MICAL, CUJO
CASAMENTO CARECIA DE UNIDADE
E SE DESMORONOU
"O caminho seguro para qualquer
casamento – como
para qualquer
relação humana
– é uma experiência de Deus partilhada. Podemos discordar
em muitas outras coisas
e continuaremos a amar-nos, se estivermos de acordo
acerca de Deus."
Eugênia Price
1
Samuel 19:10-17
2
Samuel 6:16-23
O casamento de Mical, a filha mais nova do rei
Saul, não teve um
bom princípio.
Os problemas conjugais que surgiram não
foram devidos à diferença
de nível social
entre a filha
do rei e o jovem
pastor. A verdade é que Saul tinha
arranjado esta união de Davi com
Mical, esperando que isso o tornasse infeliz
e lhe causasse a morte
(1 Sam. 18:17-21). O rei havia dado a sua filha em casamento a Davi, porque
queria que ele
morresse.
Saul não podia agüentar
mais o homem
que se tornaria rei
em seu
lugar, o homem
que havia já
conquistado o amor do seu povo. Em muitas ocasiões
anteriores, tinha
mesmo tentado matar
Davi, embora sem
êxito.
De fato, Davi tinha ganho o direito a casar com Merabe, a filha
mais velha
de Saul. O rei tinha-a prometido ao homem que
derrotasse Golias, o gigante filisteu (1 Sam. 17:25). Mas
a promessa não
foi cumprida. Na altura em que Davi
estava pronto a casar
com Merabe, o pai
já a tinha
dado a outro
(1 Sam. 18:19).
Saul ofereceu então a filha mais nova, Mical, a Davi, sob
a condição de ele
matar 100 filisteus.
A possibilidade de Davi se manter contra tantos filisteus é tão
reduzida, pensava o rei com azedume,
que certamente
irá perder a vida.
Mas Saul tinha excluído Deus
dos seus pensamentos.
Através da bênção
divina, o jovem
matou 200 filisteus e Mical tornou-se sua mulher (1
Sam. 18:27). Não admira que Mical amasse Davi. Tratava-se de um jovem elegante, corajoso e também sensível.
Ao mesmo tempo
que se revelava um
bravo guerreiro,
era também
um artista
que escrevia cânticos
e compunha música. Tinha
grande popularidade
e havia sido indicado como próximo rei. Contudo, a qualidade
mais impressionante
na vida de Davi era
o seu relacionamento com Deus. Isso dava-lhe um
certo encanto,
que, embora
nem sempre
se pudesse definir, era
uma realidade.
Em breve se tornou evidente
que o fato
de Davi ser genro
de Saul não mudara em
nada os sentimentos
do rei. De novo,
este começou a pensar
sobre a maneira
de lhe tirar
a vida. Quando
descobriu que não
podia ver-se livre dele por meio da guerra ou da sua própria arma, arquitetou um
plano para o matar na sua própria casa.
Todavia,
Mical ouviu falar a respeito
da conspiração. "Se não te fores embora imediatamente",
avisou-o ela, "serás um homem morto" (1 Sam. 19:11). Assim,
ajudou o marido a escapar
a tempo. Quando
os servos do pai
vieram no dia seguinte
para o apanhar, ele já tinha ido embora. "Encontra-se doente",
mentiu Mical (v. 14), provavelmente para ganhar tempo.
Foi essa a última gota no copo da
ira de Saul. "Então
tragam-no mesmo na cama",
ordenou ele furioso
(v. 15). Depressa descobriu que a filha o
havia enganado. Um ídolo
disfarçado tinha sido posto na cama para dar a impressão de que
se tratava de Davi. Desconhece-se se Davi sabia realmente
que este
ídolo estava na sua
casa, mas
foi a primeira indicação
de uma brecha crescente
entre Mical e o seu
piedoso marido.
Exteriormente,
parecia que o seu
casamento gozava de unidade
espiritual. Mical adorava o Deus de Israel, da mesma
forma que o marido. Mas no íntimo do seu coração, esse Deus era-lhe estranho;
a sua relação
com Ele
não era
de fé. Por
outro lado,
o marido não
adorava outros deuses;
o seu amor
por Deus
era total
e aplicava-se às situações diárias.
A falta de unidade espiritual
num casamento poderia
parecer, à primeira
vista, um
simples arranhão
na felicidade conjugal. Mas tal arranhão torna-se freqüentemente
uma fenda que
depois se alarga, até
formar um abismo que já não pode ser transposto. A vida
em comum
não pode ser
construída sobre um
fundamento irregular.
A um tal
casamento falta
desde logo
a base sólida
de que necessita para
ser feliz e para ter duração
suficiente de modo
que sobreviva às tempestades
que certamente
hão de vir. Nenhuma pessoa
sensata se arriscaria a mudar-se para uma casa que, ou não tivesse qualquer
fundamento, ou
estivesse construída sobre um alicerce fraco.
O único fundamento
sobre o qual
alguém pode edificar
é Jesus Cristo (1 Cor.
3:11). Os relatórios anuais de Ajuda
por Telefone,
na Holanda, ilustram este ponto.
Dentre os que
necessitam de ajuda, as pessoas que
tinham problemas conjugais formavam o maior grupo, e todos os anos esse número
cresce em porcentagens
alarmantes.
Por isso, é incompreensível
que a escolha
tão importante
para encontrar um companheiro para a vida seja
tantas vezes feita
sem tomar em consideração
os princípios espirituais
que podem permanecer
firmes contra
as tensões da vida.
Quando o pai a acusou, furioso,
"Por que
é que me
enganaste e deixaste escapar o meu
inimigo?", Mical respondeu: "Ele ameaçou matar-me se eu
o não ajudasse" (1 Sam. 19:17).
Estas palavras são reveladoras. Em
vez de dizer
a verdade, Mical acusou Davi de um
modo horrível.
O homem que
pouco depois
recusaria vingar-se do sogro; o homem cuja consciência o perturbaria só
pelo fato de cortar uma orla do vestido de Saul, e que
impediria os seus homens
de matarem o seu perseguidor (1 Sam.
24:1-7), foi aqui acusado de uma tentativa de assassínio da esposa.
Os atos de Mical diferiam profundamente dos de Davi. Na mesma
situação, ele
lançou os seus problemas
sobre o Senhor,
atitude que sempre tomou em
circunstâncias difíceis. Deus era o seu refúgio e ele esperava que
as soluções para
os seus problemas
viessem dEle. Na realidade, a linha
de pensamento de Davi era totalmente oposta à incredulidade
e espírito enganoso
da mulher.
Paulo escreveu, na sua carta aos
Coríntios, que a diferença
entre um
cristão e um
incrédulo pode comparar-se ao contraste entre
a retidão e a profunda
injustiça, entre
a luz e as trevas
(2 Cor. 6:14-15). O amor
de Deus demonstrado através
de um cristão
é paciente e amável,
humilde a altruísta.
Sente-se feliz quando
a verdade triunfa,
e evita a todo o custo
os conflitos.
A brecha espiritual
entre Davi e Mical ia-se tornando cada vez mais evidente. Mas o que tinha acontecido pôs também
um ponto de
interrogação sobre o professado amor de Mical.
Era evidente que os
dois cônjuges
seguiam caminhos diferentes.
Era de prever
que após o desaparecimento de Davi esse
casamento terminasse abruptamente.
Todavia, a causa
não residiu na ausência
de unidade espiritual.
No seu desejo
de se vingar de Davi, Saul deu a filha a outro homem em casamento – a Palti, filho
de Laís, de Calim (1 Sam. 25:44).
Os anos passaram, e depois que Davi
se tornou rei de Judá chamou Mical de novo para ele.
O que o levou a chamá-la? (2 Sam.
3:14-15). A Bíblia não
é explícita. Também
não se faz qualquer
referência aos sentimentos
de Mical, que havia sido atirada de um homem para outro como se
fosse uma bola. Sem
dúvida que
as suas emoções
estavam despedaçadas quando deixou o segundo marido
e o viu a chorar, angustiado, enquanto
ela voltava lentamente
para Davi.
Depois deste incidente, encontramos Mical uma vez
mais. O tempo
continuara a passar, pois
Davi é agora rei
sobre todo
o Israel. Havia atingido o clímax da sua vida. Deus tinha
cumprido as Suas promessas.
Os seus inimigos
foram derrotados e o seu reino era altamente respeitado, entre
as nações ao redor
(1 Crôn. 14:2).
Todavia, a coroa da obra
de Davi estava ainda para
vir. Ele
tinha mais
um serviço
a fazer para Deus. Não poderia ser feliz até que a arca – o sinal da presença de Deus – chegasse ao seu
lugar próprio
em Jerusalém, a capital.
Quando finalmente chegou esse
dia, toda
a Jerusalém se juntou para receber
de um modo
festivo a arca
do Senhor e a trazer para o local que Davi lhe
havia designado. Os sacerdotes e os
levitas tinham-se preparado espiritualmente para estas tarefas. Os cantores
e os músicos já
tinham afinado os seus instrumentos. Os líderes
tomaram o seus lugares
no cortejo e a eles
se juntaram muitos dentre
a população de Israel.
De repente soltou-se um grito indescritível de regozijo.
Címbalos, trombetas,
harpas e cítaras
competiam com as vozes
das pessoas no louvor
a Deus (1 Crôn. 15:3-25). O mais feliz de todos era o rei Davi. Sentia a alma
inundada de uma profunda gratidão. Deus
permitia-lhe esta honra. Viveu essa ocasião não como um rei orgulhoso, mas como um pecador que está consciente
da presença de um
Deus santo.
Nessa situação, era natural que ele pusesse
de lado o seu
traje real e
se cingisse com os calções
de linho que
Deus tinha
ordenado para os sacerdotes (Êx. 28:42-43; 1Sam. 2:18). O grande rei
sentiu, e com razão,
que só
podia aparecer diante
de Deus vestido
como um
servo da arca.
Não queria ser
simplesmente o representante da autoridade sobre o povo, um homem que os
beneficiava com os seus
presentes paternais.
Procurou identificar-se com eles. Perante Deus eram todos
iguais, julgados do mesmo
modo por
Ele. O Deus
deles era o seu
Deus.
Davi expressou então a sua extraordinária
alegria e gratidão
numa dança religiosa.
Essa dança demonstrava, segundo os costumes
orientais, os seus
sentimentos em
relação a Deus.
Mical não se encontrava entre a multidão
que saíra a receber
festivamente a arca.
Uma vez mais
se tornou evidente até
que ponto
aumentara a brecha entre
ela e o marido.
Ela não
partilhava das suas convicções
religiosas. Este grande
dia, um
ponto alto na
vida dele, não
significava nada para
ela. Como
seu pai,
Mical não estava interessada na arca de Deus (1
Crôn. 13:3). Não sentiu qualquer desejo
de pegar num tamboril
e dirigir as mulheres
num cântico ao Senhor como Miriã havia feito
certa vez
Êx. 15:20-21).
Muito pelo contrário. Mical
desprezou Davi por causa
do seu entusiasmo
e atitudes. Por
detrás de uma janela,
observava-o à distância enquanto ele
dançava no meio do povo.
Sentiu um íntimo
desprezo por ele.
Quando Davi
voltou a casa, depois
da chegada da arca,
desejoso de partilhar a alegria
dos festejos daquele dia com Mical, ela aproximou-se dele com
um comentário
escarninho e mordaz.
"Que glorioso
se mostrou hoje o rei
de Israel!" – disse ela com sarcasmo.
"Expôs-se às servas ao longo da rua, como um perverso vulgar!" (2 Sam. 2:20).
Estas palavras não expressavam pensamentos
a respeito de Deus.
Mical desprezou o rei, o seu marido, que conseguiu esquecer-se de si
próprio a tal
ponto que se
identificou humildemente com o seu povo. Ela só conseguiu revelar sarcasmo mordaz
ao homem que,
na sua opinião,
se tinha esquecido da sua dignidade.
Mical era orgulhosa
e de coração frio
– para com Deus, para com o povo, para com o marido. No seu desdém chamou perverso
e impudico a Davi. Não
só rejeitou a religião
dele, mas maculou-a. Classificou-a de imoralidade. Mais
uma vez ela
colocou o marido a uma luz desfavorável.
A ausência do amor notava-se dolorosa.
Mical não só
não amava o marido
e o Deus do marido,
mas carecia também
de amor para com os outros. Depois de muitos
anos de casamento,
ela ainda
não conhecia o coração
de Davi. Não dava importância
às coisas que
o comoviam. Os motivos dele não eram os seus.
A brecha cada vez maior entre marido e mulher não se devia
primeiramente às diferenças de caráter ou ambição. Devia-se sim ao fato de cada
um pensar e reagir numa estrutura religiosa diferente. O temor do Senhor, que
era evidente no marido, não tinha despertado no coração de Mical um desejo de
conhecer o Senhor Deus dessa mesma maneira. Os seus muitos anos de vida
matrimonial não tinham tocado espiritualmente o íntimo do seu ser.
Mical não se tornou uma esposa segundo o coração de Davi, porque não
era uma mulher segundo o coração de Deus. Davi sentia-se mais chegado a uma
mulher simples do povo que amasse a Deus, do que à sua própria esposa.
A Bíblia não relata quanto tempo viveu Mical após este incidente,
mas dá a entender que a sua vida conjugal terminou. A brecha entre os cônjuges
era agora total.
"Mical, a filha de Saul, não teve filhos até ao dia da sua
morte", diz a Escritura (2 Sam. 6:23). Essas poucas palavras revelam a
desaprovação de Deus sobre uma mulher que tratou mal o homem segundo o Seu
coração (Atos 13:22). O Senhor impediu-a de ter filhos. Podia também
concluir-se daqui que depois deste incidente Davi nunca mais se ligou a Mical
como marido. O seu papel externo como esposa terminara, e ela passou os
restantes dias da sua vida em solidão. Morreu sem ter tido uma influência, e
talvez sem nunca ter tido um encontro com o Deus do marido, através de uma
entrega pessoal.
O casamento de Davi com Mical permanece como uma advertência na
história. Se os cônjuges não são um em Deus – partilhando de uma unidade
espiritual – a sua união matrimonial pode ceder sob as pressões da vida.
Mical
a mulher cujo casamento carecia de unidade e se desmoronou
(I Samuel 19:10-17 ; li Samuel 6:16-23)
Perguntas:
1. Estude cuidadosamente o casamento de Davi com Mical e enumere as
suas diferenças.
2. Considere essa lista à luz de II Coríntios 6:14-15. Qual lhe
parece ser a maior diferença entre eles?
3. Lemos em I Samuel 18:20-28 que antes do casamento Mical amava
Davi. Será que durante todo o tempo que passaram juntos Mical o amou de fato à
luz da definição de amor que encontramos na Bíblia? (I Coríntios 13:4-7).
4. Leia I Samuel 19:13-17 e Salmo 59 e compare o relacionamento de
Davi e Mical com Deus.
5. Que princípios básicos sobre o casamento aprendeu através desta
história ?
6. De que maneira é que prole aplicar os princípios de fidelidade e
entrega (ou a falta deles) estudados nesta história, à sua própria vida?
FONTE: LIVRO SEU NOME É MULHER 2
FONTE: LIVRO SEU NOME É MULHER 2
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