MARIA DE JERUSALÉM, CUJO LAR
FUNCIONOU COMO CASA
DE DEUS
"Eu rogo
ao Céu que
derrame a Melhor
das Bênçãos sobre
esta Casa e sobre
todos os que
daqui em diante
a habitarem. Que unicamente homens honestos
e sóbrios governem sob
este teto."
John Adams *
Atos 12:1-17
A noite tinha
há muito caído
sobre Jerusalém. As casas
da capital de Israel estavam completamente às escuras, pois
as lâmpadas de óleo
já haviam sido apagadas horas antes.
Todavia, na casa de Maria, todas as lâmpadas
brilhavam, embora ninguém
do exterior pudesse ver
a luz, pois
as janelas tinham sido cuidadosamente
fechadas. Nem mesmo
um pequeno
raio de luz
conseguia atravessar. As pessoas
que passavam na rua,
não tinham possibilidade de saber o que se
passava dentro de casa.
Será que os que se encontravam neste lar
estavam a fazer algo
tão mau
que não
pudesse ser exposto
à luz ? De modo
nenhum.
As pessoas que se encontravam em
casa de Maria eram cristãos,
seguidores de Jesus Cristo.
Já há algum
tempo se vinham reunindo naquela casa. Tinham abandonado a sala
de reuniões do templo
– o seu velho
lugar de encontro
– porque se tornara demasiado
perigoso. Agora era
a casa de Maria que,
por necessidade,
funcionava como igreja.
Estes cristãos formavam uma minoria.
Tinha rebentado uma perseguição tão violenta contra os crentes,
que muitos
haviam fugido de Jerusalém (Atos 8:2). Aqueles que
ficaram estavam constantemente em perigo. A ameaça de prisão pendia sobre as suas cabeças como a espada de Dâmocles. Sentiam-se gratos
por Maria, uma viúva
próspera, ter
posto o seu
lar à disposição.
"A minha casa é bastante
espaçosa", disse ela. "Por que é que não fazemos aqui
as reuniões? A minha
casa pode facilmente funcionar
como edifício
da igreja".
Maria não parecia preocupada
a respeito da sua
própria vida.
Como amava a Deus,
aceitava com naturalidade
o fato de que
a vinda e ida
de muitas pessoas significaria trabalho, despesa e certos inconvenientes.
Desse modo, Maria de
Jerusalém revelou-se como uma mulher corajosa
e abnegada. Em certos
aspectos, parecia-se com Marta e
Maria que, durante
o tempo em
que os líderes
dos judeus tentavam matar
Jesus (João 11:54-57. 12:1-11)), não
recearam recebê-lo. Ela constituía um elo indispensável na cadeia
da vida da igreja
primitiva.
Maria não contava com o apoio do marido. Seria por
isso que
ela se sentia mais
atraída para Deus?
Teria ela consciência
do fato de que
no passado o Senhor
tinha defendido fortemente
a causa das viúvas que
confiavam nEle?
Não fora o profeta
Elias mantido com vida
durante um
período de fome,
por uma viúva?
(1 Reis 17:7-16) Não
tinha sido a profetisa Ana – a primeira
mulher privilegiada em
ver o Menino
Jesus no templo (Luc. 2:25-38) e uma das
que anunciaram a Sua
entrada em
Jerusalém – também viúva?
O motivo por
que os cristãos
estavam reunidos nesta noite e não haviam ido embora à hora
do costume, provinha de uma emergência.
Eles encontravam-se em
grande tribulação.
Pedro havia sido preso pelo
rei Herodes Agripa.
Os líderes judeus, ciosos por causa dos sinais e milagres
que os apóstolos
estavam realizando, já haviam posto anteriormente
os crentes na prisão
(Atos 5:17-20). E embora
o próprio Deus,
por meio
de um anjo,
tivesse livrado os Seus servos da prisão, a oposição continuara. O sangue
de Estêvão tinha sido derramado (Atos 7:57-60), e as pessoas
queriam mais.
Nada de bom se podia esperar de
Herodes. O ódio contra
Jesus e os Seus seguidores
estava enraizado na família deste governador. Não
tinha o seu
pai, Herodes o Grande,
entrado definitivamente na história como aquele que
assassinou os meninos de Belém? (Mat.
2:16) E não tinha
o seu predecessor,
Herodes Antipas, decapitado João Batista?
(Mat. 14:1-12) O próprio Herodes Agripa tinha pouco antes mandado matar Tiago, irmão
de João e discípulo de Jesus (Atos 12:2).
Não havia dúvida de que
Pedro também seria morto,
provavelmente em público.
Então todos
veriam o que pensava o rei acerca dos seguidores de Jesus, e a maneira
como os tratava.
Os crentes reuniram-se para orar na noite
que parecia ser
a última da vida
terrena de Pedro.
Entretanto, o
apóstolo dormia profundamente,
a despeito de se encontrar
encarcerado numa prisão e com
cadeias nas mãos.
Não se mantinha acordado por causa do medo,
perguntando a si mesmo
o que lhe
poderia acontecer
no dia seguinte.
Os 16 soldados que
o guardavam em grupos
de quatro não
o impediam de dormir.
Todavia, nenhum ser humano seria capaz
de o livrar. Ele
estava totalmente desligado
do mundo exterior.
Havia uma parede intransponível
entre ele
e a liberdade. Os guardas
constituíam a garantia de que ele não poderia sair. "Mas a igreja fazia contínua
oração por
ele a Deus"
(v. 5). Embora a passagem
para o exterior
pudesse estar totalmente
fechada, o caminho para
cima permanecia aberto.
Com o enérgico e preventivo uso
da força, Herodes Agripa queria estar seguro
de que Pedro não
seria libertado pelos amigos. Mas aqueles crentes,
embora não
tendo poder em
si mesmos,
dispunham, por meio
da oração, de uma arma
contra a qual
o rei Herodes não
possuía qualquer poder.
Não tinha Cristo dado muitas promessas
em relação
com a oração
antes de ascender
aos céus? "Também
vos digo que
se dois de vós concordarem na terra
acerca de qualquer
coisa que
pedirem, isso lhes
será feito por
meu Pai,
que está nos
céus" (Mat. 18:19).
Ele havia
prometido também: "Onde dois ou três
estiverem reunidos em meu nome aí estarei no meio
deles" (Mat. 18:20).
"Podeis obter tudo
– tudo o que
pedirdes em oração",
dissera Jesus, "se crerdes" (Mat. 21:22).
Noutra ocasião, Cristo ilustrou o Seu
desafio à persistência
na oração com
o exemplo de uma viúva
que tinha
perseverado em pedir
e finalmente veio
a receber aquilo
de que necessitava (Luc. 18:1-8).
Os discípulos sabiam que estas promessas
não haviam perdido o seu poder. Continuavam
válidas, apesar de Jesus já não estar com eles na terra. Sabiam que Ele apoiava
as suas orações,
no céu, que
estava a interceder por
eles (Heb. 7:25), e que
os atenderia.
Os cristãos que se reuniram em
casa de Maria acreditavam que as orações
dos justos tinham muito
poder e conseguiam resultados
maravilhosos (Tg. 5:16). Assim, aconteceu que,
enquanto eles,
de acordo com
as palavras do profeta
Isaías, insistiam perante Deus (Isa. 62:7), Ele
respondeu. Um mensageiro
sobrenatural, um
anjo, desceu à prisão
de Pedro. A escuridão da noite
desvaneceu-se quando ele chegou. As cadeias
de ferro quebraram-se e caíram no chão.
Depois de o anjo ter desprendido as cadeias
de Pedro, levou-o para fora
sem que
disso fosse impedido pelas portas
fechadas. Ele tornou os guardas surdos
e cegos, e estes
não notaram o que
estava a acontecer. Pedro, acordado do seu sono,
pensou que tudo
aquilo não
passava de um sonho.
Em poucos
minutos encontrava-se fora da prisão, sem saber se estava
acordado ou a dormir.
Enquanto os crentes desconheciam, naturalmente,
o que se passava, Pedro seguia já em direção à casa
de Maria. Depois de um
momento de reflexão
consigo próprio,
verificou que se não
tratava dum sonho. Grato
a Deus pela
sua liberdade,
seguiu diretamente para
o lar de Maria.
Os crentes experimentaram a verdade do que Deus havia dito
séculos antes
através dos lábios
de Isaías: "E será que antes que
clamem, eu responderei; estando eles ainda
falando, eu os ouvirei" (Isa.
65:24).
Depois da descida do Espírito
Santo no Dia
de Pentecostes, muitos
cristãos venderam as casas e as propriedades
e ofereceram o produto aos outros crentes
necessitados.
Maria não tinha feito isso. Não
vendeu a sua espaçosa
casa, dando depois
o produto dessa venda.
Em vez
disso, conservou a casa, mas colocou-a à disposição
da Igreja.
Maria era uma mulher independente,
dirigida por Deus
de um modo
individual. Ela
sabia que existiam diferentes
maneiras de servir
a Deus. Ela
própria podia fazê-lo com o dinheiro que recebesse da venda
dos seus bens.
Mas podia igualmente
servir a Deus
– e foi nesse sentido que Ele a
orientou – partilhando do que tinha com os que estavam em necessidade.
Maria compreendia que os dons distribuídos pelo Espírito Santo entre os cristãos
diferiam uns dos outros. A igreja de Cristo
era como
um mosaico,
pois continha muitas formas
e muitas cores.
Deus proveu a igreja com apóstolos, professores
e profetas (1 Cor.
12:28). Mas outros
são igualmente
necessários para
desempenharem a sua função
no Corpo de Cristo.
Cada membro
da igreja tem um
dom funcional,
ou possui algo,
que deve usar
de modo adequado (Rom. 12:4-7). Deus, na Sua sabedoria, tem dado
a cada cristão
um dom
específico, de modo
que todos
os membros possam alegrar-se pelo fato de serem únicos e estejam dispostos
a partilhar esse
dom com
os outros (1 Cor.
14:12).
Maria continuou a tradição
das mulheres que
tinham vivido junto
de Cristo, apoiando-O com os seus bens particulares
(Luc. 8:3). Ela ocupou o seu próprio lugar no mosaico
da igreja. A sua
tarefa foi tão
importante como
a das pessoas que
pareciam ser mais
proeminentes aos olhos
do dom específico,
público. A influência
dela na igreja foi inegável
e insubstituível. Deus
tornou as viagens de Pedro para pregar o Evangelho, e a sua
oportunidade de realizar
novamente milagres
(Atos 3:6-8; 5:15), dependentes,
em parte,
de pessoas como
Maria de Jerusalém. Ela teve a sua função dentro da igreja.
Mas não
foi só essa a sua
responsabilidade. Foi igualmente mãe
de João Marcos (Atos
12:12).
Como mãe, Maria experimentou a alegria
de saber que
o filho estava a servir
o Senhor. A vida
dela não influenciou apenas os de fora;
afetou também o seu
próprio filho.
Será que Deus
recompensou a mãe através
das oportunidades que
estava dando ao filho?
João Marcos recebeu o excepcional privilégio
de se tornar um
auxiliar de Paulo e Barnabé
(Atos 12:25). Mais
tarde, foi companheiro
de viagem de Pedro, que
carinhosamente lhe
chamava "Meu filho".
(1 Pe. 5:13).
De acordo com a tradição João Marcos
– o autor do Evangelho
de Marcos – viajou para
Alexandria depois da morte
de Barnabé. Aí
fundou uma igreja e serviu como seu primeiro bispo até que morreu ou foi martirizado por
volta de 62 A.D. O seu
corpo pode ter
sido roubado por soldados
venezianos, cerca
de 815 A.D. e posto na Igreja de S. Marcos,
em Veneza.
O que esse
convívio com
estes três
grandes homens
de Deus significou para
João Marcos, e como
isso influenciou o seu
caráter, pode-se facilmente imaginar.
A Bíblia menciona o nome de Maria apenas
uma vez, e a ênfase
não é a ela,
mas ao seu
lar. De acordo
com a lenda,
esta é a mesma casa
em cujo
cenáculo Jesus celebrou a última ceia com os discípulos.
O resto da vida de Maria permanece encoberto.
Mas um
dia, o Livro
de Memórias de Deus
– o Livro em
que Ele
registra as ações
dos homens e das mulheres
(Mal. 6:16) – será aberto.
Só então
se tornará claro o que
Maria significou realmente para o Reino de Deus.
Até essa altura, ela
continuará a ser um
estímulo para
toda a mulher,
seja viúva ou
não. Maria mostrou a tremenda influência que pode exercer uma mulher piedosa,
quando põe o seu
lar à disposição
de Deus.
Maria
de Jerusalém, cujo lar
funcionou como casa
de Deus
(Atos 12:1-17)
Perguntas:
1. De que maneira é que
Maria seguiu o exemplo de outras mulheres que
serviram a Cristo? (Lucas 8:3).
2. Enumere e resuma as contribuições de outras mulheres
da Bíblia que
puseram os seus lares
à disposição de Deus
(1 Reis 17:10-22; 2 Reis
4:8-11).
3. Descreva o propósito para
que foi usada a casa
de Maria. Quais foram os resultados da sua
hospitalidade?
4. Qual lhe
parece ter sido a atitude
de Maria em relação
aos seus bens?
5. Diga como se sentiria se
Pedro chegasse à sua porta pedindo abrigo durante uma época de
perseguição aos cristãos. Na sua opinião, quais foram as qualidades
de Maria que lhe
deram força para se arriscar
à possível prisão
e mesmo a morte?
6. À luz de Mateus 18:19-20, como é que a sua casa pode ser usada para promover o Reino de Deus?
FONTE: LIVRO SEU NOME É MULHER 2
* O segundo presidente dos EUA. Tirado da cornija da lareira da sala
de recepção do Embaixador americano em Haia, Holanda.
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