NOEMI, UMA VIÚVA
QUE SE PREOCUPOU COM
O BEM-ESTAR DOS OUTROS
"Não deixes que ninguém se
Aproxime de ti sem partir
melhor e mais
feliz. Procura
ser uma expressão
viva da bondade
de Deus: bondade
na tua face, bondade
nos teus
olhos, bondade
no teu sorriso,
bondade no teu
caloroso cumprimento".
Madre Teresa*
Rute 1:1-6
Rute 1:15-22
Rute 4:14-17
(Ler também
todo o livro
de Rute)
Noemi, a viúva de Elimeleque,
olhava amorosamente para
o bebê recém-nascido que
tinha ao colo.
Sendo geralmente faladora, encontrava-se
agora sem
conseguir exprimir a sua gratidão.
As emoções eram tremendas.
À sua volta
ouvia-se o cochichar das vizinhas excitadas.
"Rute tem um filho",
gritaram elas alegremente.
"Louvado seja o Senhor, Noemi. Na tua velhice,
haverá um homem
para cuidar de ti. Mas muito mais importante
do que isso,
é que tens um
remidor para a tua família.
Oramos", continuavam as mulheres,
"para que
este menino
se torne famoso em
Israel" (Rute 4:14).
Noemi riu-se. O nome do marido, que
significava "O meu Deus é Rei",
iria continuar. A sua
herança não
passaria para outros.
Os nomes dos seus
filhos mortos
não seriam esquecidos.
Olhou de novo para
o bebê. Tinham-lhe dado
o nome de Obede, que
significava "Servo". Orou silenciosamente para que o Senhor Deus de Israel fosse de fato
Rei na vida
de Obede. Depois, ela
pensou em Elimeleque e um dilúvio de
recordações encheu a sua mente.
Refletindo sobre o passado, ela
viu-se viajando com o marido e os dois filhos, de Judá para Moabe muitos anos antes, com o propósito de escapar à fome que tinha caído sobre Israel. Essa fome
estava tão espalhada, que mesmo na sua cidade de
Belém (chamada "a casa
de pão"), com dificuldade
se encontrava algum alimento,
não obstante
o fato de essa cidade
ser considerada o celeiro
do país.
Elimeleque tinha sentido profundamente
a responsabilidade pelo
sustento da família,
especialmente por
os filhos Malom e Quiliom serem doentes e estarem a definhar
de dia para dia. "Vamos emigrar",
propôs Elimeleque. "Vamos para Maobe, onde haverá muita
comida para todos nós. Lá não teremos
de nos preocupar"
(Rute 1:1).
Como tudo tinha
sido diferente! – pensou Noemi.
Moabe era
o país que
ficava a leste do Mar
Morto, habitado pelos
descendentes de Ló, sobrinho
do patriarca Abraão (Gên. 19:36-37). Não era simplesmente um
país vizinho.
Era uma nação
que Deus
tinha amaldiçoado por
causa do seu povo ter sido cruel para os israelitas após a sua saída do
Egito (Dt. 23:3-4; Jer. 48:1-47). Um
moabita era impuro
aos olhos de Deus
e, como tal,
não podia entrar
na assembléia do Senhor.
Entre essas pessoas estabeleceram Elimeleque, Noemi e os seus filhos a sua residência.
Mas algum
tempo depois,
Elimeleque morreu.
Uma vez que
moravam em Moabe, os filhos casaram com
moças moabitas. Malom casou com Rute e
Quiliom com Orfa. Todavia,
à medida que
os anos passavam Noemi tornava-se dolorosamente consciente
de que nenhum
dos casamentos tivera filhos. Será que
Deus nos
está privando da Sua bênção?
– perguntava ela a si
mesma. Como
todo o israelita,
Noemi acreditava que os filhos eram uma bênção de Deus e que a falta deles era
sinal da Sua
maldição (Dt. 28:4-18).
Depois,
Quiliom e Malom, os seus únicos filhos,
morreram ainda jovens.
Dentro de um
período de dez
anos, toda
esta tristeza desabara sobre
ela. Naturalmente,
sentira-se solitária. Só – longe da pátria, privada da família, abandonada por
Deus – tinha
antecipado um futuro
amargo, sem
qualquer significado
ou esperança.
Ouvira entretanto que havia de novo muita abundância em Belém. Deus
estava a abençoar o Seu
povo dando-lhe boas colheitas.
Esse milagre
viera confirmar as suas
suspeitas. A fome
do passado tinha
sido, na realidade, um
aviso de Deus para
o povo desobediente
(Lev. 28:14-20).
Noemi tinha verificado que a partida
da sua família
de Belém tinha significado
de fato um
afastamento de Deus. Em Belém, ela e
Elimeleque tinham sido cidadãos importantes. Se ao menos
tivéssemos confessado os nossos pecados a Deus,
pensava ela, talvez
tivéssemos levado o nosso
povo a voltar-se de novo
para o Senhor. Mas a sua família tinha
perdido essa oportunidade com a saída do país.
À luz das leis de Deus, o
casamento dos seus
filhos não
tinha sido aceito. Um
israelita que
casava com uma estrangeira
agia contra os mandamentos
de Deus (Dt. 7:3-4), que tinha dado estas instruções
a fim de impedir
que o Seu
povo se afastasse dEle.
A convicção de Noemi foi-se
arraigando cada vez
mais. Eu
tenho que regressar,
pensava ela. Não
posso permanecer mais
tempo neste país
estrangeiro. Eu
pertenço a Israel, a Belém.
Embora
tivesse sofrido por causa
das mortes ocorridas na sua família, ela havia experimentado também
ricas bênçãos nas pessoas
de Orfa e Rute. Quando Noemi se
preparava para voltar à sua pátria,
ambas as jovens tinham decidido sem hesitação deixar os pais e ir com ela.
Noemi tinha sentido sempre
uma grande responsabilidade
por aquelas mulheres,
porque eram as viúvas dos seus filhos. Mas não tinha sido essa a única
razão. Tratava-se de mulheres pagãs, que
não conheciam a Deus.
Muitas vezes Noemi tinha
partilhado com elas
a sua fé
em Deus,
o Deus que
havia ofendido, mas que
ainda amava intensamente,
apesar de tudo.
O seu interesse
em Orfa e Rute tinha-a ajudado também a esquecer a sua própria tristeza. Tinha-lhe feito
bem manter-se ocupada
com o bem-estar
dos outros; isso
tinha-lhe servido de refrigério. Pouco depois,
havia deixado Moabe.
Quando ia a caminho de Belém, Noemi tomou subitamente consciência da finalidade
das decisões das suas
noras. Não
estava o futuro dela totalmente dependente
dos novos casamentos
que fizessem?
Sem dúvida que o pensamento de que
as noras poderiam um
dia pertencer
a outros maridos
lhe era
doloroso. A dor
adormecida, mas presente,
das mortes dos seus
filhos viera de novo
à superfície. Ao mesmo
tempo, a idéia
do bem-estar de Rute e Orfa triunfou. Pouco a pouco, enquanto as recordações a respeito
dos filhos voltavam para
o fundo, ela
sentiu desejo de que
as viúvas tivessem oportunidade de serem
de novo felizes.
Contudo, Orfa
e Rute, conhecendo os fatos, tinham
escolhido ir com
ela. Em
vez de voltarem para
as suas casas
onde encontrariam felicidade,
procuravam entrar num país
cheio de preconceitos
contra elas.
Nenhum israelita
seguidor da lei
admitiria alguma vez a hipótese de casar com uma moabita.
"Voltai para os vossos
lares, para
os vossos pais",
tinha pedido
Noemi. "Que o Senhor
vos recompense pela
fidelidade que
revelastes para com
os vossos maridos
e para comigo"
(vv. 8-13).
Todavia, Orfa
e Rute rejeitaram totalmente essa resposta. "Não",
responderam elas por
entre lágrimas.
"Queremos ir contigo,
para o teu povo" (v. 10).
No entanto, Noemi não mudou de idéia,
nem mesmo
quando o seu
próprio futuro
atravessou a sua mente.
A vida iria tornar-se-lhe ainda mais vazia. Não
viveria apenas sem
marido e filhos;
perderia também as noras.
Mas Deus
tinha-lhe dado a graça
de não ser
egoísta, e por isso
ela estava pronta
a sacrificar os seus
desejos de uma vida
segura na velhice, pelo
bem-estar daquelas duas jovens.
As três viúvas permaneciam de
pé numa estrada
solitária e cheia
de sol, incapazes
de dominarem as suas emoções. De repente,
uma das personagens moveu-se. Orfa
dirigiu-se a Noemi, abraçou-a e voltou depois
para Maobe. Rute havia-se aproximado também da sogra
e apegou-se a ela. "Por favor, vai-te embora, como
fez a tua cunhada", pedira Noemi
(v. 15). Mas Rute abanou decididamente a cabeça.
"Não insistas para que te deixe, porque
quero ir contigo
para onde quer que fores,
e viver onde quer que vivas. O teu povo será o meu
povo, e o teu
Deus será o meu
Deus" respondera Rute (v. 16).
"O teu Deus será o meu
Deus". Estas palavras
tinham tocado profundamente Noemi.
Mostraram que Rute não
só tinha
escolhido ficar com
a sogra, mas
tinha escolhido igualmente
o Deus de Israel. As palavras de Noemi a respeito
de Deus tinham sido ouvidas e
compreendidas. A despeito dos desvios de Noemi, o Senhor tinha abençoado o seu
testemunho. Isso
era já
em si
uma graça maravilhosa,
um favor imerecido.
Não obstante esta experiência
encorajadora, a sua chegada
a Belém fora um
desapontamento. As notícias
do seu regresso
espalharam-se rapidamente. Agitaram toda
a cidade. "Já
sabem?" – gritavam as pessoas umas para as outras. "Noemi voltou!" (v. 19) Apesar da sua longa ausência
no estrangeiro, as pessoas
ainda se lembravam dela. Não era ela das relações
de Boaz, seu rico
concidadão?
As reações das pessoas, quando
a saudaram pela primeira
vez, mostraram a Noemi quanto ela
havia mudado. "Será mesmo
Noemi?" – perguntavam as mulheres, sem querer acreditar.
Pelos olhos
dela é que Noemi se tinha
visto ao espelho.
Era agora
uma mulher de rosto
inexpressivo, em
que a tristeza
havia traçado profundos sulcos. A sua personalidade tinha
perdido todo o colorido. O nome dela significava "agradável",
mas era
evidente que
a sua alegria
havia desaparecido e as pessoas de Belém
sabiam-no.
"Não me chameis Noemi; chamai-me Mara", respondera ela impulsivamente
(v. 20). O nome Mara significava "amarga", e era
assim mesmo
que se sentia naquele momento. Esse nome ajustava-se a ela
perfeitamente agora.
Mas a sua
amargura brotava de um sentimento de auto-comiseração, e isso
geralmente leva
a acusar outras pessoas.
Foi o que aconteceu também
a Noemi. Esses sentimentos
recalcados de tristeza e desespero
tinham dado lugar
a uma acusação contra
Deus. "O Todo-Poderoso
deu-me grande amargura", disse ela. "Saí cheia,
mas o Senhor
trouxe-me de volta vazia"
(vv. 20-21).
Não referiu
uma só palavra
sobre o fato
de que Elimeleque e ela
própria se tinham afastado de Deus quando
empreenderam aquela viagem para Moabe. Nesse momento
ela ainda
não tinha
reconhecido que de fato
não voltara vazia.
Tinha agora
uma carinhosa nora
que desejava partilhar
da sua vida.
Desse momento em diante, no entanto, a vida
de Noemi começou a modificar-se. Da mesma
maneira que
se tornara evidente a falta da bênção de Deus em Moabe,
mostrava-se agora muito
claramente em
Belém.
Tinha meditado
muitas vezes nas palavras
que Moisés havia transmitido ao povo, da parte
de Deus. "Eis
que hoje
eu ponho diante
de vós", dissera ele, "a bênção e a maldição. A bênção, quando
ouvirdes os mandamentos do Senhor vosso Deus, que hoje vos mando; porém a maldição, se não
ouvirdes os mandamentos do Senhor vosso Deus e vos
desviardes do caminho que hoje vos ordeno, para seguirdes outros deuses que não
conhecestes" (Dt. 11:26-28).
Noemi tinha experimentado a bênção de Deus através de Rute, que
desde o princípio
tinha cuidado
dela como filha.
Tinha visto
igualmente a bênção
de Deus por
meio da Sua
orientação. Desde
o primeiro momento,
Ele havia-se conduzido na direção de Boaz, o homem
que iria transformar
radicalmente as suas
vidas.
Quando Noemi
tomou consciência de que Deus estava
a agir a favor deles, e
suspeitou de que Ele
ia dar a Rute a alegria
de um casamento
com Boaz, disse à nora:
"Minha querida,
não será altura
de eu tentar encontrar um marido para ti e ver-te de novo casada e feliz?" (Rute 3:1).
Boaz era um
proprietário abastado,
mas o mais
importante é que
era temente
a Deus. Uma vez
que se apaixonou por
Rute, não hesitou em
casar com ela. Como resultado do casamento, o pequenino Obede estava agora
sentado no colo de Noemi. Rute, que não tivera filhos da sua união com Malom, fora agora
abençoada por Deus
com um
menino.
O movimento do bebê interrompeu as meditações de Noemi sobre o
passado. As vizinhas tinham dito todas: "Rute teve um filho" (Rute
4:15). Ela sorriu para o "neto" que não tinha o mínimo sinal do seu
sangue nas veias. Contudo, este pensamento não a amargurou. Ela não envenenou a
sua alegria com pensamentos do que podia ter acontecido. Não disse que teria
sido mais feliz se pegasse num filho de Malom e de Rute.
Noemi aceitou os fatos. Abriu o coração a Obede como se fosse de
fato seu neto. Afinal de contas, era filho de Rute, que valia mais para ela do
que sete filhos. Isso era já por si felicidade completa. Por isso, sentia-se
grata. Por outro lado, de acordo com a lei judaica, ela tinha realmente um
neto, pois Obede era considerado como filho de Malom.
O futuro de Noemi brilhava finalmente. Todo o pensamento de solidão
desaparecera como a neve diante do sol. Rute, por quem tinha velado com tanto
amor, fazia agora todo o possível para a ver feliz. A avó estava a tratar do
bebê em vez da mãe.
Mais um vez, Noemi se tornou agradável, uma pessoa que dava e
recebia amor. O período de Mara ficara para trás. "Bendito seja o
Senhor", tinham dito as vizinhas (v. 14), e essas palavras permaneciam no
seu coração. Deus tinha sido bom para ela, a despeito das dificuldades, das
tristezas e das suas próprias faltas.
Até que ponto é que Deus tinha sido bom? Nessa altura ela não tinha
a menor idéia de que aquela criança mexida que tinha no colo se tornaria um elo
especial na história do seu povo e na história da redenção. Como é que ela
poderia mesmo imaginar que estava a acariciar o avô do mais querido rei de
Israel, Davi? Só o futuro iria revelar que, com Davi, o nascimento do Messias
estava à vista. Noemi, que se preocupava com o bem-estar dos outros, não podia
prever que a sua vida ficaria ligada ao Salvador do mundo, Jesus Cristo, que
viria passados mais de mil anos.
Noemi, uma viúva que se
preocupou com o bem-estar dos outros
(Rute
1:1-6,15-22; 4:14-17; Ler também todo o Livro de Rute)
Perguntas:
1. Escreva uma breve biografia sobre Noemi.
2. Quais são os aspectos positivos da sua vida? E quais os
negativos?
3. Por que é que Noemi foi uma boa sogra?
4. Quando examina as afirmações de Noemi a respeito de Deus, a que
conclusões chega?
5. O que lhe parece ter influenciado mais a sua vida?
6. Que qualidades de Noemi gostaria de desenvolver na sua própria
vida? Como é que irá fazer isso?
FONTE: LIVRO SEU NOME É MULHER 2
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