vinte e cinco a setenta e cinco ou mais pessoas. Para começar, as pessoas secularizadas preferem uma audiência maior para manterem o seu anonimato. E, pouco a pouco, é possível estabelecer laços de amizade com elas. Nessa altura, a dimensão ideal da audiência é de duas a doze pessoas, porque reuniões pequenas facilitam a discussão e as decisões. O encontro entre duas pessoas no contexto de um pequeno grupo, dá às pessoas secularizadas a oportunidade de apresentarem as suas reacções e permite que o comunicador observe o ‘feedback’, porque é possível ouvir aqueles que recebem a mensagem.

            A comunicação é mais eficaz se o comunicador e o receptor partilham a mesma estrutura de referência. Se os receptores classificam o comunicador com estereótipos como, pouco inteligente, incoerente, insensato, inculto, etc, a comunicação terá pouco impacto. É necessário que o comunicador ganhe alta credibilidade a fim de ter um grande impacto na comunicação. A mensagem bíblica deve produzir primeiro um grande impacto na vida do comunicador, se desejar obter um forte impacto na vida do receptor.

            Quando se comunica a mensagem bíblica, é preciso considerar as três dimensões do ser humano: racional, emocional e espiritual. Com a lógica da mensagem bíblica deve impressionar-se não só as mentes das pessoas secularizadas, mas também os corações pelo seu aspecto emocional, e o seu espírito através do Espírito Santo. O propósito da comunicação da mensagem bíblica é auxiliar as pessoas secularizadas a estabelecerem um relacionamento eficaz com Deus. É maravilhoso saber que Deus está sempre pronto e disposto a revelar-Se aos seres humanos e a estabelecer um relacionamento com eles. Somente com a ajuda de Deus é possível existir uma comunicação eficaz da mensagem bíblica, porque Deus pode falar à consciência dos receptores. A comunicação bíblica para as pessoas secularizadas deve ser sempre acompanhada de oração e da direcção do Santo Espírito. O Espírito Santo, a trabalhar nos corações humanos, auxilia os comunicadores bíblicos na apresentação da mensagem para as pessoas secularizadas.



“DIZER A VERDADE COM PALAVRAS AMORÁVEIS.”

            Os comunicadores da Bíblia atacam frequentemente a mentalidade das pessoas secularizadas e criticam asperamente os resultados da ciência e da tecnologia. Os seus erros reais ou supostos podem ser apresentados de uma forma irónica. Esta não é a melhor maneira de comunicar com as pessoas secularizadas. Deus pede-nos que apresentemos as verdades da Bíblia, não os erros dos outros. “Falai a verdade em tons e palavras de amor … O melhor meio de expor a falácia do erro é apresentar as provas da verdade.”1 A mensagem bíblica deve ser apresentada de uma forma positiva. É impossível negar que os resultados positivos obtidos através da medicina e cirurgia prolongaram as vidas de muitos. Certamente que os comunicadores ou alguns membros das suas famílias beneficiaram destes resultados. É necessário também reconhecer que os resultados obtidos pela ciência e pela tecnologia nas telecomunicações, por exemplo, ajudar-nos-ão a anunciar, de uma forma mais eficaz e rápida o Evangelho a todas as nações.



A LÍNGUAGEM E A MENSAGEM  BÍBLICA.

            A linguagem é algo vivo e dinâmico, que muda através dos tempos e, por vezes, até chega a morrer. Muitos cristãos estão agarrados a formas antiquadas de pregar. Muitas palavras que encontramos na Bíblia têm hoje um significado diferente do que tinham no tempo dos escritores bíblicos. Se os comunicadores bíblicos quiserem evitar mal entendidos, devem usar termos modernos que expressem o mesmo conteúdo e sentido que as palavras da Bíblia tinham no tempo em que foram usadas. Palavras como: carne, alma, sopro, espírito, mundo, pecado, graça, justiça, fé, santidade, reino, regeneração, etc, têm um significado particular na Bíblia, mas não o mesmo significado para as pessoas de hoje. É necessário esclarecer o significado no contexto em que as palavras são usadas na Bíblia de tal maneira a evitar qualquer equívoco possível.

             Os cristãos defendem que oferecem às pessoas a palavra viva de Deus, mas muitos sermões, palestras e conferências são realmente coisas mortas, porque são expressas numa linguagem antiquada, formal e abstracta, completamente separada da vida corrente.

            A Bíblia é a Palavra viva de Deus, por isso cada pessoa deve ser capaz de compreender a mensagem bíblica. As verdades da Bíblia não são nem antigas nem contemporâneas. Não têm limite no tempo e, por conseguinte, são sempre relevantes. Porém, é necessário que os comunicadores se exprimam numa linguagem acessível às mentes das pessoas. Deve evitar-se não só a linguagem antiquada, mas também a terminologia abstracta do pensamento especulativo. Devemos apresentar a mensagem em termos concretos que têm a ver com a experiência humana de cada dia..







A CONTEXTUALIZAÇÃO

A cultura organiza e guia o pensamento, os sentimentos e as acções dos seres humanos através de regras e modelos, os quais muitas vezes permanecem inconscientes. Os seres humanos não são tão livres como imaginam ser. O seu comportamento social é influenciado pelo meio que o envolve.

A apresentação da mensagem bíblica às pessoas secularizadas implica o encontro entre culturas diferentes. Os comunicadores da Bíblia necessitam de compreender e identificar pelo menos três tipos de culturas: a dos escritores bíblicos (a cultura semítica do povo hebraico), a das pessoas secularizadas (a cultura moderna do Ocidente que é modelada, como correctamente comentou Newbigin, tal como “a cultura do mundo greco-romano.”1), e a sua (isto é, ou deveria ser, uma cultura transformada pela mensagem bíblica, a qual mudou radicalmente o seu pensamento religioso, filosófico e ético.).

Os comunicadores aprenderam que a Bíblia está “empacotada” em velhas formas culturais e, muitas vezes, presumem que estas são as melhores. Eles manifestam frequentemente uma atitude condenatória para com todas as formas de cultura contemporânea. Eles devem apresentar a mensagem bíblica, de tal maneira que as pessoas secularizadas a possam compreender e aceitar.

Segundo os antropólogos, o processo através do qual a mensagem bíblica pode ser transmitida sem mal entendidos é a contextualização. O propósito da verdadeira contextualização não é a transmissão de uma cultura, mas sim auxiliar o povo a encontrar Deus e a estabelecer um relacionamento profundo com Ele. Obviamente, o contacto que eles estabelecem com Deus produz necessariamente mudanças no seu modo de pensar, sentir e viver, e, consequentemente a sua visão do mundo. Uma comunicação eficaz da mensagem bíblica produz mudanças nas várias maneiras de ver e interagir com o mundo. Se isto não acontece é porque a comunicação foi superficial.

Os antropólogos pensam que em cada cultura há uma sequência de quatro níveis, que diferem em importância e resistência. Ao descer da parte externa para o nível mais íntimo da personalidade humana,2 mais e mais se resiste à mudança.

O primeiro nível, a “tecnologia industrial” (a comunicação, o viajar, o desporto, a moda), não afecta profundamente os seres humanos. O segundo nível, as convenções familiares e a “etiqueta”, afectam o indivíduo mais profundamente e, portanto, é mais difícil de alterar. Os valores formam o terceiro nível: Cada cultura possui os seus próprios valores característicos. O quarto nível é a visão do mundo: Cada cultura tem a sua forma particular de compreender o mundo. Obviamente que, à medida que nos aproximamos do nível interno, a mudança torna-se cada vez mais difícil. Deus opera nesse nível mais interno da personalidade humana, nas raízes da cultura humana e dá uma nova dimensão à experiência humana. Deus supre a lacuna que existe entre Ele e os seres humanos, comunica-Se com eles e transforma as suas perspectivas a respeito  do mundo e dos seus valores.

As pessoas secularizadas possuem uma cultura que lhes é peculiar, como resultado do processo de secularização. Se os comunicadores desejam que a mensagem bíblica seja compreendida e se torne importante para a mente secularizada, precisam de a traduzir para uma linguagem e cultura que as pessoas secularizadas possam entender. “A maneira pela qual a verdade é apresentada, amiúde tem muito a ver com a determinação de ser aceite ou rejeitada.”1 A mensagem bíblica é eterna porque provém de Deus e deve permanecer inalterável, enquanto a apresentação deve ser expressa de uma forma que as pessoas secularizadas a possam entender.

Muitos julgam que a ortodoxia bíblica só é possível quando os comentadores bíblicos usam formas culturais antigas. Mas este apego às velhas formas impede que as pessoas secularizadas aceitem a mensagem. Para as pessoas secularizadas, habitualmente as pessoas cristãs são “culturalmente extraterrestres e bizarras”.

Kenneth Chafin afirmou que, “as pessoas que normalmente não vão à igreja vêm os nossos edifícios, as liturgias, as janelas de vitrais, a música de órgão, os diáconos, as salvas das ofertas, e “o nosso povo com os seus rostos de domingo” como culturalmente extraterrestres, bizarros e até intimadores.” … As pessoas secularizadas …têm demonstrado um grande receio de que a igreja queira transformá-las nas «pessoas que vão à igreja».” … As pessoas secularizadas … assumem que o Deus cristão não é para pessoas como elas; estão convictas de que devem aprender a como vestir-se, falar, carregar Bíblias, e ajoelhar-se … antes de Deus as poder aceitar”.2 



Se os comunicadores desejam que as pessoas secularizadas recebam a mensagem bíblica, eles devem arriscar exprimir essa mesma mensagem usando formas de linguagem e maneiras de pensar da cultura contemporânea. Contudo, é importante tomar cuidado para que este processo de “tradução” não altere o conteúdo bíblico da mensagem. Também é necessário tomar muito cuidado para não se apresentar algo considerado sem sentido. Como pode morrer um Deus que é eterno? A “teologia da morte de Deus” não ajuda a alcançar as pessoas secularizadas; pelo contrário, torna a apresentação da mensagem bíblica muito difícil.

Muitos cristãos têm recusado correr o risco de “traduzir” o pensamento bíblico nas categorias mentais da cultura contemporânea. Não se pode usar a teologia que é ensinada nos Seminários, porque é expressa de uma forma “conservadora”, abstracta, que as pessoas comuns não compreendem. As pessoas secularizadas rejeitam as teologias abstractas, separadas da realidade. Para Bultmann, “a fé não tem nada a ver com a visão do mundo, mas apenas com a compreensão do ego existencial humano.”1 Isto quer dizer que se deve abandonar qualquer concepção de uma Criação do mundo. A eliminação da cosmovisão cristã, limita a religião à existência temporária do ser humano e a religião torna-se abstracta e irrelevante. As mentes das pessoas secularizadas estão acostumadas ao raciocínio lógico e empírico. Assim, uma teologia que não admite um possível “diálogo com a ciência2 é considerada desadequada e quase inaceitável pelas pessoas secularizadas.






1 Ellen G. White, Evangelism (Evangelismo) (Washington, D.C.: Review and Herald, 1946), 576, 577
1 Leslie Newbigin, The Open Secret (O Segredo Descoberto) (Grand Rapids, MI: William B. Eerdmans, 1995), 82.
2 A personalidade é a soma total das tendências do comportamento, do temperamento, emocionais e mentais, manifesta ou escondida, característica de uma pessoa.
1 E.G. White, Evangelism, (Evangelismo) 168.
2 G. Hunter, How to Reach Secular People, (Como Alcançar Pessoas Secularizadas) (Nashville, TN: Abington Press, 1992), 66, 67.
1 Wolfhart, Pannenberg, Christianity in a Secularized World, (O Cristianismo num Mundo) Secularizado  (New York: Crossroad, 1989), 51.
2 L. Newbigin, Foolishness to the Greeks, (Loucura para os Gregos) (Grand Rapids, MI: W. B. Eerdmans, 1986), 73.


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