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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

ABIGAIL MULHER DE NABAL



ABIGAIL, UMA MULHER ATENTA À CONSCIÊNCIA DE UM SERVO DE DEUS

"A beleza íntima duma mulher está quase sempre dependente da sua relação com Deus." Eugenia Price

I Samuel 25:23-42

As suas mãos moviam-se rapidamente.
Os seus pensamentos corriam ainda mais.
Embora reconhecesse que a situação era séria, Abigail não caiu em pânico, nem ficou nervosa. Fez os seus planos com calma. Não se esqueceu de que dispunha de pouco tempo, e de que não podia perder um segundo.
As palavras do criado, proferidas alguns momentos antes, ressoavam ainda nos seus ouvidos:
"Veja bem, senhora, o que tem a fazer", dissera ele, "pois vai haver grandes problemas para o nosso patrão, para todos nós. Vim ter consigo, porque o patrão é rude e teimoso e não se pode mesmo falar com ele" (1 Sam. 25:17).
Como a situação era extremamente delicada e não se podia cometer o mínimo erro, Abigail estava a tratar de tudo sozinha. Não ousava entregar tais responsabilidades aos criados.
Tinha de pensar rapidamente e com acerto. De que é que precisariam 600 homens vorazes e que viviam no campo agreste, para acalmarem a fome? Assim, ela juntou bastantes provisões, havendo reunido alimento suficiente para satisfazer todos aqueles homens.
Abigail não pensou apenas nas coisas essenciais, como pão e carne. Cozeu também umas medidas de trigo tostado, 200 cachos de uvas, deliciosos bolos de figos e dois odres de vinho (v. 18). Queria cuidar bem dos homens e pretendia levá-los a ficarem bem-dispostos.
Num mínimo de tempo, tudo se arranjou com eficiência. "Ide à minha frente" – ordenou ela aos criados. "Eu seguirei atrás de vós" (v. 19). Sob o ponto de vista psicológico era uma viagem tática. Os servos de Abigail podiam começar o seu trabalho antes de ela chegar.
Abigail não disse nada ao marido, Nabal, a respeito dos seus planos, sabendo que as suas palavras não poderiam penetrar através da sua embriaguez.
Nabal tinha organizado uma grande festa para celebrar a tosquia anual do rebanho. Era um homem rico, que possuía 3000 ovelhas e 1000 cabras. A tosquia do rebanho era importante, pois a lã constituía um artigo vital na cultura de Canaã.
Depois de todo o trabalho haver terminado, Nabal ofereceu aos tosquiadores (peritos que eram especialmente contratados para esse fim) uma refeição. E o mais barulhento de todos à mesa era o próprio Nabal.
O marido de Abigail era descendente de um homem importante, de Calebe (1 Sam. 25:3). Mas não se parecia absolutamente nada com esse ilustre antepassado que tinha manifestado um maravilhoso temor de Deus, visão e coragem. Nabal, cujo nome significava "o tolo" era exatamente isso – um homem rude e grosseiro que não revelava senso algum nas suas palavras.
Foi isso o que Davi experimentou quando, por meio dos seus mensageiros, pediu comida a Nabal para si próprio e para os seus 600 homens. Tratava-se de um pedido normal, pois Davi e os seus guerreiros tinham formado um muro de proteção em torno dos tosquiadores do rebanho de Nabal, para impedir que ladrões e nômades vadios os perturbassem durante o trabalho. Qualquer xeque árabe – mesmo hoje podia ter pedido igual tratamento, sem lhe ser recusado.
Davi fez modestamente o seu pedido. Tinha-se aproximado de Nabal com uma atitude submissa e falou-lhe como um filho faria ao pai. Apesar dessa prudente abordagem, a reação de Nabal foi grosseira e insultuosa. "Quem é esse tal Davi?" – perguntou desdenhosamente. "Quem é que esse filho de Jessé pensa ser ? Há muitos servos hoje que fogem dos donos. Iria eu pegar no meu pão e na minha água e na carne dos animais que degolei para os tosquiadores e dá-la a um bando que de repente aparece vindo não sei donde?" (vv. 10-11)
Esta resposta foi extremamente ofensiva para Davi, que gozava de grande popularidade em todo o país. As mulheres de todas as cidades de Israel tinham andado a cantar as suas vitórias (1 Sam. 18:6-7), e ele já havia sido ungido para ser o próximo rei. Mesmo os servos de Nabal o louvavam pela ajuda e pela maneira disciplinada dos seus homens 1 Sam. 25:15-16). Ele havia dado provas de uma liderança prudente e forte, mantendo os seus soldados – que dispunham de poucos meios de subsistência – organizados e obedientes às suas ordens.
Não obstante estes fatores, Nabal tratou Davi como uma pessoa sem importância, um rebelde, cujos pedidos não precisava de levar em séria consideração.
Davi reagiu a este tratamento indigno com uma explosão de ira. Pouco tempo antes, havia-se recusado a vingar-se de Saul que tentara matá-lo, e tinha deixado que fosse Deus a julgar a sua causa (1 Sam. 24:4-7). Durante aquela luta com o gigante Golias, que proferia insultos e maldições, ele havia pensado apenas no nome de Deus (1 Sam. 17:45-47). O homem que mais tarde seria conhecido na história como "o homem segundo o coração de Deus" (Atos 13:22) não pôde ignorar este insulto pessoal. Quis vingar-se imediatamente.
"Cingi, todos vós, as espadas", ordenou ele. "Nenhum homem da casa de Nabal escapará com vida. Amanhã de manhã teremos acabado com todos eles" (1 Sam. 25:13,22). Para se vingar da ofensa de Nabal, Davi seguiu para a casa dele com 400 homens.
Entretanto, Abigail montou num burro e dirigiu-se ao encontro de Davi. Sendo uma mulher suficientemente humilde para dar ouvidos ao conselho de um criado, ela revelou ao mesmo tempo bastante força moral e coragem para enfrentar a ira de Davi. Possuía um espírito brilhante e era atraente, inteligente e sábia. Embora o significado do seu nome fosse "o meu Pai (Deus) dá alegria", ele não refletia as circunstâncias que ela estava a atravessar, presa como se sentia por causa do casamento com Nabal. Só vagamente se pode imaginar o que poderia significar a vida com um tal insensato para uma mulher tão crente e sensível.
Certamente que não era esta a primeira vez em que Abigail tentara reunir as peças quebradas pelo marido. Quando ela se encontrou com Davi, as suas palavras provaram isso. "Foi tudo por minha culpa, senhor", disse ela, "eu não vi os mensageiros que enviou" (v. 25). Por outras palavras, tentava dizer: "Se eu os tivesse visto, tentaria usar a minha influência para evitar este problema".
A atitude de Abigail revelou-se ao mesmo tempo prudente e impressiva. Embora ela chamasse tolo temperamental ao marido, identificava-se com ele no reconhecimento da ofensa. Na sua atitude e nos atos que dela resultavam, seguiu o mesmo princípio que outros grandes homens de Deus iriam seguir. Por exemplo, Neemias (1:4-11) e Daniel (9:3-19) iriam mais tarde identificar-se com a culpa do povo judeu que desobedeceu a Deus. Abigail não pediu perdão para Nabal; pediu-o simplesmente para si própria.
A atitude desta mulher, bem como as suas palavras, impressionaram Davi. Logo que os dois grupos se encontraram no caminho e Abigail viu Davi, desmontou-se imediatamente e inclinou-se profundamente diante dele, com respeito. O futuro rei de Israel e servo de Deus, que tinha sido maltratado pelo marido como se se tratasse de uma pessoa indigna, recebia agora honras dela. Os homens com quem Nabal não quisera gastar a sua água, tinham agora vinho que lhes era oferecido pela esposa.
Salomão disse mais tarde que um presente alarga o caminho a uma pessoa e leva-a à presença dos grandes (Prov. 18:16). Abigail experimentou essa lição. Os presentes que enviara à sua frente tinham suavizado o coração de Davi e esfriado a sua fúria. A sua chegada e palavras podiam então fazer o resto.
O que ela continuou a dizer mostrou tal sabedoria e discernimento, que se podem descrever melhor com o que Tiago chamou mais tarde, no Novo Testamento, "sabedoria do alto". Tal sabedoria é "primeiramente pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem hipocrisia" (Tg. 3:17).
O que mais impressiona em Abigail é o fato de ela não exibir uma frente falsa. Manifestou-se como realmente era. As circunstâncias não lhe tinham dado tempo para refletir madura e antecipadamente sobre a situação. Não tinha havido tempo para reunir força e coragem, ou sabedoria. Não tinha havido tempo para bravata intelectual ou espiritual. Não podia pretender ser diferente do que realmente era, pois as tempestades da vida arrastam qualquer capa que não faz parte integrante da própria pessoa. As suas reações imediatas tornam-se então o traje com que é vista.
Foi essa a atitude de Abigail para com o Deus santo. O seu coração tremia diante dEle. Amava-O acima de tudo, estava convencida de que acima de tudo o mais, o ser humano tinha de O honrar. Tinha a certeza de que ninguém poderia tentar iludi-lO. Ele não podia ser enganado, e as conseqüências de tal tentativa seriam deploráveis.
Deus tinha abençoado ricamente Davi. De repente, quando ela o enfrentou, Abigail viu que as bênçãos que Davi havia já experimentado seriam pequenas comparadas com o que o Senhor planeava ainda fazer pelo futuro rei.
Do seu profundo respeito por Deus, esta mulher colhera amor pelo Seu servo, por este seu semelhante. O seu amor era puro, sincero e espontâneo. Através da sua dependência de Deus, Abigail manteve também uma atitude correta em relação a si própria. Em vez de pensar unicamente em si, era modesta e evitava a auto-comiseração.
Embora usasse todo o tato para salvar a vida de Nabal e dos seus homens, parecia ser levada por uma motivação mais profunda. Estava a pensar naqueles que nesta situação estavam ameaçados pelo desejo de vingança. Numa fúria cega, Davi e os seus homens estavam prestes a cometer um pecado que iriam lamentar para sempre. O crime que estava quase a ser perpetrado seria irreparável. Um pesado fardo sobrecarregaria a sua consciência pelo resto da vida. A mancha de sangue, tanto dos inocentes como dos culpados, ficaria nas suas mãos.
Abigail recordou a Davi o favor de Deus que ele desfrutava, a proteção toda especial de que estava sendo alvo. Chamou a sua atenção para o futuro privilegiado que o esperava sob a mão bendita de Deus como futuro rei de Israel. O nome de Davi estava ligado ao nome de Deus. Rejeitando Davi, Nabal tinha desonrado o nome do Senhor, mas o futuro rei estava também a ponto de lançar uma mancha indelével sobre esse nome. Num ímpeto de sede de sangue, estava disposto a tomar nas suas mãos os seus próprios direitos e a matar pessoas inocentes.
Abigail estava convencida de que Deus castigaria Nabal por causa da sua impertinência para com o Seu ungido. Mas estava igualmente certa de que Deus não precisava de Davi para executar essa punição. Não repreendeu Davi. Pintou simplesmente as conseqüências da sua precipitada decisão, começando o seu apelo com estas palavras: "Vive o Senhor" (1 Sam. 25:26). Apresentou-o corri uma eloqüência tão natural, que o poeta Davi teve dificuldade em não se deixar fascinar pelo seu estilo.

Na sua carta aos Coríntios, Paulo escreveu que todo cristão devia buscar o bem do seu próximo (1 Cor. 10:14-24) e devia evitar o fender a qualquer pessoa (1 Cor. 10:32).

Abigail tinha a sua vida centralizada em Deus. Colocava-O em primeiro lugar nos seus pensamentos e tomava-O como exemplo em tudo o que dizia. Não pensava apenas na vida do marido e dos seus trabalhadores; estava preocupada com a reputação de Davi. reputação de Davi. Via as coisas à luz dos planos de futuro que Deus tinha traçado para ele. Portanto, o seu apelo baseava-se no que era melhor para Davi e não nos interesses dela. A sua força motivadora era o amor por Davi como seu semelhante.
O que Abigail desejava aconteceu. A consciência de Davi acordou. O seu apelo, baseado no caráter de Deus e no Seu soberano poder, deixou-o desarmado. "Bendito o Senhor Deus de Israel que te enviou ao meu encontro, hoje!" – exclamou Davi. "Graças a Deus pelo teu bom senso! Bendita sejas por me teres impedido de matar os homens e exercer vingança por minhas próprias mãos. Pois eu juro pelo Senhor, o Deus de Israel que me guardou de te ferir, que se tu não tivesses vindo ao meu encontro, nenhum homem da casa de Nabal estaria ainda vivo amanhã de manhã" (1 Sam. 25:32-34).
Com estas palavras, Davi agradeceu à mulher que tinha estado atenta à sua consciência e o guardou do pecado e do remorso. Por causa da sua abordagem direta e espiritual do problema, ele descobriu quão nublada era a sua própria visão, quão egocêntrico tinha sido por causa do seu envolvimento pessoal. Davi restabeleceu então uma visão adequada de Deus, que através desta mulher o havia impedido de cometer um erro terrível.
Abigail, que reconhecia plenamente a extensão e o alcance que teria tido o plano de Davi, agiu portanto com sabedoria e discernimento. Não só impediu um homem de se tornar um assassino, mas salvou a reputação de um futuro rei. Davi, um homem tão altamente respeitado, que as gerações futuras iriam referir-se a Jesus Cristo como o "Filho de Davi", não se desrespeitou a si mesmo. Conseguiu dominar a sua ira, e por esse auto-controle conseguiu uma vitória maior do que se tivesse conquistado uma cidade (Prov. 16:32).
Todavia, o mais importante de tudo foi o fato de Davi não ter pecado contra o Senhor. Ele não deu tristeza a Deus. Os inimigos do Senhor não tiveram oportunidade de escarnecer do Seu santo nome. "Vai em paz para tua casa. Vê que eu ouvi as tuas palavras e atendi o teu pedido" (1 Sam. 25:35). Foram essas as palavras com que ele a despediu.
Abigail tinha visto corretamente a situação. As coisas transformaram-se na vida de Nabal. Quando ele ouviu da esposa, na manhã seguinte, o que tinha acontecido na véspera, a sua reação de fúria e medo resultou num ataque. Dez como dias mais tarde, morreu, experimentando no seu corpo a verdade de que ninguém pode escarnecer de Deus e permanecer impune.
Quando Davi ouviu a noticia de que Nabal tinha morrido, louvou e agradeceu a Deus por lhe ter dado o que merecia. Deus tinha-o guardado de resolver os problemas pelas suas próprias mãos. Davi demonstrou então a impressão inesquecível que Abigail lhe tinha causado. Imediatamente, sem perda de um minuto, pediu-lhe para se tornar sua esposa, e Abigail concordou " «Quando o Senhor te fizer grandes coisas, lembra-te de mim!" (v. 31), recebeu um cumprimento surpreendente. Ela sabia por experiência quanta solidão podia existir num casamento onde os cônjuges tinham pouco em comum; mas agora tornava-se a esposa de um homem com quem partilhava muitas coisas: coragem, fidelidade, um intelecto vivo e discernimento criterioso.
Todavia, a maior unidade de Davi e Abigail estava nas suas atitudes para com Deus, que possuía o primeiro lugar no coração dos dois. Abigail, altruísta, verificou como Deus podia usar todas as coisas para bem daqueles que O amam (Rom. 8:28). Inesperadamente havia-se transformado numa esposa do rei de Israel. Infelizmente, era apenas uma das oito esposas de Davi (2 Sam. 3:1-5, 13; 11:26-27). Seguindo o exemplo de outras cortes reais do seu tempo, Davi não se tinha restringido ao pacto de um casamento monógamo dado por Deus.
A atitude de Abigail para com Deus e o seu semelhante, e o seu raciocínio modesto, impediu um dos maiores homens da história de lançar o seu nome na lama.
Por meio do apurado discernimento de Abigail e da maneira como abordou uma situação difícil, Davi teve a oportunidade de continuar diante de Deus como estava, o homem segundo o seu coração. Pôde assim cumprir o propósito para o qual ele e todo o ser humano foi criado: honrar o nome do Senhor (Apoc. 4:9-11; 5:11-14). Como futuro rei, teria perdido absolutamente essa oportunidade, se uma mulher não tivesse entrado na sua vida no momento próprio e vigiado a sua consciência, guardando-o assim de ofender a Deus.

Abigail, uma mulher atenta à consciência de um servo de Deus
(I Samuel 25:23-42)

Perguntas:
1. Enumere algumas das características mais importantes de Abigail.
2. O que o impressiona quando examina a sua atitude em relação a Nabal?
3. O que é que prova que Abigail possuía a "sabedoria do alto"? (Tiago 3:17).
4. Salomão tem muito a dizer sobre a maneira de nos tornarmos sábios (Provérbios 1:7; 2:1-6; 9:10). Quais são os passos necessários para adquirir sabedoria?
5. Quais são as possibilidades que temos hoje em dia de adquirir sabedoria de Deus e que faltavam a Abigail?
6. Qual é o princípio mais importante que aprendeu desta mulher? Como é que ele irá influenciar a sua vida?



FONTE: LIVRO SEU NOME É MULHER 2

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