O
PROCESSO DA COMUNICAÇÃO
Geralmente,
as pessoas não prestam atenção ao processo da comunicação e, com
frequência, comunicam erroneamente. A comunicação é um processo pelo qual alguém
transmite uma mensagem a uma audiência por meio de sinais. Os ouvintes, por sua
vez, recebem-na, interpretam-na, compreendem-na ou entendem-na mal, e reagem a
ela. A comunicação depende não só daquilo que é transmitido, mas também daquilo
que se recebe. É importante controlar tanto o que os comunicadores enviam como
também aquilo que as pessoas compreendem da mensagem que lhes é enviada.
Factores,
tais como, a língua, as crenças, os valores, a visão do mundo e as emoções, todos
constituem filtros que influenciam os receptores e podem impedir ou facilitar a
recepção da mensagem. As pessoas só podem assimilar uma nova informação
relacionando-a com as crenças e valores já existentes. Geralmente um choque
profundo com crenças ou valores do passado pode resultar numa rejeição da
mensagem bíblica. O apóstolo Paulo apresentava a mensagem às pessoas de uma
forma que estava em harmonia com algo que os ouvintes já conheciam ou
acreditavam. Ele apresentava a mensagem, usando as formas linguísticas e
culturais das pessoas que o escutavam.
O
‘feedback’ completa o círculo da comunicação. Dá aos comunicadores a segurança
de que o receptor compreendeu a mensagem. Num grupo pequeno a resposta é
normalmente pronta e imediata.
Quanto
maior for a audiência, maior será a diversidade das suas culturas. Isto
dificulta a comunicação eficaz. É por essa razão que o comunicador deve
determinar o melhor número da audiência. Há vários tipos de audiências: uma
audiência íntima de uma ou duas pessoas, um grupo pequeno de doze a vinte e
cinco pessoas, e um grupo maior de vinte e cinco a setenta e cinco ou mais
pessoas. Para começar, as pessoas secularizadas preferem uma audiência maior
para manterem o seu anonimato. E, pouco a pouco, é possível estabelecer laços
de amizade com elas. Nessa altura, a dimensão ideal da audiência é de duas a
doze pessoas, porque reuniões pequenas facilitam a discussão e as decisões. O
encontro entre duas pessoas no contexto de um pequeno grupo, dá às pessoas
secularizadas a oportunidade de apresentarem as suas reacções e permite que o
comunicador observe o ‘feedback’, porque é possível ouvir aqueles que recebem a
mensagem.
A
comunicação é mais eficaz se o comunicador e o receptor partilham a mesma
estrutura de referência. Se os receptores classificam o comunicador com
estereótipos como, pouco inteligente, incoerente, insensato, inculto, etc, a
comunicação terá pouco impacto. É necessário que o comunicador ganhe alta
credibilidade a fim de ter um grande impacto na comunicação. A mensagem bíblica
deve produzir primeiro um grande impacto na vida do comunicador, se desejar
obter um forte impacto na vida do receptor.
Quando
se comunica a mensagem bíblica, é preciso considerar as três dimensões do ser
humano: racional, emocional e espiritual. Com a lógica da mensagem bíblica deve
impressionar-se não só as mentes das pessoas secularizadas, mas também os
corações pelo seu aspecto emocional, e o seu espírito através do Espírito
Santo. O propósito da comunicação da mensagem bíblica é auxiliar as pessoas
secularizadas a estabelecerem um relacionamento eficaz com Deus. É maravilhoso
saber que Deus está sempre pronto e disposto a revelar-Se aos seres humanos e a
estabelecer um relacionamento com eles. Somente com a ajuda de Deus é possível
existir uma comunicação eficaz da mensagem bíblica, porque Deus pode falar à
consciência dos receptores. A comunicação bíblica para as pessoas secularizadas
deve ser sempre acompanhada de oração e da direcção do Santo Espírito. O
Espírito Santo, a trabalhar nos corações humanos, auxilia os comunicadores
bíblicos na apresentação da mensagem para as pessoas secularizadas.
“DIZER A
VERDADE COM PALAVRAS AMORÁVEIS.”
Os
comunicadores da Bíblia atacam frequentemente a mentalidade das pessoas
secularizadas e criticam asperamente os resultados da ciência e da tecnologia.
Os seus erros reais ou supostos podem ser apresentados de uma forma irónica. Esta
não é a melhor maneira de comunicar com as pessoas secularizadas. Deus pede-nos
que apresentemos as verdades da Bíblia, não os erros dos outros. “Falai a
verdade em tons e palavras de amor … O melhor meio de expor a falácia do erro é
apresentar as provas da verdade.”1 A
mensagem bíblica deve ser apresentada de uma forma positiva. É impossível negar
que os resultados positivos obtidos através da medicina e cirurgia prolongaram
as vidas de muitos. Certamente que os comunicadores ou alguns membros das suas
famílias beneficiaram destes resultados. É necessário também reconhecer que os
resultados obtidos pela ciência e pela tecnologia nas telecomunicações, por
exemplo, ajudar-nos-ão a anunciar, de uma forma mais eficaz e rápida o
Evangelho a todas as nações.
A
LÍNGUAGEM E A MENSAGEM BÍBLICA.
A
linguagem é algo vivo e dinâmico, que muda através dos tempos e, por vezes, até
chega a morrer. Muitos cristãos estão agarrados a formas antiquadas de pregar.
Muitas palavras que encontramos na Bíblia têm hoje um significado diferente do
que tinham no tempo dos escritores bíblicos. Se os comunicadores bíblicos quiserem
evitar mal entendidos, devem usar termos modernos que expressem o mesmo
conteúdo e sentido que as palavras da Bíblia tinham no tempo em que foram
usadas. Palavras como: carne, alma, sopro, espírito, mundo, pecado, graça,
justiça, fé, santidade, reino, regeneração, etc, têm um significado particular
na Bíblia, mas não o mesmo significado para as pessoas de hoje. É necessário
esclarecer o significado no contexto em que as palavras são usadas na Bíblia de
tal maneira a evitar qualquer equívoco possível.
Os cristãos defendem que oferecem às pessoas a
palavra viva de Deus, mas muitos sermões, palestras e conferências são
realmente coisas mortas, porque são expressas numa linguagem antiquada, formal
e abstracta, completamente separada da vida corrente.
A
Bíblia é a Palavra viva de Deus, por isso cada pessoa deve ser capaz de
compreender a mensagem bíblica. As verdades da Bíblia não são nem antigas nem
contemporâneas. Não têm limite no tempo e, por conseguinte, são sempre
relevantes. Porém, é necessário que os comunicadores se exprimam numa linguagem
acessível às mentes das pessoas. Deve evitar-se não só a linguagem antiquada,
mas também a terminologia abstracta do pensamento especulativo. Devemos
apresentar a mensagem em termos concretos que têm a ver com a experiência
humana de cada dia..
A
CONTEXTUALIZAÇÃO
A cultura organiza
e guia o pensamento, os sentimentos e as acções dos seres humanos através de
regras e modelos, os quais muitas vezes permanecem inconscientes. Os seres
humanos não são tão livres como imaginam ser. O seu comportamento social é influenciado
pelo meio que o envolve.
A apresentação da
mensagem bíblica às pessoas secularizadas implica o encontro entre culturas
diferentes. Os comunicadores da Bíblia necessitam de compreender e identificar
pelo menos três tipos de culturas: a dos escritores bíblicos (a cultura
semítica do povo hebraico), a das pessoas secularizadas (a cultura moderna do
Ocidente que é modelada, como correctamente comentou Newbigin, tal como “a
cultura do mundo greco-romano.”1), e a
sua (isto é, ou deveria ser, uma cultura transformada pela mensagem bíblica, a
qual mudou radicalmente o seu pensamento religioso, filosófico e ético.).
Os comunicadores
aprenderam que a Bíblia está “empacotada” em velhas formas culturais e, muitas
vezes, presumem que estas são as melhores. Eles manifestam frequentemente uma
atitude condenatória para com todas as formas de cultura contemporânea. Eles
devem apresentar a mensagem bíblica, de tal maneira que as pessoas
secularizadas a possam compreender e aceitar.
Segundo os
antropólogos, o processo através do qual a mensagem bíblica pode ser transmitida
sem mal entendidos é a contextualização. O propósito da verdadeira
contextualização não é a transmissão de uma cultura, mas sim auxiliar o povo a
encontrar Deus e a estabelecer um relacionamento profundo com Ele. Obviamente,
o contacto que eles estabelecem com Deus produz necessariamente mudanças no seu
modo de pensar, sentir e viver, e, consequentemente a sua visão do mundo. Uma
comunicação eficaz da mensagem bíblica produz mudanças nas várias maneiras de
ver e interagir com o mundo. Se isto não acontece é porque a comunicação foi
superficial.
Os antropólogos
pensam que em cada cultura há uma sequência de quatro níveis, que diferem em
importância e resistência. Ao descer da parte externa para o nível mais íntimo
da personalidade humana,2 mais e
mais se resiste à mudança.
O primeiro nível,
a “tecnologia industrial” (a comunicação, o viajar, o desporto, a moda), não
afecta profundamente os seres humanos. O segundo nível, as convenções
familiares e a “etiqueta”, afectam o indivíduo mais profundamente e, portanto,
é mais difícil de alterar. Os valores formam o terceiro nível: Cada cultura possui
os seus próprios valores característicos. O quarto nível é a visão do mundo:
Cada cultura tem a sua forma particular de compreender o mundo. Obviamente que,
à medida que nos aproximamos do nível interno, a mudança torna-se cada vez mais
difícil. Deus opera nesse nível mais interno da personalidade humana, nas
raízes da cultura humana e dá uma nova dimensão à experiência humana. Deus
supre a lacuna que existe entre Ele e os seres humanos, comunica-Se com eles e
transforma as suas perspectivas a respeito do mundo e dos seus valores.
As pessoas
secularizadas possuem uma cultura que lhes é peculiar, como resultado do processo
de secularização. Se os comunicadores desejam que a mensagem bíblica seja
compreendida e se torne importante para a mente secularizada, precisam de a
traduzir para uma linguagem e cultura que as pessoas secularizadas possam
entender. “A maneira pela qual a verdade
é apresentada, amiúde tem muito a ver com a determinação de ser aceite ou
rejeitada.”1 A mensagem bíblica é
eterna porque provém de Deus e deve permanecer inalterável, enquanto a
apresentação deve ser expressa de uma forma que as pessoas secularizadas a
possam entender.
Muitos julgam que
a ortodoxia bíblica só é possível quando os comentadores bíblicos usam formas
culturais antigas. Mas este apego às velhas formas impede que as pessoas
secularizadas aceitem a mensagem. Para as pessoas secularizadas, habitualmente
as pessoas cristãs são “culturalmente extraterrestres e bizarras”.
Kenneth Chafin
afirmou que, “as pessoas que normalmente não
vão à igreja vêm os nossos edifícios, as liturgias, as janelas de vitrais, a
música de órgão, os diáconos, as salvas das ofertas, e “o nosso povo com os
seus rostos de domingo” como culturalmente extraterrestres, bizarros e até
intimadores.” … As pessoas secularizadas …têm demonstrado um grande receio de
que a igreja queira transformá-las nas «pessoas que vão à igreja».” … As
pessoas secularizadas … assumem que o Deus cristão não é para pessoas como
elas; estão convictas de que devem aprender a como vestir-se, falar, carregar
Bíblias, e ajoelhar-se … antes de Deus as poder aceitar”.2
Se os
comunicadores desejam que as pessoas secularizadas recebam a mensagem bíblica,
eles devem arriscar exprimir essa mesma mensagem usando formas de linguagem e
maneiras de pensar da cultura contemporânea. Contudo, é importante tomar
cuidado para que este processo de “tradução” não altere o conteúdo bíblico da
mensagem. Também é necessário tomar muito cuidado para não se apresentar algo
considerado sem sentido. Como pode morrer um Deus que é eterno? A “teologia da
morte de Deus” não ajuda a alcançar as pessoas secularizadas; pelo contrário,
torna a apresentação da mensagem bíblica muito difícil.
Muitos cristãos
têm recusado correr o risco de “traduzir” o pensamento bíblico nas categorias
mentais da cultura contemporânea. Não se pode usar a teologia que é ensinada
nos Seminários, porque é expressa de uma forma “conservadora”, abstracta, que
as pessoas comuns não compreendem. As pessoas secularizadas rejeitam as
teologias abstractas, separadas da realidade. Para Bultmann, “a fé não tem nada a ver com a visão do
mundo, mas apenas com a compreensão do ego existencial humano.”1 Isto quer dizer que se deve abandonar
qualquer concepção de uma Criação do mundo. A eliminação da cosmovisão cristã, limita
a religião à existência temporária do ser humano e a religião torna-se
abstracta e irrelevante. As mentes das pessoas secularizadas estão acostumadas
ao raciocínio lógico e empírico. Assim, uma teologia que não admite um possível
“diálogo com a ciência”2 é considerada desadequada e quase
inaceitável pelas pessoas secularizadas.
1 Ellen G. White, Evangelism (Evangelismo) (Washington,
D.C.: Review and Herald, 1946), 576, 577
1 Leslie Newbigin, The Open Secret (O Segredo Descoberto)
(Grand Rapids, MI: William B. Eerdmans, 1995), 82.
2 A personalidade é a
soma total das tendências do comportamento, do temperamento, emocionais e
mentais, manifesta ou escondida, característica de uma pessoa.
1 E.G. White, Evangelism,
(Evangelismo) 168.
2 G. Hunter, How to Reach Secular People, (Como Alcançar Pessoas Secularizadas)
(Nashville, TN: Abington Press, 1992), 66, 67.
1 Wolfhart, Pannenberg, Christianity in a Secularized World, (O
Cristianismo num Mundo) Secularizado
(New York: Crossroad, 1989), 51.
2 L. Newbigin, Foolishness to the Greeks, (Loucura para os
Gregos) (Grand Rapids, MI: W. B. Eerdmans, 1986), 73.
Sem comentários:
Enviar um comentário