"As pessoas importantes da terra, hoje em dia, são as que oram. Não me refiro às que
falam sobre a oração;
nem às que
podem explicar algo
sobre a oração;
refiro-me, sim, às pessoas
que dão tempo
à oração. Não
têm tempo de sobra.
É necessário tirá-lo a qualquer
outra coisa. Essa
qualquer coisa
é importante, muito
importante, e urgente,
mas, mesmo
assim, menos
importante e menos
urgente que
a oração''.
S. D. Gordon
*
Seriam as dificuldades do seu casamento em parte
causadas por ela?
Teria ela, como
Sara, insistido com o marido para tomar
uma concubina quando
ele descobriu que
não teriam filhos?
(Gênesis 16:1,2) Ou teria ela sido incapaz
de resistir ao amor de Elcana,
tomando-se sua segunda
esposa depois
de ele ter casado já com Penina?
Em qualquer caso, Ana não tinha certamente
previsto o alcance dos seus atos. O segundo casamento havia resultado em terrível mal-estar
para cada um dos três membros envolvidos.
Talvez Ana não tivesse
culpa. Teria Elcana, aliás um homem temente a
Deus, chegado
a ser bígamo
por sua
própria iniciativa?
Qualquer que
fosse a causa, as experiências
dela não eram por
isso menos
dolorosas.
O Espírito Santo não achou
que fosse necessário
registrar todos esses
detalhes. Mas
a Bíblia diz que
Ana era
uma mulher que
tinha livre
acesso a Deus.
O caminho para
Ele estava-lhe aberto
na base do perdão
dos pecados por
meio dos sacrifícios
que o marido,
como cabeça
da família, fazia regularmente
ao Senhor.
Por vezes, uma pessoa é provada
até ao âmago
do seu ser,
e dá a impressão de que
algum poder invisível está em
operação para
extinguir a sua
vida. Ana
deve-se ter sentido
assim. Tinha
derramado lágrimas sem
fim, porque
se sentia abandonada por Deus, uma vez que não possuía
filhos. A outra
esposa do seu
marido nunca
deixava passar uma oportunidade
sem lhe
recordar a sua
esterilidade.
Elcana, desejando confortar Ana, havia-lhe dito
que a amava mais
do que tudo.
Não era
o seu amor
para ela mais do que dez filhos? Ela sentira-se feliz com esta expressão
do seu amor,
mas essas palavras
tinham-lhe dado também
motivo para reflexão, e ainda
a fizeram sentir mais
solitária. Teria Elcana perdido a esperança de alguma vez
vir a ter um filho dela?
Abraão, recordava ela, havia
contendido com Deus
acerca dum filho
(Gênesis 15:2-6). Isaque, numa situação semelhante, orou a Deus
pela esposa
(Gênesis 25:21). E as esposas deles tinham dado
à luz, mesmo
tardiamente, filhos
que tanto
vieram a significar para
o seu povo.
Esses filhos
constituíam parte do plano de Deus para Israel.
Deus! Ele é o Único que me compreende, o Único
que pode ajudar-me, pensou ela. Voltou ao tabernáculo, só.
Lá, derramou a sua
alma perante
Deus. Com
o coração despedaçado, sem palavras.
Ao princípio, ela
nem era
capaz de pronunciar
alto os seus
pensamentos. Então,
quando o seu
coração se tinha,
de algum modo,
aliviado, os seus lábios
proferiram uma oração, embora continuasse silenciosa.
"Ó Senhor dos Exércitos...",
começou ela. A maneira
como se Lhe
dirigia revelava a visão que dEle tinha.
Ele era
o Senhor dos Exércitos
do céu e da terra,
de todas as coisas que
havia criado (Gênesis 2:1). Um imenso exército
de anjos estava à Sua
disposição. Ele
era o Senhor que tinha
realizado muitos milagres
a favor de Israel como
nação.
Estas quatro palavras, "Ó Senhor
dos Exércitos'', expressavam a fé que ela tinha na Sua grandeza e poder. (O comentarista
Matthew Henry
diz que esta foi a primeira
vez que
uma pessoa se dirigiu a Deus
dessa maneira). À luz da Sua majestade eu não sou nada,
pensou ela. Apenas
uma serva, uma criada.
Repetiu este pensamento
três vezes.
As palavras eram escolhidas
cuidadosamente. Considerava-se uma insignificante
criatura à luz
dum Deus Santo,
todavia desejava servi-Lo. Esta era uma ordem correta de valores,
pois ela – embora um humilde ser humano – podia servir a Deus.
Reconhecendo isto, Ana apresentou-se a Deus
com um
grande pedido.
Não O ofendeu pedindo-Lhe um pequeno favor. Não se pedem
algumas moedas a um
milionário. De um
Deus tão
grande não
podia esperar menos
que um
milagre – um
autêntico milagre.
Ana não orou duma maneira
vaga. Fez um
pedido específico.
"Ó Deus, eu
quero ter um filho". A sua
oração foi seguida
por uma promessa,
"Então, ao Senhor
o darei por todos
os dias da sua
vida, e sobre
a sua cabeça
não passará navalha".
O seu filho,
se Deus lho concedesse, seria um nazireu, um homem dedicado a Ele,
que não
beberia vinho e que
nunca cortaria o cabelo
(Juí 12:3-5).
Estaria Ana realmente a dizer, "Ó Deus, Tu sabes que eu desejo ter um filho, mas ainda mais do que
pedi-lo para mim,
eu peço isto
para Ti"? É possível.
A religião do seu povo, isto é, a religião
dos sacerdotes, tinha
perdido o seu significado.
Tinha-se corrompido. Todavia, Ana havia preservado a fé,
e conservou-a pura. Contudo,
a sua influência
era limitada. O que
o país necessitava era
dum homem que
pudesse tornar-se um elo de ligação entre Deus e o Seu povo, que preenchesse a lacuna e
introduzisse um novo
futuro.
Teria o coração de Ana chorado sói por
si mesma,
ou estaria ela
chorando também por
Deus e pelo Seu povo? Seria
por isso
que a sua
oração teve um
impacto tão grande'? Teria ela
imaginado que parte
podia desempenhar numa solução
espiritual para
tal problema
nacional? É possível,
embora o relato da Escritura
seja demasiado breve
para se determinar isso.
A decaída do povo e do sacerdócio revelava-se também
na maneira como
Eli a tratou. Ele mostrou pouca compreensão
humana, pouca
compaixão. "Até
quando estará embriagada?'', censurou-a ele. ''Aparta de ti o teu
vinho''. O sacerdote
que não
ousara tratar com
rigor os seus
próprios filhos,
não sentiu escrúpulos
em tratar Ana desta maneira.
O velho homem
revelou uma falta de discernimento e pouco
autocontrole.
As suas palavras
revelaram também que,
naqueles tempos, bêbados
e prostitutas não eram invulgares na casa
de Deus. Mesmo
os próprios filhos
de Eli dormiam com mulheres
que se juntavam à porta
do tabernáculo (1 Sam. 2:22).
Ana, porém, estava na presença
de Deus e por
isso não
sentiu qualquer desejo
de se defender ou
justificar. Não
expressou qualquer vergonha
ou indignação,
mas explicou a situação
em poucas palavras.
Eli, tornou-se de repente o que deveria ter sido – o sacerdote de Deus. Como representante de Deus,
disse: "Vai em paz.
O Deus de Israel conceder-te-á a tua petição". Ele
não sabia a natureza
do pedido dela, mas
como instruído por
Deus disse-lhe que
fora ouvida.
Com estas palavras, a paz
de Deus que
acompanha toda a oração
fiel, entrou no seu
coração (Filip. 4:6,7). Ela havia levado
os seus cuidados
a Deus e deixou-os nas Suas mãos.
''Ora a fé
é o firme fundamento
das coisas que
se esperam e a prova das coisas
que não
se vêem" (Heb. 11:1), escreveu, muitos
séculos mais
tarde, o autor
da Epístola aos Hebreus.
Foi isso o que
Ana experimentou. A certeza
de que a sua
oração fora
ouvida penetrou no seu
coração. Exteriormente
a mudança foi notável – voltou-lhe o apetite, e o seu rosto já não tinha qualquer traço
de tristeza. Ela
vivia a sua fé,
confiando de tal maneira
em Deus,
que as outras pessoas
podiam notá-lo.
Samuel. que significa "ouvido de Deus",
nasceu um ano
mais tarde.
Então, o significado
do próprio nome
de Ana – "graciosa"
ou "favor"
– começou a ter sentido.
Em vez
de se mostrar uma mulher
negligente, tornara-se extraordinariamente
privilegiada, pois a sua
oração havia marcado um ponto decisivo na história.
Não demorou muito que a Palavra de Deus
voltasse a ser ouvida
em todo
o Israel (1 Sam. 4:1). O Senhor revelou-Se através de Samuel, mesmo
quando Samuel ainda
era rapaz.
De Dan, no extremo norte,
a Berseba, no extremo sul,
as pessoas reconheciam que Samuel era um profeta
eleito pelo Senhor.
O povo voltou-se dos ídolos para servir
a Deus. A arca
do Senhor, que
fora tomada
como despojo
e desonrada pelos filisteus,
voltou (1Sm. 6,7). Os filisteus fizeram
a paz com
Israel, pois a mão
do Senhor esteve contra
eles todos
os dias de Samuel. Foram reconquistadas cidades que
haviam sido perdidas em combate.
A fé de Ana
viveu no seu filho.
Séculos mais
tarde, o nome
dele seria mencionado entre os heróis da fé
(Heb. 11:32-33), pois ele
foi um dos homens
que, através
da fé, dominara reinos.
Samuel, que tinha nascido como
resposta à oração,
e cujo nome
constantemente lhe
recordava isso, tornou-se, ele próprio, um homem de oração. Achava que
o fato de o povo
não orar era pecado (1
Sm 12:23). Esta atitude pode ter
sido a chave para
as muitas respostas que
ele recebeu.
Só a eternidade revelará o que
é que Israel, a quem
ele serviu como
profeta, sacerdote
e juiz, e os muitos
milhões que,
desde então,
têm estudado a sua vida,
devem à vida e ao ministério
de Samuel.
Oh, Ana,
não foste tu
favorecida quando viste os resultados da resposta
à tua oração? E não
foste tão privilegiada como Sara e Rebeca ao veres
o teu filho
a desempenhar tal
papel na história?
Maria, a mãe de Cristo, deve ter sido
influenciada pela oração
de Ana e pelo
seu comovente
cântico de louvor,
quando proferiu o Magnificat (Luc.
1:46-55). Ana sentiu-se muito feliz durante o período em que o seu filho se
desenvolveu até ao ponto
de andar. Todavia,
isso passou depressa.
E, logo que
Samuel foi desmamado, ela cumpriu a sua promessa e devolveu-o a
Deus, de quem
o tinha recebido. Desde
então, só
o via uma vez
por ano,
quando ela
e seu marido
ofereciam sacrifícios em Silo (1 Sm.
2:19-21). A sua oração
fora de natureza
radical. Assim
foi a sua dedicação.
Ela tinha
de oferecer Samuel a Deus,
diariamente, confiando em que Ele
protegeria a fé dele, no meio da corrupção que presenciava em
Eli e nos seus
filhos.
Oração, fé e dedicação
continuaram a caracterizar a vida
dela, pois Ana
sabia que uma pessoa
que desse tudo
a Deus receberia mais
em troca.
Deus nunca
será o devedor de alguém.
Ele deu-lhe mais
cinco filhos.
Por que é que Ana podia confiar na resposta
à oração? Porque
soube preencher os pré-requisitos
de Deus. Estes
pré-requisitos não
estavam claramente coligidos numa única passagem
da Escritura, mas
eram princípios que,
no seu andar com Deus, ela sentia e conhecia. Eles
incluíam:
1.
Oração na base do pecado perdoado (Sal.
66:13-19).
2.
Súplica no nome de Deus, reconhecendo a Sua
grandeza (João 16:24).
3.
Convicção profunda de que a pessoa nada vale (2 Sam 7:18-29).
4.
Formulação duma petição clara e bem definida (Mat. 7:7-11).
5.
Desejo de que a vontade de Deus
seja feita e de que
o Seu Reino
seja estendido (1 João 5:14,15).
6.
Oração de fé (Heb. 11:6; Mat.
21:22).
Ana, uma mulher que
acreditava na oração
(1 Samuel 1:9-28. Ver também os versículos
sobre Penina).
Perguntas:
1. Leia Juízes 21:25 e 1 Samuel 2:11-36. Qual
era a situação
do povo, sob
o ponto de vista
nacional e espiritual?
2. Compare cuidadosamente a oração
de Ana com
o "Pai Nosso"
(Mateus 6:9-13). Que semelhanças nota?
3. Em que
base é que
pode concluir que
Ana confiava na resposta
à oração?
4. O que é que mais o
impressionou no que toca
à dedicação de Ana
a Deus?
5. O cântico de louvor
de Ana (1 Samuel 2:1-10) revela os seus pensamentos
mais profundos.
O que é que
ela pensa
de Deus?
6. O que é que Ana recebeu
em troca
do seu filho
que dedicou a Deus?
( l Samuel 2:21). O que é que isso prova'?
7. Que mudanças observa em Israel no ponto de vista nacional
e espiritual, depois
do aparecimento de Samuel? (l Sam. 3:19-4:1;
cap. 6, 7).
8. Em que
sentido é que
o exemplo de Ana
poderá influenciar a sua
vida de oração?
FONTE: LIVRO SEU NOME É MULHER
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